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Revista Internacional em Língua Portuguesa

versão impressa ISSN 2182-4452versão On-line ISSN 2184-2043

RILP vol.35  Lisboa jun. 2019  Epub 29-Jul-2021

https://doi.org/10.31492/2184-2043.rilp2018.35/pp.103-132 

Artigo Original

Fitodiversidade em Timor-Leste: lista de plantas medicinais associadas a práticas tradicionais

José Pinto Casquilho1  1

José Sabino Xavier1  2

1Universidade Nacional Timor Lorosa’e, República Democrática de Timor-Leste


Resumo

Neste trabalho apresenta-se um conjunto de cerca de 130 espécies vegetais que se podem considerar associadas a práticas fitoterapêuticas tradicionais em Timor-Leste. As práticas tradicionais, para além da respetiva injunção pragmática e vínculo associativo, enraízam no conceito relativo à palavra tétum lulik - significando, em geral, sagrado ou santo - que, na região das ilhas próximas da Indonésia tem expressão no termo adat ou tradição, e que ainda se pode relacionar com o conceito de tabu, dominante na Polinésia. As plantas são utilizadas pelos curandeiros matan-dook, em receitas simples ou compostas, incluindo a prescrição de mantras e orações. O conjunto de espécies aqui apresentadas, resultando de uma compilação de trabalhos previamente elaborados bem como de uma inquirição verbal a 45 curandeiros nas cidades de Díli e Baucau, constitui uma base de trabalho onde se visa identificar mais aturadamente componentes e processos fitoterapêuticos em Timor-Leste, bem como a sua contribuição para a problemática mais geral da conservação da biodiversidade e da identidade cultural no jovem país do sudeste asiático, considerado por vários autores como inserido num “hotspot” de biodiversidade.

Palavras-chave: curandeiro; fitodiversidade; fitoterapia; lulik; matan-dook; Timor-Leste

Abstract

This work presents a set of about 130 plant species that can be considered associated with traditional phytotherapeutic practices in Timor-Leste. Traditional practices, in addition to their pragmatic injunction and associative bond, rooted in the concept of the word tetun lulik - meaning, in general, sacred or holy - which in the region of the islands near Indonesia is expressed in the term adat or tradition, and which can still be related to the concept of taboo, dominant in Polynesia. Plants are used by matan-dook healers in simple or compound recipes, including the prescription of mantras and prayers. The set of species herein presented, entails a synthesis of previously done works, as well as a verbal inquiry into 45 healers in the cities of Dili and Baucau, and becomes a work base for an ongoing research, which aims to more accurately identify phytotherapeutic components and processes in Timor-Leste, as well as its contribution to the more general problem of biodiversity conservation and cultural identity in the young Southeast Asian country, considered by several authors as part of a biodiversity hotspot.

Keywords: healer; phytodiversity; phytotherapy; lulik; matan-dook; Timor-Leste

1. Introdução

É sabido que os portugueses aportaram à ilha de Timor em demanda do sândalo (Santalum album L.), na sequência da conquista de Malaca por Albuquerque em 1511, a que se seguiu a viagem comandada por António de Abreu às ilhas das especiarias, Banda e Molucas. Dessa viagem resultou a documentação cartográfica elaborada por Francisco Rodrigues reportada a c. 1512, também coligida a partir de informação de origem javanesa (Sousa, 2016), que menciona “a ilha de Timor onde nasce o sândalo”, embora se tenha por provável que só posteriormente terá existido contacto com as populações da ilha, cerca de 1514 ou 1515 (e.g. Matos, 1974, p. 36; Thomaz, 1998, p. 594; Casquilho, 2014).

Mas o comércio do sândalo com potências regionais tem uma história mais antiga: no tratado Tao-i-Chi-Lueh (c. 1350) um cronista chinês escreveu que nas montanhas da ilha, aí designada Ku-li Ti-men, não crescem outras árvores senão sândalos, que são muito abundantes, sendo o lenho comercializado em troca de prata, ferro, porcelana e tecidos (Ptak, 1983); ainda Ptak (1983) refere a existência de menções chinesas a Timor anteriores, datadas de 1250 e 1345, sendo então a ilha nomeada como Ti-wu ou Ti-men.

Também há notícia da presença regular de mercadores javaneses, indianos e árabes, entre outros; por exemplo, Timor é mencionada num poema javanês reportado a 1366 (Hägerdal, 2012, p.15) e o cronista da viagem de Magalhães e Elcano, Antonio Pigafetta, refere que, estando aportado em Timor em 1522, viu um junco das Filipinas (lução) carregando sândalo (Pigafetta, 1524, p. 79). Na Figura 1 pode ver-se um esboço da ilha de sua autoria.

Figura 1 A ilha Timor esboçada por Antonio Pigafetta (c. 1522)3  

O médico português, judeu sefardita, Garcia de Orta, dedicou ao sândalo um colóquio do seu tratado escrito em Goa em meados do século XVI, onde se pode ler:

E quanto he ao sandalo branquo e amarelo, muyto grande cantidade se guasta em toda a India; porque toda a mais gente, ora sejam Mouros ora Gentios, se untam com sandalo desfeito em aguoa, e pisado em pedras, que pera esse mister tem feitas; e asi untam todo o corpo até que se seca pera estarem frios, e cheirarem bem; porque esta terra he muito quente, e a gente della muyto amigua de cheiros. (Orta, 1563/1895, p. 282)

Também existe menção de um mapa de Timor concebido por Emanuel Godinho de Erédia cerca de 1613, onde, para além do sândalo, se refere a existência de plantas medicinais e ouro (Gunn, 2009). No entanto, não parece haver notícia da utilização do sândalo na ilha de Timor como planta medicinal, apesar de lhe serem conhecidas desde há muito propriedades terapêuticas: por exemplo, misturando a madeira moída em pó com água e leite para curar febres altas e gonorreia e ainda como tónico cardíaco (e.g. Sousa, 2018, p. 118), a que acrescem outros usos, incluindo valências anticancerígenas (e.g. Casquilho, 2015).

Um exemplo elucidativo dessa elipse é a lista de 32 plantas compilada no final do século XVIII pelo dominicano Frei Alberto de S. Thomaz (c. 1789/2016), cuidadosamente ilustrada, onde não consta essa espécie arbórea de lenho odorífero. A título exemplificativo mostra-se na Figura 2 a estampa 36 dessa compilação, denominada Dilla/marmeleiro, aí referida como sendo útil contra o veneno da cobra verde, fazendo-se uma aplicação de cataplasma de casca da árvore mastigada junto com betel (Piper betle L.).

Figura 2 Estampa 36 de S. Thomaz (c. 1789/2016) - “Dilla” 

De entre os enciclopedistas franceses que visitaram Timor, tem-se conhecimento do botânico Leschenault de la Tour que, no início do século XIX, faz uma descrição detalhada das atribuições dos régulos e do direito costumeiro na região de Kupang (Cupão), incluindo no abate e venda de árvores de sândalo (Durand, 2006, pp. 188-190) e também do texto que Louis-Claude de Freycinet publicou em 1815, onde se descrevem numerosos atributos dos reinos mineral, vegetal e animal (Durand, 2006, pp. 207-216).

Posteriormente são conhecidos os relatos das viagens dos naturalistas britânicos Wallace (1890) que passou quatro meses em Díli em 1861, e de Forbes (1885) que visitou a ilha cerca de duas décadas depois, durante meio ano, deixando uma descrição circunstanciada, acompanhada de anexos sistemáticos onde constam cerca de 255 espécies de plantas. Um marco incontornável na caracterização da flora presente no Timor português é a lista de mais de 240 nomes indígenas de espécies vegetais, elaborada por Ruy Cinatti (Gomes, 1954).

Recentemente Sousa, Silva, Paiva e Silveira (2011) elaboraram um guia de árvores e arbustos presentes na cidade de Díli, com informação detalhada sobre as espécies.

Em termos genéricos de biodiversidade, Timor-Leste está inserido na região denominada Wallaceae (e.g. Denis 2014, p. 11), num dos “hotspots” aí considerados (Sodhi, Koh, Brook & Ng, 2004), propondo-se, a propósito da conservação dos recursos naturais, uma agenda multidisciplinar que inclui a delimitação de reservas e incentivos económicos, controle demográfico, capacitação de instituições e implementação de regimes de conservação (Sodhi, Posa, Lee, Bickford, Koh & Brook, 2010). No entanto, as mudanças no coberto vegetal em Timor-Leste na década 1989-1999 foram analisadas e concluiu-se que no período considerado as florestas de tipo savana tropical decresceram em área quase 15% (Bouma & Kobryn, 2004), assunto revisitado recentemente onde se enfatiza a maior pressão antrópica no Sul do país, resultando em menor abundância e diversidade (Crespi, Ferreira, Fonseca & Marques, 2013).

Por outro lado, é sabido que o conhecimento ecológico tradicional no domínio da etnobotânica e práticas fitoterapêuticas contribui para melhorar e implementar políticas de conservação e gestão dos recursos naturais (Ragupathy, Steven, Maruthakkutti, Velusamy & Ul-Huda, 2008) além de promover a resiliência cultural das comunidades. Este aspecto foi, aliás, ressalvado expressamente para a comunidade de língua fataluku no pós-conflito (McWilliam, 2008), e abordado no âmbito da caracterização aprofundada dessa cultura no tempo do Timor português (Gomes, 1972, pp.202-203).

Neste escrito, procurar-se-á dar um contributo sistematizado de algumas dezenas de plantas referidas como tendo propriedades medicinais associadas a práticas tradicionais em Timor-Leste, efetuada através da revisão bibliográfica da literatura existente e de informação verbal prestada por curandeiros.

2. Práticas tradicionais e plantas medicinais em Timor

Pelos relatos disponíveis, os timorenses - anteriormente à cristianização e até aos dias de hoje - ainda que em formas híbridas, professam uma religião constituída por um conjunto de superstições assente num misto de temor e adoração pelo espírito dos mortos, materializados por pedras, aves, animais, poços, ribeiras ou objetos dotados de misterioso poder mágico, benéfico ou maligno, a que chamam lulik (em tétum) que significa sagrado e intangível (Matos, 1974, p. 34), ou ainda santo e interdito, regulando as relações humanas com a divindade por intermédio da natureza e da invocação dos espíritos dos antepassados (Araújo, 2016). Neste âmbito incorre, para além do sacerdote dato lulik, também a figura do curandeiro denominado matan-dook (e.g. Figueiredo 2004, p. 105) termo que também se aplica a feiticeiro e vidente, significando literalmente “olho longe” (Costa, 2000, p. 244).

Trindade (2016) refere o que o lulik reporta-se ao cosmos espiritual que contém a criatura divina - Maromak em tétum, Uruwatu em makasae- o espírito dos ancestrais e a raiz espiritual da vida, incluindo as regras e os regulamentos sagrados que ditam as relações entre as pessoas, e entre estas e a natureza. Já Freud (1918, p. 128) referia que o animismo é um sistema de pensamento e que a raça humana desenvolveu, no decurso das eras, três grandes representações do universo: animista, religiosa e científica - e que a primeira, não sendo ainda uma religião, contém os seus fundamentos.

Wallace (1890, p. 149) identificou as práticas tradicionais que então observou designando-as pomali e equiparou-as ao conceito de tabu prevalecente nas ilhas do Pacífico, enquanto Castro (1867, p. 315-317) identifica pomali com a casa sagrada, uma-lulik em tétum, também referindo que os estilus de Timor constituem o conjunto de regras estabelecidas pela tradição e observadas pelas comunidades da ilha, conceito que é designado por adat em ilhas vizinhas da Indonésia como seja em Flores (e.g. Moser, 2011, p. 16; Viola, 2013, p. 16).Também Forbes (1885, p. 475) relata minuciosamente um caso em que foi impedido de entrar numa floresta considerada lulik - um interdito cuja violação incorreria em doença e morte, de acordo com a tradição local. Obviamente, também se erguem vozes dissonantes; por exemplo, ainda no período colonial português, o padre Ezequiel Pascoal insurgia-se contra as práticas tradicionais terapêuticas, afirmando: “E que obstáculo à intervenção benéfica da ciência, obstáculo mais nocivo do que se imagina” (Pascoal, 1936).

Moreira (1968) refere que a sapiência dos matan-dook é vastíssima mas secreta, e que as próprias plantas medicinais são consideradas lulik (sagradas) e só podem ser colhidas para fins curativos, sendo bem poucos os que conhecem as suas aplicações. O termo lulik, próprio do tétum, expressa-se doutras formas nos diferentes grupos etnolinguísticos de Timor-Leste de que foram identificados 31 tipos - ancorados em duas raízes principais, designadas respetivamente austranésia e papua-melanésia (e.g. Figueiredo, 2004, pp. 64-70) -, tendo-se por exemplo as palavras: tei em fataluku, em bunak, falu’unu em makasae, entre outras.

Existem vários trabalhos que sistematizaram informação relativamente a plantas medicinais utilizadas em Timor-Leste. Além do texto precursor de Frei Alberto de S. Thomaz (1788-1800/2016), já anteriormente referido, Moreira (1968) organizou, por campos terapêuticos, uma lista de plantas medicinais do Timor português. Já depois da independência de Timor-Leste, Collins, Martins, Mitchell, Teshome e Arnason (2006) compararam, em termos de etnobotânica e características fitoterapêuticas, as subculturas laklei e idate, dialetos de idalaka, aparentado a mamba’e, língua do ramo austranésio; na continuidade, produziram uma elucidação sobre as práticas medicinais tradicionais no domínio da etnobotânica na cultura fataluku da região oriental do país e sua importância na resistência à ocupação Indonésia, reportando cerca de 40 espécies vegetais (Collins, Martins, Mitchell, Teshome & Arnason, 2007).

A docente timorense Maria da Costa defendeu, há poucos anos, em dissertação de mestrado, que as plantas medicinais como instrumento de ensino serão de grande importância e que o uso dessas plantas como recurso didático auxiliará na formação e reflexão para o aproveitamento dos biomas e outros recursos naturais e também nas intervenções do homem no meio ambiente (Costa 2010, p. 47). Ainda, elaborou-se um esboço ilustrado de espécies que é utilizado atualmente junto dos estudantes do ensino básico e secundário em Timor-Leste (Ezequiel e Santos, n.d.). Recentemente, uma dissertação de mestrado realizada e defendida na Universidade Nacional Timor Lorosa’e visou a caracterização do valor socioeconómico e cultural das plantas medicinais em Timor-Leste (Martins, 2015).

Naturalmente, a problemática da fitoterapia ao longo dos tempos e no contexto das diversas culturas e biomas, tem uma amplitude transversal: por exemplo a historiadora brasileira Mary del Priore documenta, de forma narrativa, múltiplas utilizações de plantas medicinais indígenas, a par de outras importadas, no período colonial do Brasil (Priore, 2016, pp. 367-383). Ainda, Ferrão (2012) oferece uma boa panorâmica da permuta de plantas ocorrida entre África Ocidental e a América do Sul, no período dos descobrimentos portugueses. Também, Costa e Carvalho (2012) reportam a importância dos Colóquios de Garcia de Orta atrás referidos, na circulação do conhecimento médico entre oriente e ocidente, no século XVI.

3. Metodologia

A metodologia utilizada neste trabalho consistiu de duas etapas. Numa primeira fase recolheu-se da bibliografia consultada, constante na Tabela 1, o conjunto de espécies identificadas ao nível do nome científico, tendo como foco as fontes direcionadas ao tema de estudos sobre fitoterapia em Timor-Leste, como sejam F1, F2, F3, F6, F7, F10, que constituem a base da referenciação, enquanto as outras fontes são utilizadas de forma complementar, dada a sua natureza genérica sobre flora existente em Timor, incluindo exóticas adaptadas, como sejam F4, F5 e F9, neste último caso incidindo exclusivamente em plantas lenhosas dos arruamentos de Díli, embora comportando ocasionalmente informação de natureza fitoterapêutica; por sua vez F8 (Sarmento, Worachartcheewan, Pingaew, Prachayasittikul, Ruchirawat & Prachayasittikul, 2015) reporta especificamente uma só planta cujas propriedades foram estudadas em contexto laboratorial numa vertente bioquímica - tendo os autores confirmado a respetiva relevância em face dos usos tradicionais - e que salientamos, por forma a servir de referência/modelo para estudos análogos.

Tabela 1 Lista de fontes bibliográficas utilizadas na identificação de espécies vegetais 

Código Fontes
F1 Collins et al. (2006)
F2 Collins et al. (2007)
F3 Ezequiel e Santos (s/d)
F4 Forbes (1885)
F5 Gomes (1954)
F6 Martins (2015)
F7 Moreira (1968)
F8 Sarmento et al. (2015)
F9 Sousa et al. (2011)
F10 S. Thomaz (c. 1789/2016)

Numa segunda etapa, foram inquiridos curandeiros matan-dook, sobretudo nas cidades de Díli e Baucau. A inquirição foi livre, no sentido de que lhes foi dada a iniciativa de mencionar plantas associadas a práticas fitoterapêuticas tradicionais, sendo descartados os casos em que houve menos de 5 plantas mencionadas, restando, no final, um total de 45 curandeiros apurados. Para efeitos de sistematização do âmbito fitoterapêutico, utilizou-se a Tabela 2, onde pode ver-se a lista de grupos de patologias/desordens de sistemas orgânicos que foi adotada neste artigo para associar as menções dos curandeiros. Esta foi adaptada das versões existentes em Collins et al. (2006, 2007), com a principal diferença de que na Tabela 2 não referimos os domínios da medicina tradicional veterinária e da terapêutica dos envenenamentos que ocorrem nessas referências por um lado e, por outro, acrescentou-se o grupo das doenças tropicais (G12) pelas numerosas menções efetuadas pelos curandeiros relativas a malária. Também no caso de Martins (2015, pp. 67-71) utilizou-se apenas a síntese da informação relativa às plantas medicinais de Timor-Leste constante nessas páginas.

As menções efetuadas pelos curandeiros são denotadas M(x), sendo x o respetivo número; observe-se no entanto que tal não significa que tenham existido x curandeiros diferentes a mencionarem a planta em questão, porquanto o mesmo curandeiro pode mencionar várias vezes a mesma planta relativamente a terapêuticas de patologias distintas. As menções dos curandeiros foram desambiguadas recorrendo a nomes vernáculos das plantas em diferentes línguas maternas de Timor-Leste, depois associadas frequentemente à língua malaia, para efeitos de se obter fotografias auxiliares disponíveis na internet que permitissem escrutinar a identificação. Naturalmente que neste artigo não nos pronunciamos sobre a relevância das menções, apenas procurando reportar o que nos foi comunicado.

Tabela 2 Lista de grupos de patologias/desordens de sistemas orgânicos 

Código Grupo de patologias
G1 Inflamações, infeções, infestações
G2 Lesões (feridas, pequenas cirurgias)
G3 Desordens ortopédicas (esqueleto, tendões e músculos)
G4 Desordens do sistema digestivo
G5 Problemas de obstetrícia
G6 Problemas dermatológicos
G7 Desordens urológicas, venéreas e genitais
G8 Desordens do sistema respiratório
G9 Desordens do sistema cardiovascular
G10 Síndromas indefinidos: psicológicos/neurológicos/cefaleias/nutricionais
G11 Desordens sistemas sensoriais (oftalmológicas, surdez, etc)
G12 Doenças tropicais (malária)

Adaptado de Collins et al. (2006, 2007)

4. Resultados

Apresentam-se os resultados que derivaram da compilação bibliográfica referida e da auscultação aos curandeiros, organizados alfabeticamente por família botânica. Em alguns (poucos) casos utilizou-se sinonímia, quando as correspondentes fontes a implicavam, sendo o sinónimo apresentado entre parêntesis retos, por exemplo [Cascabela thevetia (L.) Lippold]. Para efeitos da nomenclatura botânica adotada utilizou-se preferencialmente o sítio da internet Tropicos (tropicos.org), complementado pelo sítio Encyclopedia of Life (eol.org) e outros; em poucos casos deixamos a fonte interrogada (?) porque embora nos pareça ser tal, não houve confirmação absoluta.

4.1. Espécie(s) da Família Acanthaceae

Na Tabela 3 pode ver-se o grupo de plantas da família Acanthaceae que são reportadas na literatura mencionada, das quais Ai-kahoris é mencionada como associada à terapêutica de patologias do problemas não claramente identificados ou síndromas indefinidos (G10 na Tabela 2) e, residualmente, do sistema digestivo (G4).

Tabela 3 Lista de planta(s) referida(s) da família Acanthaceae Juss. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Andrographis paniculata (Burm. f.) Wall. Sambiloto China, Índia, Sri Lanka F6
Justicia gendarussa Burm. f. Ai-kahoris China, Ásia do sul e sudeste F1, M(6)

4.2. Espécie(s) da Família Acoraceae

Na Tabela 4 pode ver-se que a planta Kanuan é mencionada, sendo associada à terapêutica de patologias do sistema digestivo (G4), ainda problemas ortopédicos (G3) e outros não claramente identificados (G10).

Tabela 4 Lista de planta(s) referida(s) da família Acoraceae Martinov 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/Outro+ Área provável de origem Fontes
Acorus calamus L. Kanuan* Índia, Ásia F1, M(7)

4.3. Espécie(s) da Família Amaranthaceae

Na Tabela 5 relativa à família Amaranthaceae ocorreram duas menções em relação à única planta reportada na literatura: uma relativa ao sistema digestivo (G4), outra urológica (G7).

Tabela 5 Lista de planta(s) referida(s) da família Amaranthaceae Juss. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Celosia argentea L Bayam mean America, Pantropical F6, M(2)

4.4. Espécie(s) da Família Amaryllidaceae

Na Tabela 6 relativa a plantas da família Amaryllidaceae, alho e cebola são mencionadas pelos curandeiros relativamente à terapêutica de problemas digestivos (G4), mas com uma conotação de panaceia, também para infestações parasitárias (G1), doenças tropicais (G12), lesões (G2), problemas ortopédicos (G3) e outros, incluindo do sistema respiratório (G8).

Tabela 6 Lista de planta(s) referida(s) da família Amaryllidaceae J. St.-Hil. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Allium cepa L. Lis mean/Lis boot Ásia Central F3, M(4)
Allium sativum L. Lis mutin/Lis-asu Sicília, Ásia Central F3, M(14)

4.5. Espécie(s) da Família Anacardiaceae

Na Tabela 7 relativa a plantas da família Anacardiaceae, o cajú é mencionado para terapêutica de problemas respiratórios (G8) e a casca das mangueiras para problemas cardiovasculares (G9).

Tabela 7 Lista de planta(s) referida(s) da família Anacardiaceae R. Br. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Anacardium occidentale L Kaijus Brasil (Nordeste) F3, M(2)
Mangifera indica L. Haas/Payahi#(Payahu) Índia, Burma, Bangladesh F1, F2, F3, F5, F6, F7, F9, M(2)

4.6. Espécie(s) da Família Annonaceae

Na Tabela 8 relativa a plantas da família Annonaceae, tem-se que Ai-ata (nona) é mencionada sobretudo no âmbito do grupo de problemas digestivos (G4), embora também com uma conotação de panaceia (problemas dermatológicos, cardiovasculares, etc.) enquanto que Ai-ata mala’e é mencionada para cálculos renais (G7) por exemplo.

Tabela 8 Lista de planta(s) referida(s) da família Annonaceae Juss. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Annona muricata L Ai-ata (nona) Caraíbas, América tropical F4, F5, M(12)
Annona squamosa L. Ai-ata mala’e/Ai-ata lotuk/Goinaca+ América tropical, Índias ocidentais F3, F5, F9, M(3)

4.7. Espécie(s) da Família Apiaceae

Na Tabela 9, a cenoura tem uma menção relativamente a tratar infestações parasitárias (G1).

Tabela 9 Lista de planta(s) referida(s) da família Apiaceae Lindl. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fatatulu#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Daucus carota L. Senoura Europa, Sudoeste da Ásia F3, M(1)

4.8. Espécie(s) da Família Apocynaceae

Na Tabela 10, relativa a plantas da família Apocynaceae, só existem duas espécies mencionadas pelos curandeiros: Ai-hanek (casca e folhas) tem muitas menções relativas ao tratamento da malária (G12), mas também cefaleias (G10) e infestações parasitárias (G1); por sua vez, Ai-sucar é mencionada sobretudo para problemas do âmbito respiratório (G8); Santo Antoni tem uma menção relativamente a problemas do âmbito digestivo (G4).

Tabela 10 Lista de planta(s) referida(s) da família Apocynaceae Juss. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Alstonia scholaris (L.) R. Br. Ai-hanek (mutin)/Ai-dotik*/Roti+ Regiões tropicais F1, F5, F7, F9, M(14)
Alstonia spectabilis R. Br. Karuti metan, Wiahara# Austrália, Timor F1, F4
Cerbera manghas L. Ahioan/Amibya# Índia, ilhas do Índico F2
Ervatamia pubescens (R. Br.) Domin Ai-laliti Ásia, Papua Nova Guiné, Austrália, Ilhas do Pacífico F1
Plumeria rubra L. Ai-santantoni/Santo Antoni/Chempaka+ Jamaica, Suriname, América tropical F1, F6, F7, F9, M(1)
Thevetia peruviana (Pers.) K. Schum [Cascabela thevetia (L.) Lippold] Ai-liis/Jepun+ América central e do sul, Perú F1, F9
Wrightia pubescens R. Br. Ai-litik metan Sudeste asiático, Filipinas F1
Calotropis gigantea (L.) R. Br. ex Schult. Ai-sucar/Ai-tabuac* Ásia e África tropicais F1, M(4)

4.9. Espécie(s) da Família Araceae

A planta referida na Tabela 11 da família Araceae não foi mencionada pelos curandeiros.

Tabela 11 Lista de planta(s) referida(s) da família Araceae Juss. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Colocasia esculenta (L.) Schott Talas/Taro+ Malásia, Sudeste asiático F3

4.10. Espécie(s) da Família Arecaceae

Na Tabela 12 constam as plantas reportadas na literatura da família Arecaceae, das quais o fruto de Bua é primariamente mencionado pelos curandeiros como sendo adequado para esfregar na pele a propósito de lesões (G2) e também para dores algo indefinidas (G10); o óleo de coco é muito mencionado à laia de panaceia embora com ênfase em lesões (G2) e fraturas (G3) e também problemas dermatológicos (G6) ou mesmo respiratórios (G8).

Tabela 12 Lista de planta(s) referida(s) da família Arecaceae Bercht. & J. Presl 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Areca catechu L. Bua/Pinang siri+ Sudeste asiático F3, F5, F9,M(14)
Arenga pinnata (Wurmb) Merr. Tali-metan/Tali tua/Naulurú+/Para# Ásia tropical, Indonésia, Índia F5, F6, F9
Cocos nucifera L. Nu’u/Vata# mimiraka#/Hesabul+ Trópicos (indeterminada) F2, F3, F4, F5, F6, F9, M(17)
Metroxylon sago K.D. Koenig Tali-babak/Acar Sudeste Asiático, Molucas, Nova Guiné F5, F6

4.11. Espécie(s) da Família Asphodelaceae

O aloé referido na Tabela 13 da família Asphodelaceae não foi mencionado pelos curandeiros.

Tabela 13-Lista de planta(s) referida(s) da família Asphodelaceae Juss. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Aloe barbadensis Mill. [Aloe vera (L.) Burm. f.] Nanal lafaek/Aloe vera+ América tropical F3

4.12. Espécie(s) da Família Asteraceae

Na Tabela 14 da família Asteraceae, a planta Birama (tétum) ou Baibailada (nome makasae) é mencionada repetidamente, sendo as folhas esmagadas utilizadas como cicatrizante externo de feridas (G2), também referida como “betadine de Timor”. Trata-se de uma planta que não foi detectada antes na pesquisa bibliográfica realizada, sendo exótica e considerada infestante.

Tabela 14 Lista de planta(s) referida(s) da família Asteraceae Bercht. & J. Presl 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Chromolaena odorata (L.) R.M. King & H. Rob. Birama/Baibailada+ América, Porto Rico M(6)
Helianthus annuus L. Ai-funan loro matan Estados Unidos da América F7

4.13. Espécie(s) da Família Brassicaceae

As folhas do agrião, referido na Tabela 15, são mencionadas para tratar lesões na boca/aftas (G2).

Tabela 15 Lista de planta(s) referida(s) da família Brassicaceae Burnett 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Nasturtium officinale W.T. Aiton Angriaun/Agriaun Europa e Ásia F3, M(2)

4.14. Espécie(s) da Família Bromeliaceae

O ananás, referido na Tabela 16, só mereceu uma menção relativamente ao grupo G5 (obstetrícia)

Tabela 16 Lista de planta(s) referida(s) da família Bromeliaceae Juss.  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Ananas comosus (L.) Merr. Ai-Nanas Brasil, América do Sul F6, F7, M(1)

4.15. Espécie(s) da Família Burseraceae

A planta Ai-quiar referida na Tabela 17 não foi mencionada pelos curandeiros.

Tabela 17 Lista de planta(s) referida(s) da família Burseraceae Kunth 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Canarium commune Wight & Arn. Ai-quiar Ásia F5, F7

4.16. Espécie(s) da Família Calophyllaceae

A árvore Ai-sambaló também não foi mencionada.

Tabela 18 Lista de planta(s) referida(s) da família Calophyllaceae J. Agardh 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Calophyllum inophyllum L. Ai-sambaló/Ai-champlo Madagáscar, Mascarenhas F4, F5, F7, F9, F10

4.17. Espécie(s) da Família Caricaceae

Na Tabela 19 da família Caricaceae, a papaeira é mencionada sobretudo relacionada com a terapêutica da malária (G12) usando infusão de folhas, mas também infestações de parasitas (G1) e o sumo do fruto mencionado para cálculos renais (G7).

Tabela 19 Lista de planta(s) referida(s) da família Caricaceae Dumort. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Carica papaya L. Ai-dila/ Muu# América tropical F2, F3, F4, F5, F6, F9, M(8)

4.18. Espécie(s) da Família Casuarinaceae

Na tabela 20 relativa à família Casuarinaceae a planta Ai-kakeu é mencionada como tratamento em infusão de casca para problemas do sistema digestivo (G4) e urológicos (G7).

Tabela 20 Lista de planta(s) referida(s) da família Casuarinaceae R. Br.  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Casuarina junghuhniana Miq. Ai-kakeu/Kemari# Indonésia oriental, Malásia F5, F9, M(3)

4.19. Espécie(s) da Família Clusiaceae

Na Tabela 21 a planta correspondente não foi mencionada pelos curandeiros.

Tabela 21 Lista de planta(s) mencionada(s) da família Clusiaceae Lindl.  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Garcinia mangostana L. Ai-mangis/Mangustão+ Indonésia F7

4.20. Espécie(s) da Família Convolvulaceae

A batata doce referida na Tabela 22 não foi mencionada pelos curandeiros.

Tabela 22 Lista de planta(s) referida(s) da família Convolvulaceae Juss.  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Ipomoea batatas (L.) Lam. Fehuk midar América central F3

4.21. Espécie(s) da Família Crassulaceae

Também, a planta Kalanxoe da Tabela 23 não foi mencionada.

Tabela 23 Lista de planta(s) referida(s) da família Crassulaceae J. St.-Hil. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Kalanchoe pinnata (Lam.) Pers. Kalanxoe+ Madagáscar F3

4.22. Espécie(s) da Família Dilleniaceae

Identicamente, Ai-laboku da Tabela 24 não foi mencionada.

Tabela 24 Lista de planta(s) referida(s) da família Dilleniaceae Salisb.  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Dillenia indica L. Ai-laboku Índia, Ásia F1

4.23. Espécie(s) da Família Dioscoreaceae

A planta da Tabela 25 foi objeto de uma menção, relativa ao foro ginecológico/obstétrico (G5/G7).

Tabela 25 Lista de planta(s) referida(s) da família Dioscoreaceae R. Br. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Dioscorea bulbifera L. Uhi*/Churailahoo# África, Ásia, Austrália F2, M(1)

4.24. Espécie(s) da Família Ebenaceae

Também a planta Figokaki da Tabela 26 não foi mencionada.

Tabela 26 Lista de planta(s) referida(s) da família Ebenaceae Gürke  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Diospyros kaki Thunb. Figokaki+ Ásia oriental F3

4.25. Espécie(s) da Família Euphorbiaceae

Da Tabela 27 de plantas da família Euphorbiaceae existem várias que são mencionadas: em relação a Ai-kami menciona-se sobretudo que os frutos esmagados são utilizados para problemas de lesões (G2) e ortopédicos (G3), mas também em problemas do sistema digestivo (G4) e obstétricos (G5); por sua vez, frutos e folhas de Ahi oan (“luz pequena”) são mencionados para tratar fraturas (G3), lesões (G2) e desordens do sistema respiratório (G8); ainda, Ai-farina é mencionada sobretudo para o tratamento de malária (G12) e também do sistema cardiovascular (G9); finalmente, há uma menção do rícino para problemas respiratórios (G8).

Tabela 27 Lista de planta(s) referida(s) da família Euphorbiaceae Juss.  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Aleurites moluccana (L.) Willd. Ai-kami/Ai-badut*/Pokuru#/Bá-dut-mi+ Molucas F1, F2, F4, F5, F6, F7, F9, M(22)
Euphorbia atoto G. Forst. Foy hasa reku reku# Ásia, Austrália, Ilhas do Pacífico, Tahiti F2
Jatropha curcas L. Ahi-baduk(t)/Ahi oan/Mutu mutu mimi raka# México, América central e do sul F1, F2, M(7)
Jatropha gossypiifolia L. Ai-baduk malay/Damar merah+ América tropical, ilhas do Caribe F1, F9, M(2)
Mallotus philippensis (Lam.) Müll. Arg. Ai-manu teen/Lurdi* Índia, Ásia do sul e sudeste F1
Manihot esculenta Crantz Ai-farina México, América do Sul F3, M(7)
Ricinus communis L. Ai-Kalula mean/Mealum+ Sudeste do Mediterrâneo, África oriental, Índia F1, F4, F5, M(1)

4.26. Espécie(s) da Família Fabaceae

Na Tabela 28 pode ver-se o grupo de plantas da família Fabaceae que são reportadas na literatura referida, das quais: Ai-laras/Kadus é mencionada como associada à terapêutica de problemas do sistema digestivo (G4); Sukaer foi mencionada para problemas de lesões (G2), sistema digestivo (G4) e ortopédicos (G3); Ai-Kafe fuik tem uma menção para problemas de obstetrícia (G5); Sincoma’as tem uma menção para manifestações dermatológicas (G6); e Ai-turi uma menção para parasitas intestinais (G1).

Tabela 28 Lista de planta(s) referida(s) da família Fabaceae Lindl. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Abrus precatorius L. [Glycine abrus L.] Naconeta+ Ásia, Oceania F10
Aeschynomene arborea L. [Desmodium   ramosissimum  G. Don] Turís+ Madagáscar F10
Albizia lebbeck (L.) Benth. Iparakuliku#/Hilalo+ Ásia, Oceania F2
Cassia fistula L. Ai-laras/Ai-suku/Ai-feto/Kadus*/Larus+ Índia, Sri Lanka, Ásia do sul F1, F5, F9, M(3)
Erythrina variegata L. Ai-dik/dic Índia, Malásia, Austrália, Ilhas do Pacífico F1, F5, F7
Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit Ai-Kafe fuik/Ai-miraek/Samtuku fuik+ América central e do sul F1, F6, F9, M(1)
Mimosa pudica L. Sensitiva América central e do sul F7
Pachyrhizus erosus (L.) Urb. Sincoma’as México F3, M(1)
Pterocarpus indicus Willd. Ai-naro/Ai-naa/Makari# Sudeste asiático, Filipinas, Timor F1, F2, F5, F9
Sesbania grandiflora (L.) Poir. Ai-turi/Cala+ Sudeste asiático F5, F7, M(1)
Tamarindus indica L. Ai-sukaer/Kaylemu# África tropical, pantropical F2, F3, F5, F6, F7, F9, M(5)

4.27. Espécie(s) da Família Lamiaceae

Na Tabela 29 da família Lamiaceae, a planta Ruku tem várias menções relativamente a tratar lesões (G2), problemas do sistema digestivo (G4), do sistema respiratório (G8), e ainda problemas de obstetrícia (G5), portanto com uma conotação de panaceia, embora não pareça estar referida na literatura consultada.

Tabela 29 Lista de planta(s) referida(s) da família Lamiaceae Martinov 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Coleus amboinicus Lour. Oréganu+ África Oriental e do Sul F3
Gmelina philippensis Cham. Kapuasamaru# Região Indo-Malaia F2
Hyptis capitata Jacq. Laka ho* América tropical F1
Orthosiphon stamineus Benth. Ruku+ Malásia, Indonésia M(10)

4.28. Espécie(s) da Família Lauraceae

Na tabela 30 relativa à família Lauraceae, a planta Abukat é mencionada como tratamento para problemas do sistema respiratório (G8), do sistema urinário (G7) e ainda para o sistema cardiovascular (G9), nomeadamente colesterol.

Tabela 30 Lista de planta(s) referida(s) da família Lauraceae Juss. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Persea americana Mill. Abukat/Abakate México, Perú F3, M(7)

4.29. Espécie(s) da Família Loganiaceae

Na tabela 31, relativa à família Loganiceae, a planta Bak moruk é mencionada como tratamento para problemas de doenças tropicais (G12), do sistema digestivo (G4) e de obstetrícia/ginecologia (G5/G7). Recorda-se que é a única planta referida em F8, que resolvemos destacar a propósito de um estudo laboratorial de incidência bioquímica, que aparentemente veio confirmar algumas propriedades que lhe são atribuídas pela medicina tradicional, e que poderá servir de modelo de investigação em termos de ciência positiva para outras espécies mencionadas neste trabalho.

Tabela 31 Lista de planta(s) referida(s) da família Loganiaceae R. Br. ex Mart. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Strychnos lucida R. Br. [Strychnos ligustrina Bl.] Bak moruk/ai-boikir* Tailândia, Indonésia, Austrália F1, F5, F6, F8, M(12)

4.30. Espécie(s) da Família Lythraceae

Na Tabela 32 da família Lythraceae pode ver-se que a planta romãzeira (o fruto, as folhas e a casca) é mencionada como associada à terapêutica de patologias de problemas de tensão arterial e sistema cardiovascular (G9) e ainda desordens urológicas, incluindo cálculos renais (G7).

Tabela 32 Lista de planta(s) referida(s) da família Lythraceae J. St.-Hil. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Punica granatum L. Rumaun Irão, Índia F5, F7, M(12)

4.31. Espécie(s) da Família Malvaceae

Na Tabela 33 da família Malvaceae a planta Ai-lele fuik é mencionada sobretudo para problemas respiratórios (G8), enquanto Ai-lele é indicada pelos curandeiros para problemas algo indefinidos (G10); por sua vez, a planta Ai-fau é mencionada para tratamentos obstétricos (G5) e de fraturas ortopédicas (G3); também Ai-solda é sobretudo referida para fraturas (G3); ainda, Sida rhombifoliasubsp.retusa é mencionada sobretudo para desordens do sistema digestivo (G4); finalmente, a planta Ai-nitas foi mencionada para tratar malária (G12) e também síndromas indefinidos (G10).

Tabela 33 Lista de planta(s) referida(s) da família Malvaceae Juss.  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Bombax ceiba L. Ai-lele fuik Índia, Ásia tropical M(3)
Ceiba pentandra (L.) Gaertn. [Bombax pentandrum L.] Ai-lele/Cabidaua+ América tropical, África tropical, Índia F5, F6, F7, F9, M(2)
Hibiscus rosa-sinensis L. Ai-funan sapatu Ásia oriental F3, F4
Hibiscus tiliaceus L. Ai-fau/Waru+ Indeterminada tropical F3, F4, F5, F9, M(9)
Pterospermum acerifolium Willd. Ai-solda Ásia continental, Índia F5, F7, M(9)
Sida acuta Burm. f. Arboy matan* América central F1
Sida retusa L. [Sida rhombifoliasubsp.retusa(L.) Borss. Waalk.] Arbau wain mata*/Barabuti+ Europa, Açores F1, M(7)
Sterculia foetida L. Ai-nitas/Ai-bane+/Po’oria# Ásia tropical, África oriental tropical, Austrália F1, F4, F5, F9, M(11)
Urena lobata L. Kakuik* América do sul, Sudeste asiático F1

4.32. Espécie(s) da Família Meliaceae

Na tabela 34 relativa à família Meliaceae, a planta Ai-lelo é mencionada como tratamento para problemas do sistema cardiovascular (G9); por sua vez, Ai-saria foi mencionada como sendo utilizada para tratamento de fraturas (G3) e síndromas indefinidos (G10).

Tabela 34 Lista de planta(s) referida(s) da família Meliaceae Juss.  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Azadirachta indica A. Juss. Ai-lelo/Erua# Índia, Nepal, Sri Lanka F1, F2, M(3)
Melia azedarach L. Ai-saria Ásia (Indo-malaia), Austrália F1, M(2)
Sandoricum koetjape (Burm. f.) Merr. Sanpoló+ Região da Malásia, Malésia F3

4.33. Espécie(s) da Família Menispermaceae

A planta Shururu referida na Tabela 35 não foi mencionada pelos curandeiros.

Tabela 35 Lista de planta(s) referida(s) da família Menispermaceae Juss.  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Tinospora smilacina Benth. Shururu# Austrália F2

4.34. Espécie(s) da Família Moraceae

A planta Kulu-jaka na tabela 36 é mencionado pelos curandeiros para tratar problemas cardiovasculares (G9) e desordens do sistema digestivo (G4).

Tabela 36 Lista de planta(s) referida(s) da família Moraceae Gaudich.  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Artocarpus heterophyllus Lam. Kulu jaka/Ai naka+ Índia, Ásia tropical F3, F5, F6, F9, M(5)
Ficus hispida L. f. Ai-tafui Ásia, Indonésia e Austrália F1
Ficus racemosa L. Ai-gun/Ai-hali karau/Tatiru asa-lepeku# Sri Lanka a Malásia, Indonésia, Austrália F1, F9
Ficus septica Burm. f. Ai-mahak Ásia e Austrália, Malésia F1

4.35. Espécie(s) da Família Moringaceae

Na Tabela 37 pode ver-se que a planta Ai-marungi é mencionada, associada à terapêutica de problemas cardiovasculares (G9) e do sistema digestivo (G4).

Tabela 37 Lista de planta(s) referida(s) da família Moringaceae Martinov  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Moringa oleifera Lam. Ai-marungi/Pohon kelor+ Sul dos Himalaias, Índia, Pantropical F3, F9, M(7)

4.36. Espécie(s) da Família Muntingiaceae

Na Tabela 38 pode ver-se que a única planta da família Muntingiaceae que é reportada na literatura, a Sereja, é mencionada por um curandeiro como associada à terapêutica de patologias do sistema cardiovascular (G9).

Tabela 38 Lista de planta(s) referida(s) da família Muntingiaceae C. Bayer, M.W. Chase & M.F. Fay  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Muntingia calabura L. Sereja/Kerukup siam+ América tropical, México, ilhas do Caribe F3, F9, M(1)

4.37. Espécie(s) da Família Musaceae

Na tabela 39, relativa à família Musaceae, a planta Hudi (bananeira) é mencionada como tratamento para problemas do sistema digestivo (G4) e do trato urinário (G7).

Tabela 39 Lista de planta(s) referida(s) da família Musaceae Juss.  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Musa paradisiaca L. Hudi Índia, região Indo-malaia F5, F6, M(2)

4.38. Espécie(s) da Família Myrtaceae

As folhas e frutos da goiabeira da Tabela 40 são mencionados também para tratar problemas do sistema digestivo (G4) e urinário (G7).

Tabela 40 Lista de planta(s) referida(s) da família Myrtaceae Juss.  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Eucalyptus alba Reinw. ex Blume Ai-bubur mutin Austrália, Timor, Nova Guiné F1, F6
Melaleuca leucadendra (L.) L. [Melaleuca leucadendron L.] Ai-ulun moras/Cajepute+ Indonésia, Áustrália F5, F7
Psidium guajava L. [Psidium pomiferum L.] Goiaba(s)/Koibasa*/ Goiabeira+ América central e do sul, ilhas do Caribe F1, F3, F5, F6, F7, M(12)
Syzygium malaccense (L.) Merr. & L.M. Perry Ai-uhak/Jambu melaka+ Malésia, Sudeste asiático, Ásia tropical F3(?), F9

4.39. Espécie(s) da Família Oleaceae

Na Tabela 41, a planta correspondente não foi mencionada pelos curandeiros.

Tabela 41 Lista de planta(s) referida(s) da família Oleaceae Hoffmanns. & Link  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Jasminum sambac (L.) Aiton Jasmim+/Angrek putih+ Himalaias, Índia, Paquistão F3

4.40. Espécie(s) da Família Oxalidaceae

Na tabela 42 relativa à família Oxalidaceae, a planta Bilimbi é mencionada como tratamento para problemas de diabetes, que aqui reportamos, ainda que menos propriamente, relativo ao sistema cardiovascular (G9).

Tabela 42 Lista de planta(s) referida(s) da família Oxalidaceae R. Br.  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Averrhoa bilimbi L. Bilimbi/Ninilu dae+ Indonésia (Molucas), Sri Lanka, Índia F3, F6, F9, M(2)

4.41. Espécie(s) da Família Pandanaceae

A planta Bora referida na Tabela 43 não foi mencionada pelos curandeiros.

Tabela 43 Lista de planta(s) referida(s) da família Pandanaceae R. Br. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Pandanus amaryllifolius Roxb. Bora+ Sudeste Asiático F6

4.42. Espécie(s) da Família Passifloraceae

A planta Markisa da Tabela 44, da família Passifloraceae, foi mencionada uma só vez, para problemas de tensão arterial (G9).

Tabela 44 Lista de planta(s) referida(s) da família Passifloraceae Juss. ex Roussel 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Passiflora edulis Sims Markisa América do sul, Brasil F3, M(1)

4.43. Espécie(s) da Família Phyllanthaceae

Das plantas da Tabela 45 da família Phyllanthaceae, a planta Kelan teve uma menção relativa ao tratamento de malária (G12).

Tabela 45 Lista de planta(s) referida(s) da família Phyllanthaceae Martinov  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Antidesma ghaesembilla Gaertn. Ai-formi Ásia F1
Phyllanthus niruri L. (?) Kelan/Jalaloto+/Maria Moe Dor+ América F10, M(1)

4.44. Espécie(s) da Família Piperaceae

Na Tabela 46 relativa a plantas da família Piperaceae (Malus e Ai-manas ai leten) são muito mencionadas pelos curandeiros: relativamente à primeira, as folhas mascadas, com uma longa tradição na Índia e sudeste asiático, aparecem referidas sobretudo na aplicação em lesões dermatológicas (G6) e também de afeções do grupo G7; por sua vez, Ai-manas ai leten, é mencionado para recuperação pós-parto (G5), mas também fraturas (G3) e síndromas indefinidos (G10).

Tabela 46 Lista de planta(s) referida(s) da família Piperaceae Giseke  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Peperomia pellucida (L.) Kunth Pimenta+/Erva de jabuti+ Ásia, África F3
Piper betle L. Malus/Betel+/Furuc+ Índia, sul e sudeste asiático F4, F5, F7, M(12)
Piper nigrum L. Pimenta+ Índia F7
Piper retrofractumVahl Ai-manas ai leten Ásia M(20)

4.45. Espécie(s) da Família Poaceae

Na Tabela 47 relativa a plantas da família Poaceae, são mencionadas pelos curandeiros as seguintes: Ai-lia fuik teve uma menção relativamente a malária (G12); Du’ut morin foi referido relativamente à terapêutica de problemas do sistema respiratório (G8) e vários outros grupos de patologias; Du’ut-manlai e Batar foram mencionadas para problemas pós-parto (G5).

Tabela 47 Lista de planta(s) referida(s) da família Poaceae Barnhart  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Arundo donax L. Ai-lia fuik Mediterrâneo, Portugal F1, M(1)
Cymbopogon citratus (DC.) Stapf Du’ut morin Ásia do sul, Sudeste asiático F6, M(8)
Imperata cylindrica (L.) Rauesch. Du’ut-manlai/Beerasa#/Hac maulain+ Ásia, Micronésia, Melanésia, Austrália F1, F2, F5 M(2)
Saccharum officinarum L. Tohu (mean) Índia, Sudeste Asiático F5, F6
Zea mays L. Batar México, América central F3, F5, M(2)

4.46. Espécie(s) da Família Polypodiaceae

A planta Manu-fuluk na tabela 48, é mencionada para tratar os problemas relacionados com o sistema digestivo (G4) e também cardiovascular (G9).

Tabela 48 Lista de planta(s) referida(s) da família Polypodiaceae J. Presl & C. Presl  

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Drynaria quercifolia (L.) J. Sm. Manu-fuluk/Sa-pu# Ásia (sul e sudeste), Nova Guiné, Austrália F1, F2, M(2)

4.47. Espécie(s) da Família Rhamnaceae

Na Tabela 49, Ai-lok foi mencionada relativamente a emplastros de casca para otites (G11) ou síndromas indefinidos (G10) e problemas do sistema digestivo (G4).

Tabela 49 Lista de planta(s) referida(s) da família Rhamnaceae Juss. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Ziziphus mauritiana Lam. Ai-lok/Ai-bubur fuik Sudeste asiático, Região Indo-Malaia F5, F7, M(2)

4.48. Espécie(s) da Família Rubiaceae

Na Tabela 50 relativa a plantas da família Rubiaceae, o Ai-bakuru é mencionado para terapêutica de problemas cardiovasculares (G9) e respiratórios (G8); e a casca do Ai-katimun para problemas do sistema digestivo (G4) e malária (G12).

Tabela 50 Lista de planta(s) referida(s) da família Rubiaceae Juss. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Morinda citrifolia L. Ai-bakulu/Ai-bakuru*/mengkudu+ Sudeste Asiático, Australásia F1, F4, F5, F6, F9, M(5)
Nauclea orientalis (L.) L. [Sarcocephalus cordatus Miq.] Ai-fukira/Ai-soso*/Savele# Malásia, Sudeste Asiático, Nova Guiné, Austrália F1, F2, F7, F9
Timonius timon (Spreng.) Merr Ai-katimun/Ai-katimuk* Timor, Molucas, Austrália, Malésia F1, F9, M(6)

4.49. Espécie(s) da Família Rutaceae

Na tabela 51 relativa à família Rutaceae, a planta Derok é mencionada como tratamento para vários problemas, principalmente respiratórios (G8) ou síndromas indefinidos (G10), sobretudo utilizando-se as folhas esmagadas em infusão ou vapor. Também a planta Arruda é mencionada, neste caso para infestações parasitárias (G1) e síndromas indefinidos (G10).

Tabela 51 Lista de planta(s) referida(s) da família Rutaceae Juss. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Aegle marmelos (L.) Corrêa Ai-dila tukun/Ai-dila fatuc/Dilla+ Índia, Bangladesh F1, F5, F6, F7
Citrus aurantifolia (Christm.) Swingle [Citrus aurantium L.] Derok Sudeste Asiático F5, M(10)
Citrus hystrix DC. Derok manu kidun/Ami churuku# Sudeste Asiático F2
Citrus maxima (Burm.) Merr. Jambua/Dambua+ Malásia, Sudeste Asiático F3, F5
Citrus medica L. Derok sin/Deroc mean Sudeste Asiático F3, F5
Ruta graveolens L. Arruda Balcãs M(3)

4.50. Espécie(s) da Família Sapindaceae

Na Tabela 52 relativa à família Sapindaceae não ocorreram menções de curandeiros em relação às plantas reportadas da literatura consultada.

Tabela 52 Lista de planta(s) referida(s) da família Sapindaceae Juss. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Ganophyllum falcatum Blume Ai-lelo* Ilhas Andaman, África, Ásia, Austrália, Malésia F1
Schleichera oleosa (Lour.) Oken Ai-daak/Kaikava# Índia, Sri Lanka,Sudeste asiático F5, F7, F9

4.51. Espécie(s) da Família Sapotaceae

Da Tabela 53, as plantas correspondentes também não foram mencionadas pelos curandeiros.

Tabela 53 Lista de planta(s) referida(s) da família Sapotaceae Juss. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Achras zapota L. [Manilkara zapota (L.) P. Royen] Ai-tano foho/Ai-sau/Bou-xiku+ América Central, Índias Ocidentais F3, F9
Chrysophyllum cainito L. Ai-sota/Pepulut+ Antilhas, Índias Ocidentais F9

4.52. Espécie(s) da Família Simaroubaceae

A planta designada Bico referida na Tabela 54 não foi mencionada pelos curandeiros.

Tabela 54 Lista de planta(s) referida(s) da família Simaroubaceae DC. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Quassia amara L. Knunor+/Bico+ América tropical F10

4.53. Espécie(s) da Família Solanaceae

Na tabela 55, relativa à família Solanaceae, são referidas várias plantas pelos curandeiros relativamente à terapêutica de: problemas digestivos (G4), síndromas indefinidos (G10), problemas de sistemas sensoriais (G11). A beringela é mencionada para hepatite (G4) e problemas ginecológicos (G7), enquanto a folha de tabaco é utilizada para atenuar dores de dentes, o mesmo foi mencionado para o tomate selvagem.

Tabela 55 Lista de planta(s) referida(s) da família Solanaceae Juss. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Capsicum annuum L. Ai-manas/Cunus+ América tropical, México F5, F7(?)
Capsicum frutescens L. Ai-manas bo’ot América tropical, México F3
Datura stramonium L. Trumpeta, Acona+ América do norte, México F10, M(1)
Nicotiana tabacum L. Tabaku América tropical e subtropical F6, M(2)
Solanum melongena L. Berinjela/karuuk+ Ásia, Norte de África F3, M(5)
Solanum habrochaites S. Knapp & D.M. Spooner Tomate fuik América do sul M(1)

4.54. Espécie(s) da Família Vitaceae

A planta da Tabela 56 não foi mencionada pelos curandeiros.

Tabela 56 Lista de planta(s) referida(s) da família Vitaceae Juss. 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Leea indica (Burm. f.) Merr. Ai-asu ulun/Motiir# Ásia, Austrália, Malésia, ilhas do Pacífico F1, F2

4.55. Espécie(s) da Família Zingiberaceae

Na Tabela 57 pode ver-se o grupo de plantas da família Zingiberaceae que são reportadas na literatura mencionada, das quais Kinur é mencionada como associada à terapêutica de problemas do sistema digestivo (G4) incluindo hepatite, e do sistema respiratório (G8), incluindo oncológicos, bem como Temulawak; o rizoma de Ai-lia é muito mencionado à laia de panaceia, embora com ênfase em problemas obstétricos (G5), sobretudo de recuperação pós-parto, mas também malária (G12) e estados febris em geral (G10); por sua vez a planta de nome malaio Kencur (também referida como Ai-lia mutin) é mencionada para o tratamento de lesões (G2) e esterilidade feminina.

Tabela 57 Lista de planta(s) referida(s) da família Zingiberaceae Martinov 

Nome científico Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ Área provável de origem Fontes
Alpinia caerulea (R. Br.) Benth. Lenkuas+ Austrália, ilhas do Pacífico F6
Curcuma domestica Valeton Kinur/Curur+ Índia, Sudeste asiático F5, F6, M(13)
Curcuma zedoaria (Christm.) Roscoe Bilik* Índia, Indonésia F1
Curcuma zanthorrhiza Roxb. Temulawak+ Indonésia, Índia F6, M(1)
Kaempferia galanga L. Ai-lia mutin; Kencur+ Ásia do sul e sudeste M(6)
Zingiber officinale Roscoe Ai-lia Índia, Sudeste asiático F3, M(17)

5. Conclusão

Neste trabalho, e conforme a metodologia antes descrita, são reportadas um total de 130 espécies vegetais associadas a práticas fitoterapêuticas tradicionais em Timor-Leste, organizadas em 55 famílias botânicas; das 130 espécies referidas, 123 estão referenciadas nas fontes bibliográficas correspondentes, constantes da Tabela 2, enquanto outras 7 só nos apareceram mencionadas pelos curandeiros; o total de espécies mencionadas pelos 45 curandeiros foi de 71, com uma incidência muito variável, desde só uma menção, que sucedeu em cerca de 15 espécies, até um máximo de 22 menções relativamente a Ai-kami (Aleurites moluccana (L.) Willd.).

Obviamente que, em nenhum caso, vamos pronunciar-nos sobre a relevância terapêutica das menções efetuadas, sendo que é por demais conhecida a natureza tóxica de algumas plantas reportadas, de que é exemplo paradigmático a Trumpeta (Datura stramonium L.), conhecida em Portugal, entre outros nomes, como “figueira-do-diabo”, mas que já se mostra constar no trabalho de Frei Alberto de S. Thomaz (c. 1789/2016) antes referido, conforme ilustrado na Figura 3, dizendo-se, por exemplo, que as folhas pisadas aplicadas em cataplasma aliviam a enxaqueca; ainda, as menções reportadas aos grupos definidos na Tabela 2 apresentam-se, pelo menos em alguns casos, de forma difusa ou ambígua, mas considera-se que tal é suficiente para uma primeira aproximação aos conceitos fundadores deste artigo.

Em qualquer dos casos, a riqueza e diversidade do conjunto de espécies aqui referidas merecerá, por certo, a continuação da investigação sobre esta temática, não só ancorada nos domínios da etnobotânica e da fitoterapia, se possível complementada por experimentação laboratorial e clínica, mas também na valência da salvaguarda dos recursos fitogenéticos e da biodiversidade em Timor-Leste, bem como na dimensão da antropologia cultural.

Figura 3 Estampa 56 de S. Thomaz (c. 1789/2016) - “Acoma” 

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Agradecimentos: Agradece-se a um revisor anónimo pelas suas observações, correções e sugestões. Ainda queremos agradecer expressamente aos mestrandos Jenina Alves Marçal e Julião de Araújo pela sua ajuda na identificação de espécies associando-as a nomes vernáculos. Finalmente, e em primeiro lugar, agradecemos aos muitos matan-dook que se dispuseram a prestar informações, referidas neste trabalho como menções de plantas associadas à terapêutica de desordens orgânicas.

1. Programa de Pós-Graduação e Pesquisa (Diretor da Unidade de Ensinos e Pesquisa Científica/Vice-Reitor Interino para a Pós-Graduação)

2. Mestrando em Gestão Sustentável dos Recursos Naturais e Ambiente

3. Link disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Old_map_timor_by_pigafetta.JPG

Recebido: 30 de Maio de 2017; Aceito: 15 de Novembro de 2018

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