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Revista Crítica de Ciências Sociais

versão On-line ISSN 2182-7435

Revista Crítica de Ciências Sociais  no.124 Coimbra abr. 2021  Epub 30-Abr-2021

https://doi.org/10.4000/rccs.11589 

Dossier

Transformar o capitalismo com utopias reais: em torno do legado de Erik Olin Wright. Uma introdução.

1Faculdade de Economia, Universidade de Coimbra, Portugal, estanque@fe.uc.pt

2Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra Coimbra, Portugal

3Investigador em Pós-doutoramento no Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra. Coimbra, Portugal., danielneves@ces.uc.pt


“Transformar o capitalismo com utopias reais” foi o lema que escolhemos para o congresso internacional dedicado a homenagear o sociólogo Erik Olin Wright, quando se cumpria um ano após a sua morte - ocorrida em janeiro de 2019.1 A formulação que se encontrou para o tema de fundo procurou, por um lado, ser fiel às temáticas que este sociólogo trabalhou ao longo da sua carreira académica e, por outro, suscitar um espaço de reflexão centrado nos principais desafios e perplexidades que a circunstancia exigiu (e continua a exigir). O colóquio decorreu num contexto de grandes conturbações internacionais, quando a pandemia da COVID-19 era ainda um tema distante - considerado circunscrito à China -, sem se imaginar a escala e as consequências dessa catástrofe no mundo inteiro, mas quando as ameaças às democracias já se faziam sentir em várias latitudes e as novas forças partidárias e narrativas da extrema-direita já eram evidentes.2 Este enquadramento justifica-se na medida em que a crítica do capitalismo e a análise das suas contradições estruturais constitui o pano de fundo do pensamento sociológico de influência marxista e, de um modo ou de outro, o campo de reflexão e estudo conduzido pelo nosso homenageado ao longo da sua carreira.

Parece-nos igualmente importante situar algumas das tendências e perplexidades dos tempos recentes, desenhando referências e linhas de reflexão crítica que enquadram o presente dossiê dedicado aos temas investigados por Erik Olin Wright, apesar de não poder comtemplar toda a sua diversidade e riqueza. Sendo embora um autor norte-americano, é importante recordar alguns dos contributos mais marcantes da sua obra no contexto europeu e, em particular, português. As marcas que deixou no panorama político-académico no nosso país foram bem visíveis no rescaldo da revolução do 25 de Abril. De resto, a própria Revista Crítica de Ciências Sociais (RCCS) deu visibilidade a essa evolução, com a publicação nas suas páginas - e desde os seus primeiros números - de textos de Wright (1983, 1994 e 1997), bem como de artigos de sociólogos/as portugueses/as que com ele dialogaram (cf. Almeida, 1981; Mozzicafreddo, 1981; Estanque, 1997; Estanque e Mendes 1997, 1999; Mendes, 1997; Machado et al., 2003). Em 2005, Wright aceitou o convite para integrar o Conselho Editorial da RCCS, cargo que ocupou até à sua morte.

Talvez a sua influência no pensamento sociológico - e no pensamento marxista em geral, dentro e fora do campo académico - seja apenas mais um exemplo pessoal de como a teoria e a vida prática são inseparáveis (retomando um outro sociólogo marcante, Pierre Bourdieu, dir-se-á que a teoria da prática e a prática da teoria são indissociáveis). De facto, os movimentos pacifistas de 1968 e os debates teóricos onde se envolveu na juventude, ainda como estudante de licenciatura, em Berkeley, nos Estados Unidos, promovendo cursos como “Controversies in Marxist Social Science” ou publicações políticas como Kapitalistate,3 foram projetos e experiências reveladoras de como essas duas facetas permaneceram inseparáveis - e o mesmo aconteceu ao longo da consolidação e reconhecimento do seu percurso enquanto sociólogo.

No primeiro período da sua carreira académica houve igualmente contextos exemplificativos das conexões atrás referidas. Ao longo da década de 1970, quando as polémicas de recorte ideológico e abstrato atingiram o auge,4 a sua obra mais conhecida desta primeira fase Classe, crise e o Estado (Wright, 1981) marcou alguns dos debates académicos no nosso país. A tal não é certamente alheio o momento em que a sociologia portuguesa se encontrava, ainda numa fase de consolidação - de resto coincidente com uma fase de rescaldo do período revolucionário - quando o debate ideológico em torno do marxismo procurava também ganhar espaço no campo universitário. Quem circulou nesse período pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa - ISCTE pôde vivenciar o ambiente ainda acalorado de tais debates, mas nesse contexto as teorizações de Wright, Poulantzas ou Miliband já remetiam os conceitos elementares da “vulgata” marxista para o caixote do lixo da história.5

O esforço e capacidade de Wright para imprimir rigor concetual à teoria marxista foi notável. Na década de 1980, as velhas disputas em torno das linhas divisórias e fronteiras de classe dariam lugar a uma “reconceptualização” do marxismo com vista a uma “análise de classes”, onde a “estrutura das classes”, as “práticas de classe” e a “luta de classes” ganhavam novas orientações, sob a influência do “individualismo metodológico”, na definição de uma nova matriz de localizações de classe (conceitos sobejamente conhecidos no contexto desses debates).6 Esse modelo, que como sabemos alcançou uma dimensão internacional - na qual o Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra participou em meados da década de 1990, com a elaboração de um estudo centrado na sociedade portuguesa (Estanque e Mendes, 1997) -, permitiu desenvolver comparações sistemáticas entre estruturas de classe de diferentes países e constituiu o culminar do projeto de Wright em torno da análise de classes. A matriz de análise deste período resultou de um esforço teórico sofisticado, que procurou fortalecer critérios centrais da teoria marxista (como o conceito de exploração), embora orientados numa direção mais aberta e flexível, ao ponto de refletir elementos de inspiração weberiana e, no fundo, combinar lógicas de poder/dominação com recursos de status e conflitos entre categorias de classe segundo uma lógica concorrencial. Assim, esta disponibilidade para uma “weberianização do marxismo”, muito embora tenha suscitado novas controvérsias teóricas, abriu espaço para uma conjugação de conceções de análise onde as dimensões estruturais se revelaram compatíveis com a conceção histórica e contextual na compreensão da estrutura e das dinâmicas de classe em cada região ou país em concreto. Nos estudos que desenvolvemos a partir do CES sobre as classes e desigualdades sociais em Portugal procurou-se, justamente, adotar esse procedimento (Estanque e Mendes, 1997; Estanque, 2001).

Os temas tratados no congresso em torno do legado de Erik Olin Wright procuraram acompanhar a diversidade de abordagens que o sociólogo nos legou. Se é certo que a teoria marxista das classes constituiu a sua principal marca na sociologia, não deixa de merecer destaque, como atrás assinalámos, a perseguição de uma busca imaginativa e heterodoxa de reconceptualização, sem trair a influência marxista ao longo de toda a sua obra. Mas se a referida ligação entre teoria e prática foi uma constante, na fase final do seu percurso académico essa conjugação entre a teoria e o ativismo político tornou-se mais explícita. Com efeito, ao longo do seu Real Utopias Project, Wright (2010) - embora fiel a uma visão crítica e radical do capitalismo (para usar a formulação de um amigo próximo, Michael Burawoy) - moveu-se nas últimas três décadas “de uma análise de classes sem utopia para uma utopia sem análise de classes” (Burawoy, 2020: 156; tradução dos autores). Todavia, o seu ativismo e constante diálogo com lideranças e a sua experiência dos grupos subalternos e excluídos guiaram-se cada vez mais pela ideia de “utopia” alternativa e igualitária. Os seus combates foram assim muito além da luta de classes, apoiando movimentos ambientalistas, ocupações de fábricas por trabalhadores, lutas feministas, minorias sexuais e étnicas, movimentos antirracistas, etc. As formas de ação concreta e a própria visão crítica do sistema levou-o a questionar a possibilidade de uma “erosão do capitalismo”, um questionamento que atravessa a sua última obra Como ser anticapitalista no século xxi? (Wright, 2019) e na qual a sua concetualização das “utopias reais” tende a conjugar-se com um projeto de reformismo radical do capitalismo moderno. A este propósito, não deixa de ser curioso comparar formulações de Wright no espaço de quase três décadas, para se perceber que talvez a continuidade seja mais evidente do que uma efetiva rutura com o passado. No início da década de 1990, o autor já assumia a sua convicção não só na natureza complexa e plural do capitalismo, resultado da conjugação entre diferentes modos de produção, como postulava a possibilidade de abertura de brechas nos interstícios do sistema, desde logo devido à multiplicidade de formas e mecanismos de exploração que nele se combinam.

As sociedades capitalistas não se limitam a ter formas marcadamente capitalistas de exploração assentes na propriedade desigual dos meios de produção, uma vez que encerram também aquilo a que, com base no trabalho de John Roemer chamei “exploração pela qualificação” e “exploração pela capacidade de organização” […]. No caso da exploração pela qualificação, os possuidores de certas qualificações ou capacidades invulgares conseguem incluir nos seus salários uma renda. Do que se trata, basicamente, é de uma componente do salário que se situa acima e para lá dos custos inerentes à produção e reprodução dessas mesmas capacidades. (Wright, 1994: 25)

Durante muitas décadas a discussão no plano político centrou-se na luta de classes, quando muitos/as intelectuais e académicos/as permaneciam focados/as na ideia de que só a “consciência de classe” permitiria ao operariado (como “vanguarda”) cumprir o seu “destino histórico” de transcender o capitalismo, abrindo o caminho para o socialismo. Wright sempre questionou tais premissas vanguardistas. Na sua última obra, clarificou melhor a razão por que o argumento do “interesse de classe” não se adequa ao século xxi: i) primeiro, “devido à complexidade dos interesses de classe, porque sempre haverá muita gente cujos interesses e vontade para apoiar ações anticapitalistas dependem de outro tipo de valores” que estejam em causa; ii) segundo, “porque a maioria das pessoas é motivada, pelo menos parcialmente, por preocupações morais”, não apenas por interesses económicos; iii) e, por fim, porque “a clareza dos valores em causa é essencial para se pensar na desejabilidade das alternativas ao capitalismo” (Wright, 2019: 8; tradução dos autores). A sua preocupação prioritária foi sobretudo usar o marxismo como ferramenta dotada de maior rigor analítico e metodológico para estudar o capitalismo, e não tanto como projeto alternativo. Na verdade, a sua última fase, inspirada na ideia de “utopia”, tornou ainda mais evidente a abertura concetual da sua matriz teórica, embora mantendo o vernáculo marxista, transcendeu e ampliou a sua pulsão ativista e radical.

Entre vários outros nomes relevantes7 que acompanharam a trajetória académica de Erik Olin Wright importa destacar três distintos sociólogos que, além de terem contribuido ativamente para projetar e dignificar o seu legado sociológico e intelectual, mantiveram e mantêm uma forte ligação ao CES e à Revista Crítica de Ciências Sociais. Michael Burawoy, Boaventura de Sousa Santos e Ruy Braga são os nomes que têm dado seguimento a alguns dos objetivos “utópicos” (mas realistas) do grande projeto que Wright empreendeu ao longo dos últimos 20 anos. Não exatamente na mesma linha, mas sintonizados com a importância de conjugar a erosão do capitalismo com a abertura de horizontes alternativos, prosseguindo a influência do marxismo, mas sem esquecer a necessidade de o rever.

O equilíbrio entre sociologia e marxismo muda com o contexto político, refletindo o fluxo e refluxo dos tempos. Perante tudo isso, Erik manteve-se firme. Mesmo quando o marxismo estava em recuo, Erik nunca vacilou. Ele não esperou passivamente pelo seu renascimento, mas reconstruiu ativamente o marxismo, deslocando-se da sua análise de classe para o seu projeto das utopias reais, apelando ansiosamente tanto para uma nova geração de socialistas entrando na academia, quanto para uma comunidade crescente de ativistas em todo o planeta. (Burawoy, 2020: 485; tradução dos autores)

Santos vai numa linha de preocupações semelhante, mas direciona a reflexão para a sua teoria crítica do pós-colonialismo e da ecologia dos saberes, sem perder de vista o princípio de que “os saberes forjam-se nas lutas sociais”, e explicita de forma clara a necessidade de submeter o marxismo a uma profunda revisão: “Wright esteve empenhado nessa revisão. Mas a sua morte prematura impediu-o de a concluir. No espírito de dar continuidade ao seu percurso, proponho, como tarefa revisionista, as epistemologias do Sul…” (2020: 571; tradução dos autores).

Ruy Braga tem sido, no Brasil, um dos principais sociólogos (ao lado de Ricardo Antunes) a assumir a importância de preservar a conjugação entre marxismo e sociologia, numa perspetiva ativista e heterodoxa, designadamente quando realça a impregnação entre o marxismo e o weberianismo:

Por que razão a transformação de algo em seu oposto, isto é, de um sofisticado e reconhecido mundialmente marxismo científico num não menos atraente marxismo utópico simplesmente não deveria nos espantar? Em primeiro lugar, porque a utopia sempre esteve lá: Erik foi um radical em sua juventude, atraído pela combinação entre a luta por direitos civis, as mobilizações contra a Guerra do Vietnã e a ascensão da contracultura. Ou seja, o contexto político nos ajuda a entender a presença desse “estado negativo” que busca realizar potencialidades latentes por meio do combate a estruturas reificadas. (Braga, 2021)

Estes e vários outros nomes importantes da sociologia têm vindo a prestar homenagens a Erik Olin Wright, destacando-se em especial o grupo de colegas que organizaram um número especial na Revista Politics & Society,8 de cujo corpo editorial Wright fez parte desde 1976 até à sua morte.

O pensamento de Wright e a sua crítica radical ao capitalismo do século xxi ampliaram substancialmente a visibilidade do último grande projeto que conduziu, o Real Utopias Project (sete volumes). Do nosso ponto de vista isso deveu-se, em larga medida, ao facto de o espírito desse projeto ter estado sintonizado com as tendências e ações de múltiplos movimentos emancipatórios. No seu último livro (Wright, 2019) destacam-se alguns dos sentidos emancipatórios para disputar vias alternativas ao capitalismo global: (i) justiça/igualdade, (ii) democracia/liberdade, e (iii) comunidade/solidariedade constituem os três clusters de valores que Wright considera fundamentais para uma crítica moral do capitalismo. É com base neles que se podem visualizar “utopias reais” e definir configurações estratégicas e lógicas de ação onde se terão de conjugar táticas e opções, de acordo com as condições de cada contexto, em consonância com um projeto intelectual visando a erosão do capitalismo. Mas o combate político e académico que subjaz não deixa de dialogar e equacionar estratégias e subjetividades inscritas no legado marxista: “esmagar” o capitalismo, “domesticar” o capitalismo, “resistir” ao capitalismo ou “escapar” ao capitalismo oferecem-se como possibilidades de resposta aos “males” da sociedade capitalista. Não se trata apenas de um “manifesto” em abstrato mas antes de dar voz e visibilidade a caminhos, experiências e possibilidades alternativas que, efetivamente, têm sido experimentadas por parte de diversos atores, movimentos, projetos políticos, mesmo comunidades, famílias e até indivíduos que procuram reagir às opressões, danos sociais, dominações e alienações que o sistema impõe. Há, porém, respostas institucionais que, podendo ser viáveis, requerem uma estratégia política mais consistente, designadamente através da convocação do próprio Estado e de políticas públicas. O Rendimento Básico Incondicional (Basic Income Grant) é uma das linhas de orientação que o programa das Utopias Reais tem vindo a apresentar ao longo de décadas, tal como o projeto internacional de Orçamentos Participativos. Esse é, de resto, um debate em curso e uma proposta que parece continuar a ganhar adeptos na escala internacional.

A diversidade de linhas de análise presentes no colóquio promovido pelo CES procurou ser coerente com a multiplicidade de dimensões em que se desdobrou o pensamento e a agenda de pesquisa de Wright ao longo de cerca de cinco décadas. Daí que as principais áreas temáticas e mesas subtemáticas se tenham organizado segundo os seguintes subtemas: (1) utopias reais; (2) análise de classes; (3) igualdade de género; (4) desigualdades económicas; (5) o Estado capitalista em transformação. Foi, pois, no quadro destas diferentes áreas de investigação e de reflexão sociopolítica que acolhemos uma diversidade de contributos por parte da comunidade de cientistas sociais que tivemos o prazer de receber no âmbito deste encontro internacional.

Para o presente dossiê apenas selecionámos um número restrito de quatro artigos. O primeiro, da autoria de Arnaldo José França Mazzei Nogueira, centra-se na análise crítica das classes médias no Brasil, estabelecendo um diálogo com o mundo do trabalho e as lutas sindicais de setores qualificados (trabalhadores bancários) e apresentando uma reflexão sobre a efetiva natureza “de classe” desses trabalhadores. O autor usa o referencial de Marx para questionar o papel e o sentido das lutas sociais animadas por esses setores na transformação da sociedade. O segundo artigo, de Fernando Augusto Mansor de Mattos, João Hallak Neto e Marcelo Weishaupt Proni, aborda a questão do projeto da Comissão Económica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), um programa ligado à Organização das Nações Unidas que se dedica às questões do desenvolvimento económico naquele continente, dinamizado por um conjunto de economistas altamente influentes. No entanto, a abordagem dos autores, que assumem uma visão crítica, conduz-nos para a ideia de que a “utopia de um desenvolvimento inclusivo” terá sido precocemente abortada. O terceiro artigo, da autoria de Joana S. Marques, faz uma análise comparativa de dois coletivos teatrais: o coletivo Dolores Boca Aberta Mecatrónica das Artes, de São Paulo, e o coletivo Visões Úteis, sediado no Porto. Esta análise é guiada pelo enquadramento teórico da ciência social emancipatória proposto por Erik Olin Wright, de modo a discutir estes coletivos enquanto organizações emancipatórias que nas suas práticas e produções artísticas articulam e refletem sobre novas formas de ação coletiva, organização social e produção. O quarto e último artigo, de Ruth Yurovski, visa analisar o estatuto social, o papel e a produção artística de mulheres artistas num kibutz israelita. A autora procura sustentar o argumento de que os kibutzim, enquanto modelos de organização social e de trabalho comunitária de inspiração igualitária, podem incorporar dimensões de um projeto social genderlessness, tal como proposto por Erik Olin Wright. Com esse objetivo, Yurovski faz uma análise social e histórica do estatuto social e do papel das mulheres nos kibutzim, articulando-a a uma análise artística das obras de Idit Levavi Gabai, Marion Fuchs e Tzila Liss.

Referências bibliográficas

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1O encontro decorreu nos dias 23 e 24 de janeiro de 2020 na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), tendo beneficiado de apoios da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, da FEUC e da Reitoria da Universidade de Coimbra. Nele participaram mais de 80 pessoas, tendo a maioria apresentado uma comunicação. Uma parte substancial dessas comunicações vai ser publicada no n.º 29 da Cescontexto, em 2021, ficando disponível em https://www.ces.uc.pt/publicacoes/cescontexto/index.php?col=debates.

2Nomeadamente por referência às figuras de Jair Bolsonaro e Donald Trump como símbolos maiores da ascensão da direita populista na escala internacional. Entre o final de 2019 e o início de 2020, no plano político, a Europa debatia-se com: o problema do Brexit; comemoravam-se os 30 anos da queda do Muro de Berlim; a questão do populismo e do neofascismo ganhava amplitude (com as fake news, as ameaças do digital à privacidade, o crescimento de movimentos e partidos radicais e neofascistas a expandirem-se em vários países europeus); as lutas climáticas ganhavam impacto internacional com grande mobilização da juventude, etc. Em Portugal, as eleições parlamentares de outubro de 2019 revelavam novas forças partidárias a entrar na Assembleia da República, incluindo a emergência do Chega, que conseguiu que um partido de extrema-direita populista fosse representado no Parlamento pela primeira vez desde o 25 de Abril.

3Esta foi uma publicação periódica (de working papers) editada em dez números entre 1973 e 1983, sob coordenação de coletivos editoriais de ativistas sediados em diversas cidades americanas e também em outros países, como a Alemanha, a Itália e o Canadá.

4Nomeadamente controvérsias célebres entre Erik Olin Wright e Nicos Poulantzas em torno do trabalho produtivo/improdutivo e a consequente retórica sobre os critérios de pertença ao “proletariado” ou à “nova pequena burguesia”, quando Wright concebeu a sua - então inovadora - formulação dos “lugares contraditórios nas relações de classe”. Veja-se, por exemplo, o volume temático da New Left Review, vol. 138, de março/abril de 1983, subordinado ao tema “Class, Politics and the State”.

5Em especial a coletânea de textos de Marta Harnecker, que foi o principal meio para muitos militantes da época acederem a textos de Karl Marx.

6Veja-se, além dos textos já citados, por exemplo, Wright (1985) e Wright et al. (1990).

7Seria fastidioso listar aqui as dezenas de sociólogos/as que estiveram envolvidos/as nos projetos ou debates em torno de Erik Olin Wright, mas vale a pena referir alguns que também tiveram contacto com o CES: Rosemary Crompton, Guy Standing, Klaus Dörre, além dos portugueses António Firmino da Costa, João Ferreira de Almeida e o saudoso colega (luso-chileno) Juan Mozzicafreddo.

8Fred Block, Magali Sarfatti Larson, Gay Seidman, Michael Burawoy, Greta R. Krippner, Ira Katznelson, Wendy Brown e Boaventura de Sousa Santos, Politics & Society, 2020, 48(4), “Special Issue: Remembering Erik Olin Wright (1947-2019): Scholar, Colleague, Friend”.

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