CASO CLÍNICO
Paciente do sexo feminino, 5 anos, caucasiana, apresentando mancha escura na mão esquerda há três meses. Ao exame dermatológico observava-se mácula hipercrômico-acastanhada, não descamativa, de aproximadamente 1,5 cm de diâmetro e contornos irregulares, localizada na face palmar da falange proximal do terceiro quirodáctilo da mão esquerda. Assintomática (Fig. 1). Mãe relatava aparecimento após férias em região litoral. O exame micológico direto mostrou hifas escuras septadas e ramificadas.
O macrocultivo (ágar sabouraud + cloranfenicol) evidenciou colónias brilhantes intensamente pigmentadas (Fig. 2) e o microcultivo (ágar batata) corado com lactofenol azul de algodão evidenciou hifas septadas e aglomerados de células leveduriformes com septação central evidente (Fig. 3). A aplicação tópica de fenticonazol creme por 40 dias promoveu resolução completa do quadro (Fig. 4).
TINEA NIGRA
Tinea nigra (TN) é uma infecção fúngica superficial descrita na Bahia (Brasil) em 1891 por Alexandre Cerqueira, que a denominou Keratomycosis nigricans palmaris. Causada pelo Hortaea werneckii, uma levedura polimórfica, que é parasita na fase de hifas septadas. Esta dermatomicose caracteriza-se por máculas castanho-enegrecidas, que acometem, de forma assintomática, a camada superficial da pele,1,2tem maior prevalência na faixa etária inferior aos 20 anos, no sexo feminino, indivíduos caucasoides e com o nível sócio-económico mais elevado, em regiões de clima tropical e após contato com solo, areia da praia ou vegetação.3 Ocorre predominantemente na região palmar de forma unilateral (mas não exclusivamente) sob a forma de mácula de limites precisos, cor castanho-enegrecida sem descamação.3
Os achados dermatoscópicos da TN são de um padrão reticulado homogéneo de pigmentação não melanocítica acastanhada, com espículas que não seguem os dermatóglifos e permitem concluir o diagnóstico em 53,8% dos casos.2,4Ao exame micológico direto observam-se hifas e esporos acastanhados e ramificados e a cultura em ágar Sabouraud evidencia colônias escuras e úmidas,5 cujo microcultivo corado pelo lactofenol azul de algodão permite a visualização de hifas septadas e múltiplos blastoconídios com septação central evidente.
A microscopia eletrônica de varredura permite correlacionar os achados ultraestruturais com a dermatoscopia.2
A curetagem para colheita de material para exame micológico pode levar ao desaparecimento das lesões; no entanto o tratamento convencional é feito com derivados imidazólicos tópicos e/ou queratolíticos.1
Apesar do diagnóstico de Tinea nigra ser eminentemente clínico, as ferramentas diagnósticas complementares permitem uma melhor conclusão diagnóstica além de afastar possíveis diagnósticos diferenciais como: lesões melanocíticas (nevos, melanoma) e pigmentações exógenas evitando condutas inadvertidas.