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Comunicação e Sociedade

versão impressa ISSN 1645-2089versão On-line ISSN 2183-3575

Comunicação e Sociedade vol.39  Braga jun. 2021  Epub 30-Jun-2021

https://doi.org/10.17231/comsoc.39(2021).2855 

Artigos Temáticos

“Breque dos Apps”: Uma Análise Temporal de Comunidades e Influenciadores no Debate Público Online no Twitter

iDiretoria de Análise de Políticas Públicas, Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, Brasil


Resumo:

O objetivo deste artigo é examinar a dinâmica do debate nas plataformas de redes sociais sob a perspectiva da identidade e da ação coletiva. Mais especificamente, buscamos identificar quem foram os atores centrais no Twitter em torno do debate sobre duas paralisações de entregadores de aplicativo contra o regime e as condições de trabalho durante o período da pandemia (UberEats, iFood, Rappi, etc.) ocorridas a 1 e 25 de julho de 2020 no Brasil. Examinamos, além disso, se os perfis mais influentes protagonizaram a formação de comunidades em torno de sua interpretação sobre esse tema. Para isso, coletamos um total de 535.178 tweets publicados em dois episódios de manifestações dos trabalhadores, ocorridos entre junho e julho de 2020. A partir da análise temporal de clusters, identificamos o momento de entrada de cada comunidade no debate sobre o tema e discutimos como perfis de influenciadores, movimentos sociais, políticos e celebridades desempenharam funções centrais na mobilização de apoiadores e no engajamento público ligado às manifestações nas redes. Os resultados mostram que a mobilização social em ambientes digitais ocorre a partir de interações entre grupos com grande envolvimento com as causas defendidas e perfis de atuação mais efêmeros, cuja participação é fundamental para a promoção e divulgação dos atos.

Palavras-chave: identidade coletiva; ação coletiva; plataformas de redes sociais; Twitter; Breque dos Apps

Abstract:

The purpose of this article is to examine the dynamics of the debate on social networking platforms from the perspective of collective identity and collective action concepts. More specifically, we seek to identify who are the central actors on Twitter in the debate about the two delivery app workers’ strike against the work regime and working conditions during the pandemics (UberEats, iFood, Rappi, etc.) occurred on July 1 and 25, 2020, in Brazil. We also examined whether the most influential users played a role in the formation of communities around their interpretation of this topic. To do so, we collected 535,178 tweets published in two periods of workers’ demonstrations, which occurred between June and July 2020. Based on temporal analysis of clusters, we identified the moment of entrance of each community on the debate and discussed how profiles of influencers, social movements, politicians, and celebrities on Twitter played central roles in mobilizing supporters and fostering public engagement linked to acts on the networks. The results show that social mobilization in digital environments occurs from interactions between groups with great involvement with the causes and profiles of more ephemeral performance, whose participation is fundamental for the promotion and dissemination of acts.

Keywords: collective identity; collective action; social networking platforms; Twitter; Breque dos Apps

Introdução

A centralidade das plataformas de redes sociais digitais na esfera pública contemporânea é ponto pacífico entre pesquisadores de diferentes áreas de conhecimento. Enquanto um conceito relativamente antigo, aplicado nas ciências humanas antes mesmo do surgimento e da popularização das plataformas digitais, as redes sociais são entendidas como um tipo de relação entre seres humanos caracterizado pela flexibilidade de sua estrutura e pela dinâmica de seus participantes (Martino, 2015).

A ideia de redes sociais ganha força, no entanto, quando os recursos de comunicação mediados pela tecnologia passam a auxiliar a construção de redes sociais conectadas por meio de ambientes digitalmente construídos. Do ponto de vista da política, a literatura em diferentes áreas busca debater como esses ambientes digitais se tornaram esferas indispensáveis na construção de pontes e articulações entre atores políticos (Lowrance, 2016), na promoção de ações políticas (Earl & Kimport, 2011) e no provimento de visibilidade para agendas, campanhas e pautas de grupos políticos diversos (Vergeer et al., 2011).

Entre os meses de junho e julho de 2020, em meio do contínuo registro de casos de covid-19 no Brasil, entregadores de plataformas de aplicativo promoveram paralisações nas principais capitais do país, chamando a atenção para as condições precárias de trabalho da categoria. O evento ficou conhecido como “Breque dos Apps”. As mobilizações transpuseram as fronteiras nacionais, angariando apoio de países vizinhos, como Argentina, México, Chile e Equador e recebendo forte atenção midiática. No entanto, as formas de organização, coordenação e ação política engendradas nos ambientes digitais definiram os principais focos de debate e a visibilidade do movimento. O #BrequeDosApps alcançou os trending topics do Twitter e contou com o envolvimento de usuários dos aplicativos, artistas, atores da política tradicional e influenciadores digitais, que atribuíram força à disseminação e à amplificação das pautas e reivindicações dos trabalhadores da categoria.

Este estudo analisa como se deu a dinâmica de debate público sobre o “Breque dos Apps” nesses ambientes digitais. Mais especificamente, buscamos examinar o fenômeno a partir da evolução do debate sobre o tema no Twitter ao longo de dois períodos específicos: entre 30 de junho e 3 de julho, momento em que ocorreu a primeira manifestação; e entre 24 e 27 de julho, período que inclui a segunda paralisação dos entregadores de aplicativo. São questões de pesquisa norteadoras do trabalho:

Como se deu a entrada de perfis e influenciadores no debate e qual o papel que ocuparam ao longo do período analisado?

Esses atores centrais para o debate foram protagonistas da formação de redes em torno de sua interpretação sobre o tema?

Nossa hipótese é de que atores de diferentes grupos (ativistas, atores políticos, influenciadores, empresas de mídia) entram no debate em períodos distintos, o que incide no papel que ocupam.

Para além desta introdução, o artigo está dividido da seguinte maneira: iniciamos com a discussão teórica acerca do papel da comunicação digital e, mais especificamente, das plataformas de redes sociais na formação da identidade coletiva e da ação coletiva. Buscamos discutir as dinâmicas de coordenação, mobilização e ação política por meio da ideia de ação conectiva em redes sociais digitais. Na seção seguinte, apresentamos o desenho metodológico da pesquisa - que perpassa a coleta dos dados, a análise de clusters e uma análise dos perfis mais influentes no debate sobre o “Breque dos Apps” no Twitter. Por fim, discutimos os resultados da pesquisa, aludindo a agendas de pesquisa no âmbito da comunicação, da mobilização e das ações digitais.

Aporte Teórico

Compreender o papel da comunicação e das mídias digitais nas dinâmicas de coordenação, mobilização e ação política hoje passa por assumir a centralidade do meio no qual os grupos e movimentos sociais se organizam, difundem e amplificam suas lutas. O processo comunicativo passa a exercer função determinante na criação de redes interpessoais, da identidade dos grupos e da ação coletiva, transformando, assim, a estrutura organizacional tradicionalmente assente nos pressupostos da ação coletiva. As características próprias da mediação digital determinam essas novas dinâmicas, por meio de redes mais personalizadas, frequentemente maiores e com alta capacidade de crescimento, e “isto faz dos processos de comunicação altamente personalizados e socialmente mediados elementos estruturantes na organização de muitas formas de ação conectiva” (Bennett & Segerberg, 2012, p. 749).

A internet e, mais especificamente, as redes sociais digitais oferecem aos indivíduos a oportunidade de identificar e interagir com membros fora de sua rede, aumentando consequentemente suas chances de fazer a ponte como uma forma de produção de capital social (Ellison et al., 2010). A estruturação e a construção dessas pontes (bridgings) entre indivíduos - próprias da ação conectiva - incidem nos movimentos da política; por essa razão, conceber a ação coletiva, no contexto da crescente relevância das mídias sociais nas manifestações políticas, segue o entendimento do papel da identidade coletiva e o processo de sua criação, forjado nesses ambientes (Ellison et al., 2010; Milan, 2015). No entanto, ainda não é clara a relação entre as mobilizações e manifestações contemporâneas e a política de identidade típica dos movimentos sociais. Milan (2015) argumenta que, especificamente para a lógica das mídias sociais, existe uma ampliação e uma reformulação nos processos em que uma identidade coletiva é criada, reproduzida e sustentada - que impactam também nos processos da ação coletiva.

As transformações propiciadas por esses “canais de difusão de informação e de mobilização social” (Ruediger et al., 2014) reforçam a relevância do exame mais aprofundado de suas potencialidades. Inclui-se, nesse ponto, avaliar quais são os elementos distintivos que separam as grandes mobilizações do passado das expressões massivas contemporâneas. As mídias digitais e suas affordances1 instituem facetas inéditas à disputa política, criam oportunidades para o surgimento de “novos atores”, e evidenciam “o processo de distanciamento entre Estado e sociedade, de deslegitimação de intermediários consagrados pelo processo de redemocratização como representantes e interlocutores da sociedade, e o alargamento e renovação da esfera pública” (Ruediger et al., 2014, p. 208).

Tomando por enfoque o contexto brasileiro, as “Jornadas de Junho” demarcaram esse ponto de inflexão na expressividade e na ação políticas mediadas pelo uso das mídias sociais, inaugurando um ciclo numeroso de outros protestos e mobilizações que se sobrepunham entre o online e o offline. Na medida em que protesto é um recurso político (Lipsky, 1968), fortemente condicionado por outros recursos - socioeconômicos, por exemplo -, é pertinente investigar de que maneira as mídias sociais ampliaram as estruturas de oportunidades políticas para as atividades de contestação.

Para compreender o caminho que se inicia nas mobilizações digitais até às ações de protesto, é preciso levantar e discutir alguns aspectos específicos da comunicação e da interação nas mídias sociais. Bennett e Segerberg (2012) atribuem à lógica da ação conectiva - ou seja, à familiaridade com as práticas diferentes de comunicação e organização - um repertório útil à ação, propiciado pelas mídias sociais. Nesse sentido, são os usos, muitas vezes cotidianos e amplamente compartilhados das mídias sociais, que distinguem as manifestações da ação coletiva.

Tradicionalmente, a ação coletiva depende de entendimentos e identidades compartilhados e de estruturas conectivas advindas das redes interpessoais, além da confiança e da cooperação produzidas entre os indivíduos que compõem esses arranjos (Tarrow, 2011). As mídias sociais atuam no reforço desses elementos de identidade e pertencimento, conectando pessoas e narrativas, atribuindo sentidos e significados às suas ações (Bennett & Segerberg, 2012; Ellison et al., 2010; Milan, 2015).

Gerbaudo (2012) salienta a interposição desses canais na comunicação e na organização dos movimentos sociais contemporâneos, o que ele chama de “coreografia da ação coletiva”2 (p. 4), em outras palavras, a criação de uma forma para aquilo que os indivíduos compartilham em comum. Com efeito, Ellison et al. (2010) atribuem à lógica das mídias digitais a capacidade de reformular as redes interpessoais, e disso deriva o capital social dos membros que compõem determinadas redes sociais. Sob esse prisma, Gerbaudo (2012), em referência ao trabalho de Granovetter (1974), argumenta que as relações estabelecidas nos ambientes digitais são predominantemente formadas por “laços fracos”, sendo as identidades coletivas fortes raras exceções.

Não obstante, a ausência de uma identidade e de uma organização mais estruturadas não incompatibilizar a ação coletiva, as atribuições da comunicação e dos comunicadores, próprios dos ambientes digitais, seriam os responsáveis por definir a cena que propicia a ação. Nesse sentido, a emergência de líderes de opinião, mais especificamente, dos influenciadores digitais, se torna central.

A organização praticada por ativistas contemporâneos no uso das redes sociais não significa automaticamente a eliminação da liderança. Ao contrário, a adoção da mídia social entre os ativistas é acompanhada pelo surgimento de formas de liderança suave e emocional, que são em geral indiretas e invisíveis, mas ainda assim eficazes em dar à ação coletiva um certo grau de coerência e um senso de direção. É esse tipo de liderança suave e dialógica que o termo “coreografia” se esforça para capturar. (Gerbaudo, 2012, p. 157)

Bennett e Segerberg (2012) chamam a atenção para o fato de que o frame da ação não surge, tampouco se espalha automaticamente, e que é preciso se apropriar dele e enquadrá-lo, para então disseminar entre as redes personalizadas de compartilhamento. As formas de ação coletiva, facilitadas pelas mídias sociais, pontuam os autores, podem refletir também ações e mecanismos cada vez mais complexos, principalmente porque eles são fortemente permeados por elementos contextuais em constante transformação.

A centralidade da comunicação digital nas dinâmicas de ações dos grupos, em como se organizam e em como são comunicadas ao público - especificamente pelo Twitter, plataforma amplamente mobilizada politicamente desde a organização dos movimentos até à sua divulgação (não raro, em tempo real; Gerbaudo, 2012) - permeia as etapas empíricas subsequentes do trabalho. Esta seção buscou enfatizar o protagonismo da comunicação digital na organização e na ação política; o papel das relações de laços fracos e de bridging, centrando na comunicação personalizada e nos influenciadores digitais como líderes de opinião; e na reformulação da identidade coletiva e da ação coletiva propiciada pela ação conectiva.

O presente estudo se insere em um campo que tem como objeto de investigação as relações contemporâneas de trabalho em plataformas (Filgueiras & Antunes, 2020; Grohmann & Qiu, 2020), contribuindo com a análise de uma série de manifestações organizadas por trabalhadores de serviços de delivery, conhecidas como “Breque dos Apps”. Mais especificamente, as paralisações contaram com a organização e a adesão de milhares de motociclistas e ciclistas entregadores de aplicativos (tais como iFood, Rappi, Uber Eats e Loggi) que denunciavam as condições precarizadas de trabalho. As reivindicações da categoria eram o aumento das taxas mínimas por entrega e do valor por quilômetro rodado, o fim de bloqueios injustificados e do sistema de pontuação (realizado por alguns dos aplicativos), além de demandas por auxílios de saúde e por acidente e distribuição de equipamentos de proteção individual. As manifestações ocorreram no contexto da pandemia da covid-19, o que torna as urgências ainda mais evidentes e agravadas, levando em conta também o crescimento da procura por essa forma de renda (Abílio et al., 2020; Peres, 2020). A primeira paralisação dos entregadores ocorreu no dia 1 de julho de 2020, nas principais capitais do país. Registros de mobilização dos trabalhadores circularam fortemente nas redes sociais, atingindo também veículos tradicionais da imprensa. No dia do ato, foi incitado também, como forma de apoio e ação, o envolvimento de usuários, que, além de disseminar a luta dos grevistas, boicotaram os aplicativos, não realizando pedidos na data e avaliando-os negativamente nas plataformas de download. A segunda paralisação nacional ocorreu no dia 25 de julho de 2020 e obteve menor adesão, sentida também no volume de dados analisados.

Metodologia

Para o desenvolvimento da investigação proposta neste trabalho, foram realizadas, em um primeiro momento, a coleta e a classificação de um corpus composto por postagens públicas feitas no Twitter, em dois períodos distintos. Essa coleta implicou, em linhas gerais, a elaboração de uma instrução linguística - isto é, uma sequência de valores que articula termos e fraseologias por meio de operadores lógicos - e a execução dessa instrução em um script de coleta de dados via Application Programming Interface (API) do Twitter. A instrução linguística usada na coleta do debate do “Breque dos Apps” no Twitter foi então:

precarização OR precarizado OR precarizados OR precarizada OR precarizadas OR entregadores OR greve OR grevista OR grevistas OR breque OR paralisação OR paralização OR subprofissao OR subprofissoes OR subemprego OR subempregos OR motoboys OR subtrabalho OR subtrabalhos OR #brequedosapp OR #brequedosapps OR #grevedosapp OR #grevedosapps OR #1diasemapp OR #1diasemapps OR #apoiobrequedosapp OR #apoiobrequedosapps OR #grevedosentregadores OR #entregadores OR #entregadoresantifascistas OR #euapoiobrequedosapps OR #euapoiobrequedosapp OR #amanhatembrequedosapps OR #amanhatembrequedosapp OR #amanhãtembrequedosapps OR #amanhãtembrequedosapp OR #euapoioobrequedosapps OR #euapoioobrequedosapp OR #apoieobrequedosapps OR #apoieobrequedosapp OR #idiasemapp OR #entregadoresemetroviariosunidos OR #brequenosapps OR #grevenosapps OR #entregador.

No que diz respeito à elaboração da instrução linguística, levamos em consideração os termos e as fraseologias que pudessem representar, em alguma medida, o tópico em questão - nesse caso, o “Breque dos Apps”. Foram priorizadas, nessa elaboração, o uso de hashtags, que equivalem a palavras-chave indexadas pelo sinal gráfico # (ou cerquilha; por exemplo, #brequedosapps). No contexto das novas mídias digitais, hashtags constituem componentes recorrentes e com alta visibilidade - principalmente, no Twitter. Enquanto itens linguísticos, esses componentes traduzem estratégias discursivas, cujas funções podem incluir, dentre outras coisas, a (a) catalogação da postagem, pois podem indicar o tópico a que essa postagem deve pertencer (ou, em sentido estrito, o seu campo semântico-pragmático); ou (b) intersubjetiva, na medida em que também pode desencadear processos de afiliação (por exemplo, a uma pessoa, a um grupo ou a uma causa; Zappavigna, 2015). Nesse sentido, hashtags, assim como palavras-chave, operam como marcadores de interpretações, significados e posicionamentos dos indivíduos nos ambientes digitais. A apropriação dessa ferramenta discursiva, própria dos ambientes online, possibilita novas estratégias de comunicação política na esfera digital3.

A aplicação da instrução linguística na API do Twitter se prestou à coleta de dois corpora distintos: (a) um corpus referente à manifestação do dia 1 de julho, com postagens (que respondiam à instrução linguística) feitas entre 30 de junho e 3 de julho de 2020; e (b) outro corpus referente à manifestação do dia 25 de julho, com postagens feitas entre os dias 24 e 27 de julho de 2020. Com o propósito de garantir uma contextualização mais precisa para a análise, o recorte temporal para ambas as coletas buscou contemplar, além do dia de cada manifestação, o dia anterior a cada uma delas, como momento de organização do movimento e de apelo por apoio de manifestantes, e 2 dias posteriores a elas, quando as menções às manifestações vão perdendo fôlego gradualmente. Sendo assim, o primeiro corpus desta pesquisa é constituído por 432.430 postagens, e o segundo por 102.748 tuítes, totalizando 535.178 mensagens publicadas no Twitter nos dois períodos analisados. Cabe sinalizar que as coletas sobre a primeira manifestação foram realizadas retroativamente nos dias 2 de julho e 8 de julho. Para os dados da segunda manifestação, utilizamos um script capaz de coletar em tempo real as mensagens publicadas no Twitter4.

A partir das postagens coletadas, foi elaborado, para cada um dos corpora, um mapa de interações. Cada interação considerada na elaboração de cada mapa equivale a um retuíte. Um retuíte, no Twitter, implica o encaminhamento ou o compartilhamento de uma postagem entre dois perfis de usuários da rede: um perfil que retuita (ou compartilha) - isto é, do qual parte a interação - e um perfil que é retuitado - ao qual chega a interação. Mapas de interações são representados sob a forma de grafos (por exemplo, Recuero, 2017), que são sociogramas cujos nós correspondem aos perfis das interações e cujas arestas correspondem às interações entre eles, ou seja, aos retuítes.

Para esta análise, a visualização dos grafos foi gerada por meio da aplicação livre Gephi (https://gephi.org/; Gephi Consortium). Por meio dessa ferramenta, é possível identificar a formação de comunidades baseada na relação que os perfis estabelecem entre si, atuando como ponte desta relação o conteúdo compartilhado ou retuitado. Para isso, utilizamos o algoritmo Louvain (Blondel et al., 2008) como método de detecção de comunidade, com o objetivo de maximizar a modularidade, que é uma métrica cujo cálculo compara a quantidade de arestas intra e inter-comunidade, medindo a densidade do agrupamento. Para este estudo, consideramos comunidades proeminentes aquelas que concentraram 5% ou mais dos perfis que participaram do debate, o que resultou em oito comunidades no primeiro período. Para possibilitar a comparação entre os dois períodos, optamos por manter essa quantidade de grupos quando observamos a formação de clusters (comunidades) no segundo período analisado. Além disso, aferimos o grau de importância dos atores que compõem a rede, buscando examinar se esses constituem, em torno de si, uma rede de perfis que compartilham seu conteúdo e sua interpretação do fenômeno debatido.

Em um momento posterior, cada corpus - que compreende um período de 4 dias (ou de 96 horas) - foi segmentado em 16 subcorpora, compostos por postagens feitas a cada 6 horas. Sendo assim, além dos grafos com o total de interações em cada corpus, foram gerados grafos com as interações em cada subperíodo de 6 horas. Essa segmentação das interações no plano temporal permite se acompanhar a entrada dos perfis no debate, bem como a evolução das respectivas interações entre eles, ao longo de cada período analisado.

Análise dos Resultados

Com dados coletados da API do Twitter, a partir da busca realizada com base na instrução linguística descrita anteriormente, analisamos um total de 535.178 publicações na rede, feitas em dois períodos distintos das manifestações de entregadores de aplicativos (Figura 1). Sobre a manifestação que ocorreu no dia 1 de julho, foram coletados tuítes publicados (a) entre 29 de junho e 3 de julho, período que contempla o dia anterior à manifestação, ou seja, de organização do movimento e de apelo por apoio aos manifestantes; (b) no dia da ação nas ruas, em que as publicações expressam apoio e, também, críticas aos protestos; e (c) nos dias posteriores à manifestação, quando o número de mensagens com menção ao movimento diminui.

Figura 1 Grafo Completo de Interações Sobre o “Breque dos Apps” (Dados Coletados Entre 30 de Junho e 3 de Julho) 

Nesse primeiro momento, em termos quantitativos, o debate sobre o “Breque dos Apps” no Twitter mobilizou 180.985 perfis e 432.430 tuítes, dos quais 350.562 eram retuítes (81,06%). A partir dessas publicações, foram realizadas análises em torno da rede de interações que essas publicações engajaram, isto é, em torno das comunidades que se formaram a partir dos retuítes, que envolvem sempre dois perfis, o que retuita e o que é retuitado.

Por meio do método Louvain (Blondel et al., 2008), foram detectadas oito comunidades que se destacaram no debate sobre o “Breque dos Apps” nesse período. A comunidade que agregou o maior número de perfis, representada na figura acima pela cor vermelha, contou com a mobilização de 16.721 perfis distintos, ou seja, de 10,8% dos usuários que participaram do debate. Compõem essa comunidade perfis de atores e organizações políticas à esquerda no espectro ideológico, tais como os políticos @MarceloFreixo, @samiabomfim e @GuilhermeBoulos, e a representação do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados (@PTnaCamara), e líderes ou movimentos sociais com pautas progressistas (@J_LIVRES e @LeonelRadde). Em termos de número de interações, cabe destacar que esse cluster reuniu mais de 60.000 retuítes, o que corresponde a 19,6% da amostra de interações entre os clusters mais proeminentes, segundo o método Louvain.

Outro cluster que se destaca, em cor laranja, concentrou 8% dos perfis que participaram do debate (N = 12.338). É importante notar que, embora seja uma comunidade proeminente, este cluster está fortemente centralizado no perfil @tretanotrampo, um dos perfis responsáveis pela organização da manifestação dos entregadores. Em termos de conteúdo, o perfil focou, ao longo do período analisado, na publicação e na repercussão de vídeos publicados pelos entregadores durante as manifestações de rua. Ainda sobre a participação de perfis únicos na formação de comunidades, cabe destacar a importância dos perfis das ativistas @gabriolaz e @anarcopedagoga nos clusters rosa e lilás, respectivamente. Juntas, essas comunidades formadas em torno dessas duas ativistas agregaram 13,2% dos usuários que participaram do debate sobre o “Breque dos Apps”.

Ainda no que se refere à atuação de ativistas, cabe destacar o papel central do perfil @galodeluta no debate sobre a mobilização dos entregadores no Twitter. Esse perfil compõe o cluster amarelo, do qual fazem parte 8.970 perfis, ou seja, 5,8% dos usuários que participaram do debate sobre o “Breque dos Apps”. Embora o número de participantes envolvidos nessa comunidade seja menor em comparação com as demais comunidades, vale destacar que essas publicações mobilizaram 7,6% das interações mapeadas por esta pesquisa; esse é um número maior do que as interações que constituem o cluster lilás, por exemplo.

Por fim, cabe destacar a formação de uma comunidade de perfis que atuaram de modo disperso, no entorno do núcleo central da rede, formada pelos atores mais proeminentes no debate sobre o “Breque dos Apps”. Trata-se do cluster azul, formado por 9.711 perfis, ou seja, por 6,4% dos usuários que interagiram no Twitter sobre a manifestação dos entregadores. Apesar de nenhum perfil se destacar de modo tão proeminente quanto nos demais clusters, podemos observar que esses perfis tiveram uma atuação descentralizada e focada principalmente na crítica às pautas apresentadas pelos manifestantes, nos efeitos da paralisação e na falta de legitimidade do movimento. São exemplos de mensagens críticas ao movimento: “greve de autônomo é tipo morar sozinho e fugir de casa”5 (@CorrupcaoMemes), “o Brasil é o país em que o ‘motoboy antifascista’, autônomo, faz ‘greve’ para ter a CLT fascista”6 (@Ilisp_org) e “greve de autônomos é tão eficiente quanto andar de carro blindado com os vidros abertos”7 (@spinellirio). Em geral, publicações dessa natureza concentram apenas 4% das interações em forma de retuítes, o que significa um número relativamente reduzido se comparado à somatória das interações dos demais clusters que buscavam expressar apoio aos manifestantes.

As comunidades representadas pelas cores marrom e verde são formadas por apoiadores da manifestação e convergem em termos de usuários que as compõem. O cluster marrom se estrutura em torno de uma mensagem de apoio à manifestação publicada pela artista @lyanzr - a mensagem recebeu mais de 8.476 retuítes. Essa comunidade é a que agregou o menor número de interações ao longo da primeira manifestação (3,3%). O cluster verde, por sua vez, apresenta uma estrutura mais dispersa em termos da distribuição de importância entre os perfis. Compõem essa comunidade 5,1% dos usuários que publicaram sobre esse tema.

Por fim, cabe destacar, ainda sobre a primeira mobilização, a importância de perfis como o do humorista @gduvivier e da criadora de conteúdo de educação financeira @nathfinancas. Apesar de, em geral, demonstrarem certo grau de importância na rede pelo número de retuítes de suas mensagens, esses perfis fazem parte de um grupo de perfis que formaram, em torno de si, comunidades que não estabeleceram interações significativas com os principais clusters identificados no debate, de acordo com o índice de modularidade utilizado por este estudo. Isso não significa que a atuação desses perfis foi menos importante para o debate sobre a “Breque dos Apps”, mas que as comunidades que se formaram em torno dessas publicações tiveram densidade menor do que outros clusters, ou seja, agregaram menos de 5% dos perfis que participaram da discussão sobre o tema analisado. A Figura 2 representa a relação entre o número de retuítes recebidos e o número de perfis que compõem cada um dos clusters que publicaram sobre a primeira mobilização dos entregadores de aplicativo.

Figura 2 Percentual de Perfis por Percentual de Retuítes Para Cada Comunidade da Primeira Mobilização 

A coleta do debate sobre a segunda manifestação, ocorrida em 25 de julho de 2020, seguiu o mesmo padrão da primeira, incluindo o dia anterior e os 2 dias seguintes ao protesto. A Figura 3 representa o mapa de interações sobre o “Breque dos Apps” entre os dias 24 e 27 de julho de 2020. Um primeiro aspecto que merece ser destacado é que, em comparação à primeira manifestação, notamos, nesse segundo período analisado, uma queda de 70,6% no número de perfis envolvidos e de 80,8% no número de interações sobre o tema no Twitter, mobilizando 55.039 perfis e 102.748 tuítes (sendo 67.451 retuítes). A diminuição do debate se reflete graficamente a partir da menor densidade dos clusters, que apresentam maior transparência e espaçamento entre os nós.

Figura 3 Grafo Completo de Interações Sobre “Breque dos Apps” (Dados Coletados Entre 24 e 27 de Julho) 

Há, no entanto, uma série de similaridades entre os dois protestos. Inicialmente, destaca-se a centralidade dos perfis de entregadores @galodeluta e @tretanotrampo, que estiveram entre os principais mobilizadores nos dois eventos, despontando como articuladores do debate e lideranças dos movimentos de entregadores. Os dois perfis foram centrais nos clusters amarelo e laranja, que obtiveram 9,2% e 9% das interações, respectivamente - números que os colocaram como o segundo e o terceiro clusters com mais interações em todo o segundo ciclo de manifestações. O cluster que reuniu atores da política institucional (vermelho) foi, assim como no primeiro protesto, o que reuniu o maior número de interações (14,8%). Esses foram os grupos sociais que atuaram de modo mais diversificado durante toda a manifestação, com tuítes contendo convocação, orientações, justificativas e relatos sobre os protestos. Na Figura 4, pode-se observar a relação entre o número de retuítes recebidos e o número de perfis que compõem cada uma das comunidades que debateram sobre a segunda mobilização dos entregadores de aplicativo.

Figura 4 Percentual de Perfis por Percentual de Retuítes Para Cada Comunidade da Segunda Mobilização 

Como no primeiro protesto, a dinâmica de mobilização também incluiu comunidades formadas em torno de tuítes virais feitos por perfis que possuem menor relação com o movimento. É o caso, por exemplo, dos clusters roxo e verde, que orbitaram chamadas para a ação feitas pelos perfis @jacianaa e @rogercipo, os quais compartilharam a mensagem “NÃO PEÇAM COMIDA EM DELIVERY HOJE”8. Esses dois clusters apresentam um formato semelhante a uma estrela e estão concentrados em torno de perfis isolados, sem a formação de um conjunto mais espalhado de nós. Diferentemente do primeiro protesto, houve a formação de um pequeno cluster formado por perfis de veículos jornalísticos.

Se, na primeira manifestação, o cluster crítico do movimento (azul) foi formado por perfis humorísticos que ironizaram uma manifestação por direitos realizada por trabalhadores autônomos, na segunda, houve maior presença de perfis ligados à política institucional, especialmente perfis ligados a partidos de orientação liberal, tais como o Partido Novo e o Democratas. Em comum, esses perfis repercutiram uma pesquisa de opinião pública que indicou que 70% dos entregadores preferiam trabalhar em regime autônomo, enquanto apenas 30% lutavam por vínculos trabalhistas fixos e exclusivos com as plataformas de aplicativos (Sena, 2020).

Em comparação com o primeiro protesto, destaca-se a menor presença de artistas e celebridades entre os perfis mobilizados. Outra diminuição relevante foi a de alguns perfis ligados ao movimento negro, que, além de se espalharem por diferentes conjuntos, chegaram a formar um cluster em que foram preponderantes no primeiro protesto. Perfis como @jacianaa e @rogercipo obtiveram destaque, mas em clusters isolados e a partir de tuítes virais, e não com a formação de uma rede, como no primeiro protesto. A menor participação desses grupos no segundo protesto abre espaço para a elaboração de hipóteses sobre a relação entre esses grupos e o tamanho das manifestações de entregadores, quer seja na aproximação temática e política entre movimentos sociais de trabalhadores e o movimento negro, quer seja de um ponto de vista mais relacionado com a amplitude e ao alcance do debate, circunstância em que artistas e celebridades contribuem ao disseminarem as pautas entre públicos menos interessados no debate.

Análise Temporal

A análise temporal dos mapas de interação mostra como se deu o processo de formação das redes ao longo dos períodos analisados. No que se refere à primeira manifestação (Figura 5), ocorrida entre os dias 30 de junho e 3 de julho, observamos que a primeira comunidade a se formar gira em torno da publicação da artista @lyanzr convocando seus seguidores a participarem do boicote às plataformas de entrega.

Figura 5 Mapa de Interações ao Longo da Primeira Manifestação (Dados Coletados Entre 30 de Junho e 3 de Julho) 

Logo nas primeiras horas do dia que antecede a mobilização, os clusters vermelho e amarelo começam a se destacar como atores relevantes do debate. São, em grande medida, divulgações das ações nas ruas e pedidos para que os usuários dos aplicativos não utilizem os serviços de entrega como uma forma de apoio à mobilização. Durante a manhã do dia 30 de junho, o grupo representado pela cor verde ganha destaque, sobretudo a partir da sua articulação com o cluster marrom, como mencionamos anteriormente. Na tarde daquele mesmo dia, emerge uma quarta comunidade, representada pela cor lilás e capitaneada por uma publicação da ativista @anarcopedadoga. O que mais chama a atenção nesse primeiro dia são o crescimento e a predominância do cluster vermelho, composto prioritariamente por perfis vinculados à política institucional, tais como os deputados federais @MarceloFreixo e @samiabonfim, o candidato à prefeitura de São Paulo @GuilhermeBoulos e o ex-presidente @LulaOficial. Isso demonstra como os atores da política institucional vinculada à esquerda buscaram apoiar o movimento dos entregadores desde o momento de sua convocatória.

No dia da manifestação, as comunidades mencionadas anteriormente se mantêm e intensificam sua atividade nas redes, com a publicação de vídeos e relatos de paralisações em diversas capitais brasileiras. Nesse ponto, se destaca a atuação de perfis como @tretanotrampo e @galodeluta, que focaram, durante todo o dia, na divulgação de conteúdo que recebiam de entregadores que participavam das manifestações nas ruas.

Ainda sobre o primeiro dia dos atos de rua, nota-se a emergência e a crescente atividade de perfis críticos às pautas levantadas pelos entregadores. Esses perfis, no interior do cluster azul, começam a publicar mensagens contrárias ao movimento logo nas primeiras horas do dia, e sua atuação se intensifica até o fim do dia 1 de julho. Nos 2 dias que sucedem a manifestação, esse é um dos poucos grupos que continua a crescer, tratando de repercutir negativamente a ação dos manifestantes e de seus apoiadores nas redes.

A Figura 6 evidencia, em termos quantitativos, como, ao longo do período analisado, se deu a evolução no número de publicações retuitadas sobre a paralisação dos entregadores. O maior crescimento no número de retuítes se deu na manhã do dia da manifestação. A figura abaixo mostra que 60,18% dos retuítes sobre o “Breque dos Apps” ocorreram entre as 6h da manhã e às 12h de 1 de julho. Entre as 12h e o fim da tarde, o número de retuítes cai significativamente e assim segue caindo até o fim do período analisado.

Figura 6 Evolução do Número de Retuítes ao Longo da Primeira Manifestação (Dados Coletados Entre 30 de Junho e 3 de Julho) 

No que se refere à segunda manifestação, ocorrida no dia 25 de julho, a análise temporal do mapa de interações (Figura 7) evidencia alguns pontos que merecem ser destacados de modo comparativo. Assim como no primeiro ciclo de mobilizações, os perfis que iniciaram o debate estão distribuídos nos clusters prioritariamente compostos por movimentos de entregadores e por atores da política institucional. Há, no entanto, uma diferença importante em relação ao momento de formação dos clusters. Diferentemente do primeiro protesto, em que os principais clusters já estavam bem delimitados a partir das 18h do dia anterior à manifestação, no segundo protesto, a formação dos principais clusters somente ocorre a partir das 12h do dia do protesto, ou seja, com o movimento já em curso. Os últimos clusters a entrarem no debate (verde e roxo) são justamente formados com base em tuítes virais de influenciadores ligados ao movimento negro. Isso ressalta o potencial de engajamento em torno de mobilizações na interseção entre as duas causas e contribui com outro indício para a hipótese de que a menor adesão de perfis ligados ao movimento negro poderia explicar a diminuição do debate sobre a segunda manifestação.

Figura 7 Mapa de Interações ao Longo da Segunda Manifestação (Dados Coletados Entre 24 e 27 de Julho) 

Com poucas mudanças em relação ao primeiro protesto, o debate nos 2 dias seguintes à segunda manifestação apresentou um leve aumento a partir do dia 27 de julho. Esse aumento está relacionado ao crescimento de interações do cluster azul, formado por políticos e perfis de orientação liberal, críticos da mobilização dos entregadores. A reação crítica pode indicar o início de um fortalecimento de uma narrativa a respeito dos protestos, que se apresentou, no cluster azul, de modo reativo nas duas manifestações - ainda que, no segundo evento, tenha ganhado caráter menos irônico e incorporado argumentos em diálogo com as reivindicações dos entregadores. Essa característica evidencia o caráter de disputa em torno do movimento, que, apesar de majoritariamente ligado a setores alinhados à esquerda do espectro político, passa a ser incorporado à gramática liberal dos partidos alinhados à direita, por meio das narrativas de liberdade, concorrência e desregulamentação.

No que se refere à evolução no número de retuítes ao longo do segundo período analisado, observamos novamente que o dia da manifestação presencial foi o que acumulou uma maioria significativa das publicações sobre o tema; quase metade das publicações foram realizadas até o final da manhã do dia 25 (Figura 8).

Figura 8 Evolução do Número de Retuítes ao Longo da Segunda Manifestação (Dados Coletados Entre 24 e 27 de Julho) 

No entanto, na contramão do que observamos no primeiro episódio analisado, há um crescimento do número de publicações no último dia da coleta. Uma possível explicação para isso seria a atuação descentralizada de grupos de direita, que trataram de discutir criticamente as pautas levantadas pelo movimento. Um exemplo disso é o tuíte publicado às 15h24 do dia 27 de julho, pelo empresário Flávio Augusto (@GeraçãoDeValor), que dizia:

entregadores de APP desistiram da CLT. Agora, o levante é pra abrirem sua própria cooperativa e concorrerem com o iFood. Daqui a um tempo, vão concluir q não existe mágica e q deixaram de trabalhar pra um empresário malvadão e passaram a trabalhar pra um sindicalista espertão.9

Em suma, nesta seção, examinamos a evolução do debate sobre a manifestação do “Breque dos Apps” ao longo de dois períodos distintos do protesto. Identificamos que os apoiadores das pautas levantadas pelo movimento prevaleceram nas publicações sobre o tema no Twitter. Nos dois eventos analisados, a pesquisa identifica a atuação de diferentes comunidades formadas por grupos de apoiadores de campos distintos. Isso sugere que o “Breque dos Apps” mobilizou, em torno de si, atores com diferentes tipos de capitais político, cultural e institucional. No entanto, cabe destacar que os perfis críticos à manifestação também expressaram seu posicionamento de modo descentralizado e disperso. Tendo examinado o papel das comunidades no debate sobre o “Breque dos Apps”, na seção seguinte, focaremos na atuação dos perfis mais influentes dentro do debate de modo geral.

Análise dos Perfis Mais Influentes

Após uma análise sobre os grupos sociais que se engajaram na mobilização dos protestos de entregadores no Twitter, iniciaremos uma investigação sobre o comportamento dos principais influenciadores do debate em cada uma das manifestações, buscando identificar permanências, entradas e protagonismo dos perfis. Para isso, tomamos como referência os 200 perfis com maior número de retuítes por período analisado. Esses perfis concentraram, respectivamente, 78,3% e 84,6% das mensagens retuitadas em cada ato.

Em relação à presença e ao protagonismo desses perfis em cada um dos eventos, é possível distinguir três comportamentos que nos ajudam a compreender o processo de construção de uma pauta dos entregadores no Twitter. Partimos da compreensão de que, sob influência das características da plataforma, o Twitter potencializa composições heterogêneas de atores e grupos sociais que tendem a se conectar de modo efêmero em prol de causas específicas, ao passo que determinados grupos e atores utilizam o espaço para a construção de uma identidade comum mais claramente delimitada.

Perfis Que Participaram das Duas Manifestações

Os perfis de indivíduos e organizações que estiveram entre os 200 com mais retuítes na primeira manifestação e se mantiveram nesse grupo no ciclo de mobilizações para o segundo ato se constituem como potenciais atores para a construção de uma identidade coletiva em torno da luta por melhores condições de trabalhos para o entregadores. Dos 200 principais influenciadores no primeiro protesto, 121 se mantiveram atuantes no segundo, o que representa cerca de 60% de permanência. Desses, 61 se mantiveram entre os 200 principais influenciadores nas duas manifestações.

Entre os principais grupos que compuseram essa frente, destacam-se perfis ligados à política institucional. A maior parte dos perfis esteve ligada a partidos de esquerda, tais como Partido dos Trabalhadores, Partido Socialismo e Liberdade e Partido Democrático Trabalhista, incluindo os candidatos à presidência, em 2018, Ciro Gomes (@cirogomes) e Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos), e a candidata do Partido dos Trabalhadores à vice-presidência, Manuela D’Ávila (@ManuelaDavila). Além deles, destaca-se também a presença de empresas de comunicação (@folha, @bbcbrasil, @UOLNoticias), ativistas ligados ao movimento negro (@gabriolaz, @andrezadelgado) e veículos de mídia alternativa (@MidiaNINJA, @J_LIVRES, @brasildefato).

É importante ressaltar a permanência dos perfis @galodeluta e @tretanotrampo, que se constituíram como os principais perfis ligados especificamente ao movimento dos entregadores, conformando-se como lideranças e expressão mais bem definida da identidade dos manifestantes. Entre o início da coleta de dados do primeiro protesto e o último dia de coleta de dados do segundo, o perfil @galodeluta obteve um aumento de 26,8% do número de seguidores, sendo 9,2% somente nos 4 dias do primeiro protesto. Observou-se também um aumento do número de seguidores do perfil @tretanotrampo, que variou 13,8% em todo o período analisado, sendo 5,4% somente no primeiro ciclo de manifestações.

Junto aos perfis que estiveram entre os 200 com mais retuítes nas duas manifestações, houve, também, 60 perfis que se mantiveram no debate, mas deixaram o conjunto dos 200 mais retuitados no segundo protesto. Não há grande diferença temática ou de composição social entre esses dois conjuntos. Assim como no primeiro grupo, há a presença de atores da política institucional (especialmente de partidos de esquerda), artistas e ativistas de movimentos sociais.

Uma análise qualitativa sobre a intensidade do engajamento desses perfis no segundo protesto pode ajudar a explicar a diferença do impacto que obtiveram em relação ao primeiro. Exemplos da diminuição do engajamento podem ser notados pela observação dos perfis da criadora de conteúdo de educação financeira @nathfinancas - que, na primeira manifestação, realizou 10 ações (quatro tuítes e seis retuítes) em apoio à campanha e na segunda realizou apenas um retuíte - e do personagem humorístico e crítico ao pensamento empreendedor @startupdareal - que diminuiu de 12 ações (cinco tuítes e sete retuítes) para somente um retuíte no segundo evento. Artistas como o cantor @emicida e a atriz @patriciapillar obtiveram engajamento relevante no primeiro protesto, com apenas um tuíte autoral em apoio à causa, mas não alcançaram a mesma projeção no segundo, quando apenas retuitaram mensagens de outros perfis. Por fim, chamam a atenção atores da política institucional que não realizaram ações no segundo protesto, mas foram colocados no debate por meio de retuítes de suas postagens realizadas no primeiro ato; foi o caso do ex-presidente do Brasil @LulaOficial e do deputado federal @MarceloFreixo.

Para além da análise dos perfis que estiveram entre os 200 mais retuitados no primeiro protesto, destacam-se 101 perfis que não estiveram nesse conjunto no primeiro e passaram a compor o grupo dos 200 retuitados no segundo evento. Com composição social semelhante à dos grupos anteriores, destaca-se que 71 dos 101 perfis que compuseram esse grupo obtiveram um aumento no número de retuítes entre o primeiro e o segundo protestos, indicando que sua ascensão ao conjunto dos 200 retuitados não ocorreu somente pelo menor engajamento ou saída de perfis influentes, mas também pela maior capacidade de mobilização em torno desses perfis. Esse elemento é importante, pois indica o fortalecimento dos laços entre esses perfis e a causa dos entregadores.

Perfis Que Participaram Somente do Primeiro Ato

Entre os perfis que estiveram entre os 200 mais retuitados no primeiro protesto, 79 não se engajaram na segunda manifestação, o que representa uma queda de quase 40% na permanência. Esses perfis foram responsáveis por 22,1% dos retuítes da primeira manifestação e reuniam, entre 29 de junho e 3 de julho, cerca de 26.9oo.ooo de seguidores. Entre esses perfis, destacam-se artistas como os humoristas José Simão (@jose_simão), Marcelo Adnet (@MarceloAdnet) e Gregório Duvivier (@gduvivier), com 5.2oo.ooo, 3.3oo.ooo e 1.4oo.ooo de seguidores, respectivamente. O mesmo ocorreu com lideranças políticas, como a ex-presidenta Dilma Rousseff (@dilmabr), a ex-ministra Marina Silva (@MarinaSilva) e a deputada federal e presidenta do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann (@gleisi).

A descontinuidade do engajamento desses perfis na manifestação dos entregadores indica o estabelecimento de um laço frágil com a causa, ainda que também evidencie como até mesmo esse tipo de laço é capaz de impulsionar o engajamento em lutas sociais no ambiente digital, amplificando as razões para a mobilização e a coordenando de ações como boicotes e impulsionamento de hashtags.

Novos Entrantes

Por fim, entre os 200 perfis que obtiveram mais retuítes na segunda manifestação, 39 foram novos entrantes, ou seja, não participaram do primeiro e se tornaram usuários de destaque no segundo. Nesse conjunto, há diversos perfis que compuseram o cluster azul, ou seja, o conjunto de usuários críticos ao ato ocorrido em 25 de julho. Entre eles, destacam-se o perfil do empresário Flávio Augusto (@geracaodevalor), com mais de 500.ooo seguidores, e perfis ligados ao partido de orientação liberal Partido Novo, como o candidato à presidência, em 2018, João Amoedo (@joaoamoedonovo), o perfil oficial da legenda (@partidonovo30), o deputado federal Paulo Ganime (@pauloganime) e o deputado estadual pelo estado de São Paulo, Daniel José (@danieljosebr). A inserção de influenciadores do debate político institucional liberal a partir da segunda manifestação corrobora a hipótese de que os protestos passaram a ser objeto de disputa, especialmente em relação às questões associadas ao estabelecimento de vínculos trabalhistas entre os entregadores e as plataformas de aplicativos.

Conclusões

O objetivo deste estudo foi examinar a dinâmica do debate público no Twitter sobre a paralisação de entregadores de aplicativo, sob a perspectiva da identidade e da ação coletiva. Para isso, construímos dois corpora compostos por 535.178 tuítes publicados em dois episódios de manifestação pública desses trabalhadores, ocorridos entre junho e julho de 2020. Realizamos uma análise temporal dos mapas de interação, buscando identificar a formação de clusters ao longo dos períodos de manifestação. Além disso, o estudo também propõe uma análise dos perfis mais influentes durante os dois episódios analisados buscando identificar o comportamento dos principais atores que participaram do debate sobre o “Breque dos Apps”.

De modo geral, a pesquisa identificou que a maior parte dos perfis que participaram do debate no Twitter sobre a paralisação dos entregadores se situa em comunidades formadas por apoiadores das pautas reivindicadas pelos manifestantes. Organizadores da manifestação, atores da política institucional e ativistas de diversos movimentos sociais estão entre os principais protagonistas do debate sobre o “Breque dos Apps” nos dois períodos analisados. Além da formação de comunidades em torno dos perfis dos entregadores que articularam e disseminaram a mensagem do movimento no ambiente do Twitter, chama a atenção o papel dos atores da política institucional à esquerda, presentes em todas as etapas da mobilização, e preponderantes em engajamento e alcance. Perfis críticos e à direita também estiveram presentes em ambos os episódios, no entanto, o que fica claro nessa avaliação temporal é a inflexão de um comportamento meramente de desapreço pelo movimento para a ocorrência de uma disputa ideológica, e em alguma medida partidária, dos campos discursivos em conflito. Os achados apontam que as noções de identidade e ação coletivas - (re)formuladas e propiciadas pela ação conectiva - atravessam necessariamente o papel dos partidos políticos na construção e manutenção dessas. Um desafio que se impõe é compreender em que medida são efetivamente estabelecidas pontes e sentidos compartilhados que estruturem a mobilização e a ação política por meio das mídias sociais, principalmente à medida que o Twitter comumente oportuniza relações de laços fracos.

Dessa maneira, ressalta-se a que a mobilização em torno dos direitos de entregadores se encontra ainda em curso, constituindo-se como uma agenda de pesquisas que deverá incorporar de modo mais aprofundado o peso e o papel das redes sociais no processo de mobilização e organização interna dos entregadores, bem como nas suas relações com atores como as plataformas, os agentes e instituições do Estado e uma ampla diversidade de movimentos sociais com pautas progressistas ou que defendem agendas como a desregulamentação do trabalho, a redução do tamanho do Estado e a desburocratização do setor público.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP) e ao pesquisador Luis Gomes pelo apoio durante o desenvolvimento da pesquisa.

Referências

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1Para mais informações sobre o conceito de “affordance”, ver Bucher e Helmond (2017).

2“Eles são meios não apenas para transmitir opiniões abstratas, mas também para dar uma forma à maneira como as pessoas se reúnem e agem juntas” (Gerbaudo, 2012, p. 4).

3O conflito entre diferentes interpretações sobre fatos, eventos e fenômenos políticos é abordado por alguns autores a partir da contraposição entre programas, anti-programas e do esforço de neutralidade no emprego de palavras-chave adotadas por atores do debate público. Para mais informações sobre isso, ver Rogers (2017).

4Estes dois métodos de coleta de dados do Twitter estão previstos na API da plataforma utilizada por este estudo (v.1.1). Para mais informações, ver https://developer.twitter.com/en/docs/twitter-api/v1

5Retirado de https://twitter.com/CorrupcaoMemes/status/1278380178469801986

6Retirado de https://twitter.com/Ilisp_org/status/1278492844144156673

7Retirado de https://twitter.com/spinellirio/status/1278357171516964866

8Retirado de https://twitter.com/Jacianaa/status/1287084235363418114

9Retirado de https://twitter.com/GeracaodeValor/status/1287816165318959104

10For more information on the concept of “affordance”, please see Bucher and Helmond (2017).

11“They are means not simply to convey abstract opinions, but also to give a shape to the way in which people come together and act together” (Gerbaudo, 2012, p. 4).

12The conflict between different interpretation of political facts, events and phenomena is approached by some authors from a contraposition of programs, anti-programs and the effort of neutrality when employing key words adopted by actors of the public debate. For more information, please see Rogers (2017).

13These two methods of data collection from Twitter are provided for in the API of the platform used for this study (v.1.1). For more information, please refer to https://developer.twitter.com/en/docs/twitter-api/v1

14Retrieved from https://twitter.com/CorrupcaoMemes/status/1278380178469801986

15Retrieved from https://twitter.com/Ilisp_org/status/1278492844144156673

16Retrieved from https://twitter.com/spinellirio/status/1278357171516964866

17Retrieved from https://twitter.com/Jacianaa/status/1287084235363418114

18Retrieved from https://twitter.com/GeracaodeValor/status/1287816165318959104

Recebido: 15 de Setembro de 2020; Aceito: 14 de Janeiro de 2021

Victor Piaia é pesquisador da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP) e doutor em sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ). Pesquisa os efeitos políticos de transformações na comunicação cotidiana, com foco em plataformas de mídias sociais e aplicativos de mensagens. Email: victor.piaia@fgv.br Morada: Praia de Botafogo, 190 - 6º andar, sala 628 - Botafogo - Rio de Janeiro/RJ - CEP 22.250-900

Eurico Matos é pesquisador da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP) e doutor em comunicação e cultura contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia. É membro do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD). Suas principais linhas de pesquisa são teorias da comunicação, comunicação política, governo digital e estudos de aplicativos. Email: eurico.neto@fgv.br Morada: Praia de Botafogo, 190 - 6º andar, sala 628, Botafogo - Rio de Janeiro/RJ, CEP 22.250-900

Sabrina Almeida é pesquisadora da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP) e doutora em ciência política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atua na área do comportamento político e as principais linhas de pesquisa são participação, capital social e intolerância política; método e análise de mídias sociais. Email: sabrina.almeida@fgv.br Morada: Praia de Botafogo, 190 - 6º andar, sala 628 - Botafogo - Rio de Janeiro/RJ - CEP 22.250-900

Dalby Dienstbach é pesquisador da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP), onde atua com linguística aplicada à análise de redes sociais. É doutor em estudos da linguagem pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Suas principais linhas de pesquisa são teoria e análise linguística, linguística cognitiva, análise de discurso e análise de redes sociais em mídias digitais. Email: dalby.hubert@fgv.br Morada: Praia de Botafogo, 190 - 6º andar, sala 628 - Botafogo - Rio de Janeiro/RJ - CEP 22.250-900

Polyana Barboza é pesquisadora da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV DAPP), onde atua com extração e análise de dados de redes sociais. É graduada em matemática aplicada pela Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV EMAp) e mestranda em informática pelo Departamento de Informática da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Suas principais linhas de pesquisa são análise de redes sociais em mídias digitais e frameworks com sistemas multi-agentes em engenharia de software. Email: polyana.barboza@fgv.br Morada: Praia de Botafogo, 190 - 6º andar, sala 628, Botafogo - Rio de Janeiro/RJ, CEP 22.250-900

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