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Comunicação e Sociedade

versão impressa ISSN 1645-2089versão On-line ISSN 2183-3575

Comunicação e Sociedade vol.28  Braga dez. 2015

https://doi.org/10.17231/comsoc.28(2015).2285 

VÁRIA

A informação terceirizada: identidade e trabalho não pago na era do jornalismo digital

Outsourced information: identity and unpaid work in the age of digital journalism

 

//

Teresa Cristina Furtado Matos*; Serge Katembera Rhukuzage**

//

//*Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Humanas Letras e Artes, crisfurtado@yahoo.com.br. //
//**Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Humanas Letras e Artes, skatembera@gmail.com.

 

RESUMO

A “era da Informação" constituiu tema de uma extensa pesquisa de Castells, no final dos anos 1980. Várias das implicações debatidas por este autor naquela altura são hoje observáveis, principalmente nas tendências de precarização das atividades de produção da informação. Perante a procura cada vez mais acentuada de informação, as empresas de comunicação, as televisões, os jornais impressos e online desenvolvem métodos terceirizados de produção e informação que consistem em recrutar, através de concursos, uma elite letrada de outros países para produzir “notícias locais" de qualidade. Neste artigo debruçamo-nos sobre um caso concreto de terceirização de informação a partir de uma plataforma de bloggers recrutados essencialmente em África. Com base na análise de entrevistas realizadas a dez desses bloggers, mostramos, ainda que de forma exploratória, os conflitos emergentes desse processo de produção terceirizada da informação. Na problematização mobilizamos conceitos desenvolvidos na área da sociologia do trabalho, bem como outras produções teóricas recentes sobre a precarização do trabalho informacional.

Palavras-chave: Precarização; terceirização; informação; blogue, trabalho não assalariado.

 

ABSTRACT

The Age of Information has been extensively studied by Castells, in the late 1980’s. Several of the implications discussed by this author at the time are observable nowadays, specially the ones concerning the tendencies to precariousness that labor activities related to information production present. Due to an increasingly accentuated demand for information, communication companies (such as TV stations and printed and online newspapers) have developed outsourcing methods of production of content. Said methods consist, basically, on the recruitment of a literate elite of professionals, originated from other countries, to produce quality “local news". In this article, we analyze a concrete case of outsourcing of information, performed by a French blog platform that mainly recruits contributors from Africa. Based on the analysis of the interviews carried out with ten of these bloggers, we show, albeit in an exploratory way, the emerging conflicts that the process of outsourced production of information generates. During the discussion of this subject, we mobilized concepts developed within the field of sociology of work and other recent theoretical productions on the precariousness of informational work.

Keywords: Precariousness; outsourcing; information; blog; self-employed work.

 

Introdução

O trabalho na área da informação produz relações de identidade complexas que consideramos ser cada vez mais objetos de estudo pertinentes, no contexto das mudanças significativas que ocorrem no âmbito dos fluxos de atividade e mobilidade (física e/ ou virtual) requeridas no vasto campo da informação, conhecimento e comunicação. Esta ideia está bem presente nos debates atuais desenvolvidos pelos próprios jornalistas (Sindicato dos jornalistas, 2015).

Neste texto debruçamo-nos sobre as mundividências de um grupo de bloggers estrangeiros, sobretudo africanos, que participam de meios de comunicação franceses e que entrevistámos no âmbito de um projeto mais amplo (Katembera, s/d). Trata-se de um grupo marcado pela precarização no trabalho e que revela vários traços identitários típicos das novas situações de trabalho gerados no pleno contexto da era informacional. Com efeito, o trabalho, enquanto atividade, proporciona diversos processos de construção do sujeito que não envolvem somente as condições materiais dos trabalhadores, mas também a maneira como esses atores se autodefinem. Rodrigues (1970) mostra no livro “Industrialização e Atitude Operária" que os trabalhadores, mesmo estando sujeitos às mesmas condições de trabalho e às mesmas relações de dominação, desenvolvem atitudes diferentes atribuíveis aos modos de estruturação das identidades individuais. Hoje, sabemos cada vez mais que estas identidades se constroem em tensão permanente com as exigências da presença no espaço global e, portanto, com a necessidade de ser móvel – se não fisicamente, pelo menos de modo virtual.

Antunes e Braga (2009) apresentam conceitos chave que permitem entender a realidade emergente (embora a nossa pesquisa se dedique à experiência africana) como, por exemplo, a alienação do trabalho informacional, a multidimensionalidade desse fenómeno e tudo o que nos parece mais relevante ainda no âmbito da nossa pesquisa: as novas e precárias identidades coletivas e a produção de novas formas ideológicas de obtenção consentimento e conformação a várias formas de exploração económica. Esta incide particularmente sobre a força de trabalho qualificada de certos países que apresentam, na economia global, mais baixos custos da força de trabalho intelectual (Antunes & Braga, 2009, p. 9).

Consideremos esta dimensão relativa à qualificação da força de trabalho como central, pois, se é certo que, no seio da regulação da economia mundializada, capitalista, neoliberal e regulada por fluxos financeiros e instabilidade permanente, os diversos continentes e países revelam posições diferentes e desiguais no que respeita ao custo do trabalho (aqui incluídos não só os salários, mas todo o conjunto de direitos), isso não significa que tais países estejam em atraso tecnológico e/ou económico. Antes pelo contrário, são países que já revelam um certo nível de qualificação das suas populações, em grande medida obtido através da mobilidade para centros no Norte mais desenvolvido. Por isso, tais relações de exploração tem tendência a tornarem-se ainda mais poderosas e ideologicamente significativas, quando analisadas por relação com o Sul.

Consideremos, a este respeito, o que Castells afirmava em 2012, quando, ao descrever a falta de infraestruturas adequadas para uma verdadeira revolução tecnológica na África, mostrou que a situação evoluiu de tal forma que a este continente já não caberia mais o título de continente menos informatizado do mundo" (Castells, 2012, p. 117). Perante estas diversas abordagens ao fenómeno da globalização do trabalho, importa-nos neste artigo discutir, por um lado, os principais processos de reprodução das desigualdades de capitais existentes no espaço global e, por outro, alguns dos mecanismos de valorização de certas qualificações que essa mesma lógica económica mundializada potencia. Ademais como salienta Corriveau (2000, p. 5), a multinacionalização das empresas favorece “a criação de uma capacidade produtiva em outros países mediante aquisições ou formas diversas de cooperações (comércio, financiamento, tecnologia ou indústria)". De acordo com Corriveau, o objetivo principal dessas empresas é baixar os custos de sua produção, pois a produção da informação não escapa a essa lógica do capital.

Assim, depois da problemática, o presente texto intenta mostrar as contradições envolvidas no processo de produção terceirizada da informação na era do jornalismo digital, procurando evidenciar a maneira como as identidades dos atores são afetadas e recompostas, considerando a situação de exploração em que vivem embora não a percebam como tal. Numa segunda parte, o artigo destaca a dimensão do empoderamento que o uso da internet proporciona a esses bloggers, com milhares de artigos produzidos na rede.

Breve fundamentação teórica do problema

É importante observar que a organização da economia global e, mais especificamente, da “economia numérica[1]" (ver, por exemplo, Lemoine, 2014), se propicia a novos tipos de exploração que também ultrapassam as fronteiras físicas dos estados nação. Por um lado, as formas já conhecidas de externalização dos custos de produção, ou seja, a deslocalização dos empregos por causa do seu custo mais baixo; por outro, a combinação entre esse tipo de mecanismo de expansão capitalista e a lógica de funcionamento da rede. Sobre este assunto, citemos Huws quando afirma que as,

Novas formas de dolarização podem muito bem ser criadas entre detentores de empregos deslocalizáveis e trabalhadores cujos empregos são geograficamente fixados. A extensão sobre a qual os empregos deslocalizáveis se irão enraizar num dado ponto geográfico está também dependente de certas variáveis. Se eles tomam a forma de terceirização exclusivamente do trabalho, então a sua ancoragem é altamente contingente. (Huws, 2009, p. 55)

Antunes analisa as múltiplas transformações que ocorreram no mundo do trabalho e atenta para suas novas morfologias com seus novos discursos sobre “empreendedorismo", “cooperativismo", “trabalho voluntário", entre outras. Estas são para o autor tão somente algumas das formas que assume o trabalho precarizado (Antunes, 2009, p. 235).

O autor descreve essas “novas morfologias" nos seguintes termos:

Há, entretanto, outra tendência muito significativa e que se caracteriza pelo aumento do novo proletariado fabril e de serviço, em escala mundial, presente nas diversas modalidades de trabalho precarizado. São os terceirizados, subcontratados, part-time, entre tantas outras formas assemelhadas, que se expandem em escala global. Com a desestruturação crescente do Estado de bem-estar social os países do Norte e o aumento da desregulamentação laboral nos países do Sul, acrescidos da ampliação do desemprego estrutural, os capitais implementam alternativas de trabalho crescentemente “informais", de que são exemplo as distintas formas de terceirização. (Antunes, 2009, p. 235)

E acrescenta:

Outra tendência que gostaríamos de apontar é a da expansão do trabalho a domicílio, permitida pela desconcentração do processo produtivo, pelo crescimento de pequenas e médias unidades produtivas. Através de telemática e das tecnologias de informação (além do avanço das formas de flexibilização e precarização do trabalho que estamos indicando), com o avanço da horizontalização do capital produtivo, o trabalho produtivo doméstico vem presenciando formas de expansão em várias partes do mundo. (Antunes, 2009, p. 237)

Essa lógica de rede (horizontalidade, cooperação, deliberação, descentralização, etc.) adequa-se perfeitamente ao processo de terceirização (Braga,2009, p. 69). Tal configuração na organização do “trabalho informacional", mas, essencialmente, na terceirização do trabalho, tendo em vista a produção da informação mediante trabalho gratuito, apela, tal como vários autores que trabalharam sobre as classes e os modos de estratificação social afirmam, ao equacionamento das próprias estruturas sociais das sociedades (Scholz, 2013).

No que diz respeito especificamente à atividade de blogging, observa-se que no Senegal, devido à expansão das tecnologias da informação e da comunicação, assim como dos circuitos do empreendedorismo informacional, tem vindo a emergir um tipo concreto de “nova elite tecnológica". Esta nova elite tem a particularidade de transitar de uma classe média tradicional, ligada à posse de bens e terra, para uma outra classe média que se afirma cada vez mais na política e no meio informacional. O mesmo processo de recomposição de elites foi observado na Costa do Marfim onde uma investigação mais detalhada sobre o fenómeno seria de grande relevância.

Braga (2009) argumenta algo ironicamente que tal recomposição/conversão de elites, agora marcadas pela sua relação com o domínio e posse de informação deixa transparecer, de modo mais visível, os efeitos positivos da implementação de políticas que beneficiam a mobilidade de pessoais e de capitais:

A oposição entre países ricos e pobres não é tão grave, que o conflito entre o centro e a periferia tende a ser atenuado pelo êxito dos países emergentes e entende que tanto a qualidade quanto a quantidade do trabalho irão aumentar, apesar da fragmentação social (Braga,2009, p. 63).

Todavia, este paradigma neoliberal assente na defesa da circulação de capitais e circulação de recompensas para todos envolvidos, deixa escapar alguns detalhes que observámos, desde logo, neste tipo terceirizado do trabalho de blogging. Um desses detalhes prende-se com a legislação aplicada em cada país onde está sedeada a empresa que subcontrata. Precisemos que a legislação francesa, à qual RFI está submetida, estabelece regras claras de distribuição dos recursos públicos e ajudas financeiras aos média que levam em consideração a audiência de cada site, além de regulamentar as tarifas publicitárias em decorrência dos resultados das audiências medidas por Médiamétrie[2].

Podemos assumir, assim, a ideia segundo a qual vivemos numa época de mudança estrutural na economia mundial. Nesta, a informação torna-se a matéria prima central, fazendo emergir o que os estudiosos da sociologia do trabalho chamam “trabalho informacional" na configuração da economia numérica. Tal perspetiva, como mencionamos há pouco, é desenvolvida por Castells nos vários volumes que publicou sobre a “A Era da Informação" (1998, 1999 e 1999 nas edições francesas) e nos quais surge problematizado o modo como nesta economia se criam continuamente novos mecanismos de construção das relações de trabalho, assim como redefinições/reconfigurações das identidades individuais dos atores envolvidos nos diversos processos de produção informacional e comunicacional.

Podemos afirmar ainda que numa sociedade onde o conhecimento ocupa uma posição central na produção da realidade, na determinação das políticas, na ocupação das pessoas comuns, consumo compulsivo das notícias – a chamada “infobesidade", etc. a informação, além de fonte de riqueza, torna-se um fetiche e uma fonte de dominação. Todavia, esses mecanismos nem sempre se revelam como tais para os envolvidos.

No caso específico deste artigo, detemo-nos a analisar os processos de redefinição da identidade dos bloggers, a partir de dimensões de análise que permitem perspetivar as faces do fenómeno a que Antunes chama de “novas formas de obtenção do consentimento à exploração econômica" (Antunes & Braga, 2009, p. 9) e que atribuem, essencialmente, à “magia da rede", isto é, à própria ideia de pertencer a uma rede de bloggers. Com efeito, assume-se que há uma representação idílica da rede possível graças à “força ideológica presente na utopia da sociedade de informação", como indica Braga (Braga, 2009, p. 65). Essa força da utopia torna-se possível essencialmente porque a lógica da rede produz, num mundo globalizado, um tipo específico de véu sobre as verdadeiras relações de dominação presentes no vasto e complexo sistema de produção da informação.

Perante este quadro de ambiguidades e algumas contradições, procura-se neste texto discutir algumas das novas relações de produção de informação na chamada “economia numérica" ou “economia da informação". Trata-se de um campo ainda muito pouco explorado pelas ciências sociais, embora se possam destacar alguns trabalhos produzidos nos Brasil, como é o caso do recente “Infoproletário" de Antunes e Braga (2009, p. 8). Estes autores destacam a natureza diferenciada dessa “nova economia" que aparece representada ao nível do senso comum, “quase como um não trabalho" em certas áreas porque reúne certas caraterísticas como a ausência de horários, distancia supervisão, elevada autonomia, prazer e criatividade.

Nesta linha, o presente texto explora particularmente o mundo da vida e a perspetiva microssociológica dos bloggers, mas encerra uma discussão que pretende mostrar a ambivalência do processo de terceirização, globalização e externalização do trabalho na área da informação pelo qual novas competências são transferidas – em termos de mobilização coletiva das forças políticas capazes de democratizar o continente africano – e em que a produção intelectual dos indivíduos está a ser apropriada mediante uma nova ordem de exploração no mundo da economia financeira. Lembremos, a este respeito, o que escreve Castells:

Uma nova estrutura social, a sociedade em rede, está a estabelecer-se em todo o planeta, em formas diversas e com consequências bastantes diferentes para a vida das pessoas, segundo a sua história, cultura e instituições. A internet é, sem dúvida, uma tecnologia da liberdade, mas pode servir para libertar os poderosos e oprimir os desinformados e pode conduzir á exclusão dos desvalorizados pelos conquistadores do valor. (2004, p.317)

Aspetos específicos do Mondoblog

Os membros/bloggers são selecionados mediante um concurso online. Cerca de 150 novos bloggers são recrutados anualmente através deste processo. O projeto já tem cinco anos e contribui de maneira significativa e decisiva na produção de conteúdos mediáticos online em língua francesa no continente africano. Candidatos de outros continentes podem participar também, mas é significativo o facto de os bloggers africanos na plataforma Mondoblog serem quase 95 % do total. Os bloggers são selecionados depois de uma chamada de candidaturas divulgada no site do programa de rádio Atelier des Médias bem como da própria RFI. Além disso, durante todo o período de inscrição, chamadas de candidaturas são feitas ao longo da programação da RFI. Os candidatos submetem um conteúdo inédito de sua autoria em diversos formatos segundo suas próprias escolhas (vídeos, artigos, reportagem, desenhos ou caricaturas, fotos, etc.), os quais serão avaliados pelos responsáveis da seleção. De maneira geral, os bloggers são homens entre vinte e trinta e cinco anos, essencialmente de origem africana. Costa de Marfim, Camarões, Senegal, República Democrática do Congo e Guiné Conakri são os países mais representados.

Em geral, os candidatos apresentam característica de quem já trabalhou com a produção da informação. São também estudantes de diversas escolas de jornalismo (inclusive africanos residentes na França, nos Estados Unidos, no Canada ou no Brasil). A maioria dos bloggers recrutados vive em países onde a taxa de desemprego entre os jovens é muito elevada, mas todos possuem, pelo menos, um curso universitário ou estão numa faculdade. Nos últimos anos, a plataforma tem privilegiado a seleção de mulheres para favorecer a participação feminina na produção de conteúdos mediáticos em língua francesa no continente africano.

No Mondoblog os bloggers não são remunerados. A remuneração já foi tema de debate interno entre os principais responsáveis da plataforma e os bloggers, mas o consenso não foi atingido. Também prevaleceu a opinião de que a manutenção dos blogues não deveria ser remunerada. A maioria dos protagonistas reivindicou a ideia de que executam um trabalho em comunidade, como “numa família". Uma relação assalariada seria perspetivada como uma ameaça para as relações pessoais desenvolvidas no grupo. De resto, os discursos dos bloggers demonstra que muitos se auto classificam como sendo peças de uma engrenagem maior problematizável à luz do que Lévy definiu como “Inteligência coletiva" (2014) quando a considerou o resultado integrado e imbrincado do conhecimento que circula e se constitui através das redes e que potencializa a reunião de capacidades a nível mundial e global.

Relativamente ao Mondoblog fica muito evidente o facto de a audiência da RFI aumentar à medida que o Mondoblog usa a logo de RFI, o que, segundo as normas de Médiamétrie, transfere essa audiência para o site da rádio. Ademais, os bloggers estão submetidos à legislação francesa no que diz respeito do direito vigente na internet, no que se refere aos conteúdos publicáveis e admissíveis. Naturalmente, textos homofóbicos, antissemitas, incentivo ao suicídio e textos racistas são estritamente proibidos. Ou seja, do ponto de vista legal, produzir a informação a partir dos países menos desenvolvidos não significa que esses bloggers não estejam submetidos às leis francesas e às regras de atribuição de recursos, conforme a situação da empresa para a qual trabalham.

Nota metodológica

O texto baseia-se em entrevistas que realizamos presencialmente com dez bloggers da plataforma Mondoblog pertencente a uma das rádios mais importantes da França, a Radio France Intenacional (RFI), uma iniciativa de capacitação ao uso das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC) voltada, principalmente, para o público africano. As entrevistas foram originalmente realizadas para a pesquisa de mestrado (Rhukuzage, s/d) e foram realizadas no curso de uma estadia em Abdijan seguindo o critério de bola de neve. Com efeito, o facto de um dos autores do artigo e autor da investigação ser blogger na mesma plataforma permitiu acesso mais direto a vários bloggers que acederam a colaborar no estudo, contando-nos um pouco mais da sua experiência. Na altura, entendendo o estudo ainda como exploratório, não procurámos selecionar tipos específicos de bloggers, mas tão só aceder a um grupo que nos permitisse pensar em algumas das ideias chave das quais partimos, após a construção e delimitação da problemática. As entrevistas seguiram o registo semi-estruturado, baseado na construção de um guião. Dado o conhecimento que tínhamos com os bloggers contatados para a entrevista, procuramos manter um ambiente de informalidade que facilitasse o processo comunicativo. A análise das entrevistas que beneficia, também, da experiência de um dos autores enquanto blogger, foi realizada seguindo a abordagem temática, na qual se procurou estabelecer os principais pontos reflexivos do discurso dos entrevistados. Privilegiamos, ainda nesta fase, o discurso direto dos próprios, como forma de evidenciar os processos subjacentes à construção identitária.

Resultados e discussão

Opacidade

Sem pretendermos seguir uma abordagem marxista, tentamos mostrar as contradições presentes o modelo económico mundial que cria permanentes margens e centros. Enquanto produzem os seus milhares de artigos para a plataforma Mondoblog, os bloggers francófonos do mundo inteiro estão enredados, tendo ou não consciência disso, numa relação de trabalho não pago, de forma que, parafraseando Huws, podemos dizer que “isso apreende muito bem a tensão subjacente a toda discussão de classe: a tensão entre classe enquanto termo analítico (posição de classe objetiva), e enquanto configuração da identidade pessoal (posição de classe subjetiva)" (Huws, 2009, p. 38).

Ademais, seguindo a mesma autora, podemos adiantar que os “trabalhadores não pagos" num contexto como este realizam o seu trabalho, não somente em locais tradicionais de atividade produtiva, mas também nas suas casas. Esta que é deveras uma inovação organizacional trazida pelos computadores conectados em redes de internet (Huws, 2009, p. 53), adensa enormemente o processo de opacidade quanto às relações de trabalho que se produzem nestas atividades. Ao interrogamos alguns bloggers presentes na formação anual de Mondoblog em Abidjã[3] naquela ocasião (não era possível questionar todos eles, pois aproveitávamos os tempos livres à noite para realizar as entrevistas), percebemos que cada um definia a sua atividade de escrita em termos muitos subjetivos e individualizados:

Falo de todos os assuntos do Canada, da Europa, da África, sendo eu mesmo africano, mas essencialmente falo de política. Vivi nesse continente, o que me permite ter uma visão clara de todo que acontece lá. Eu leio muito artigos sobre África, dialogo com pessoas que sabem sobre lá. Uma vez escrevi uma matéria sobre política no Ruanda, sobre Paul Kagame na qual eu falava da necessidade da democratização do país para evitar que o país entrasse em crise depois da morte dele. Tenho legitimidade para falar sobre África. Eu acredito que o facto de escrever pode levar as pessoas a pensar como eu, para que eles possam divulgar essas ideias. A internet e a escrita podem levar resultados práticos em termos de mudança. É como a filosofia das luzes, veio dessas pessoas que acreditavam que o pensamento podia mudar. Há uma massa crítica que acredita que a democracia pode trazer mudanças. [blogger 1]

Quando perguntado sobre a relação com a RFI, e o facto de escrever para uma plataforma que pertence ao governo francês (através do Ministério das relações exteriores), a resposta permite identificar uma experiência subjetiva centrada sobre a valorização do seu trabalho como contributo direto para a identidade de África, perante o mundo global e que, acima de tudo, se afigura como um meio para atingir visibilidade social de si próprio:

O Mondoblog é um projeto participativo. Ninguém me obriga a escrever. Tenho liberdade para escrever sobre o que quero, utilizo a plataforma para ganhar certa visibilidade. Não tem colonialismo para mim, nunca houve imposição. Os meus leitores também não têm problema com isso. A RFI contribui para a democratização da África, os africanos amam RFI. Só lamento não ter um milhão de leitores (risos), está tudo bem, não tenho limitações técnicas. Não preciso ser pago, eu sabia desde o início que não haveria remuneração. Posso escrever mais três anos sem receber pagamentos sem problemas. Eu trabalho a tempo parcial, tenho tempo livre. Enquanto eu tiver tempo, continuarei a escrever no blogue. Se eu tiver um trabalho muito pesado, vou parar. Mas também considero que, ao me levar visitar durante a formação países como a Costa de Marfim e o Senegal, é uma forma de pagamento. [blogger 1]

A não remuneração não é problema para este, nem para os restantes entrevistados, que tendem a valorizar como ponto capital nesse trabalho a visibilidade entendida como a chave para sua realização profissional enquanto produtor da notícia e formador da opinião pública:

Existe liberdade de expressão no Benim apesar de algumas crises políticas. Portanto, escrever nesse contexto é relativamente fácil para mim. Os média tradicionais estão entre as mãos do partido no poder, portanto o blogging é uma alternativa à falta de acesso aos média clássicos. Eu já fui preso por 24 horas, passei o dia todo no tribunal uma vez por conta da militância política. Agora escrevo muitos assuntos sobre política e meio ambiente. Já estive próximo do partido no poder mas os eventos levaram-me à oposição. Escrever no blogue tem me dando retornos, as pessoas ficam chocadas e indignadas com meus textos, pessoas que acreditam que um jovem como eu não poderia ser tão crítico em relação ao governo. São pessoas poderosas do poder. Um artigo que escrevi sobre meio ambiente teve um grande impacto, uma grande influência. As pessoas escreveram-me para me dar os parabéns. Um quadro de um partido importante escreveu-me e agrediu-me verbalmente em decorrência do meu artigo. Desde que estou no Mondoblog nunca sofri nenhuma coerção, respeito o regulamento e as leis da França sobre internet. Sobre a homossexualidade é fácil porque está de acordo com o regulamento interno de Mondoblog. Eu tinha outros blogues onde eu criava um grande debate. Agora com o Mondoblog prefiro não divulgar muitos dos meus textos nas redes sociais porque a plataforma poderia passar a ideia de que estou a escrever sob o mando da RFI, ou seja, dos franceses, o que poderia frustrar os meus leitores. Acredito que estamos a contribuir para o debate no continente. Mondoblog é um projeto bem pensado, mas eu pessoalmente não precisava necessariamente disso. [blogger 2]

Observamos no excerto que o blogger pratica uma espécie de autocensura porque julga a sua própria posição na plataforma como pouco confortável, pois deixa transparecer alguma ambiguidade em relação aos seus leitores. Também define a sua atividade na plataforma como sendo marcada pela autonomia e independência ainda que refira o “dever" de respeitar a legislação francesa sobre a Internet:

Durante a crise política na Costa do Marfim, foi difícil para os jornalistas e as pessoas em geral. Eu não sou jornalista, mas a internet é uma oportunidade para quem não é jornalista poder expressar-se. Inclusive podemos chegar, enquanto cidadãos normais onde os jornalistas não podem ir. Considero a minha atividade como política. Alguns amigos pedem que escrevam sobre certos assuntos. Somos porta-vozes daqueles que não têm voz. É difícil medir o impacto da nossa atividade, mas sabemos que somos lidos, as pessoas nos ligam. Uma vez escrevi sobre o presidente e o parlamento e a assessoria da câmara nacional ligou para mim, isto mostra um certo impacto. Algumas pessoas acham que somos colonizados e não emancipados por escrever na plataforma Mondoblog, e que estamos sendo dominados e cooptados pela França. Mas a minha opinião é que podemos levar os problemas da população a um nível muito maior que os nossos países simplesmente. Um artigo meu já foi censurado, foi uma frustração pela maneira que isso foi feito. Escrevi sobre o tema sensível da homossexualidade. Sobre esse tema, existe o ponto de vista ocidental e o ponto de vista dos africanos, e minha maneira de abordar o assunto não agradou os responsáveis de Mondoblog em Paris. Mas discuti com eles. Mas isso mostra que não temos plena independência, devemos escrever sobre os assuntos que são “bons para eles". Eu escrevi um longo artigo, e foi um leitor de Camarões que me ligou às 6 horas da manhã para me avisar que o meu artigo havia sido retirado do site. Recebi depois um e-mail de RFI falando-me do ocorrido. Mas fora isso, está tudo bem. [blogger 3]

O blogger 3 representa o caso típico de conflito entre um blogger e os responsáveis do projeto, em Paris. Tal conflito acontece, sobretudo, em relação a questões sensíveis, como a da homossexualidade. Porque a homofobia é um crime na França, qualquer artigo homofóbico (ou, pelo menos, interpretado como sendo) publicado na plataforma responsabilizaria penalmente a RFI. Esse tipo de controlo foi muito debatido internamente porque muitos o perceberam como uma “censura" e uma tentativa de uniformizar as ideias na plataforma que se reivindica como plural. Tal conflito certamente aparecerá de novo sob outro assunto. Para o blogger é importante notar que essa foi a única experiência em que pensou que a sua margem de manobra seria reduzida na plataforma em termos de autonomia e independência, o que deixa evidenciar a importância de elementos profundamente culturais na própria atividade jornalística e na delimitação das fronteiras admissíveis no que respeita a questões que tocam, inclusivamente, os direitos humanos. Deixa também evidente a necessidade de introduzir na problematização da atividade de jornalismo e blogging as dimensões éticas desta atividade, agora no plano dos desafios impostos pela interculturalidade:

Eu não tenho motivações políticas e também não gosto muito de compartilhar as minhas opiniões. Tenho um problema com a francofonia. Não entendo por que os franceses não fazem o esforço de divulgar essa língua em países de língua inglesa. Uma vez, num evento na França, o correspondente do jornal The Times, em Paris só conseguia dizer “bom dia". Bom, no meu blogue, escrevo para pessoas que não podem falar. Falo sobre a sociedade dando a voz a quem não tem. Por exemplo, falo do impacto de certas leis sobre populações particulares. Não tomo posição, mostro as duas versões dos factos. Tenho tido retornos sobre os meus textos, mas não tenho problemas porque não escrevo sobre coisas sensíveis. Sobre a homossexualidade que é o assunto mais problemático, sei que haverá um grande debate, portanto, a homossexualidade no país é um assunto tabu. Escrever para Mondoblog não me causa nenhum problema de autonomia ou independência. Escrevo sobre África, não vejo como ferir a legislação francesa. RFI é um canal imparcial, não tenho problemas. Escrevo para ter uma grande visibilidade para fazer conhecer minha voz. Enfim, os meus artigos geram debates e reflexões. Só escrevo sobre assuntos que realmente me marcaram, portanto não vejo contradição com o que disse sobre o facto de não gostar de dar minha opinião. Prefiro que o Mondoblog não seja rentável, mas talvez que gere outras oportunidades para nós jornalistas. O problema é saber se o Mondoblog nos vai ajudar a ter outras oportunidades. [blogger 4]

Nota-se que o blogger entrevistado procura manter um discurso que valoriza a sua postura neutral face aos acontecimentos sociais embora procure, nos seus escritos, o ganho de visibilidade pessoal. A interrogação é muito evidente: “O problema é saber se Mondoblog nos vai ajudar a ter outras oportunidades". Com efeito, após essa primeira entrevista, este mesmo blogger procurou-nos para realizar uma segunda entrevista porque queria comentar um caso em especial: o assassinato de dois jornalistas de RFI no Mali perpetrado por rebeldes tuaregues:

Eu queria criticar os grandes jornais e rádios quando mandam os seus jornalistas nos campos de guerras. Quando um jornalista morre, não seria da responsabilidade também dos média? Por que não desenvolver mecanismos de prevenção. Será que ir a campo vale a pena? Um jornalista de RFI disse que o campo é perigoso mas não é motivo para deixar de enviar um grande repórter relatar as guerras. Os média têm que aprender a dizer “não" aos jornalistas. No jornal Le Monde, um jornalista queria ir para a Somália. A embaixada disse-lhe para não ir por causa dos riscos do terrorismo. Mesmo assim ele foi. Por sorte ele não morreu, mas o jornal deixou-o arriscar sua vida. [blogger 4]

Observa-se, assim, neste discurso, grande preocupação com a situação dos jornalistas, sejam eles africanos ou ocidentais, a necessidade de nos transmitir a sua capacidade e aptidão critica, revelando outras facetas da sua reflexividade que que, num primeiro momento, não são reveladas.

Outra das dimensões relevantes que procurámos aliar à auto definição de si como blogger refere-se à leitura e ao discurso que produzem os bloggers sobre as razões “racionais" que os levam a manter-se numa relação de trabalho não remunerada. A conclusão que retirámos da análise dos diversos discursos dos entrevistados converge no sentido da valorização quase absoluta da visibilidade e do reconhecimento potenciados pela participação num blogue de prestígio mundial. Sem podermos ser assertivos sobre o grau de (in) consciência da dominação associada à sua posição de blogger, constatamos haver consciência sobre a contratualização táctica de uma troca entre a participação gratuita no blogue e a obtenção de prestígio adicional para si próprio, enquanto jornalista-blogger:

Existem muitas formas de fazer blogging. É uma forma de compartilhar as coisas pode ser na forma de artigos ou matérias jornalísticos, militância, engajamento, pode tomar uma forma literária. No meu caso, sabendo que Marrocos tem vários bloggers que estão na militância, que utilizam as redes sociais para se mobilizar, fazer manifestações. É uma forma de ter informação que não seja da impressa, que seja consensual e submetida ao governo. Escrevo contos sobre vários temas da realidade social, coisas que vivemos. O meu formato é diferente, porque é menos subversivo, mas ele serve para levar as pessoas a se colocar no lugar dos outros, sentir vários tipos de emoções. Uso muito o humor porque permite passar várias mensagens; a autoedição serve muito para isso. Eu tinha um site antes. Mondoblog é para participar de uma iniciativa coletiva e comunitária. Era uma descoberta para conhecer e trocar com outros bloggers. Não tenho objetivos positivos, mas socialmente pode ter um impacto. Mas algumas pessoas que condenam outras matérias mais críticas acabam concordando comigo porque uso o humor. Eu faço um tipo de educação. Eu comecei isso contando histórias ao meu pequeno sobrinho. Foi assim que comecei a escrever meus contos que de facto se orientam para os adultos. Faço muitos erros de francês, é voluntário, é um exercício literário. Cada erro é preparado. Eu escolhi uma coisa não remunerada e nem quero vender os meus contos. Às vezes alguns jornais apropriam-se dos meus textos, mas hoje consigo precaver-me. Não me interesso por ter cinco mil leitores, prefiro ter cinco que leiam as minhas histórias malucas. [blogger 5]

Assim como nos discursos dos outros bloggers entrevistados, percebe-se que a remuneração não surge evidenciada como um indicador essencial. A atividade de blogger é perspetivada como uma atividade que permite reconhecimentos de outros tipos: poder participar da rede, compartilhar coisas, conhecer pessoas e ter novas experiências. Nesta aceção, podemos afirmar que o blogger está a reproduzir o discurso mainstream que tende a idealizar o próprio trabalho em rede, sobrevalorizando as dimensões mais simbólicas e intangíveis da atividade. Tal como se observa a seguir, poder ter voz no espaço público e, com essa, ganhar reconhecimento e consolidar um certo capital relacional constituem os objetivos mais evidenciados pelos bloggers entrevistados que revelam, na sua maioria, através dos seus discursos, um estado de grande ilusão relativamente à participação na rede:

Eu trabalhei como jornalista antes de ir para Europa. Portanto, escrever no blogue foi para não perder a mão. Era uma forma de fazer a mesma coisa de sempre. Para mim, a paixão é o jornalismo. O que escrevo tem uma incidência parcial. Escrever no blogue é quase um tabu no meu país. É visto como algo não muito sério. Nem as autoridades, nem os jornalistas reconhecem o blogger. Temos um problema de reconhecimento, isso tem consequência até no acesso às fontes. O blogger fala as coisas como as sente e como as vive; isso é um caráter de autenticidade. Ele pode dar as suas opiniões. É uma contribuição à democracia. [Blogger 6]. Sendo honesto, é uma questão de responsabilidade, tenho que pensar se o que se escreve faz mal aos leitores e tento não me autocensurar. Até agora, nenhum dos meus textos foi censurado. Cheguei a escrever coisas mais críticas sobre a política francesa na África, mas nada aconteceu. [blogger 6] Eu escrevo por paixão e convicção. Escrever é uma atividade secundária, a plataforma me dá uma grande possibilidade de ser visível. É um prazer, tenho outras fontes de dinheiro. Sei que aqui desde o princípio, nem a publicidade é permitida. A remuneração do blogger é o reconhecimento do leitor. [blogger 6]

Observemos, na mesma sequência do que vinha sendo dito que o blogger 6 idealiza bastante o seu trabalho que considera como a “voz do povo", e também um ofício a serviço da “verdade", quase sagrado. Não há marcas no seu discurso de uma consciencialização da situação de exploração do seu trabalho.

Reflexividade

Dissemos que, para a maior parte dos bloggers entrevistados, participar no blogue, só por si, surge como um elemento central da relação que se estabelece com a empresa de rádio, atendendo ao interesse de visibilidade que, assim, se afigura alcançado ou alcançável. As ciências sociais têm sido críticas dos processos de globalização e, muito em particular, da sociedade do conhecimento, propondo que se trata de uma sociedade em que circulam várias ideologias legitimadoras dos processos neoliberais e que, primeiramente, passam pela conformação dos trabalhadores a várias situações de dominação. Com efeito, a horizontalização do capital produtivo, importa dizer, não acontece sem a cristalização em ideologia da lógica da rede que exige esse tipo de organização da vida social. Aliás, horizontalidade, autonomia ou a utopia de autonomia, a descentralização, a deliberação tornam-se formas estruturais da vida social, a nível global. Além disso, o blogger insere-se na plataforma a partir de uma postura de estratégia que consiste em criar uma oportunidade do futuro para si. Ele define claramente a relação dos bloggers com a emissora de rádio francesa como sendo desigual, vertical, quebrando, desse modo, aquilo que estamos a chamar de “magia da rede". Para ele, a condição de trabalho e de produção da informação na plataforma está submetida a uma lógica económica ainda que oculta para a maioria dos bloggers.

Tal como temos mostrado, os bloggers que entrevistámos revelam estar num estado de contentamento relativamente à possibilidade que encontram de participar. Apenas alguns apresentam, todavia, discursos de teor mais reflexivo acerca da situação de domínio que essa participação pode indiciar, ou, dito de outro modo, de participar nessa “rede de empoderamento". Ele demonstra ter plena consciência dos conflitos implícitos e explícitos existentes numa relação “de trabalho" que subsume o mundo das desigualdades entre Norte e Sul, marcada por uma “economia desigual", na qual se observa a “mão que dá e comanda". Neste exemplo, a escrita surge para si própria como atividade condicionada, não diretamente, mas de forma indireta, por não escrever sobre os políticos do seu país, contribuindo para uma agenda distanciada do seu próprio mundo, pois, afinal “escrever um assunto sobre duas comunidades que vivem em paz no meu país, isso não vai interessar os franceses". Assim esclarece o blogger 7:

O meu país é uma democracia na constituição. Mas prefiro dizer que é um país como qualquer outro, seguimos um ideal democrático. O meu problema ao escrever no blogue não é sobre os políticos do meu país que é muito liberal. Sou jornalista e nunca tenho problema. Nunca fui ameaçado, pois meu país é muito liberal em relação à liberdade de imprensa. Eu lamento que essa iniciativa seja tomada pela França, pois quebra a nossa autonomia. A relação entre a França e a África não é fraternal, é uma relação economia desigual. É um neocolonialismo. No contexto atual isso preocupa-me e incomoda-me. A mão que dá sempre comanda. A iniciativa não sendo africana, a agenda não será necessariamente africana, alguns assuntos serão valorizados por atender os interesses deles (…) Se escrever um assunto sobre duas comunidades que vivem em paz no meu país, isso não vai interessar os franceses, mas se eu escrever sobre duas etnias que se matam, mesmo que eles não saibam de quem se trata especificamente, o assunto será valorizado na plataforma. Existe uma voz maioritária que diz mais ou menos que assunto interessa (...) Tenho minha opinião sobre certos assuntos e dou muita importância à minha tradição e, sobretudo, à liberdade de expressão. No jornalismo também você não pode dizer, pois tem uma linha editorial. Mas no blogue tem que ser diferente. [Blogger 7]. Uma coisa incomoda-me. Às vezes escrevo com erros de francês de propósito, porque essa ideia de escrever artigos perfeitos não me agrada. Eu acho que meu trabalho não tem um grande impacto, não posso ter a pretensão de mudar as coisas. Apesar de que já recebi alguns retornos. Uma vez escrevi sobre um jovem jornalista que morreu aos 24 anos e no seu velório os responsáveis da rádio vieram fazer elogios sobre suas competências, mas sabemos que ele foi estagiário muitos anos. Escrevi sobre isso criticando a precariedade do emprego dos jovens jornalistas. O artigo gerou um debate na profissão, alguns elogiaram, outros não. Eu tenho frustrações no Mondoblog. Não necessariamente sobre a não remuneração, ela faz parte do contrato. É verdade que procuro uma forma de rentabilizar os meus conteúdos online, Mondoblog é um trampolim, estou a ler sobre isso. O blogue ajuda-me a melhorar minha escrita, é laboratório. Eu sou leitor de Hemingway e considero que na vida de um homem sempre tem ventos contrários. Na vida, muitas vezes lutamos e não conseguimos. Tenho muitas frustrações na plataforma, como a questão editorial. [Blogger 7]

A afirmação deste blogger é elucidativa da separação entre eu/nós africanos e eles/ franceses. Já notámos ao longo do texto que o trabalho tem de ser perspetivado neste patamar como uma realidade política, analiticamente discutível em termos das relações de produção, sobretudo a existência da remuneração. Mas, o trabalho e, no caso, a atividade de blogger é em si um fenómeno profundamente cultural e que precisa da cultura e das concetualizações que cada ator tem de si por relação com os outros, para ser explicado, tanto ao nível macrossociológico, como ao nível das experiencias e das atribuições de sentido construídas pelos atores sociais implicados. Nesse sentido, chama a atenção o facto deste blogger 7 viver em constante conflito com os termos que organizam a plataforma como, por exemplo, a exigência de escrever em “bom francês". Não só o blogger tem que de se vigiar, como também essa exigência não respeita as especificidades da língua em cada país, especialmente nos países africanos. Esta postura evidencia um ato de resistência, face á homogeneização e estandardização.

É importante constatar que no seu artigo, Huws (2009, p. 56) aponta para algumas problemáticas que o blogger critica como, por exemplo, o posicionamento global da língua francesa na internet, pois compete com outras línguas como a inglesa e espanhola; de modo que essa competição gera outros imperativos de escrita para os bloggers. Estes têm de produzir textos conformes a uma norma padrão da língua para poder fortalecer a visibilidade do francês nas redes de internet. Sem contar com o facto de que essa padronização da língua abre, para quem a segue, um leque de oportunidades de trabalho no mercado global. Tal configuração tem por efeito produzir, por um lado, uma fratura entre aqueles que dominam as normas da língua ou se submetem a ela tal como imposta pela França e aqueles que a ela resistem de alguma forma e, por outro lado, uma elitização na própria sociedade africana.

Trabalho não pago e a conjuntura global do webjornalismo

O processo de globalização é, de certa forma, ambivalente sendo possível detetar nele aspetos positivos e negativos. Mas isto não é uma abordagem muito útil para a pesquisa. Talvez o mais interessante do ponto de vista metodológico seja apontar os efeitos que esse “sistema de circulação de fluxos e laços entre nações" (Hall, 2006) sobre diferentes esferas da vida social como o trabalho, a construção da identidade, o fetichismo da informação, etc.

Do ponto vista da construção da identidade, a globalização modifica radicalmente a formação dos sujeitos, tal como podemos observar a partir das entrevistas, especialmente reforça a adesão a uma certa ideia de identidades partilhadas. Quer dizer, os atores sociais, a partir dos processos nos quais estão inseridos, tendem a definir-se segundo uma mesma ordem de pertença, neste caso, de pertença à rede onde encontram mundos reflexos, espaços de reconstrução de si. Observamos nas falas dos bloggers que a maioria se define em relação à sua atividade na internet, sendo que componentes identitárias mais específicas parecem ser menos reveladas (étnicas, raciais, religiosas, linguísticas, etc.), configurando, de algum modo, as observações de Appadurai[4] (citado em Freire-Medeiros & Cavalcanti, 2010) sobre a relação entre globalização, tecnologia e modificação das paisagens identitárias, incluindo a experiência da ambiguidade criada no próprio desenvolvimento do trabalho que, tal como perspetivado, por um lado, cria condições de visibilidade social e profissional, mas, por outro, sustém-se na base de uma relação não formal, precária:

O que eu teria a dizer sobre isso é que, sim, a globalização produz desigual dades, mas muitas das imagens construídas sobre essa produção de desigualdades sob regimes de globalização ou sob o neoliberalismo são explicações formuladas a partir de modelos verticais ou nacionais e estáticos (citado em Freire-Medeiros & Cavalcanti, 2010, p. 192).

Uma ideia nos parece relevante considerar. Tal como outras abordagens sobre o capital humano e a circulação do conhecimento tem demonstrado, apesar do aumento da precarização e da flexibilização no mundo do trabalho na era do “trabalho informacional" (Castells, 2004), observa-se a mobilização do investimento pessoal dos trabalhadores e também das suas capacidades intelectuais. Rosenfield (2009, pp. 173-174) num estudo sobre call centers demonstrou esta tese. Portanto, mesmo que adotemos uma perspetiva crítica sobre as transformações do trabalho na era da informação, não podemos menosprezar os seus contornos em termos de oferecer terrenos de constituição de estratégias empoderamento para trabalhadores, sobretudo ao criar mecanismos de reconhecimento social, justamente no espaço global, sem fronteiras.

Todavia, é central retornar a este estudo de Rosenfield que apresentou resultados surpreendentes pela sua similaridade com os resultados que obtivemos da análise das entrevistas que realizamos com os bloggers. Com efeito, no nosso estudo, como no de Rosenfield, quando interrogados sobre a representação que tinham de seu próprio trabalho, (como operadores de call center ou como bloggers, respetivamente) os entrevistados afirmaram estar num “emprego de passagem", demonstrando, apesar de todos os contributos assinalados em termos de reconhecimento, uma “identidade fragilizada" e, além disso, um comprometimento instrumental com a sua atividade. Nesse sentido, torna-se muito pertinente destacar o facto de nos dois estudos os participantes se referirem à sua atividade de forma instrumental, entendendo-a como uma oportunidade, um “trampolim", em particular no que respeita à abertura eventualmente propiciada nesse mundo global. Citemos, neste contexto, a autora quando afirma que:

Os primeiros desenvolvem uma identidade provisória no trabalho porque este é um emprego de passagem. Seu investimento pessoal repousa sobre as perspetivas profissionais futuras. O emprego em call center é um trampolim, uma maneira de viabilizar financeiramente objetivos futuros mais nobres, como se formar e atuar na área de formação. Sua relação com esse trabalho é instrumental (Rosenfiel, 2009, p. 184).

No caso dos bloggers de Mondoblog, trata-se também de se criar uma identidade no mundo da internet, de fortalecer uma reputação enquanto blogger profissional ou jornalista com competências digitais, no que se convenciona chamar webjornalismo. Portanto, o facto de participar nos blogues pode ser entendido como estratégia grandemente conformada, face à lógica de funcionamento global que avassala as relações de trabalho no espaço informacional[5].

Considerações finais

Este texto teve como objetivo equacionar, a partir de uma pesquisa empírica que envolveu entrevistas a diversos bloggers que escrevem no Mondoblog, os principais traços da globalização do trabalho de blogger/ jornalista na época moderna, contando com as clivagens e os processos de desigualdade que atravessa os sistemas de produção da informação e do conhecimento à escala mundial.

A explanação que fizemos permite observar tendências organizacionais da produção da informação online, uma tendência que se carateriza pela “contratação" de bloggers e jornalistas que operam como correspondentes para canais de rádio, de televisão e site de informações gerais, sem que sejam remunerados. O trabalho mostra também que a maioria dos bloggers que “produz a notícia" in loco não revelam terem consciência da situação em que estão. A nossa análise dedicou-se à questão da formação da identidade e subjetividade destes trabalhadores, revelando a existência de mecanismos de ocultamento dessa condição de exploração mediante formas relativas de recompensas tanto psicológicas como materiais (reconhecimento, visibilidade, encontros anuais na África para sessões de formação e capacitação ao jornalismo digital, etc.).

Os bloggers estão, portanto, inseridos no quadro geral da economia global baseada na produção da informação, ou seja, num contexto onde o capitalismo é reestruturado em termos culturais (Braga, 2009, p. 64), no qual também surgem novas formas de desigualdades nas relações de trabalho. Por outras palavras, na produção de novas identidades: o crescimento de um tipo de “proletariado" informacional, global e altamente qualificado.

O trabalho mostra também que o recrutamento dos bloggers responde a uma situação de crise dos média tradicionais que se apresenta como uma consequência da crise económica global. Trata-se, portanto, de uma modificação da estrutura do mercado do jornalismo entre Norte e Sul que se reconfigura mediante as oportunidades de integração permitidas pelas novas tecnologias de informação e comunicação, bem como da lógica baseada numa organização em rede. Por outras palavras, trata-se de uma complementação da teoria da globalização que mostra, fundamentalmente, a superação das limitações geográficas e temporais entre Norte e Sul no que tange à produção da informação. Finalmente, o artigo introduz ou, pelo menos, explora, a partir das próprias palavras dos atores da praxis, outras dimensões emergentes no que respeita ao circuito da atividade jornalista e de bloguer no espaço globalizado. Um espaço que, como se observou em diversos casos, inclusivamente na concetualização da “censura", não é uniforme nem amorfo: é um espaço repleto de diferenças e contradições culturais profundas que se intersectam com a prática, a hexis e a ética jornalística e que nos levam também a equacionar as vantagens e as desvantagens de debater e implementar uma linguagem e um modo próprio de ser blogger nesse espaço-tempo global, múltiplo, diverso e também conflitual de cidadania global.

 

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Agradecimentos

Os autores agradecem em especial aos colegas que colaboraram na tradução do texto: Edith Owono Elono, Flávia Serafim, Janailton Da Silva e Walter Barros.

 

Nota biográfica

Teresa Cristina Furtado Matos é professora na Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Humanas Letras e Artes doutora em Sociologia. É membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas Afrobrasileiros e Indígenas (NEABI/UFPB) e do HUN – Grupo de Estudos e Pesquisas em Sociologia e Relações Raciais. Seus interesses de pesquisa incluem os seguintes temas: comunicação, cultura, cinema, conflito e autoimagem, relações raciais.

E-mail: crisfurtado@yahoo.com.br

Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Humanas Letras e Artes Campus I, 58059-900 Joao Pessoa, PB Brasil

Serge Katembera Rhukuzage possui graduação em Jornalismo e Comunicação. É mestrando em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba (PPGS). Pesquisa a influência das Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (NTICs) na democratização da África francófona. Membro da rede de bloggers Mondoblog.org da Radio France Internationale (RFI).

E-mail: skatembera@gmail.com

Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Humanas Letras e Artes Campus I, 58059-900 Joao Pessoa, PB – Brasil

 

* Submetido: 10-04-2015

* Aceite: 11-11-2015

 

Notas

[1]Economia numérica refere-se aos modelos económicos que emergiram a nível global graças ao advento das Novas Tecnologias da Informação.

[2]O financiamento dos media estatais é determinado por critérios de medição de audiência no caso das cadeias de televisão ou as rádios. A imprensa também recebe financiamento de acordo com o nível das vendas. Quando uma rádio possui um site internet como é o caso para RFI, as visitas dos usuários no site são contabilizadas por Médiamétrie. Mondoblog.org é um site parceiro do site principal de RFI. Portanto suas visitas são contabilizadas como da “rádio mãe". As novas regras de Médiamétrie servem também para regular as fusões ou as aquisições como ocorreu em 2013 quando Rue89 foi comprado pelo Nouvel Obs. As regras de Médiamétrie podem ser lidas no seguinte endereço, em francês: http://www.observatoiredesmedias.com/2013/12/13/le-nouvel-observateur-et-linfo-3-voix-avec-rue89-la-proposition-de-lobservatoire-des-medias/.

[3]A RFI organiza anualmente uma formação de capacitação nas práticas do web-jornalismo em benefício dos bloggers recrutados naquele ano. A primeira formação ocorreu simultaneamente nas cidades de Dakar e Douala em 2011. A segunda formação aconteceu na cidade de Dakar em 2013, em seguida foi organizada em 2014 uma formação em Abidjã (local onde realizamos as entrevistas com os bloggers). Em novembro de 2015, acontecerá outra formação na cidade de Dakar , no Senegal. Essas formações, além de servir na transmissão das competências, favorecem o fortalecimento de uma rede de bloggers e webativistas em todo o continente africano.

[4]Ler também a entrevista de Bell (2001).

[5]Uma troca de e-mails com a professora Rosenfield, nos levou a mudar o título deste trabalho adotando o conceito de trabalho não assalariado ao invés de uma primeira opção sugerindo situações de subemprego.

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