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CIDADES, Comunidades e Territórios

versão On-line ISSN 2182-3030

CIDADES vol.43  Lisboa dez. 2021  Epub 30-Dez-2021

https://doi.org/10.15847/cct.26042 

RECENSÃO

Recensão do livro Bak Gordon, Autorretrato em azul

Book review of Bak Gordon, Autorretrato em azul

1DINÂMIA'CET-Iscte, Instituto Universitário de Lisboa, Portugal. Email: fm@filipemonica.com


Cinza, vermelho e azul

Neste momento são já três os livros monográficos que o atelier Lisboeta de Ricardo Bak Gordon editou em nome próprio, todos com o mesmo formato. São livros-objeto, de capa dura com 17x21 cm, onde consta apenas, em letras brancas, o nome do atelier: ‘.bak gordon’. À primeira vista apenas a cor da capa os distingue: o primeiro é cinzento, o segundo vermelho, e este último, datado de 2021, é o livro azul. O modelo dos livros foi definido aquando do lançamento do primeiro volume, e tanto o segundo como o terceiro seguem os mesmos parâmetros editoriais, em linha com a identidade gráfica do próprio atelier, patente, por exemplo, na sua página online. Tratam-se, todos eles, de produtos autorais, definidos e desenhados ao detalhe por Ricardo Bak Gordon em colaboração com a designer gráfica Vera Velez, autora de um extenso trabalho na edição de livros de arte. O primeiro livro, o cinzento, foi editado em 2005, com a chancela da editora Librus. Quatro anos depois, em 2009, foi lançado o segundo volume, o vermelho, já através da livraria e editora especializada em arquitetura, a A+A, então em parceria com a Guimarães editora de Paulo Teixeira Pinto. A decisão de Bak Gordon de manter em tudo o modelo do livro anterior, e de editar um produto definido e acabado, encontrava então eco na vontade (e paixão) de Maria Melo, proprietária da A+A, que dava então início, de forma pioneira no país, à edição continuada de monografias autorais personalizadas de arquitetos portugueses. E é assim, novamente com conteúdo e design integralmente pré-definidos, e à semelhança de outros autores entretanto publicados, que a A+A em 2021, agora já autonomamente, lança o livro azul de Ricardo Bak Gordon.

Um livro, duas partes

Ainda que tal não esteja expressamente demarcado, designadamente no seu índice, o livro divide-se em duas partes principais, intercaladas e complementadas por momentos que, apesar da sua menor dimensão, são fundamentais na sua caracterização e na expressão do universo do autor. O livro abre com um curto texto de Eduardo Souto de Moura, em forma de dedicatória. Intitula-se precisamente ‘Para o Ricardo Bak Gordon’, e dá início à primeira parte, aquela onde se expressa a sua dimensão teórica. Sob o título ‘Minas de Ouro, Lugares e Intimidade’, segue-se o registo de uma conversa a três, entre Ricardo Bak Gordon, Ricardo Carvalho e Federico Tranfa. A fechar a primeira parte encontramos um ensaio do Arquiteto Nuno Tavares da Costa, um histórico colaborador do atelier de Bak Gordon que recentemente concluiu no Iscte-IUL o doutoramento com a tese intitulada Do exercício moral da consciência: estudos a partir do novo Museu Nacional dos Coches, e que foi elaborada precisamente na sequência da sua coordenação do projeto daquele Museu dentro do atelier. O título do ensaio, ‘De dentro para fora’, ao pretende fazer jus ao momento do atelier, não esconde também a cumplicidade do autor com a estrutura que o acolhe e sobre a qual é convidado a escrever. Na segunda parte do livro, que se estende por cerca de dois terços das suas 295 páginas, são expostos 20 projetos com datas que oscilam entre 2003/2012 (Casa em Santa Isabel, Lisboa) e 2016/2020 (Casa no Monte dos Patos, Grândola). A apresentação dos vários projetos não é também ordenada e compartimentada de forma explícita, mas não deixa de ser legível a sua organização: começam por ser apresentadas sete casas, seguidas de três equipamentos públicos, um equipamento industrial, e duas escolas secundárias, todos em Portugal. Seguem-se quatro projetos fora do país (Suíça e Itália), fechando assim um conjunto de 17 projetos de edifícios. Na parte final é apresentado um único projeto de espaço interior, o escritório PLMJ (no edifício FPM41, de Diogo Lopes e Patrícia Barbas) e, por último, dois projetos de escala urbana, em Maputo e Lisboa.

Intermezzi

Intercalando e delimitando as suas duas partes principais, o livro inclui um conjunto de momentos singulares. Desde logo, como intermezzo entre os dois «atos» escritos, a conversa a três e o ensaio de Nuno Tavares da Costa, é ao longo de nove páginas apresentada uma seleção de 25 esquissos de trabalho de Ricardo Bak Gordon. Trata-se de peças centrais no seu processo criativo, e por isso reveladoras do mesmo. São registos manuais de forte expressividade que, quando apresentados autonomamente, como aqui, ganham uma forte identidade plástica. Convidam a esquecermo-nos que se trata de concretas representações arquitetónicas, mas são-no sempre: plantas, cortes, alçados e perspetivas. Para além disso, estes desenhos são uma expressão da individualidade e originalidade autoral de Bak Gordon, aspeto destacado por Souto de Moura logo na abertura do Livro: “O Ricardo trabalhou pouco com arquitetos. Vê-se pelos seus desenhos a mão que um deles foi o Manuel Graça Dias. Os do Bak Gordon são mais intensos, mais “Ângelos”, talvez pela sua passagem pelo Porto, não sei…” (Bak Gordon, 2021, p4). Esta passagem pelo Porto, a que Souto de Moura se refere, teve lugar nos primeiros anos da formação em Arquitetura, quando Ricardo Bak Gordon frequentou a Faculdade de Arquitetura do Porto, e é mencionada no ‘Resumo Biográfico’ presente do final do livro. Este, a par com as listas da ‘Cronologia de Obras e Projectos e das Publicações’, confere ao livro um importante rigor técnico e editorial. Relativamente às listas referidas, elas são importantes, desde logo, para uma compreensão do percurso de construção e sedimentação do atelier Bak Gordon ao longo de 30 anos. Por um lado, porque coincidem no arco temporal, demonstrando a constante presença do trabalho do atelier no universo editorial especializado. Por outro porque as 150 obras individualmente ilustradas, e as quase 200 referências bibliográficas, atestam a robustez do seu percurso profissional. A fechar o livro, e confirmando a sua precisão, encontramos uma lista de todos os colaboradores que passaram pelo atelier desde 1990 (+ de 60) e a ficha técnica da publicação. E é a partir desta última que nos é possível decifrar um conjunto de seis fotografias de página inteira que vão surgindo quase ao acaso entre secções. São as únicas cujos créditos recaem individualmente sobre Ricardo Bak Gordon, seis imagens de artefactos arquitetónicos e espaciais que nos oferecem rápidos e fugazes vislumbres do seu referencial privado.

Conversa a três em aberto

Os arquitetos Ricardo Bak Gordon, Ricardo Carvalho e Federico Tranfa reúnem-se neste este livro, para uma conversa, após alguns outros encontros. Tanto Tranfa como Carvalho marcaram presença nas entrevistas e ensaios dos dois livros anteriores de Bak Gordon, e Federico Tranfa editou, em 2015, uma monografia do autor na editora italiana Electa. Estes não serão provavelmente os únicos ou os mais relevantes momentos de convivência entre os três, mas permite-nos enquadrar e ajudam-nos desfrutar a informalidade e a efemeridade da conversa registada neste livro, com o título ‘Minas de Ouro, Lugares e Intimidade’. Ricardo Carvalho abre a conversa com Bak Gordon e Tranfa, mas também com o leitor: “É um prazer encontrar-vos aqui pela terceira vez” (Bak Gordon, 2021, p.9). Somos automaticamente tornados cúmplices das conversas anteriores, razão suficiente para que, no final, quando vemos a entrevista subitamente interrompida num tema especialmente estimulante no trabalho de Bak Gordon, o seu método criativo, não nos sentirmos lesados: estamos de antemão convocados para as outras conversas, e para as que seguramente se seguirão. Talvez também por isso não nos deva surpreender a arbitrária referência a poucos dos projetos publicados no livro. Porque já o folheámos, sabemos que os projetos e obras de Bak Gordon são nesta monografia apresentados apenas com recurso a desenhos e imagens, e que é aqui que qualquer elucidação autoral poderia ter lugar. Não é esse, porém, o registo da conversa, e é talvez por isso que desfrutamos com especial interesse as passagens tangentes a alguns projetos: os constrangimentos que condicionaram o ponto de partida da Escola Secundária Weitenzelg, em Romanshorn, na Suiça (2014/2019); a cuidada hierarquia dos espaços programáticos na verticalidade da Casa no Castelo; a intensidade plástica dos espaços da Casa na Lapa (2012/2017); ou a domesticidade íntima dos escritórios da empresa PLMJ (2017/2019). Entretanto, pelo meio e sem guião detalhado, somos levados a percorrer alguns temas importantes para o autor, que o título dado à conversa sintetiza: as ‘Minas de Ouro’, metáfora do potencial de todos os projetos, que está já dentro de nós; a importância, as virtudes e a densidade grave e duradoura dos Lugares; a prática emotiva, poética da arquitetura numa constante procura da ‘Intimidade’, que mais do que um atributo espacial é o espaço privado interior de cada um. Mas há também lugar ao tempo específico deste terceiro livro na vida e no percurso de Ricardo Bak Gordon, como são as suas recentes experiências de projecto e actividade académica internacionais. E é também deste tempo o delicado, mas seguro equilíbrio de Bak Gordon entre as certezas e as dúvidas, presentes tanto em cada folha em branco como em cada olhar retrospetivo. Federico Tranfa é quem melhor o sintetiza: “È a idade da sabedoria!” (Bak Gordon, 2021, p.25).

Dentro e fora

‘De dentro para fora’ é um difícil, mas conseguido exercício de detachment, como o próprio o caracteriza, de Nuno Tavares da Costa (Bak Gordon, 2021, p.53), e encerra um duplo sentido: o da própria condição do autor, e o do momento da publicação deste livro. O primeiro sentido dá-nos desde logo um dos maiores valores deste texto, que é o seu profundo enraizamento no quotidiano do atelier de Bak Gordon, onde Nuno Tavares da Costa colabora há quase duas décadas. É a partir deste espaço privilegiado e graças a um difícil, mas plenamente conseguido, movimento exógeno, que nos oferece um panorama do exercício disciplinar da arquitetura dentro das quatro paredes do atelier. E não se trata apenas do exercício de projeto, porque, como o autor nos diz, aqueles seguem os mesmos três estágios de evolução que levaram à criação de cada um dos “livros que se tornam obra” (Bak Gordon, 2021, p.56) que o atelier pensou e produziu. O método de trabalho, onde o pragmatismo garante espaço “ao erotismo da intimidade e da poética” (Bak Gordon, 2021, p.55); a dimensão do papel do desenho, expressivo e colorido, como ferramenta de resistência e de projeto; ou a precedência de um saber emocional, mais do que intelectual, no exercício disciplinar, são dimensões de uma prática que conseguimos ler na obra de Bak Gordon. Mas nunca o faríamos tão profundamente sem as chaves que Nuno Tavares Costa nos dá. Isto porque o autor cumpre na perfeição o difícil propósito a que o título, na verdade, não faz justiça: não sai de dentro do atelier para fora, porque consegue colocar-se simultaneamente, e sem compromissos, de ambos os lados. O segundo sentido do título, mais literal, reside naquele que é o momento específico em que o presente livro é editado. Cada um dos três livros corresponde, segundo o autor, a momentos precisos da vida do atelier: reconhecimento e afirmação em 2005 no livro cinzento, em tempos de crescimento do atelier; consolidação em 2009 no livro vermelho, onde marcam especial presença os projetos para a Parque Escolar, que desse período são emblemáticos; e a prospeção e projeção em 2021, da qual nos dá testemunho este livro azul. É esta projeção a que o título se refere. ‘De dentro para fora’, porque o atelier vai se projetar para fora do país, tanto através de projetos, exposições e publicações, como da presença de Ricardo Bak Gordon em várias importantes universidades estrangeiras. Mas também aqui a metáfora de um movimento de sentido único é enganadora. Por um lado, o Brasil reentra no atelier pela mão de Paulo Mendes da Rocha, quer diretamente, através da parceria no projeto do Museu dos Coches (2008/2015), quer pela influência daquele país que se sente, como Nuno Costa nos faz ver, nos projetos do Lagar de Azeite em Ferreira do Alentejo (2009/2011), do Pavilhão de Belém (2011/2020), ou da Frente Marítima FACIM, em Maputo (2012). Por outro lado, há lugar a uma evolução na prática disciplinar que Nuno Costa associa à “experiência cosmopolita do arquiteto (através da viagem)” (Bak Gordon, 2021, p.65), e que trás, neste caso de fora para dentro, novos expedientes de projeto. Não é possível nem sequer útil distinguir, numa prática intensiva e continuada de projeto com mais de 30 anos, aquelas que são as influências que entram e saem do atelier. Tudo é o mesmo, tudo é uno. E Nuno Tavares da Costa, que partilha essa viagem há tempo suficiente, garante-nos mesmo, no final do seu distinto ensaio, que para esta unidade contribuem também a vida, as pulsões e as inquietações mais íntimas de Ricardo Bak Gordon.

Obra em imagens

A exibição das duas dezenas de projetos e obras do atelier de Bak Gordon ocorre quase exclusivamente por meio de imagens fotográficas e de projeções ortogonais. Apesar do amplo arco temporal abrangido, que entre o início do primeiro projeto e a conclusão do último percorre 17 anos de vida do atelier; dos diferentes programas, escalas e tipologias de projeto; dos diferentes estágios em que se encontram os trabalhos; dos processos que lhe deram origem e da diversidade de autores das imagens, há nestas quase 200 páginas do livro uma evidente preocupação pela coerência e qualidade da comunicação. O mais notório e conseguido esforço tem lugar na cuidada uniformização das peças desenhadas. Plantas, cortes e alçados foram meticulosamente trabalhados para transitarem do projeto para o livro, como nos informa Nuno Tavares da Costa (Bak Gordon, 2021,p.57). A escala dos desenhos, por exemplo, apesar de não ser constante nem definida (não há qualquer escala gráfica), possibilita uma clara leitura funcional e tipológica dos projetos, aspeto que é assegurado pela legendagem colocada em todas as plantas. Estas, tal como os restantes desenhos, respeitam uma representação gráfica sintética e precisa, com linhas pretas sobre o fundo branco das páginas, e preenchimento apenas das estruturas divisórias de paredes, tectos e pavimentos. Quanto às imagens, que se dividem entre fotografias de obra e simulações tridimensionais realistas, consoante os projetos tenham ou não obra concluída, são quase integralmente a cores, oscilando entre o formato de dupla página e a reduzida dimensão de algumas imagens complementares. De uma forma ou de outra, trata-se de um livro maioritariamente de imagens, onde têm forte protagonismo os quatro fotógrafos de arquitetura a que o atelier recorre: Francisco Nogueira, Fernando Guerra, Leonardo Finotti e Rasmus Norlander. Este último regista apenas o projeto da Escola Secundária de Weitenzelg na Suiça (2014/2019), obra que maior destaque recebe no livro. Quanto às restantes, das sete casas apresentadas, quatro estão construídas e bem documentadas, o mesmo acontecendo com os seis edifícios de equipamentos, dos quais só um não está construído. Menos destaque recebem, compreensivelmente, os oito projetos não construídos. Há, nas opções de edição tomadas, uma estratégia seguida e conseguida, que reconhecemos no ADN de Ricardo Bak Gordon. A sua expressividade vital, tão bem espelhada nos desenhos, tem nas obras de arquitetura uma manifestação menos direta. Nestas, as qualidades sensoriais dos diferentes espaços são tão importantes como as relações que se constroem entre eles. E essa é a principal leitura que as opções desta edição nos oferecem. Terá sido por opção que ficam de fora alguns níveis de descodificação da obra que outras imagens, desenhos ou textos nos poderiam fornecer. As motivações da encomenda, as condicionantes de projeto, as estratégias seguidas, as circunstâncias das obras, as opções técnicas e construtivas e as equipas técnicas, por exemplo, são-nos habitualmente oferecidas nas publicações de arquitetura. E é útil serem-no. Mas se neste livro não são fundamentais, é porque não são aquilo que de mais precioso Ricardo Bak Gordon tem para nos dar.

Autorretrato em azul

Apenas quatro anos decorreram entre as edições dos livro Cinzento e Vermelho de Ricardo Bak Gordon. Depois de 2009, data deste último, Portugal e o mundo entraram numa crise económico-financeira, profundamente sentida pelos ateliers de arquitetura nacionais. O de Bak Gordon não foi exceção, passando “de uma atividade frenética para uma atividade reduzida” (Bak Gordon, 2021, p.63). Mas foi também o tempo de reconhecimento e afirmação internacional do atelier. Desde então e até 2021, data da publicação deste livro, decorreram doze anos, ao longo dos quais o atelier de Bak Gordon conquistou um Prémio FAD (2011), um Prémio BIAU (2012), duas nomeações para o Prémio Mies van der Rohe (2009 e 2011) e o Prémio AICA (2018). Em 2014 ganhou o primeiro prémio do concurso para a ampliação da Escola Secundária de Romanshorn, na Suiça, e em 2012 e 2015 viu editadas duas monografias da sua obra pelas prestigiadas editoras GG e Electa, respetivamente. Hoje, com 54 anos, Ricardo Bak Gordon afirma ter em relação à produção um olhar mais crítico, mas continua a reconhecer o mesmo património genético que refere ter identificado aquando da realização do primeiro livro (Bak Gordon, 2021, p.25). A produção de um livro desta natureza encerra uma dimensão autorreflexiva, associada ao intenso processo de recolha, selecção e reapresentação de projetos passados. No caso de Bak Gordon, e pela terceira vez, este é também um processo inteiramente consciente e voluntário, tal como o são a escolha do momento em que é realizado e partilhado, e a sua expressão formal. O total controle do produto final resulta numa obra muito cuidada e maturada, e perfeitamente alinhada com a matriz disciplinar do seu autor. Poderíamos dizer que falta a este livro a dimensão crítica, aquela que uma curadoria editorial externa lhe daria. Mas não é esse o seu genótipo. Em vez disso, ele reside na ausência de uma intermediação activa entre leitor e autor, que, com a própria paleta, nos revela a sua identidade. Este é talvez a maior virtude destes livros, e do projeto de Maria Melo na A+A. Eles dão corpo à antiga a ideia do inconsciente autorretrato que cada autor faz com a sua obra. Ricardo Bak Gordon até agora deu-nos três, e tudo nos leva a confiar que outros virão. Se continuar a identificar-se com o mesmo património genético, como até aqui, terão possivelmente o mesmo formato, mas outra cor. Este é, por agora, o seu autorretrato em azul.

Livro

Bak Gordon, R. (2021). Bak Gordon. Architecture. Lisboa: A+A Books. Edição bilingue Português / Inglês, 295 p. ISBN: 978-989-544-015-3 [ Links ]

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