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Revista Internacional em Língua Portuguesa

versão impressa ISSN 2182-4452versão On-line ISSN 2184-2043

RILP vol.42  Lisboa dez. 2022  Epub 30-Ago-2022

https://doi.org/10.31492/2184-2043.rilp2022.42/pp.89-105 

Artigo Original

Leitura e recursos linguísticos no ensino remoto como aporte para a saúde emocional

Ana Maria Urquiza de Oliveira1 

1 Mestre em Educação pela Universidade de São Paulo e Tutora do curso de Pedagogia da Universidade Virtual do Estado de São Paulo .


Resumo

O artigo trata do ensino remoto no período de pandemia da Covid-19. Objetiva observar como acontece a construção da nova relação do aluno com a aprendizagem, do professor com o ensino remoto e a situação socioemotiva dos envolvidos no processo. A base teórica é dos estudos do discurso Bakhtin (2003), da Sociolinguística, Bagno (1999, 2019), Mendes (2018), Lucchesi (2006); aluno sujeito ativo, Freire (1988, 2001, 2006); necropolítica Mbembe (2016) e necrolinguagem Lagares (2021); educação socioemocional Cury (2019) e o ensino de português, Geraldi (2011), Soares (2020). Examinamos o material enviado às famílias via portal da educação, o caderno Construindo Aprendizagens e as trocas entre professores e famílias via whats app. Os resultados mostram que professores têm se reinventado para alcançar os alunos e, embora de forma limitada, garantir o direito à educação, utilizando a tecnologia - através do celular - como oportunidade de promover a empatia, reconhecendo e respeitando diversas vozes, levantando questões emocionais, ensinando os alunos - a brincar, aprender divertindo-se, tendo a leitura como base.

Palavras-chave: ensino remoto; leitura; saúde emocional; recursos linguísticos

Abstract

The article deals with remote teaching in the period of the covid-19 pandemic. It aims to observe how the construction of the student’s new relationship with learning, the teacher with remote teaching and the socio-emotional situation of those involved in the process takes place. The theoretical basis is the studies of discourse Bakhtin (2003), Sociolinguistics, Bagno (1999, 2019), Mendes (2018), Lucchesi (2006); active subject student, Freire (1988, 2001, 2006); necropolitics Mbembe (2016) and necrolanguage Lagares (2021); socio-emotional education Cury (2019) and the teaching of Portuguese, Geraldi (2011), Soares (2020). We examined the material sent to families via the education portal, the Construindo Aprendizagens notebook and the exchanges between teachers and families via whats app. The results show that teachers have reinvented themselves to reach students and, although in a limited way, guarantee the right to education, using technology - through cell phones - as an opportunity to promote empathy, recognizing and respecting different voices, raising emotional issues, teaching students - to play, to learn having fun, having reading as a base.

Keywords: remote teaching; reading; emotional health; linguistic resources

Introdução

O ensino remoto surgiu em caráter emergencial devido à pandemia da Covid-19. A palavra remoto é definida como “distante (no tempo ou no espaço), conforme Ferreira (2011). O ensino nesse formato acontece porque professores e alunos ficam impossibilitados de ocuparem os espaços das escolas para evitar a disseminação do vírus e é emergencial porque de repente o planejamento pedagógico para os anos letivos de 2020 e 2021 teve que ser readaptado.

Buscar e planejar atividades pedagógicas mediadas pelo uso da internet e pensadas para terem como suporte a própria internet, é uma realidade no mundo inteiro, não só no Brasil. Em Diadema há o agravante da pobreza, e alcançar as famílias carentes que sofrem a falta de necessidades básicas como alimentação, o ensino remoto, que requer aparelhos tecnológicos e internet, constitui um enorme entrave no que tange ao atendimento educacional a todos os alunos da rede.

Toda a mudança física, estrutural, emocional é colocada em função das restrições impostas pela covid-19 para minimizar os impactos na aprendizagem, uma vez que o ensino presencial se faz inviável. O currículo brasileiro não é criado para ser aplicado remotamente, é preciso readequar, readaptar, mudar. A nova realidade adotada pensada numa fase, portanto, temporária, para que as atividades escolares não sejam interrompidas, ultrapassa dois anos num cenário ainda de incertezas. A presença física do professor e do aluno no espaço da sala de aula presencial é substituída por atividades que são recebidas no/pelo celular e devolvidas da mesma forma, já que pouquíssimas famílias têm acesso a um computador ou notebook.

As disparidades em termos de infraestrutura tecnológica das escolas e a qualificação dos professores somam-se às desigualdades do aluno de periferia e da zona rural no acesso à internet, trazendo grandes obstáculos à realização do ensino. Os esforços para efetivar o ensino remoto exigem muito investimento, a necessidade de criação de acesso a plataformas de ensino e ferramentas digitais, a oferta de formação em serviço para o professor aprimorar a realização do trabalho nesse novo contexto, e é uma questão que sabemos, está longe de ser o objetivo de gestores.

A educação pública brasileira ao longo de décadas vem sendo sucateada (SAVIANI, 2003). Se observarmos um pouco da história da educação, vemos que era direito de uma minoria, a profissão do professor era vista como status social de poder. O lugar de destaque social junto à advocacia e à medicina, por atender interesses da elite, perde espaço para o descaso e a desvalorização com a vinda da população carente ao espaço da escola. Devido às lutas dos movimentos sociais no mundo todo, o Brasil, ainda que tardiamente, democratiza o ensino e enfrenta uma situação onde não pode mais fugir do dever de ofertar educação a toda população (SILVA, 2014).

Nesse movimento, o acesso à educação é expandido e o pobre começa a ocupar o espaço da escola. Com o advento do povo à sala de aula, a popularização do ensino coloca a profissão do professor num novo status social - o novo cenário de educação para multidões descaracteriza o antigo modelo e a qualidade fica sobre responsabilidade das instituições privadas, enquanto o ensino público fica a mercê do descaso de governantes que não têm interesse em investir em prol de uma educação de qualidade para o povo.

Todo este cenário de abandono com escolas sucateadas, professores mal remunerados e desvalorizados socialmente, crianças de periferia sendo vítimas de injustiça e desigualdades sociais, tem o agravante de se deparar nos dias finais de 2019 com a notícia de uma possível pandemia, visto que já se iniciara na China. Em 2020 as incertezas sobre a doença se instauram no mundo. O ano letivo brasileiro começa e, ainda em março, acontece o inesperado: as escolas são fechadas sem previsão nenhuma de reabertura.

Gestores, professores, demais colaboradores da escola e os estudantes têm seu último dia letivo no espaço físico da escola sem se darem conta. A tristeza, o medo, a insegurança são inevitáveis. A escola parece sagrada. Sempre aberta para receber vidas, para viver a vida, para refazer, reconstruir, evoluir vidas. Crianças, jovens e adultos encontram nesse espaço, oportunidades únicas de aprendizagem científica, empírica, emotiva! De repente tudo isso é interrompido e as salas e corredores, pátio, quadra - tudo fica vazio, silencioso, sem vida.

A escola é o pulsar da vida dos/nos alunos. A nova realidade faz com que todos se reinventem. O corpo docente estuda as novas tecnologias para ter acesso às famílias que passam a exercer um pouco do ofício de professor, enquanto os alunos ficam no impasse de sentir a falta da escola e de seus professores e de sentir alegria e satisfação por terem seus pais mais tempo em casa.

O computador, o notebook e o celular - aquele que tem salvado o acesso ao ensino remoto - são as ferramentas para a continuidade do ensino. A população estudantil do município apresenta baixas condições de vida, enfrentam o subemprego, o desemprego e a desigualdade social (URQUIZA, 2019). O ensino remoto vem como uma nova dificuldade em meio a - já presente - realidade de luta pelo pão. Nesse cenário de alta desigualdade, vale mencionar o primeiro dos dezessete objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030: UNESCO que defende a erradicação da pobreza com o intuito de acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares. No entanto, com a pandemia, a pobreza no país tem aumentado drasticamente.

Buscamos mostrar nas páginas seguintes como se deu o trabalho do ensino remoto em 2020 e 2021 na rede municipal de ensino de Diadema. Analisamos as atividades de leitura propostas pelo corpo docente e as estratégias e metodologias utilizadas para que o direito à educação - para todos - fosse garantido em tempos tão difíceis causados pela pandemia da covid-19.

Novas ferramentas e a interação professor/aluno em tempos de pandemia

O ensino remoto, repentino, necessário e incerto, não dispõe de nenhum modelo, nenhum planejamento, haja vista sua implantação de urgência, por tempo incerto. É lamentável dizer que esse ensino para populações carentes se restringe à recepção de atividades via celular pelas famílias que não têm outros aparelhos como notebook ou computador. Há muitas famílias nos vários estados brasileiros que não têm sequer um celular e, portanto, seus filhos ficam distantes literalmente da escola e do acesso à educação. Há famílias que têm o celular, mas não têm acesso à internet; outras, têm um aparelho para atender as necessidades de 3 ou 4 filhos e de toda a família.

Diante de tal realidade, é perceptível o fato de que a evasão escolar tem aumento significativo, bem como as desigualdades sociais das quais as famílias são vítimas. Se estamos tratando de dificuldade de acesso ao ensino remoto, deparamo-nos com a questão da fome e da miséria. É urgente a luta pela implantação de políticas públicas pensadas para atender as necessidades básicas de vida dessa população (SILVA, 2014).

O mês de abril de 2020 ainda é de incertezas para todos. A educação em casa precisa ser pensada, planejada, estudada, pois ninguém se vê pronto para a nova realidade. Equipes de formadores da Secretaria Municipal de Educação de Diadema discutem novas estratégias de ensino em formato online com o corpo docente e envia circulares aos gestores e professores propondo o ensino por meio do uso da internet. O impasse é com o quê e o como. Pensando na realidade das famílias, o celular e o whats app surgem como as mais importantes ferramentas viáveis para o contato com as famílias e os alunos. Grupos de whats app são criados com os telefones dos docentes, pais e/ou responsáveis pelas crianças para o trabalho de criar/adequar propostas de atividades para serem realizadas em casa.

Diante disso, o corpo docente estuda as novas tecnologias via EaD. Professor é um ser em constante construção (FREIRE, 2006), está sempre aprendendo, estudando, aprimorando seus conhecimentos, pensando no melhor para seus alunos. Todavia, lidar com as novas tecnologias não é fácil e aprender a utilizá-las de maneira remota, constitui, a nosso ver, novo desafio. Ainda assim, os dedicados profissionais seguem na lida com esperança em dias melhores e se dedicam a realizar novos cursos para melhor realizarem suas aulas remotas.

Em março de 2020, a Secretaria Estadual de Educação envia o caderno “Orientações às famílias dos estudantes das redes estadual e municipal de São Paulo”, material impresso com informações para prevenção e cuidados com o coronavírus. O material traz informações como a importância do isolamento social, os cuidados de higienização para evitar contaminação, os sintomas da covid, como se dá a transmissão e os cuidados com quem apresenta os sintomas.

A parte específica ao ensino fundamental I aborda a importância da interação entre as crianças nos momentos de troca com os adultos por meio de conversa para a construção de novos conhecimentos. Ressalta a necessidade da leitura com e para as crianças deste segmento a fim de que desenvolvam o hábito de ler. Enfim, apresenta orientações de forma sucinta de como pode ser feita uma rotina de estudos no ensino remoto sugerindo, inclusive, uma tabela com exemplos de como organizar atividades semanais (SEE, 2020).

Para os 4º e 5º anos, o material sugere a criação de uma rotina de estudos semanal em que o aluno trabalhe a leitura e a produção de texto, com orientação e ajuda da família, segundo suas possibilidades de tempo. Como indicação de leituras apresenta diversos gêneros do discurso (BAKHTIN, 2003) - poemas, notícia, quadrinhos/tiras, texto científico, relato de experiência, crônicas e, como indicação de escrita sugere: indicação de livro ou filme para alguém da família, produção de poemas, produção de diário pessoal, produção de regras para um novo jogo (SEE, 2020, p.10). Os docentes gravam pequenos vídeos, criando e adaptando atividades para os alunos, dialogando com as famílias e entre seus pares, ao mesmo tempo em que cuidavam de seus familiares, dos afazeres de casa e se preocupavam com a saúde e bem-estar de todos, ou seja, viviam momentos angustiantes de incertezas diante da doença (VARELLA, 2020).

Até junho de 2020, a educação acontece com e no whats app, quando então é aberto um espaço no portal da educação de Diadema para a postagem semanal de atividades apropriadas ao momento e à situação vivida. A SME trabalhou junto ao corpo docente do município a construção do caderno impresso “Construindo aprendizagens”, entregue às famílias no mesmo mês.

O caderno impresso, as atividades do portal da educação e a troca de informações, discussões, os diálogos entre docentes e famílias, entre docentes e seus pares via whats app são estratégias utilizadas desde a educação infantil ao ensino fundamental I e à Educação de Jovens e adultos que atende os ensinos fundamentais I e II. Nosso estudo pauta-se no ensino fundamental I.

O caderno “Construindo aprendizagens” destinado aos alunos traz uma carta às famílias buscando tranquilizá-las, na medida do possível, explicando a situação e buscando um diálogo para a parceria família/escola em tempos de ensino remoto. Salienta que a entrega do material impresso é um esforço pensado em melhor “propiciar o acesso às atividades escolares complementares aos nossos bebês, crianças, jovens, adultos e idosos.” (SME, 2020, p.2). A carta faz menção às demais atividades postadas semanalmente no portal da educação.

Durante o ano de 2020 não há em Diadema aulas online, o contato é limitado ao acesso no portal e conversas via whats app através de mensagens de texto, áudio e vídeo. O ano letivo de 2021 inicia de forma remota com possíveis datas para o retorno presencial, no entanto, infelizmente, surge o agravamento da pandemia com o aumento de contágio e mortes. Diante da situação, Diadema não anuncia possível data para o retorno presencial. Há a esperança da vacina, o governador inicia no final de março o cadastro dos professores para a vacinação (maiores de 47 anos) em 24 de março através da coletiva de imprensa disponível no link: https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/coronavirus. O município de Diadema inicia a vacinação dos professores em 10 de abril com a faixa etária acima 47 anos, https://vacinaja.educacao.sp.gov.br/. Dada a condição de incerteza sobre a doença, segue o ensino remoto no estado de São Paulo e no município de Diadema. Conforme noticiado na imprensa, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprova, em outubro de 2020, uma resolução que permite o ensino remoto nas escolas públicas e particulares até 31 de dezembro de 2021. A decisão possibilita que as redes estaduais e municipais reorganizem seus calendários 2020/2021 - tanto para manter as aulas exclusivamente on-line, se a pandemia exigir, quanto para iniciar uma retomada das atividades presenciais de forma gradual e rodiziada. Assim, enquanto a vacina contra a Covid-19 não chega para toda a população, o modo de operação das escolas precisa continuar se adequando - e mesclando atividades presenciais e remotas.

A saúde emocional de professores e estudantes em meio à pandemia - a interação Secretaria de Educação/professores/alunos/famílias

Há um tempo considerável a profissão do professor tem sido caracterizada como uma atividade que gera grande demanda emocional e que é potencialmente frustrante. A profissão de professor é considerada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como uma das mais estressantes. Independentemente do nível de ensino ou do tipo de escola, pública ou privada, a profissão tem se configurado em alvo de diversos estressores (OIT/UNESCO, 1984). Os professores têm sido publicamente cobrados pelos fracassos na educação e raramente reconhecidos pelos seus sucessos. Tal postura social é um contraponto ao que mencionamos anteriormente, o período em que a educação e a profissão de professor eram valorizadas no país.

A esse respeito, o psiquiatra, professor e escritor brasileiro Augusto Cury escreve livros voltados ao tema das emoções e em 2019 lança o Educação Socioemocional no ambiente escolar que aborda a questão do lado socioemocional a ser trabalhado no ambiente escolar. A educação socioemocional busca desenvolver habilidades para auxiliar crianças, jovens, adultos e idosos a lidarem melhor com situações de conflito, reduzindo, assim, a vulnerabilidade entre os mesmos nas interações sociais. Para isso, estimulam-se diálogos constantes por meio dos quais os envolvidos podem expressar seus anseios, temores e frustrações (CURY, 2019). Freire vê a afetividade como parte inerente à aprendizagem, o homem “é o corpo que escreve, é o corpo que fala, é o corpo que luta, é o corpo que ama, que odeia, é o corpo que sofre, é o corpo que morre, é o corpo que vive!” (1988, p.28).

No que tange à educação em tempos de ensino remoto, as metodologias pensadas para o ensino presencial podem ser aplicadas nesse modelo de ensino, visando estimular o debate, a empatia, a autorreflexão e o autocontrole. Assim, os professores buscam inserir no trabalho remoto dinâmicas em família, brincadeiras e exercícios físicos para discutir temas como o isolamento social no período de pandemia, saúde emocional e ansiedade. A SME de Diadema mobiliza-se em 2021 e oferece formação específica e articula dinâmicas de trocas entre o corpo docente. A preocupação com o cuidado, a saúde emocional, o bem-estar e o desenvolvimento socioemocional de professores e alunos na pandemia acontece, embora tardiamente, através de debates virtuais com profissionais da área em webinars. Nestes tempos dolorosos, professores perdem entes queridos para a covid-19, têm conhecimento de perdas de familiares de alunos - tudo isso gera angústia, sofrimento e abalo emocional (FREUD, 1969).

Nesse sentido, a formação online para o corpo docente é voltada também para o acolhimento, considerando a saúde emocional. O objetivo é motivar os profissionais que há mais de um ano, vivenciam as angústias de um quadro epidemiológico. As formações onlines semanais trazem temas pertinentes ao momento vivido. A recepção dos professores é positiva - comentários ao vivo no chat. Para eles, a situação de abandono em meio ao caos é mais um fator negativo que envolve o emocional. O grupo recebe positivamente a acolhida da nova gestão que apresenta no primeiro encontro a fala humanizada do atual prefeito José de Fillipi. Os docentes colocam em suas falas que se sentem abraçados através do seu discurso afetuoso e repleto de esperança visto que Freire é a referência de sua gestão.

Outro ponto positivo da fala do prefeito é sobre a liberação do primeiro lote de vacinação para docentes da rede municipal que é liberado no dia 10 de abril de 2021 para maiores de 47 anos, conforme informações dadas pelo prefeito https://vacinaja.educacao.sp.gov.br/. Em uma das formações de professores acontecem relatos de experiências de docentes da rede, de experiências vividas no ano letivo de 2020. A educação infantil, o ensino fundamental I e a EJA I e II apresentam seus trabalhos reiterando o compromisso do corpo docente da rede. Há treze anos fazendo parte do grupo, onde atuamos nos três níveis de ensino, vimos de perto o compromisso dos professores. Diante de muitas dificuldades quanto à estrutura física dos prédios, material escolar, dentre outras, o trabalho que a equipe realiza é digno de aplausos. O aluno é prioridade, é para e por ele que a equipe trabalha e é uma equipe que se abraça - em todos os sentidos da palavra, dá afeto, acolhe, troca vivências. Trabalhar na educação municipal de Diadema é um privilégio que soa quase unânime entre os professores através de conversas ao vivo em tempos normais e nos grupos de whats app e webinars, palestras e conferências online - realizadas no período de educação remota.

A respeito dos relatos, a escola Chico Mendes apresenta seu trabalho de leitura com crianças de 4 e 5 anos em que as professoras incentivam os pais para que leiam com as crianças. Na webinar pudemos acompanhar pequenos vídeos de relatos das crianças lendo, dos pais lendo com e para seus filhos. O método pedagógico utilizado pelas professoras permite o retorno positivo das famílias. As docentes utlilizam procedimentos como conversas via whats app, leitura para as crianças em chamada de vídeo, em pequenos vídeos, elas se fazem exemplo com incentivo, motivação, são referência. Não tendo suporte tecnológico oferecido pela SME, todo o período de trabalho remoto acontece às expensas dos professores: computador, celular e internet. Os relatos de experiências emocionam os colegas de profissão.. Professores choram de alegria - relatos no chat - ao veem o trabalho dos colegas representando tão bem a classe educadora guerreira de Diadema.

Outra escola, Marieta de Freitas, tem relatos representando o ensino fundamental I com vivências pedagógicas de 2020, demonstrando que, apesar de tempos tão difíceis, num cenário de medo e incertezas, a luz da esperança não deixa de brilhar na luta dos incansáveis profissionais que prezam pela aprendizagem de seus alunos. Aprendemos com Freire (1987), nosso patrono da educação, que o compromisso do profissional com a sociedade reconhece que antes de ser profissional, é homem, lida com a humanização.

É perceptível no relato das professoras todo o cuidado que têm ao planejar as propostas para o ensino remoto, levando em consideração o contexto de vida dos alunos, a situação emocional que vivem as famílias e suas limitações quanto ao acesso aos recursos tecnológicos. A adaptação das propostas visa trabalhar as emoções, estimulando o bom convívio com atividades que possibilitam o desenvolvimento de emoções positivas como a alegria, através de brincadeiras, jogos, leituras e contações. Seguindo as orientações da BNCC (2018), os benefícios das brincadeiras para o desenvolvimento das crianças preveem o estímulo do desenvolvimento físico, emocional e cognitivo, desenvolvendo o otimismo e a negociação, ensinando o respeito, promovendo criatividade e imaginação, desenvolvendo a atenção - tais estratégias de aprendizagem são utilizadas no ensino remoto.

Em se tratando da Educação de Jovens e Adultos, representada pela escola Cora Coralina, o projeto Fotovivências em que os estudantes do fundamental II produzem fotos, vídeos e textos no período de pandemia, em parceria e troca com seus docentes, destaca o trabalho em troca ativa entre professores/alunos. Enfatiza as diversidades culturais, sociais e linguísticas do alunado (LUCCHESI, 2006), pois é feito através da interdisciplinaridade, do trabalho coletivo que envolve toda a equipe escolar. Assim, vale mencionar que todos os dizeres são possíveis (FIORIN, 2016) num contraponto ao sistema excludente e opressor (FREIRE, 2001) do qual a educação brasileira é refém. Um sistema que prioriza um único modo de falar por ser representante do seleto grupo dominante e estigmatiza as diferenças marca o preconceito linguístico (BAGNO, 2019) que é fruto do preconceito social e cultural.

Seguindo nessa linha de pensamento, a EJA é público ideal, espaço propício para trabalhar a conscientização (FREIRE, 2006), despertar no alunado a consciência de que é excluído socialmente, injustiçado e que não é obra do destino, mas escolha de seus governantes. A necropolítica que se impõe no Brasil tem reafirmado a necrolinguagem (LAGARES, 2021) que dissemina o preconceito e a injustiça social através da política da morte (MBEMBE, 2016) em que o pobre tem seu direito de vida negado, a vida é objetificada aos moldes da barbárie da Idade Média (HUNT, 2009). Discutir sobre pobreza, distribuição desigual de renda, discriminação, preconceito e segregação pela linguagem é indispensável para formar o sujeito senhor do discurso, da língua e do pensamento livre. Logo, buscamos um estudo que preze pela heterogeneidade da língua viva que é (BAKHTIN, 2003) e que se modifica segundo as necessidades de seus falantes.

Vale destacar aqui que os textos dos alunos da 7ª A em 2017 com a temática da desigualdade social mostram que os estudantes utilizam a escrita para ocupar seu lugar de fala e produzem artigo de opinião, textos orais em debates informais na sala de aula, poemas, paródias e dramatização, exercendo seus papéis de sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem nos resultados obtidos em nossa pesquisa de Mestrado. Bagno (2021) em sua live Uniformidade Linguística versus Desigualdade Social: quem normatiza a língua e para quem, cita a frase do Emicida Tudo que nois tem é nois que é um símbolo da desigualdade social, cultural e linguística. O linguista faz menção ainda ao ex-presidente Lula que é estigmatizado em sua fala ao pronunciar /advogado/ por advogado - crítica de uma jornalista que defende interesses da elite. Graças à tecnologia, à internet e aos grandes estudiosos, Bagno, um dos maiores linguistas do Brasil, explica à jornalista supracitada e aos demais - que é preciso estudar mais, pois a pronúncia de Lula é também a de milhões de falantes em São Paulo e em outros estados brasileiros e o fato linguístico é objeto de estudo da Sociolinguística.

Outro ponto interessante são as discussões sobre o Projeto Político Pedagógico (PPP) que passa a ser Participativo (PPPP) em 2021 com o slogan “nenhum a menos”. A proposta da SME é construir um PPPP com a participação da comunidade escolar pensando no cuidado com todos os sujeitos do currículo, todas as crianças importam na convivência escolar no possível retorno presencial na escola democrática tendo os pressupostos freirianos de currículo como base. Um caso a se pensar é que a entrega de uniforme e material escolar aos estudantes não se dá em 2021; em 2022, o material escolar está sendo entregue e a entrega do uniforme não tem data marcada. Desse modo, questionamos a gestão que tem Freire como patrono, já que ele prioriza o aluno e o campo afetivo da vida do docente - um integrador, profissional polivalente, que desempenha funções de outros, na convivência diária com o discente, não se faz robô, é antes de um profissional, um humano que sente, tem emoções e, portanto, tem respeito às diferenças e limites dos aprendizes. São os profissionais da educação que custeiam o ensino remoto - com seus salários escassos - em 2020 e 2021.

A leitura como possibilidade/estratégia de acolhimento

Definir estratégias e procedimentos que envolvam leitura e escrita no ensino remoto é fundamental para a aprendizagem das crianças em casa. As tecnologias e a internet são as ferramentas disponíveis para que o aluno pratique a leitura, utilizando textos de diferentes gêneros a fim de desenvolver a capacidade de emitir opiniões oralmente e na escrita, favorecendo sua capacidade de argumentação. Importa saber de que forma o ensino de português acontece (GERALDI, 2011), quais recursos linguísticos, culturais e tecnológicos são utilizados na relação de ensino e aprendizagem de modo a possibilitar uma aprendizagem significativa e o desenvolvimento da capacidade de criticar, refletir, participar da sociedade a qual pertence.

Nesse sentido, o processo de apreensão do conhecimento epistemológico visto paralelamente ao conhecimento empírico, à vivência com a família evidencia os efeitos positivos de um estudo com métodos e técnicas que proporcionam ao aluno a oportunidade de se sentir autor de sua aprendizagem e ser convidado a refletir sobre sua existência e posição no mundo (FREIRE, 2006), praticando propostas que envolvem sua saúde emocional em tempos de isolamento social.

Com a pandemia, as propostas de leitura e produção de texto trazem temas relacionados ao confinamento e a saúde emocional de professores e alunos passa a ser trabalhada com o intuito de fortalecimento mútuo. Para Geraldi (2011), o aluno aprende a produzir textos para interpretar melhor os vários discursos com os quais tem contato em seu dia a dia, refinar seu olhar crítico, saber como interagir no mundo por meio de sua palavra. A temática do acolhimento, do “ninguém solta a mão de ninguém”, do “nenhum a menos” demonstra que o estudo da língua é a manifestação da vida acontecendo. Conforme Fiorin (2018, p.9), “como todos falamos, temos noções do senso comum a respeito da linguagem”.

Tratamos do ensino da leitura com base nos estudos da Sociolinguística - área da Linguística que estuda a relação entre a língua que falamos e a sociedade em que vivemos, analisa as diferentes formas de olhar para a relação entre língua e sociedade. Mendes (2018) chama a atenção para a concepção de língua laboviana, a social, em que os usos das ferramentas linguísticas não se explicam só em termos linguísticos, mas também em termos sociais. Falamos a mesma língua, o português, todavia, há características que diferenciam o modo de uso da língua entre um grupo e os demais. Segundo Bagno (2019), as variedades de características que diferem um modo de falar de um grupo social para outro podem ser segundo a localização geográfica, a escolaridade, a ocupação social que exerce/profissão, os critérios sociais, a idade, o gênero dos falantes/usuários da língua de uma dada sociedade. O linguista se ocupa de estudar, sem julgamentos (FIORIN, 2018), os diversos usos da língua para apontar as diferentes características de cada variação de acordo com o grupo social.

É importante defender aqui o trabalho de valorização das variações linguísticas em contraponto a um sistema de ensino em que impõe a norma padrão como modelo de correção e estigmatiza tudo que lhe é diferente por ser o modo de falar das classes populares (BAGNO, 2019). Freire, embora não seja linguista, mas um humanista e grande defensor da vida e da justiça social, vem ao encontro de pressupostos linguísticos ao afirmar que o uso da linguagem é também uma forma de jogo de poder onde a classe dominante dita as regras do currículo escolar desconsiderando o modo de falar das minorias.

No início de abril, Paulo Freire, patrono da educação brasileira, passa a ser também o patrono da educação de Diadema. A alegria do corpo docente ao receber a notícia dada pela SME em live do dia 08 de abril, disponível em https://youtu.be/Fuh8vYTztcQ, foi manifestada em mensagens como: Viva Paulo Freire! (várias pessoas); Amo trabalhar em Diadema; Essa preocupação, esse acolhimento, sempre, desde que entrei em 2012, não é uma rede preocupada só com números; Quando falo que Diadema está anos luz de outras redes kkkk; Eu já participei de formações com Mário Sérgio Cortella, Palavra Cantada, é outro nível, espero que tudo dê certo; O diferencial da rede de Diadema é essa preocupação com o ser humano, sempre foi uma rede acolhedora e humana!

O trabalho de leitura e interpretação de texto nos 4º e 5º anos dá-se aos moldes do ensino proposto nos livros didáticos. As propostas de leituras seguem os gêneros textuais típicos das séries: fábulas, ficção científica, receita, conto, poesia, carta pessoal, carta do leitor, bilhete, história em quadrinhos. Alguns textos são pensados especificamente na situação de atividades realizadas em casa com a família, a saber, a receita que propõe a interação com a família no preparo, na organização dos ingredientes, o bilhete que especifica a interação com o membro da família e atividades que buscam trabalhar a brincadeira visando troca de afetos entre os membros da família e pensando na saúde emocional.

O ensino da gramática e da ortografia vem descontextualizado, em atividades separadas dos textos enviados para leitura e interpretação. A nosso ver, ainda que no ensino remoto, a interação entre gramática, ortografia e leitura de texto deve ser indispensável, pois a criança precisa aprender a fazer a relação necessária entre a língua que aprende na escola, a padrão, e a que utiliza no dia a dia, bem como o porquê desses usos diferentes (SOARES, 2020). As propostas de leitura de 2021 suscitam o debate da extrema importância da leitura para as crianças nesses tempos de isolamento social e ensino remoto. São pensadas numa interação entre famílias - pais e filhos - numa situação de prática de leitura realizada através da troca. Os pais lêem para as crianças e as crianças leitoras lêem para os pais. O objetivo é que a leitura não seja trocada jamais pelo uso das tecnologias, nossas crianças precisam de exemplo e de incentivo para o hábito de ler. Em tempos atípicos, as crianças não vão à escola há quase dois anos e os pais continuam trabalhando para sobreviver, o que dificulta o tempo com os filhos para realização das atividades escolares e ainda tem a questão do emocional abalado por conta do auge da pandemia.

Magda Soares (2020) defende o contato com os livros, gibis, revistas, enfim com a escrita já nos primeiros anos de vida da criança para que sirva de estímulo ao desenvolvimento da leitura. No isolamento social esse contato é essencial, uma vez que as crianças têm estado muito tempo diante das telas, seja a TV ou o celular, inclusive para ter acesso às atividades escolares. Em 2021 a SME de Diadema não preparou nem entregou nenhum material impresso às crianças do fundamental. As escolas imprimiam atividades apenas para as famílias que solicitavam por não terem acesso à internet.

As indicações de leitura em 2021 vêm com um presente para as crianças e as famílias, uma recepção calorosa com um texto de Paulo Freire, uma escolha feliz. O texto A escola fala de afetividade, de valor humano, de amizade no convívio na escola, lugar para ser feliz. A proposta de atividade para 4º e 5º anos foi:

“A escola dos meus sonhos” pensando no tempo que você está longe da escola, nos seus amigos, professores... Imagine como a escola era antes da pandemia, o que você gostava de fazer, quem eram seus amigos, o que você aprendeu. Agora leia o poema “a escola” escrito por um educador muito famoso chamado Paulo Freire.

A primeira proposta de fevereiro é uma atividade de produção de texto, inclusive a primeira atividade de português para 4º e 5º anos:

Peça para a criança escrever um texto (uma redação), do jeito que ela conseguir, contando o que ela fez em 2020. Com quem ficou, o que fez, o que aprendeu, o que mudou na vida dela nesse ano, dentre outras coisas que ela quiser contar. Mesmo que a criança tenha dificuldades para escrever, ou que ainda escreva com alguns erros, incentive-a a fazer da melhor maneira que conseguir; o importante para o (a) professor (a) é justamente saber como o estudante escreve. Observação: as crianças que não fazem nenhum tipo de escrita podem fazer um desenho e, se conseguir, colocar seu nome na folha.

A escrita da criança pode abordar a vivência no período de pandemia, portanto, a saúde emocional é um dos temas que pode ser levantado pela maioria. É possível inferir que a proposta abrange esse tema por ser parte da vida concreta das famílias nesse período atípico. Foi pensando na inclusão, ao propor métodos diferentes para crianças com limitações.

A segunda proposta de fevereiro ressalta a importância do brincar na infância, destacando a família como algo a mais nesse procedimento de interação para estimular as boas emoções. A brincadeira é pensada na mímica das emoções, uma pessoa faz a mímica de um sentimento e os demais tentam adivinhar. Uma simples brincadeira que pode proporcionar muita risada e diversão. Propõe a escrita dos nomes dos membros da família e o grau de parentesco com a criança. E, por fim, propõe uma produção textual sobre um sentimento vivido em família. A proposta tem base na BNCC e traz a saúde emocional como temática.

A terceira proposta de fevereiro, que passa a ser quinzenal, traz o tema “nossa cidade” e convida o aluno a conhecer melhor o espaço geográfico onde vive, é convidado a conhecer o mapa de seu município, localizar Diadema no estado de São Paulo e no Brasil. Algumas perguntas são feitas sobre a vida pessoal da criança. Solicita um desenho que represente um lugar no município que a criança costuma passear com a família e solicita que o aluno liste lugares de Diadema que ela gostaria de conhecer. Trazendo o número de habitantes conforme o Censo de 2010, solicita a escrita e a decomposição do mesmo e finaliza com a sugestão de brincadeira da peteca. Nesta proposta não identificamos a saúde emocional como tema.

Vimos que em 2020 o ensino é moldado aos padrões do presencial. Todavia, para uma realidade totalmente atípica e diversificada em tempos de isolamento social, é fundamental mudar as estratégias e metodologias de modo a desenvolver um ensino mais humanizado e que se aproxime mais da realidade de vida dos estudantes. Ressalte-se que a bandeira levantada pela nova gestão justifica o trabalho diferenciado em 2021 e que já foi realidade décadas atrás no município que tem Paulo Freire como patrono da educação e grande influenciador do currículo. O objetivo da ciência é analisar dados, portanto, aqui nos eximimos de qualquer juízo de valor e apontamos os resultados de forma objetiva distante de considerações subjetivas.

Considerações

Diante da realidade do ensino remoto, o Brasil, assim como vários países do mundo vive a tentativa do retorno do ensino presencial. A primeira tentativa acontece em 2020 em alguns estados. Alguns municípios fazem a tentativa em 2020, mas fecham novamente as portas das escolas por causa do coronavírus. Março de 2021 traz o pico da pandemia com números altíssimos de mortes diárias. Muitos professores falecem e a situação caótica só aumenta. A tristeza de familiares e de colegas de profissão repercute negativamente o emocional da categoria de ensino. O município de Diadema cautelosamente, em discussão com os órgãos responsáveis pela saúde, opta pelo retorno remoto.

O retorno presencial, tão almejado e esperado por todos, ainda é incerto, deve ser gradual e híbrido, uma mescla de atividades presenciais e atividades remotas mesmo em 2021. Por um período de tempo é preciso trabalhar com parte dos alunos em casa e parte presencialmente nas salas de aula. Todo este período permitiu a constatação do descaso com as minorias sociais, a população pobre sofreu o aumento exacerbado do desemprego, da fome e da falta de estrutura dos hospitais públicos para lidar com a pandemia. O isolamento social para famílias grandes que vivem em espaços limitados é inviável, além do fato do grande número de famílias que foram parar nas ruas por não conseguirem pagar aluguel.

O ciclo de erros do homem repete-se ao longo da história em tempos e espaços diferentes, as pandemias e epidemias anteriores não serviram de exemplo para a humanidade lidar com a covid-19, a ganância de uns que enriquecem cada vez mais enquanto a grande maioria morre e/ou padece a dor cruel da fome impossibilita vê a vida antes do lucro. A esse respeito, Mota e Borysow (2021) falam sobre o valor dos corpos que vivem na extrema pobreza na cidade de São Paulo, trazem dados interessantes sobre a história das epidemias e pandemias no período de 1930 a 1970 e da pandemia da covid-19. Os autores ressaltam o descaso de governantes que não propiciam oportunidades de sobrevivência mínima às minorias e ainda criam leis que os colocam em situação de criminosos, como a lei da Vadiagem em 1941 e a do isolamento social, sem oferecer nenhuma possibilidade de efetivação oferecendo segurança aos moradores de rua, aos que moram em “casas improvisadas” com duas ou mais famílias num espaço restrito.

Nossa luta pela efetivação do direito à vida digna a todos como prega a Constituição, é contínua e árdua. Nossa esperança está na força das diferenças em prol de uma causa comum de modo que os laços sociais, os quais fundarão a política, são eminentemente afetivos e, portanto, portadores de potências, de direitos (BRAGA, 2018). De fato, a luta nada mais é do que a “briga” por algo que é seu por direito, a existência, a vida! O afetamento do ódio causado pelo atual governo atinge a população negativamente, há adesão de grande parte da sociedade às ideias de ódio. Estes sentimentos afetam o corpo de alguma maneira e adoecem a mente (ESPINOSA, 2010). Tratar a covid-19 com banalização, negar educação e saúde à população, são exemplos claros.

Observamos que as propostas foram pensadas em trabalhar a interdisciplinaridade e enfatizar o brincar, a saúde emocional e a afetividade na família, porém a situação de desemprego e fome vivida pela comunidade periférica diademense e a falta de ferramentas tecnológicas impossibilitou o acesso ao ensino a muitos alunos. Os resultados apontados ao longo do texto reasseguram a necessidade de novas proposituras para o campo da educação, de novos investimentos e de um olhar humanizado, à luz freiriana, para nossos estudantes tão carentes de tudo: moradia, trabalho e alimentação dignos e educação de qualidade, direitos que lhes são garantidos pela Constituição.

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Recebido: 15 de Maio de 2021; Aceito: 23 de Agosto de 2021

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