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Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar

versión impresa ISSN 2182-5173

Rev Port Med Geral Fam vol.39 no.2 Lisboa abr. 2023  Epub 30-Abr-2023

https://doi.org/10.32385/rpmgf.v39i1.13681 

Carta ao editor

Aprendizagem relacional: oportunidades e desafios na formação em medicina geral e familiar

Relational learning: opportunities and challenges in general practice training

1. Unidade de Saúde Familiar S. Julião. Oeiras, Portugal.


Caro Editor,

Foi com bastante entusiasmo que li o artigo Aprendizagem relacional: oportunidades e desafios na formação em medicina geral e familiar. Este estudo revela-se muito interessante, uma vez que aborda um tema inovador relacionado com a formação dos futuros médicos de família em Portugal.

As sessões de aprendizagem relacional (SAR) estão englobadas no programa de formação especializada em Medicina Geral e Familiar (MGF) desde 2019, como parte integrante do horário semanal dos médicos internos, correspondendo a um período de quatro horas consecutivas. Esta reestruturação veio enfatizar a importância da formação interpares no desenvolvimento de competências profissionais essenciais, como o trabalho em equipa, a capacidade organizativa e a promoção da formação.1 Este tempo destinado à partilha de conhecimentos, ideias, experiências, problemas e soluções entre os internos revela-se uma forte estratégia de aprendizagem, uma vez que proporciona um ambiente de formação favorável onde a comunicação e interação são facilitadas por se tratarem de indivíduos com níveis de conhecimento e experiência profissional semelhantes entre si. 2

Como médica interna do primeiro grupo no qual estas sessões se iniciaram, e partilhando a minha experiência dos primeiros quatro anos após a implementação das SAR, posso afirmar que esta reformulação do programa veio indubitavelmente enriquecer a formação em MGF. Considero que esta é uma especialidade privilegiada, sendo a única em Portugal que formaliza este molde de aprendizagem, de forma estruturada e definida, prevendo-se que seja uniforme em todo o país. É, de facto, uma oportunidade única que vai ao encontro das necessidades dos médicos internos, fomentando a comunicação e a relação entre si que, provavelmente, de outra forma não se verificaria.

Neste estudo observamos que mais de metade dos internos inquiridos considera que as SAR são muito úteis ou essenciais. 1 Para além dos benefícios formativos, académicos e relacionais já referidos, as SAR proporcionam ganhos a nível socio-comportamental, na medida em que permitem a convivência com diferentes colegas e a possível criação de elos que vão além da esfera profissional. A MGF é uma especialidade onde a prática clínica diária tende a ser um pouco “solitária”, considerando que o médico de família passa invariavelmente grande parte do tempo restrito ao seu gabinete, apesar de todo o apoio e trabalho de equipa que possam existir na unidade onde se encontra. As SAR vieram, de certa forma, combater esta tendência, ao promover de forma regular o contacto e a partilha de vivências experienciadas nos diversos contextos de trabalho, entre o grupo de médicos do mesmo ano de internato, dentro do mesmo agrupamento de centros de saúde. Através deste estudo percebemos também que mais de um quarto dos internos inquiridos não realiza SAR, apontando a desmotivação como um dos principais motivos, o que me leva a questionar o porquê. Possivelmente a inexistência de orientações precisas, esclarecimentos e devidos recursos para a realização de sessões com qualidade estarão na origem da desmotivação supramencionada, tendo sido considerados, pelos internos, como problemas associados à realização das SAR. 1

Apesar do nível organizativo, metodológico e programático das sessões ainda não se encontrar totalmente uniformizado, havendo, portanto, aspetos de melhoria e aperfeiçoamento, considero que a evolução tem sido favorável ao longo destes quatro anos. Admito que o processo de adaptação inicial possa ter sido desafiante para os diversos intervenientes, por se tratar de um modelo inovador, nunca antes experimentado. Ainda assim, e apesar de todas as adversidades, o grupo de aprendizagem relacional em que estou inserida tentou sempre organizar-se com os recursos disponíveis, procurando tirar o maior proveito das sessões, aspeto que destaco no desenvolvimento de um percurso favorável.

Reconheço a relevância deste estudo ao incitar a reflexão acerca do impacto das SAR na qualidade da formação em MGF, bem como dos seus desafios e oportunidades de melhoria. Assim, parecem-me bastante pertinentes as estratégias e sugestões dadas pelos autores, que visam aprimorar esta prática de aprendizagem com tanto potencial. A fim de possibilitar uma análise mais abrangente, no sentido de compreender também as possíveis dificuldades existentes e opiniões das entidades responsáveis pela gestão e orientação da formação dos médicos internos, talvez fosse interessante alargar o âmbito do estudo. Desta forma seria possível realizar uma avaliação conjunta, após auscultar as duas vertentes, com o intuito de encontrar as melhores soluções para os problemas identificados.

Em conclusão, realço a importância de um correto funcionamento das SAR, para que se revelem uma realidade profícua para todos os médicos internos. Neste sentido, julgo ser fundamental acautelar um maior envolvimento das entidades supracitadas (as coordenações e direções do internato, os orientadores de formação, o colégio da especialidade), bem como um maior comprometimento e motivação por parte dos próprios internos por forma a maximizar o potencial pedagógico e formativo destas sessões.

Referências bibliográficas

1. Medeiros RP, Nascimento AF, Delgado AI, Melícia A, Serrinha A, Moita CF, et al. Aprendizagem relacional: oportunidades e desafios na formação em medicina geral e familiar [Relational learning: opportunities and challenges in general practice training]. Rev Port Med Geral Fam. 2022;38(5):436-48. Portuguese [ Links ]

2. Guraya SY, Abdalla ME. Determining the effectiveness of peer-assisted learning in medical education: a systematic review and meta-analysis. J Taibah Univ Med Sci. 2020;15(3):177-84. [ Links ]

Recebido: 09 de Dezembro de 2022; Aceito: 06 de Fevereiro de 2023

Endereço para correspondência Leonor Farinha E-mail: marialeonorfarinha@gmail.com


Resposta dos Autores

Resposta dos Autores

Rita Medeiros2 

2. USF Marginal, ACeS Cascais. Estoril, Portugal.

Cara Colega,

Muito agradecemos o interesse demonstrado no artigo Aprendizagem relacional: oportunidades e desafios na formação em medicina geral e familiar, publicado na edição de setembro/outubro de 2022 da RPMGF.

Tal como a colega, e a maioria dos respondedores do questionário aplicado no âmbito deste trabalho, os autores reconhecem a utilidade da aprendizagem relacional, acreditando no seu potencial enquanto “ferramenta educacional diferenciada”.

No entanto, para que assim seja considerada, a sua aplicação deve ser feita de forma estruturada, com base em objetivos e estratégias bem definidos que uniformizem a sua implementação a nível nacional, enquanto permitem as adaptações locais necessárias para a sua concretização.

A ausência de orientações que permitam esta implementação de forma sistematizada conduz à perda de oportunidades de formação e desenvolvimento, com a consequente desmotivação destacada pela colega.

Assim, e tal como sugerido em conclusão, torna-se necessária a existência de documentos orientadores, emanados de forma articulada pelas várias Coordenações de Internato (CIMMGF). A avaliação periódica e mais abrangente desta prática, através da aplicação de questionários semelhantes a nível nacional, permitirá uma adaptação progressiva destas orientações no sentido da sua melhoria continua.

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