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Acta Radiológica Portuguesa

Print version ISSN 2183-1351

Acta Radiol Port vol.33 no.1 Lisboa Apr. 2021  Epub Aug 18, 2021

https://doi.org/10.25748/arp.24441 

Carta ao Editor

Carta ao Editor / Carta Resposta Editor

Editor Letter/ Reply Editor Letter

Rui Manaças

Paulo Donato


Caro Paulo Donato

No último número da Acta Radiológica Portuguesa o seu artigo de introdução sobre o tema da revista - “A subespecialização em Radiologia/Subespecialização em Radiologia de Intervenção” suscita alguns comentários da minha parte, enquanto membro cessante da actual Direcção do Colégio de Neurorradiologia da Ordem dos Médicos e presidente da Sociedade Portuguesa de Neurorradiologia Diagnóstica e Terapêutica (SPNR).

Em 1º lugar felicitá-lo pela oportunidade do tema, assunto na ordem do dia em muitas Especialidades, incluindo a minha.

Em 2º lugar não quero perder a oportunidade de corrigir alguns factos, em nome da verdade histórica. No seu texto de opinião, diz a certa altura e a propósito da fragmentação na Radiologia, passo a citar “...a fragmentação foi inevitável. Fragmentação que se iniciou há muito e que, na década de 90, resultou em Portugal na criação da Especialidade de Neurorradiologia.”

Ora, tal não é verdade, ou é uma meia verdade. De facto, a Neurorradiologia celebrou no ano findo 25 anos de Especialidade organizada na Ordem dos Médicos, mas 40 anos enquanto Especialidade Hospitalar.

No site da SPNR no final do ano passado evocamos tais efemérides através da publicação de textos históricos por alguns dos seus fundadores; convido todos os leitores da ARP a visitá-lo, podendo assim ter uma perspectiva histórica da criação da Neurorradiologia em Portugal (www.spnr.org).

Mas para aqueles que não tiverem o interesse e a paciência

para tal, aqui deixo em resumo os marcos fundamentais:

em 1979/80 os primeiros concursos para Chefe de Serviço da Carreira Médica Hospitalar no Hospital de Santo António, no Hospital de Egas Moniz e no Centro Hospitalar de Coimbra; b) em 1981 criação do curriculum em Neurorradiologia pelo Ministério da Saúde e abertura das primeiras vagas para o Internato Complementar em Neurorradiologia; c) nos 3 anos seguintes, Concursos para Chefe de Serviço nos Hospitais Civis de Lisboa, Hospital de São João e Hospitais da Universidade de Coimbra e vagas para o internato nesses hospitais; d) no final da década de 80 concursos para Especialista Hospitalar dos primeiros especialistas feitos de raiz, entre os quais me incluo.

Pois que os pioneiros vieram, quer da Radiologia (caso de Cruz Maurício e Eduardo Medina), quer das Neurologia/ Neurocirurgia (caso de Paulo Mendo, Almeida Pinto, Costa Reis, Joaquim Cruz, Sousa Fernandes e Faria Pais).

Em resumo, a Neurorradiologia não nasceu em Portugal duma cisão da Radiologia nos anos 90, como o artigo de Paulo Donato faz crer, mas muito antes e a partir do esforço conjunto de médicos visionários vindos de diferentes disciplinas médicas.

Para um debate futuro sobre o modo de organização profissional das nossas especialidades de imagem médica, debate que reputo de fundamental no actual momento, é importante ter em conta a história de cada uma, para que as opiniões, por vezes infundadas, não se transformem em lenda.

Rui Manaças

Lisboa, 2021-01-11

Caro Dr. Rui Manaças,

Agradeço o interesse que o editorial lhe despertou sobre um tema importante para ambas especialidades, nomeada- mente o da subespecialização, em concreto em Radiologia de Intervenção, havendo provavelmente o paralelismo na especialidade de Neurorradiologia, com a Neurorradiologia de Intervenção.

Julgo que os reparos feitos são um importante contributo para o conhecimento dos passos que resultaram na criação da especialidade de Neurorradiologia em Portugal, contudo a interpretação do parágrafo que consta no Editorial deve ser feita sem omitir a parte introdutória do mesmo, pois não era meu objetivo tentar transmitir outra informação mas apenas o que lá está escrito.

O parágrafo completo é:

“A riqueza duma especialidade tão vasta é precisamente a multidisciplinaridade como elo comum d’“o uso de tecno- logia para diagnosticar e tratar a doença”. Não obstante, a fragmentação foi inevitável. Fragmentação que se iniciou há muito e que, na década de 90, resultou em Portugal na criação da especialidade de Neurorradiologia. E não a par- te truncada da sua carta: “...a fragmentação foi inevitável. Fragmentação que se iniciou há muito e que, na década de 90, resultou em Portugal na criação da Especialidade de Neurorradiologia.”

Ora, parto do conceito de Radiologia como especialidade / área médica universal que usa tecnologia para diagnosticar e tratar doença, na qual certamente se sente incluído. Con- cordará também que esta área médica, tão vasta, está frag- mentada desde “há muito”. Importa agora repor a verdade completa, em Portugal a Neurorradiologia é uma especiali- dade reconhecida pela Ordem dos Médicos desde 1995 (tal como referi no Editorial) mas uma especialidade Hospitalar desde 1980 (tal como agora bem acrescenta). Importa tam- bém reconhecer que os médicos que a iniciaram tinham diversas proveniências entre as quais se incluíam médicos Neurologistas, Neurocirurgiões e também médicos com a especialidade de Radiologia.

Não era meu objetivo “beliscar” a história da Neurorradio- logia em Portugal ou colocar dúvidas sobre a responsabili- dade da respetiva paternidade. Era sim apresentar uma vi- são pragmática de quem olha para uma grande área médica que em Portugal originou duas especialidades distintas com tanto em comum.

Saberá melhor do que eu que a Neurorradiologia de Inter- venção foi iniciada por médicos de diversas especialidades e que atualmente estes procedimentos são perpetuados por médicos com a especialidade de Neurorradiologia, médicos esses que certamente necessitam de uma formação especí- fica para puderem ter um maior grau de diferenciação.

O objetivo do Editorial era alertar para o risco de existir uma total separação entre a Radiologia e a Radiologia de Intervenção à semelhança do que acontece em Portugal en- tre a Radiologia e a Neurorradiologia, especialidades com tanto em comum.

Paulo Donato

Coimbra, 14/1/2021

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