SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número25A Importância da Revista Nutrícias no Âmbito Nacional e Internacional das Ciências da NutriçãoAno 15, 25 capas índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Revista

Articulo

Indicadores

Links relacionados

  • No hay articulos similaresSimilares en SciELO

Compartir


Revista Nutrícias

versión On-line ISSN 2182-7230

Nutrícias  no.25 Porto mayo 2015

 

Revista Nutrícias – O Futuro

 

Nuno Borges1

1Director da Revista Nutrícias desde 2014

 

Uma publicação como a Revista Nutrícias pode ser encarada como um organismo vivo, do qual conhecemos o passado, acompanhamos o presente e tentamos antecipar o futuro. Este contínuo torna assim difícil falar do futuro sem relembrar o passado e sem viver o presente. O processo de criação desta publicação está muito relacionado com a própria renovação que em boa hora foi feita na Associação Portuguesa dos Nutricionistas, já lá vão 15 anos. A revista que então foi pensada era um veículo de informação da Associação Portuguesa dos Nutricionistas, nela se vertendo os assuntos que mais preocupavam então os Nutricionistas, fossem eles de natureza estritamente científica ou de pendor mais profissional ou associativo. Era, na opinião de muitos, nos quais me incluo, uma belíssima publicação, de aspecto cuidado e impecável acabamento gráfico. Os conteúdos importantes e a visão de lhe proporcionar uma distribuição gratuita e alargada juntaram-se aos argumentos anteriores e granjearam-lhe rapidamente um lugar de destaque no seio das publicações na área da nutrição e alimentação no nosso país. Era uma publicação anual, lançada no decorrer do Congresso de Nutrição e Alimentação, uma outra criação dessa notável geração de Nutricionistas que permitiram à Associação Portuguesa dos Nutricionistas um salto qualitativo assinalável. O passar dos anos foi moldando o objectivo da Revista Nutrícias, tornando-a progressivamente mais vocacionada para os artigos científicos. Não me cabe detalhar essa história, que nestas mesmas páginas pode ser encontrada no artigo de Helena Ávila. Importa apenas referir que, neste processo, a Revista Nutrícias ganhou uma periodicidade distinta (trimestral), a edição exclusivamente electrónica de três dos seus quatro números anuais, um sistema de arbitragem por pares para todos os artigos e a indexação na base de referências bibliográficas SciELO. Que grande salto! E que orgulho ter feito parte desta evolução, apesar de todas as dificuldades que um projecto desta dimensão sempre acarreta. É sobre esta base que podemos projectar o futuro da Revista Nutrícias, não deixando de prestar uma simples mas justíssima homenagem a todos quantos contribuíram para este percurso: os seus fundadores, já aqui referidos, os inúmeros colegas que generosamente nos emprestaram o seu conhecimento na revisão dos artigos e os técnicos da Associação Portuguesa dos Nutricionistas que diariamente fazem com que esta publicação seja uma realidade. Em boa verdade, a Revista Nutrícias não tem qualquer futuro! Este nome, que acompanhou a Revista ao longo destes anos, vai ser alterado, fruto do reforço do cariz científico que se pretendeu dar-lhe. Assim, desaparecendo o nome de Revista Nutrícias nasce o nome Acta Portuguesa de Nutrição, cuja sigla APN é a mesma da Associação Portuguesa dos Nutricionistas. É pois da Acta Portuguesa de Nutrição que iremos agora falar. O exercício de previsão do futuro é invariavelmente arriscado e raramente feito de ânimo leve por quem de bom senso. Existem, claro, algum pressupostos que nos dão um mínimo de garantias sobre o que poderemos esperar no curto e médio prazo, mas não mais que isso. Assim, caberá sobretudo neste artigo fazer uma espécie de compromisso com o desenvolvimento futuro da Revista, compromisso este que se espera que se prolongue bem para lá da simples presença daqueles que neste momento têm a responsabilidade de a dirigir. A Associação Portuguesa dos Nutricionistas é um excelente exemplo de como muitos projectos foram lançados com bases suficientemente sólidas para resistir à mudança das pessoas. Este é o compromisso primordial que assumimos perante os nossos leitores e os associados da Associação Portuguesa dos Nutricionistas, sentimento aliás de que comunga toda a actualdirecção em todos os projectos que desenvolve. E o que projectar para esta publicação? Pretendemos, para já, que mantenha o figurino herdado da Revista Nutrícias, reforçando progressivamente o conjunto de revisores à medida que mais doutorados se vão formando nesta área. A este respeito tem sido notável não só o aumento do seu número (voltaremos a este assunto mais à frente) como a disponibilidade por todos demonstrada em nos ajudar. Sendo uma revista científica, não é difícil prever que o seu desenvolvimento estará muito ligado ao próprio desenvolvimento da área das ciências da nutrição e da alimentação. É aqui que, obviamente, fica mais difícil fazer previsões sobre o rumo que tomará a Revista, mas ainda assim pode ser interessante fazer um exercício nesse sentido, ainda que puramente especulativo e, por isso, nos antípodas do que se pretende num artigo científico sério. Conforme foi abordado em anteriores editoriais da Revista Nutrícias, existe actualmente uma tensão latente acerca da nutrição como ciência que nos deve preocupar. Escrevi, em Julho de 2014, o seguinte : “Insistimos sempre no carácter científico da Revista Nutrícias e na importância deste facto para a prática da Nutrição. A cada dia, a impressionante capacidade dos modernos meios de comunicação coloca desafios aos profissionais ao colocá-los perante “evidência” que pouco ou nada vai buscar à ciência. Esta Revista é para aqueles que continuam a trilhar o exigente caminho da investigação científica, dando-lhes a oportunidade de publicar os seus resultados num suporte indexado, contribuindo assim para a dignificação e para a seriedade das Ciências da Nutrição.” Posteriormente, no n.º 22, acrescentei que “Todavia, o impacto público de algumas destas descobertas nem sempre é o desejado. A natureza complexa dos novos paradigmas torna difícil a sua transformação em informação simples de transmitir a um público que não só é leigo como carrega muitas vezes consigo informação enviesada sobre nutrição e alimentação. Esta mesma complexidade acaba, no nosso entender, por permitir o aparecimento de mensagens que, tendo pouco ou nenhum rigor técnico, aparecem como atraentes para um público em busca de respostas. Essa atractividade é muitas vezes reforçada pela credibilidade técnica e até estética de quem a transmite, mas sobretudo pela pretensa inovação (que poderíamos mais apropriadamente chamar de bizarria) de alguns dos conceitos apresentados.” Estas duas porções de texto pretendem revelar uma preocupação que muitos profissionais vão sentindo referente a uma certa forma de abordar a nutrição. Veria com muito bons olhos que a Acta Portuguesa de Nutrição fosse um porto seguro de leitura tecnicamente irrepreensível e de refrescante actualidade. Tem todas as condições para o ser, uma vez que se apresenta com um corpo editorial de elevada formação científica e que abrange as múltiplas áreas de saber relacionadas com a nutrição e alimentação. As áreas dentro das ciências da nutrição têm também seguido o seu caminho próprio, havendo já quem defenda que deveriam ser criadas áreas de especialidade para os profissionais. Esta discussão está fora do âmbito deste artigo, mas este é um momento propício para olhar para o nosso panorama e tentar perceber quais delas se espera que mais se desenvolvam e, consequentemente, que temas nos trarão os artigos da Acta Portuguesa de Nutrição no futuro. Destacaria aqui os valiosíssimos estudos epidemiológicos com base numa série de coortes portuguesas e coordenados pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP). Será nesta fase excessivamente pretensioso almejar a um índice de impacto que possa rivalizar com as revistas onde estes trabalhos são normalmente publicados. No entanto, ao olhar para a qualidade do planeamento inicial, parecem-nos infinitas as possibilidades de produção científica de qualidade e com grande impacte no nosso conhecimento da realidade, mesmo de resultados aparentemente com menor relevo. Mais ainda, não deverão tardar as repercussões ao nível das políticas de saúde (e outras) que derivem dos resultados obtidos, completando assim o ciclo virtuoso da investigação científica. A nova Acta Portuguesa de Nutrição, que pretendemos continue a trilhar o seu caminho de publicação científica de referência na área em Portugal, pode assim apresentar-se como um veículo de excelência para a divulgação destes e de outros estudos de igual mérito científico. Existe também no nosso país uma forte tradição no estudo bioquímico de diversos efeitos de compostos alimentares, nutrientes e outros, em sistemas simples, como modelos animais, culturas de tecidos ou de células. São igualmente trabalhos de grande mérito científico, certamente mais longe de deles podermos extrair conclusões rapidamente convertíveis em políticas de saúde, mas não menos importantes na descoberta da verdade. Tal como o anterior, estes grupos têm ainda o mérito de funcionar como verdadeiras escolas, produzindo cientistas com qualidade ao ritmo da sua incessante busca do conhecimento. Permitir a estes cientistas, tantas vezes jovens e no início das suas carreiras, a publicação de resultados é indiscutivelmente uma missão que gostaria de ver cumprida pela Acta Portuguesa de Nutrição no futuro. E claro, todas as outras áreas têm também o potencial de desenvolvimento intacto. Olhamos, por exemplo, para a nutrição desportiva e apercebemo-nos do carácter efervescente que actualmente apresenta, com uma vitalidade que em pouco tempo se vai traduzir em mais e melhores publicações, algumas das quais também esperamos ver aqui publicadas. Há ainda a importante questão dos muitos trabalhos realizados para conclusão de licenciaturas ou mestrados, e que tantas vezes acabam incógnitos, quando nem a sua qualidade nem o esforço extra necessário para o tornar publicável o justificariam. Lançamos aqui um desafio a todos os jovens que estão para concluir esta importante parte da sua formação académica e que tanto investem no seu trabalho de investigação para que publiquem essas descobertas e as tornem parte integrante do gigantesco corpo de conhecimentos hoje ao alcance de todos. Outro desafio que queremos colocar para os próximos anos é o de tornar a Revista mais internacional, atraindo trabalhos de outros países. Neste aspecto particular, o espaço da América Latina apresenta-se como especialmente atraente, dadas as relações já estabelecidas institucionalmente entre associações e Nutricionistas destes países. A Associação Ibero-Americana de Associações de Nutricionistas, Aliança Ibero-Americana de Nutricionistas, é um organismo onde a Associação Portuguesa dos Nutricionistas tem estado presente e onde tem desenvolvido os contactos que, se espera, tornarão a publicação na Acta Portuguesa de Nutrição uma rotina para os investigadores desta comunidade. Une-nos também um conceito mais uniforme da abrangência da profissão de Nutricionista e das respectivas áreas de actuação, o que torna esta possibilidade de colaboração ainda mais profícua e que poderia ainda resultar na inclusão de cientistas iberoamericanos no corpo editorial da Revista. Porfiaremos neste objectivo nos próximos anos com o inestimável contributo dos responsáveis da Associação Portuguesa dos Nutricionistas que continuam a cultivar estas importantes relações transatlânticas. E por fim, um objectivo de longo prazo, já muito provavelmente (e desejavelmente, porque a perpetuação das pessoas nos lugares é um mal de que não queremos padecer) para lá do mandato razoável dos actuais responsáveis da Revista: a indexação numa base de dados ainda maior e mais importante, idealmente a PubMed. Impossível nas condições actuais, este objectivo, que podemos também chamar de sonho, seria, acima de tudo, a prova de que o trabalho anterior tinha sido bem feito. Mas não é por esse motivo quase narcisista que o desejamos, mas sim pela possibilidade de ter no nosso país e ao dispor dos nossos cientistas um veículo de divulgação científica de alta qualidade, com impacto global, nessa altura, muito provavelmente, já integralmente escrita em Inglês. Que longo caminho teríamos percorrido desde o primeiro número da Revista Nutrícias! Longo para a Revista, mas longo sobretudo para a comunidade portuguesa de cientistas da área da nutrição e alimentação. Estou confiante que com o empenho de todos lá chegaremos.

Creative Commons License Todo el contenido de esta revista, excepto dónde está identificado, está bajo una Licencia Creative Commons