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CIDADES, Comunidades e Territórios

versão On-line ISSN 2182-3030

CIDADES  no.26 Lisboa jun. 2013

https://doi.org/10.7749/citiescommunitiesterritories.jun2013.026.art05 

ARTIGO ORIGINAL

 

Berlim: espaço e etnicidade - reconstrução simbólica do muro

Berlin: space and ethnicity - the symbolic reconstruction of the wall


Arim Soares do BemI

[I]ICS - Universidade Federal de Alagoas, Brasil. e-mail: arimdobem@yahoo.com.br

 

 


RESUMO

O artigo se ocupa da análise de discursos de inclusão e exclusão relacionados a conteúdos sociais e políticos, experiências e dinâmicas que marcaram o processo de construção identitária de jovens alemães ocidentais emigrantes nascidos em Berlim após a queda do muro, num contexto de abertura física de fronteiras e refuncionalização do espaço urbano, bem como de sua luta por integração social. Para os objetivos específicos deste artigo analisamos exemplarmente uma série de entrevistas realizadas com um jovem alemão ocidental e um jovem de origem turca nascido em Berlim. A construção flexível de inimigos entre os jovens demonstrou a centralidade da lógica étnica para a apropriação cognitiva de suas condições de existência e para a constituição de sua estrutura subjetiva de elaboração das relações sociais.

Palavras-chave: Unificação alemã; Construção de inimigos; Mudança histórica e cidade; Muro de Berlim; Espaço urbano e integração social German unification; Construction of enemies; Historical change and city; Berlin Wall; Urban space and social integration.

 


ABSTRACT

The article analyzes the discourses of inclusion and exclusion related to social and political contents, experiences and dynamics that marked the process of identity construction of young West Germans and migrants born in Berlin after the fall of the wall, in a context of open borders and refunctionalisation of the urban space as well as their struggles for social integration. For the specific objectives of this article we analyze exemplarily a series of interviews with a young West German and a young man of Turkish origin born in Berlin. The flexible construction of enemies demonstrated the centrality of ethnic logic in cognitive appropriation of their conditions of existence and in forming their structures of subjective elaboration of social relations.

Keywords: German unification; Construction of enemies; Historical change and city; Berlin Wall; Urban space and social integration.

 


 

Os muros na história de Berlim

O muro era uma presença bem mais antiga em Berlim do que aquele construído no cenário esquizofrênico da guerra fria, em 1961. A fundação de Berlim decorreu da fusão, em 1307, com Cölln, situada numa pequena ilha do rio Spree, esta por sua vez fundada em 1237 e considerada marco identificatório de fundação da cidade. A dupla cidade Berlin-Cölln, passou, a partir desta data, a ter uma administração comum até o ano de 1442, quando a administração conjunta foi suspensa por Friedrich II. Entre 1658 e 1683 Berlin e Cölln, unidas até então por uma ponte, foram separadas, sob a administração de Friedrich Wilhelm von Brandenburg, por uma muralha que somente em alguns pontos permitia a abertura para o exterior, através dos portões da cidade (Stadttore).
Em 1710, em virtude da expansão urbana, as cidades Berlin, Cölln, Friedrichswerder, Dorotheenstadt e Fridrichsstadt foram unificadas, transformando-se em bairros da desde então denominada Berlim, que passou a ser, também, residência oficial da realeza, tendo sido a muralha demolida em 1734 para permitir o crescimento conjunto da cidade[2]. No lugar da velha muralha, a cidade expandida recebeu um novo muro, o Akzisemauer, construído entre os anos de 1734 e 1737, sob o domínio de Friedrich Wilhelm I, Rei da Prússia. Diferentemente da muralha anterior, o Akzisemauer não tinha grande significação militar, mas servia fundamentalmente ao controle do comércio, embora também fosse utilizado para evitar deserções dos soldados berlinenses. Mumford (1982: 340) salienta que a muralha não constituía um obstáculo intransponível ao processo de expansão das cidades medievais e que a simples demolição e reconstrução permitia estender seus limites, garantindo espaço interior: "as ruas circulares de muitas cidades medievais testemunham, como os anéis das árvores, os períodos sucessivos de crescimento, assinalados por ampliações da muralha".
O Akzise era um imposto cobrado para a introdução, através dos 18 portões alfandegários (Zolltoren) de Berlim, de mercadorias. Através dos portões, todo o trânsito para dentro e fora da cidade era controlado. Judeus somente podiam entrar ou sair da cidade pelos portões Rosenthaler (Rosenthaler Tor), ao norte, e pelo Hallesche Tor, ao sul, tendo que se identificar com documentos. Diferentemente do muro construído em 1961, no entanto, as antigas muralhas de Berlim inscreviam-se na paisagem urbana como um símbolo tão "natural" como as torres das igrejas e não cumpriam apenas funções militares, mercantis ou mesmo de integração interna de seus habitantes. Mumford (1982: 331) salienta que "o espírito medieval confortava-se num universo de nítidas definições, sólidas paredes e vistas limitadas: o próprio céu e o inferno tinham os seus contornos circulares. Muralhas dos costumes delimitavam as classes econômicas e as conservavam em seus lugares". Mumford coloca também em relevo o significado psicológico da muralha, no sentido de esta criar um sentimento de unidade e segurança (Idem, Ibidem). Indissociáveis da mesma, os portões, mais do que meras aberturas, eram um "ponto de encontro de dois mundos", o rural e o urbano, o interior e o exterior: eram, além de um arco triunfal, simultaneamente "uma agência aduaneira, um departamento de passaportes e um ponto de controle de imigração" (Idem, Ibidem).
O crescimento urbano na primeira metade do século XIX levou à expansão do Akzisemauer, que foi fortalecido e aumentado em 4 metros na altura. O portão de Brandenburgo (Brandenburger Tor), símbolo da divisão alemã em 1961 e da unificação em 1989, foi representativamente reconstruído na ocasião e monumentalizado. A partir de meados do século XIX surgiram, do lado de fora do Akzisemauer, subúrbios (Vorstädte) que ocupavam mais da metade da área interna murada, fato que levou à construção de casas ao longo das estradas, nas imediações da cidade, para a cobrança do imposto Akzise (Steuerhäuser). Em 1860 o Akzisemauer foi abolido por decreto e entre os anos 1867 e 1870, demolido (Zschocke, 2007)[3].
Após a capitulação, no dia 8 de maio de 1945, a Alemanha foi dividida pelos quatro poderes vitoriosos - Estados Unidos da América, União Soviética, Inglaterra e França - em quatro zonas de ocupação, de acordo com o Protocolo de Londres, assinado em setembro de 1944 (Römer, Dreikandt, Wullenkord, 1987: 64). A divisão da Alemanha reproduziu-se em miniatura com a divisão da cidade de Berlim. Tomada pelas tropas soviéticas nos últimos dias antes do final da II Guerra, Berlim foi também submetida à administração comum dos quatro poderes, que ocuparam, cada um, um setor específico da cidade, incrustada no coração da zona de ocupação soviética. As singularidades espaciais, políticas e jurídicas, bem como aspectos relacionados à soberania, deram origem, já em 1948, a inúmeros problemas, que culminaram com a pressão exercida pela União Soviética para expulsar os demais poderes da administração da cidade, de modo a banir "enclaves ocidentais" de seu raio de influências. Para tanto bloqueou, a partir de junho de 1948, a circulação de pessoas e mercadorias entre Berlim e a Alemanha Ocidental, levando os demais poderes à construção de uma ponte aérea (Luftbrücke) para prover os dois milhões de berlinenses ocidentais, durante dez meses, de gêneros vitais à sua reprodução. Diante disso, o bloqueio foi suspenso em maio de 1949.
Neste mesmo ano, o setor oriental da cidade foi declarado, em contradição às cláusulas d o Protocolo de Londres, como a capital da República Democrática Alemã (DDR). Novas pressões se seguiram em 1958, objetivando transformar Berlim Ocidental em uma área livre do ponto de vista militar, encontrando forte resistência entre os poderes ocidentais. Já ainda antes da construção do muro, no final dos anos 1950, a nova condição bicéfala da cidade começara a se materializar, através da ruptura física de serviços de água, luz, esgotos, ligações telefônicas e transportes, num avanço progressivo de medidas que se iniciaram em 1945 com as linhas de demarcação dos setores, sinalizadas com a fixação de estacas brancas e amarelas e com a inscrição de marcas cromáticas nas árvores. Finamente, em 13 de agosto de 1961, cem anos após a queda do Akzisemauer, o muro, com uma extensão de 162 quilômetros e 296 torres de observação, seccionou a cidade em duas, separando a zona soviética das demais zonas sob influência dos aliados (Idem: 77-78; Menna Barreto, 1988: 25).
Se é um fato consensual que a metrópole produz condições psicológicas que levam à intensificação dos estímulos nervosos e "resulta da alteração brusca e ininterrupta entre estímulos exteriores e interiores" (Simmel, 1976: 12), potencializando simultaneamente a vida mental dos indivíduos que a habitam e, por decorrência, com uma enorme carga de dramaticidade (Mumford, 1982: 133)[4], então Berlim, após a construção do muro em 1961 e também durante e após a sua demolição em 1989, sintetiza de modo radical essas dramáticas condições, já que nela se deu um "convívio dilacerante entre entidades opostas" (Menna Barreto, 1988: 70), como se estas entidades reciprocamente excludentes constituíssem dois "Yin e Yang desgovernados" (Idem: 69).
A questão espacial adquire em Berlim, material e simbolicamente, um significado ímpar na história das cidades, mesmo após a queda do muro, ocorrida no final de 1989, e converge com a relevância adquirida pela imaginação geográfica no estudo das cidades, no campo das ciências sociais, nos últimos anos (Perulli, 2012: 13). é em Berlim, mais do que em qualquer outra cidade, que singularidades físicas espaciais adquirem tamanho relevo que se tornam instrumentos privilegiados para a dinamização das relações sociais e dimensionamento de comportamentos práticos e políticos de seus habitantes (Albernaz, 2007: 53), como se depreende das entrevistas por nós realizadas com jovens alemães e filhos de migrantes nascidos em Berlim, antes e após a queda do muro em 1989, no lado ocidental da cidade[5]. Se é fato que os Estados Nacionais se construíram através da intervenção direta na organização do espaço urbano (Perulli, 2012: 62), as entrevistas que realizamos demonstram como as singularidades espaciais de Berlim também concorrem, sob condições determinadas por conflitos étnicos que se refratam espacialmente, para estabilizar e legitimar o Estado Nacional em seu papel de administrador e regulador das diferenças.
O material que aqui se apresenta e se discute originou-se de pesquisa de doutorado por nós realizada na Universidade Livre de Berlim antes, durante e após o processo da unificação alemã. O trabalho final, intitulado "Das Spiel der Identitäten in der Konstitution von 'Wir'-Gruppen. Ost- und westdeutsche Jugendliche und in Berlin geborene Jugendliche ausländischer Herkunft im gesellschaftlichen Umbruch" (Soares do Bem, 1998)[6], investigou o processo de construção da identidade de três grupos de jovens de ambos os sexos (alemães ocidentais, orientais e de origem estrangeira nascidos em Berlim) antes, durante e após a unificação alemã. Executada através de entrevistas de natureza qualitativa entre os anos 1988 e 1994, a pesquisa analisou discursos de inclusão e exclusão relacionados a conteúdos sociais e políticos, experiências e dinâmicas que marcaram o interdiscurso social da República Federal Alemã no contexto do chamado "Asyl-Debatte"[7]. A construção flexível de inimigos entre os três grupos de jovens, num momento marcado pela reestruturação social e espacial de fronteiras na República Federal Alemã e em Berlim, constituiu-se como mecanismo central de seu processo de construção identitária. Por uma questão de recorte, iremos tratar aqui somente das dinâmicas relacionadas às séries de entrevistas realizadas com Alex e Erhan no lado ocidental da cidade (West-Berlin).

 

Revolta e autoritarismo entre jovens no bairro de Kreuzberg

A pesquisa empírica foi iniciada em 1988 em uma Escola Modelo no bairro de Kreuzberg (West-Berlin). Kreuzberg foi, até a reforma administrativa urbana de 2001, um bairro independente e, após a reforma, foi fundido com o antigo bairro Friedrichshain, formando atualmente o bairro Friedrichshain-Kreuzberg. O bairro situa-se geograficamente no centro da cidade. Após a construção do muro, em 1961, tornou-se um bairro "periférico", conforme se pode verificar na figura 1), e atraiu, por decorrência, um grande contingente de migrantes, principalmente de origem turca. Sintomaticamente uma das linhas de metrô que terminava na Schlesisches Tor era ironicamente chamada de "The Orient Express" (Menna Barreto, 1988: 48). Por ocasião da pesquisa, o bairro era composto por um terço de migrantes. A queda do muro, em 1989, provocou a revalorização imobiliária do bairro e desencadeou processos de gentrificação (Zukin, 1993), que produziram efeitos desestruturantes na vida de sua população, preponderantemente de baixa renda.

 

Figura 1

 

Revoltas podem às vezes adquirir formas perigosas, mas não no sentido de que os revoltosos devam temer as classes dominantes, senão por que eles podem se enredar exatamente em estruturas de pensamento e ação contrárias ao que de fato desejam negar. Paul Willis (1982) demonstrou, em pesquisa realizada com jovens oriundos da classe trabalhadora numa cidade industrial inglesa, que estes, através de sua resistência contra aquilo que identificavam como exigências alienadas e promessas de realização que julgavam bastante improváveis (como, por exemplo, a ascensão social), impostas pela escola através do discurso da mobilidade social, acabavam por se condenarem a permanecer imobilizados em suas posições de classe. A auto-identificação desses jovens com o processo de trabalho não-qualificado decorria, entre outros fatores, de um projeto de identidade ancorado na cultura da classe trabalhadora a que pertenciam e que mensurava como superior a corporalidade masculina inscrita no processo de trabalho fabril, contra as profissões típicas da classe média, por eles consideradas "efeminadas". Evidenciou-se que o modelo interpretativo desses jovens fora extraído da cultura dos trabalhadores daquela localidade, que forneceu os critérios subjetivos para as transposições culturais, através das quais as suas precárias chances em um mercado de trabalho bastante saturado parecia-lhes não apenas suportáveis, como também resultado de sua própria escolha e determinação.
Este também é um aspecto central da entrevista realizada com Alex, um jovem alemão "ocidental" e Erhan (um jovem de origem turca nascido em Berlim)[8] em junho de 1991, ambos na ocasião com 16 anos de idade e igualmente oriundos de famílias de baixa renda, numa Escola Modelo no bairro de Kreuzberg. Nessa escola podia-se verificar uma interessante inversão: 70% dos jovens alunos eram oriundos de famílias migrantes e a minoria era composta por alunos alemães ocidentais, de ambos os sexos. A idéia de realizar a pesquisa nesta escola fascinou-nos, a princípio, de um lado, por permitir investigar as formas de representação da sociedade, cultura e política alemãs por um grupo bastante discriminado, como os jovens descendentes de famílias migrantes, num contexto em que deixavam a condição de minoria para constituírem a maioria. De outro lado, consideramos também significativa a oportunidade de poder avaliar o alcance e os limites do projeto pedagógico desenvolvido por esta escola, que colocava naquele momento em execução um modelo de "educação intercultural"[9].
A análise do projeto pedagógico Konzeption einer stadtteilorientierten Modellschule für den Standort Block 129 in Kreuzberg[10], produzido pela Escola Modelo, evidenciou em vários aspectos o fracasso da escola no sentido de desenvolver concepções teóricas adequadas para a efetivação de uma prática educativa intercultural. Deparamo-nos, de imediato, com uma concepção bastante estreita da cultura no projeto pedagógico da Escola Modelo, que em vários pontos se assemelhava à concepção inscrita na restritiva Política de Estrangeiros (Ausländerpolitik) adotada pela Alemanha à época da pesquisa. Como na então Política de Estrangeiros[11], a concepção pedagógica da Escola Modelo tratava os jovens nascidos em Berlim como "estrangeiros" e os focalizava preponderantemente sob a perspectiva do deficit. Verificamos que após a constatação de que os "estrangeiros" constituíam o "real problema", restava à Escola Modelo apenas a execução de "medidas pedagógicas". Essas medidas, implementadas com base no modelo do deficit, tinham um condicionante fortemente eurocêntrico.
As entrevistas demonstraram que os jovens alemães ocidentais (de ambos os sexos) não conseguiram, no nível do discurso, livrarem-se dos clichês nacionalistas que dominavam o espaço sociocultural da sociedade mais ampla, embora estivessem recebendo influências positivas do modelo de educação intercultural colocado em execução pela Escola Modelo. Estas influências positivas foram detalhadamente avaliadas a partir dos mais elementares indícios. Observamos que mesmo no modo de ocuparem os espaços em sala de aula não havia a usual separação entre os dois grupos e que eles mantinham relações cordiais de amizade na vida privada. Apesar disso, pudemos verificar, como salientamos acima, que o projeto pedagógico da referida escola acentuava demasiadamente a situação deficitária de muitos alunos "estrangeiros" e tratava diversas instâncias fundamentais para a concretização de seu trabalho, como a família, o bairro e os grupos informais, como instâncias a-históricas, silenciando-se também diante de questões econômicas, políticas e ideológicas.
Além dos aspectos apontados, um outro problema identificado foi a fixação da concepção pedagógica da Escola Modelo na diferença, fazendo-a cristalizar-se como um eixo central a partir do qual se davam as orientações para a ação entre os jovens. Não é por outra razão que as mesmas formas de argumentações etnicistas fizerem-se também presentes nos discursos dos jovens oriundos de famílias migrantes. Estes não encontravam um clima favorável à discussão de sua real situação, o que os levava a uma permanente idealização da pátria de origem (dos pais). Apesar do esforço dos jovens alemães e "estrangeiros" em "penetrarem" criticamente as relações sociais, eles acabavam por argumentar de modo reducionista sempre que esbarravam nas codificações culturais institucionalizadas sobre a complexa relação inter-étnica, de modo que n&a tilde;o conseguiam compreender as semelhanças estruturais de fato existentes entre eles, ou seja, o fato de se situarem, ambos, nos estratos mais baixos da sociedade. Apesar da criação de uma consciência positiva para as diferenças culturais na prática pedagógica da Escola Modelo, os jovens alemães e "estrangeiros" não tiveram a oportunidade de desenvolver uma consciência ativa para as semelhanças estruturais (idêntica posição na hierarquia social), refinando seus sentidos para a percepção das desigualdades institucionalizadas e para a rejeição das injustiças sociais.
Em diálogos registrados antes da queda muro com Alex e Erhan, "falsos turcos" ocupavam o centro do discurso de Alex e suas críticas dirigiam-se tanto contra o hipotético direito de voto para estrangeiros como contra os nazis. Ele temia que através do direito ao voto para estrangeiros, "falsos" estrangeiros pudessem tomar o poder e fazer leis "impossíveis". Erhan, por sua vez, teve uma performance bastante limitada durante a entrevista, até porque Alex o interrompia frequentemente, impedindo-o de manifestar integralmente suas posições e por esta razão ele acabou adotando um comportamento confirmador da fala de Alex. Após a queda do muro, Erhan afirmou que vivia em paz antes da chegada dos "Ossis" (como são chamados pejorativamente os alemães "orientais"). Esta posição diferia de suas queixas sobre a vida difícil como "estrangeiro", em diálogos registrados antes da queda do muro. Antes da queda do muro, tanto Alex como Erhan não diferenciavam entre alemães ocidentais e orientais.
As entrevistas foram registradas em séries temporalmente diferenciadas. Na última série de entrevistas realizadas com os dois jovens, deslocam-se os medos manifestos por eles. O problema para Alex não era mais constituído pela presença de "estrangeiros" e nazis, mas de nazis e "Ossis" e estava relacionado à abertura do muro e à circulação de alemães orientais pelas ruas, bem como à crescente concorrência nos mercados de trabalho e imobiliário. Neste contexto, ele afirmou que "pode parecer burrice, mas Kreuzberg nos pertence! A nós, jovens, que aqui vivem, mas não aos nazis, eles não tem nada que procurar aqui".

 

A construção flexível de inimigos

Após a queda do muro, Alex demonstra sua solidariedade para com os "estrangeiros" na forma de ameaças contra os nazis. Ao mesmo tempo ele explicita seu ódio contra os "Ossis", que são por ele identificados em várias passagens da entrevista como sendo os próprios nazis. Seu discurso foi construído a partir dessa polaridade. Atrás de sua fala ocultava-se o medo diante da crescente concorrência no mercado de trabalho. A equiparação dos "Ossis" aos nazis servia para conferir uma forma negativa aos novos concorrentes do leste e, com isso, justificar a sua exclusão. O concorrente era transformado num inimigo, cuja presença significava uma ameaça para todos os membros da sociedade. Organizava-se, assim, uma transposição de sentido: uma vez que a concorrência em toda sociedade capitalista expressa um "momento legítimo" da luta pela sobrevivência, precisam os novos concorrentes serem transformados em "ilegítimos feridores de regras" (Hoffmann; Even, 1984: 172), ou seja, em inimigos, para que se possa fugir do "beco sem saída" da insegurança por eles provocada.
Na medida em que Alex transformava os "Ossis" em instrumentos para a harmonização das contradições sociais, confundia-se sua percepção da realidade. Em uma passagem da entrevista ele afirmou que os "Ossis" roubavam os espaços de trabalho em Berlim ocidental - fato que expressava uma experiência real por ele vivida -, em outras passagens argumentou que eles utilizavam falsos atestados médicos para se furtarem ao trabalho, enquanto os alemães ocidentais precisavam trabalhar para pagar impostos e beneficiar, com o seu suor, os "que estão lá do outro lado". A tentativa de Alex de definir a si próprio e aos seus inimigos no novo contexto ilustra como a crise desencadeada a partir de uma nova configuração da relação historicamente tensa entre o leste e o oeste é percebida, e demonstra como as ideologias reagem de modo sensível às dinâmicas políticas.

 

Masculinidade e violência

"Eu sou da opinião, e isso eu digo abertamente, se eu encontrar um nazi que me provoca, na rua, dou nele umas boas porradas": Em várias passagens da entrevista Alex demonstrava sua prontidão para a confrontação física. A violência parecia ser uma forma de ação que provocava a sua masculinidade. Parecia que ele, ao descrever o confronto (real ou imaginário) com um nazi, concentrava-se mais no ato da violência do que no sentido de sua ação e o ódio aparentava ser produzido pela própria violência, sem uma relação mais profunda com o objeto empírico: "se os nazis querem porrada, então eles a têm... e assim surge sempre mais ódio". Ele não se colocava como sujeito de seu ódio, o ódio era o próprio sujeito, "o ódio se constrói nele" (Leiprecht, 1990: 315).
A força masculina de Alex adquiria mesmo feições de superioridade étnica, quando afirmava que os "estrangeiros" projetavam sua frustração contra pessoas mais jovens ou fracas e temiam os nazis, diferentemente dele que, ao vê-los desacompanhados, os atacava sem cerimônia. A corporeidade transformava-se numa forma de apropriação de realidade, numa forma de resistir à subalternidade (Becker, May, 1985:170). Essas formas de interação fortemente ancoradas no corpo funcionam também como instrumento para a incorporação (ou fixação) dos jovens no mundo do trabalho manual. Demonstra-se assim a existência de uma ressignificação de coações típicas da cultura do mundo fabril, que são transformadas em confrontações heroicas com todos os tipos de opositores e inimigos construídos (idem: 169).

 

Força e fragilidade da imediaticidade

As relações objetivas no espaço vital dos jovens passaram a ser determinadas por novas e ameaçadoras dimensões e isso exigia a reestruturação do sentido que atribuíam aos diferentes grupos sociais: "os nazis que tínhamos antes da queda do muro em Berlim, nós os tínhamos sob controle". "Ossis", por sua vez, eram aqueles que "roubavam" espaços de trabalho e moradias. Eles eram equiparados aos nazis, que invadem e ocupam o território. A insistência de Alex em afirmar que "Kreuzberg nos pertence" é uma forma de se defender contra a ameaça do desemprego e da desclassificação social na forma da apropriação do território. Mas o território, conquistado dessa maneira, transformava-se numa perigosa armadilha: as contradições que se apresentavam a Alex eram cognitivamente elaboradas "como se tivessem origem na praxis imediata e somente neste nível pudessem ser superadas" (Holzkamp, 1985: 38, tradução livre). Como afirma Leiprecht (1990: 48, tradução livre), "problemas objetivos são transformados em indícios personificados e, como propriedades coisificadas, atribuídos a grupos e pessoas. As causas dos conflitos sociais são localizadas em individualidades concretas".

 

A transformação no próprio inimigo

Alex afirmou que os próprios nazis são culpados por sê-lo e que estes não se integravam à "comunidade razoável" (vernünftige Gemeinschaft) de Berlim ocidental. Podemos sintetizar essa representação com o conceito de prática de normalização (Normalisierungspraxis) (Haug, 1984: 250). Alex constrói, através da figura depreciada do nazi, um quadro negativo a partir do qual, pelo avesso, o seu modo de vida apresenta-se como sendo o correto: "eles não aprendem a se adequar a nós... eles são estranhos entre nós". A exclusão inclui o próprio Alex num sistema de regras que torna positiva a sua conformidade com o status quo, bloqueando a ampliação de sua capacidade de ação (Handlungsfähigkeit). A exclusão do "estranho", do qual Alex se distanciava para afirmar sua normalidade, transformava-se em autocondenação.
Os nazis são declarados, após a queda do muro, como a causa dos problemas, assim como anteriormente eram os "falsos" turcos que, na visão de Alex, não se adaptavam à ordem social. Ambos os grupos devem ser deportados e os nazis levados à câmara de gás. Seja lembrado que na linguagem do Nacional-Socialismo o assassinato de milhões de judeus e demais grupos era chamado de imigração, evacuação, deportação (Craig, 1982: 361). Deportação, neste caso, significa "eutanásia social", "cirurgia social", cuja finalidade é eliminar o tumor cancerígeno do seio social. A solução proposta por Alex não se diferenciava em nada daquela adotada pelos nazis que ele afirmava rejeitar. O que se articulava como oposição aos nazis tornava-se exatamente o contrário, através dos meios totalitários pensados e em parte praticados (violência física) por Alex para combatê-los - Alex transformava-se, assim, em seu próprio inimigo. Se o inimigo é constituído por elementos repugnantes que espelham, pelo negativo, a positividade normalizada de Alex, vemos que aqui as características que o definem (levar os excluídos da "razoável comunidade" à câmara de gás) são introjetadas por Alex e vividas como parte de sua própria identidade.

 

A reconstrução simbólica do muro e a construção da subalternidade

"De algum modo a gente deveria encontrar uma solução... Por mim, construir um novo muro, onde os nazis vivessem dentro". Alex parecia acreditar que o retrocesso histórico era a única forma de solucionar os conflitos. Tornou-se evidente, ao longo de várias entrevistas realizadas, que para ele o processo de transformação manifestava-se, de modo privilegiado, em formas regressivas: em uma passagem, ele invocava a polícia para acabar com a criminalidade em seu bairro; em outra, pleiteava a punição dos nazis com surras e câmaras de gás; em outra entrevista, ele afirmava que o racismo não deveria existir e que as pessoas deveriam aprender a reprimir tais sentimentos. Agora ele quer negar a história pleiteando a construção de um novo muro. Os elementos da realidade de Alex pareciam perder suas características ameaçadoras somente quando eram objetos de algum poder ordenador. Mas este poder ordenador apresentava-se a ele também em uma forma pouco confiável: "os políticos deveriam ter feito algo, reconstruído a economia para eles ("Ossis") e então aberto o muro. Isso se deu de um modo incontrolável, o muro foi aberto de um dia para o outro (...). Os políticos foram muito burros".
Parece que o preço da unificação somente agora se tornara visível, porém como efeito de uma misteriosa incompetência. Não parecia existir para Alex uma vontade política e muito menos interesses econômicos entre a elite dominante. Os políticos foram por ele vistos como sendo muito burros para perceberem que ele poderia correr o risco da pauperização. A política transformava-se, assim, em uma esfera completamente autônoma, contra a qual Alex desenvolvia um comportamento resignado: "não podemos nada, diante do que os políticos, lá em cima, fazem". Mesmo assim, sua posição não era unilateral. Contra as pessoas "do outro lado" ele afirmava, em outra passagem, não ter nada, mas sim contra a política praticada: "de algum jeito a gente tem que se compor com eles (com os "Ossis"), eu não os culpo, eu culpo o governo, a gente tem que tentar ir em frente da melhor maneira, eles são afinal alemães, e estavam emparedados".
Esse "nós" que é discursivamente produzido por Alex não parecia, no entanto, conter elementos de oposição à funcionalização política. Ele não o via como força política e como forma ativa de oposição, mas como uma unidade meramente residual, situada num plano inferior, sem conexão com o todo, afinal esse momento de solidariedade construiu-se somente com a constatação de que "eles", os "Ossis", eram também alemães. Por esta razão, em outros fragmentos discursivos, esse "nós" perde seus elementos coesivos e só adquire materialidade como objeto da instrumentalização "de cima": "eu acho que, com os impostos, eles (os políticos) querem de nós, berlinenses ocidentais, apenas dinheiro para ajudar a eles (os "Ossis"), lá do outro lado (...). Quão frequentemente nós, berlinenses ocidentais, precisamos enfiar a mão no bolso para ajudar esse ou aquele grupo!".
Vê-se que, quando o pertencimento foi percebido a partir da unidade biológica ("eles são também alemães"), foi possível a Alex construir um "nós" que incluía os alemães orientais e assim colocar-se em oposição à política, constituída por "burros" políticos. Em outra passagem, constrói-se, no entanto, em sua fala, uma outra lógica: "Os do leste, eles realmente pensaram que o governo de Berlim é de fato o melhor, por que nós temos mais, nós somos mais ricos do que eles". Aqui Alex se identificava com um "nós" ideal, no qual o governo de Berlim também era incluído. Esse "nós", que eliminava a fronteira vertical e incluía os "de cima" (o governo de Berlim) e os "de baixo", somente se construiu com a reiterada exclusão dos "de fora", os "Ossis". Num momento Alex pensava o "nós" como oposição formal ao poder "de cima", em outro como elemento de suspensão das fronteiras sociais, ou seja, do antagonismo entre os "de cima" e os "de baixo".
Em outra passagem da entrevista, Alex reclamou que os políticos não davam a ele condições favoráveis para tomar decisões acertadas na hora de votar: "Se eles dissessem a verdade, então teríamos maiores possibilidades para tomar decisões". Na exigência de "verdade" aparece de modo implícito o conhecimento da função da política: ela constrói uma realidade que torna difícil reconhecer as reais relações de poder e as próprias possibilidades de ação. Mas esse conhecimento permanece obliterado pela manutenção de uma polarização naturalizada entre os "de cima" e os "de baixo", fazendo com que a política se transforme, assim, em mera técnica de esclarecimento: ou ela diz a "verdade", ou Alex se condena à imobilidade: "A nós não é dada a chance de refletir direito sobre o que queremos", diz ele nos momentos finais da entrevista. A existência individual e social de Alex, ou seja, a sua condição de sujeito, parecia assim se confirmar apenas na medida em que ele se colocava como predicado de um outro sujeito.

 

Considerações finais

Critérios utilitaristas evidenciaram-se em quase todos os processos de construção de fronteiras (Grenzziehungsprozesse) entre os jovens, inclusive entre aqueles provenientes da antiga Alemanha Oriental, cujas entrevistas não estão sendo aqui focalizadas. A monetarização das relações interpessoais fez com que os jovens percebessem seus interesses preponderantemente no plano econômico. Isso coloca em evidência processos relacionados às mudanças provocadas pela queda do muro e à refuncionalização do espaço urbano, que aprofundaram dinâmicas atreladas à (re)privatização de riscos sociais decorrentes da crise do Estado do Bem-Estar Social, à desregulação e à racionalização da economia. A esses aspectos soma-se a influência dos meios de comunicação, que tratavam cotidianamente questões sociais embasados em cifras e impregnavam o interdiscurso social com argumentos fundados em esquemas do tipo custo-utilidade (Soares do Bem, 1998: 290). Tais aspectos descreviam não apenas pressões reais vivenciadas pelos jovens, mas condensavam-se, na forma do habitus, em suas práticas culturais, cristalizando-se em suas consciências enquanto constructos ideológicos.
A separação étnica, fortemente ancorada na cultura política e nas práticas cotidianas da Alemanha, fez com que, em muitos aspectos, a intenção dos jovens de resistir contra várias formas de instrumentalização e dessolidarização, como se evidenciou através das perspectivas diferenciais e flexíveis de construção de fronteiras, bem como na luta pela apropriação de território, fosse cooptada na base, antes que pudesse se desdobrar em força social autônoma capaz de contribuir para ampliar a sua capacidade de ação. O impulso para a apropriação cognitiva das condições de existência, visível em várias passagens das entrevistas, foi deslocado pelos efeitos latentes do quadro social (Gesellschaftsbild) (Hoffmann, Even, 1984), da Alemanha, cuja característica central é fornecer modelos institucionalizados de soluções de conflitos, que são apropriados pelos jovens e ocupados a partir da "lógica étnica" (etnicidade). Os elementos ideológicos inscritos nesta lógica produziram efeitos "limitadores" mesmo nas tentativas de "penetração" crítica das relações sociais entre os jovens, deslocando-as e cooptando-as. Isso ficou visível entre os jovens alemães ocidentais, os quais, após a unificação, fizeram alianças com os "estrangeiros", rompendo a lógica de uma barreira central para o processo de integração social de migrantes, mas somente ao preço da reiterada exclusão dos alemães orientais.
Demonstrou-se que, diante das mudanças históricas desencadeadas pela queda do muro, a orientação dos jovens foi pontualmente alterada, sem que a estrutura de elaboração subjetiva das relações sociais (Bents, Juelich, Oechsle, 1984) fosse substancialmente modificada. A exclusão discursiva de um ou outro grupo social ficava sempre condicionada pela constelação política concreta. Assim, a "estranheza" cultural das minorias étnicas, tão usual em tentativas de análises (que são de fato simplificadoras, quando não legitimadoras) do comportamento racista, perde completamente a sua força explicativa: alemães orientais ("eles também são alemães"), podem, em constelações históricas específicas, ser transformados - como os "estrangeiros" - em objetos para a projeção do medo e para a construção estratégica e defensiva de fronteiras excludentes.

 

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Notas

The work presented here is the result of a long process of qualitative empirical research conducted between 1988 and 1994 in Berlin, as part of the requirements for a doctorate, conducted at the Institute of Social Sciences, Free University of Berlin, and completed in 1997. The original research was conducted between 1988 and the fall of the wall in 1989, through series of interviews with young people of both sexes, among whom were young West Germans and migrants born in Berlin and also young people from East Germany between years 1989 and 1994.

[2] Cf. http://de.wikipedia.org/wiki/C%C3%B6lln, acesso em 06.03.2013.

[3] Cf. http://de.wikipedia.org/wiki/Berliner_Zollmauer, acesso em 06.03.2013.

[4] "Tirem-se as ocasiões dramáticas da vida urbana, aquelas que se dão na arena, no tribunal, no julgamento, no parlamento, no campo de esportes, na reunião do conselho, no debate, e metade das atividades essenciais da cidade desapareceriam e mais que metade de seus significados e valores seriam postos de lado, senão anulados" (Mumford, 1982: 133).

[5] Entre 1991 e 1994 foram realizadas também 11 entrevistas no lado oriental da cidade, no bairro Lichtenberg. Assim como a pesquisa realizada em Berlim Ocidental, também a pesquisa em Berlim Oriental foi desenvolvida numa escola - a Bildungsmarkt e.V. A Bildungsmarkt é uma associação de interesse coletivo fundada por um grupo de pedagogos e capacitadores com a finalidade de profissionalizar os jovens - nos setores administrativo-burocráticos e de eletrotécnica - e fomentar a integração dos mesmos no mercado de trabalho. Assim como na Escola Modelo de Kreuzberg, os jovens são aqui também oriundos dos baixos estratos da população. A análise do projeto pedagógico da Escola Bildungsmarkt "Ansatz für die Sozialpädagogische Arbeit mit Jugendlichen im Förderkurs" (s/d) , evidenciou a mesma ausência de concepções teóricas aprofundadas identificada na Escola Modelo e um direcionamento bastante pragmático para questões relacionadas à construção identitária no contexto da Alemanha unificada, ao treinamento dos jovens para o trânsito nos diferentes órgãos públicos, aos problemas dos jovens com o consumo de drogas e ao manuseio de dinheiro e riscos de endividamento, bem como aos problemas relativos à xenofobia, entre outros (Op. Cit.: 2).

[6] Em tradução livre para Português, "O jogo das identidades na constituição de processos grupais. Jovens alemães ocidentais, orientais e de origem estrangeira nascidos em Berlim no contexto de transformações sociais".

[7] O debate sobre o asilo político dominou o interdiscurso social da Alemanha nos anos imediatamente posteriores à unificação, principalmente entre 1991 e 1994 e foi marcado pela atenção histérica dos meios de comunicação (incluindo inclusive órgãos liberais de esquerda) à crescente imigração de exilados em busca de asilo. Permaneceu em pauta nesse período a acusação de abuso do direito ao asilo (Asyl-Missbrauch), provocando, entre tantos fatores relacionados às grandes transformações sociais após a queda do muro de Berlim, a emergência de uma onda de violência de extrema direita contra exilados. As primeiras manifestações ocorreram em 1991 em Hoyerswerda e Hünxe; no ano de 1992, em Rostock e Mölln; em 1993, em Solingen e em várias outras cidades da Alemanha. Diante desse clima, a esfera político-institucional reagiu incluindo cláusulas restritivas na legislação e levando, com isso, a uma guinada do espectro político para a direita.

[8] Todos os trechos das entrevistas aqui citadas constam do volume da tese de doutorado citada. Cf. Soares do Bem (1998). Saliente-se que foram realizadas 14 entrevistas em Berlim Ocidental e que em todas elas dinâmicas bastante semelhantes às apresentadas na série de entrevistas realizadas com o alemão (ocidental) Alex e o jovem de origem turca, Erhan, fizeram-se presentes. O material evidencia elementos promissores para a discussão das inúmeras formas de transposições e deslocamentos constitutivos da complexa articulação entre a política, a cultura e a ideologia.

[9] Críticas detalhadas ao conteúdo do projeto pedagógico dessa Escola Modelo foram colocados à disposição dos leitores brasileiros através de uma publicação na revista Educação e Sociedade, em 1993 (Soares do Bem, 1993). No mesmo ano, publicamos, também em língua portuguesa, uma crítica à política de integração da segunda geração de "estrangeiros" na Alemanha (Soares do Bem, 1993a). Material desenvolvido a partir desses trabalhos compôs, ainda, um dos capítulos do livro que publicamos em 2005, pela Editora Papirus, sob o título "A Dialética do Turismo Sexual", no qual analisamos aspectos históricos da Alemanha no período em que este país teve colônias na áfrica (Soares do Bem, 2005). Análise detalhada dos paradoxos e contradições desse modelo de educação intercultural encontra-se em Soares do Bem (2013).

[10] Em tradução livre para Português, "Concepção da Escola Modelo orientada para o bairro de Kreuzberg".

[11] A partir de 2005 entrou em vigor a nova lei de migração (Zuwanderungsgesetz), que significou a aceitação prática da situação de migração no Alemanha, veementemente refutada nas décadas posteriores ao início da migração no Pós-Guerra. O debate público que levou a essas inovações legais foi marcado por enorme polarização político-ideológica e é um processo ainda em curso. Os bloqueios para a participação política dos migrantes precisam ainda ser desconstruídos e um novo habitus coletivo precisa ser consolidado (Soares do Bem, 2013: 223).

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