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Comunicação e Sociedade

versão impressa ISSN 1645-2089versão On-line ISSN 2183-3575

Comunicação e Sociedade vol.40  Braga dez. 2021  Epub 20-Dez-2021

https://doi.org/10.17231/comsoc.40(2021).3207 

Artigos Temáticos

Com a Redação em Casa: Rotinas e Tensões de Mulheres Jornalistas em Tempos de Covid-19

Gladys Adriana Espinel-Rubioi 
http://orcid.org/0000-0002-8796-9257

Raúl Prada-Núñezii 
http://orcid.org/0000-0001-6145-1786

Kelly Giovanna Muñoz Balcázariii  iv 
http://orcid.org/0000-0001-7408-6108

César Augusto Hernández Suárezi 
http://orcid.org/0000-0002-7974-5560

iDepartamento de Pedagogía, Andragogía, Comunicación y Multimedia, Universidad Francisco de Paula Santander, Cúcuta, Colômbia

iiDepartamento de Ciencias Sociales, Humanas e Idiomas, Universidad Francisco de Paula Santander, Cúcuta, Colômbia

iiiPrograma de Comunicación Social, Fundación Universitaria de Popayán, Popayán, Colombia

ivUniversidad Iberoamericana, Ciudad de México, México


Abstract:

This article identifies the routines and working practices of women journalists from Colombia and Venezuela in the framework of the health emergency caused by covid-19 in the countries where they work. It is a quantitative research at a descriptive cross-sectional level in which an instrument made up of 26 questions organized into five categories of analysis was used. Categories include family-work relationship, working life, and health and well-being, and the questionnaire was applied to 110 professionals from Colombia and Venezuela. It was found that the compulsory confinement hastened the insertion of journalists in the use of information and communication technologies, applications, and software for content production. Although they were already working in digital media, they had to develop new skills in this field. For 47% of them, their working hours were extended for more than 3 hours a day, which for 79% represents family tensions, given that 38% have underage children or older adults under their care. However, during the confinement, their participation in the formation of public opinion was also expanded through their personal social networks, incorporating corruption issues and citizen complaints. Regarding their routines, it is concluded that the pandemic transformed access to information sources, newsrooms, and, therefore, the dynamics of news production, so we are faced with a new way of doing journalism that puts reporting and ethics into tension with information and communication technologies.

Keywords: women; journalists; covid-19; routines; work practices

Resumo:

Este artigo identifica as rotinas e práticas de trabalho das mulheres jornalistas na Colômbia e na Venezuela no contexto da emergência sanitária da covid-19 nos países onde trabalham. É uma investigação quantitativa a um nível descritivo transversal, na qual foi utilizado um instrumento composto por 26 perguntas, organizadas em cinco categorias de análise, que contemplam a relação familia-trabalho, a vida profissional, e a saúde e o bem-estar. O questionário foi aplicado a 110 profissionais na Colômbia e Venezuela. Verificou-se que o confinamento obrigatório apressou a adesão das jornalistas às tecnologias de informação e comunicação e a aplicações e software para a produção de conteúdos. Embora já trabalhassem em meios digitais, tiveram de desenvolver novas competências neste campo. Para 47% dessas jornalistas, o horário de trabalho foi estendido por mais de 3 horas ao dia. Isto colocou tensões familiares a 79%, dado que 38% têm crianças menores ou adultos mais velhos sob o seu cuidado. No entanto, durante o confinamento também aumentaram a sua participação na formação da opinião pública através das suas redes sociais pessoais, incorporando questões de corrupção e queixas dos cidadãos. A pandemia transformou o acesso às fontes de informação, às redações e, portanto, alterou a dinâmica da produção de notícias. Estamos perante uma nova forma de fazer jornalismo, que coloca a reportagem e a ética em tensão com as tecnologias de informação e comunicação.

Palavras-chave: mulheres; jornalistas; covid-19; rotinas; práticas de trabalho

1. Introdução

A emergência sanitária da covid-19 reformulou a vida quotidiana. As transformações na dinâmica laboral, que estavam prestes a ter lugar, acabaram por ser implementadas em várias esferas onde, apesar dos esforços de governos e empresas, os progressos foram lentos. No jornalismo, a internet e as redes sociais já tinham permitido a reconversão das dinâmicas de trabalho e das empresas de comunicação social (Campos-Freire et al., 2016), o acesso a grandes quantidades de dados (Arcila-Calderón et al., 2016) e a utilização destes como fontes (Renó & Renó, 2015), que se normalizaram como estratégias na construção de informação mediática, apesar das complexidades éticas que isso implica (Díaz-del-Campo-Lozano & Chaparro-Domínguez, 2018).

Diante deste ecossistema digital, que desafia tanto os jornalistas profissionais como os estagiários (López-García et al., 2017), perguntamo-nos se o confinamento obrigatório levou à alteração das dinâmicas familiares e ao aparecimento de novas rotinas e práticas nesta profissão, especificamente entre as mulheres, cuja presença limitada nos meios de comunicação social está ligada com a dificuldades em conciliar a vida profissional e pessoal. Nos seus estudos, Barrios e Arroyave (2007), Carreño-Malaver e Guarín-Aristizábal (2008) e Liao e Lee (2014) salientam que as jornalistas do sexo feminino notaram uma grande diferença no exercício da sua profissão de acordo com o seu estado civil, enfatizando o sacrifício das suas vidas pessoais e familiares, em comparação com o papel de jornalista. Advertiram que o cumprimento dos requisitos do cenário laboral e familiar acaba por afetar a sua saúde mental e física.

Após 25 anos da conferência de Pequim, não foram obtidas melhorias nas condições das mulheres jornalistas e na sua representação nos meios de comunicação social. Na América Latina, os estudos sobre mulheres e jornalismo têm sido marcados por análises da sub-representação das mulheres como fontes ou no processo de produção e circulação da informação (Fernández-Chapou, 2010; Torres & Silva, 2010; Valles, 2006). O relatório da instituição Comunicación e Información de la Mujer, AC (2009) observou que as mulheres são o foco central em apenas 10% das notícias que circulam nos meios de comunicação social do mundo. As vozes e opiniões das mulheres têm uma presença marginal, ou seja, há uma sub-representação de 17%. Esta situação é exacerbada quando os meios de comunicação social de um país relatam eventos que têm impacto nas mulheres de outro país (Geertsema, 2009).

De acordo com o relatório do Global Media Monitoring Project (Projecto de Monitorização Global dos Media; Macharia & Lee, 2017), as mulheres apenas reportam 37% das notícias em jornais e em noticiários na televisão e na rádio. Este número, diz o relatório, não mudou em 10 anos, embora as médias por continente flutuem como se segue: mais sete pontos em África a menos seis pontos na Ásia. Entre 2000 e 2015, a diferença diminuiu na América Latina (mais 14%) e em África (mais 11%). Todos os outros continentes registraram alterações de um dígito, com exceção da Ásia, onde a situação permaneceu inalterada. É impressionante que a proporção de mulheres que relatam notícias tenha caído em todos os tópicos, exceto ciência e saúde, onde existe proporcionalidade.

A investigação sobre a possível feminização do jornalismo (Rivero-Santamarina et al., 2015) deixou claro que, apesar do aumento das mulheres nas faculdades de ciências da informação, comunicação social ou jornalismo, a sua presença efetiva nos meios de comunicação social não se compara com o número de mulheres licenciadas.

As mulheres acabam por trabalhar em outras áreas profissionais com menor exposição à esfera pública, reduzindo assim a possibilidade de influenciarem com conteúdos e narrativas que tornam a sua voz clara ou dão voz a outras mulheres (Mellado et al., 2007).

Portanto, é necessário que as mulheres, não só no jornalismo, mas em todas as profissões, assumam a esfera pública, superando o hábito “de mantê-las privadas, discretas, permitindo-lhes uma inserção aberta e explícita na sociedade para a tomada de decisões conjuntas” (Bohórquez-Pereira et al., 2020, p. 90).

Especula-se que as mulheres jornalistas foram contratadas exclusivamente para satisfazer as necessidades do mercado e do desenvolvimento da indústria nas empresas jornalísticas nos anos 1990 (Liao & Lee, 2014).

Relativamente às crenças e às percepções sobre os papéis do género no jornalismo, de-Miguel-Pascual et al. (2019) descobriram que as formas sutis de discriminação são evidentes. As mulheres jornalistas espanholas, por exemplo, consideram que o seu trabalho “é limitado por decisões empresariais, censura, políticos e grupos de pressão” (p. 1829).

Este artigo identifica as rotinas em que as mulheres jornalistas na Colômbia e Venezuela têm estado imersas desde a emergência sanitária da covid-19; também determina os efeitos nas práticas profissionais devido às quarentenas impostas pelos governos dos países onde trabalham.

1.1. Rotinas e Práticas de Trabalho em Jornalismo

Os estudos sobre a produção de notícias ou de newsmaking foram avançados nos Estados Unidos a partir dos anos 1970; o trabalho empírico e as teorizações subsequentes de Tuchman (1983, 1999), Wolf (1997), Molotch e Lester (1974), Bohjere (1985), McQuail (1998) e Reese e Ballinger (2001) contribuíram para a construção de um quadro conceptual que na América Latina foi desenvolvido principalmente no México e na Argentina (Stange-Marcus & Salinas-Muñoz, 2015). Outros investigadores, tais como Rodrigo-Alsina (1989), De-Fontcuberta (1993), López (1995) e Borrat (1988), analisaram rotinas produtivas nos meios de comunicação social, seguros de que têm uma influência directa no conteúdo da informação (Retegui, 2017).

O newsmaking estuda as práticas jornalísticas, diferenciando-se do estudo do discurso jornalístico, ou seja, assume a produção e o produto (as notícias) como dois processos independentes. A rotina é entendida como a operação concreta de um jornalista na sua individualidade, e as práticas jornalísticas como o processo de pesquisa e de recolha de informação em relação às fontes e a avaliação dos fatos em relação a critérios de novidade.

Compreender a produção de notícias como um processo complexo e as rotinas jornalísticas como uma prática social implica compreender as formas como dialogam e se inter-relacionam com fatores materiais externos, que também influenciam a sua configuração (Stange-Marcus & Salinas-Muñoz, 2015).

Benavides (2017) assume o newsmaking “como um processo de construção da realidade social que envolve disciplinas de trabalho, concepções de tempo e espaço, noções ideológicas e hábitos culturais e profissionais” (p. 32).

Por outro lado, ao referir-se às rotinas, Retegui (2017) explica que estas não se referem exclusivamente às regras estabelecidas no manual de estilo, mas a processos internos e flexíveis que são postos em prática nas redações e que são frequentemente modificados num evento de última hora. Assim, a produção de notícias é vista como um processo complexo, com diversos factores, que fazem com que os jornalistas se movimentem entre tensões/negociações em torno desse produto.

A rotina jornalística é assim entendida como uma ação internalizada, institucional e repetitiva e apresenta também um caráter social, uma vez que a produção de notícias está sujeita a permanente intercâmbio e negociação entre profissionais dentro das suas organizações e entre os meios de comunicação social (Stange-Marcus & Salinas-Muñoz, 2015). Por seu lado, com base na procura e recolha de informação, as práticas jornalísticas definem a relação que os jornalistas têm com as suas fontes; esta relação realiza-se em cenários frequentes e altamente institucionalizados (McQuail, 1998).

A seleção das fontes é, assim, vista como um processo natural, automático e instintivo, que se enraíza na experiência e julgamento dos jornalistas e editores, uma habilidade que gradualmente partilham com os seus pares. Daí a importância das redações e conselhos editoriais, uma vez que estes espaços são reconhecidos como cenários de socialização e de troca de posições e perspectivas sobre um tema ou facto que poderia ser considerado notícia. Atualmente, a procura e a verificação da informação, dois elementos básicos do jornalismo, são afectadas pela dimensão computacional que abre um fosso entre jornalistas com formação tecnológica, capazes de praticar esta nova forma de jornalismo, e aqueles que não têm essa formação e se vêem limitados na execução das tarefas impostas pelos meios digitais ou em transição.

Neste sentido, a dimensão tecnológica terá mais peso no jornalismo e surgirão diferentes correntes jornalísticas, cujas práticas atuais estão agrupadas como movimentos ou especialidades: jornalismo multimédia, jornalismo de dados, jornalismo imersivo ou jornalismo transmediatista (López-García et al., 2017).

1.2. Mulheres Jornalistas na América Latina: Sub-Representação e Efeitos nas Suas Rotinas

Desde o século XIX que existe uma longa tradição de presença das mulheres nos meios de comunicação social. As escritoras latino-americanas desse século dividiram o seu tempo entre escrever e dirigir ou participar em jornais semanais. A peruana Clorinda Matto de Turner dirigiu o El Perú Ilustrado e foi excomungada porque publicou uma história do brasileiro Henrique Maximiano Coelho, na qual aparece um Jesus mais terreno, interessado em Maria Madalena (Guardia, 2007). No seu livro Letras Femeninas en el Periodismo Mexicano (Letras Femininas no Jornalismo Mexicano), López-Hernández (2010) remonta a 1873 e analisa a investigação que foi realizada sobre o tema, concluindo, na altura, que os estudos datam de 1917 com o trabalho realizado por Hernández-Carballido (2011) sobre a participação das mulheres no jornalismo durante a revolução mexicana.

Na imprensa escrita colombiana, as pesquisas de Melo (2017), Gil-Medina (2016), Alzate (2003) e Londoño (1990) dão conta da sua participação em jornais e revistas que visam o sexo justo (como foi chamado o feminino). No entanto, uma luta feminista no sentido atual da palavra não se desenvolveu, mas deu um contributo significativo para aumentar a consciência do estatuto da mulher. Processos semelhantes são destacados no México (Lever-Montoya, 2013), onde as mulheres jornalistas, depois de trabalharem nos seus próprios jornais ou noutros jornais, enfrentaram obstáculos para se juntarem aos media nacionais.

Na Venezuela, por exemplo, a monitorização da presença de mulheres na imprensa tem como referência Joaquina Sánchez, que esteve ativamente envolvida nos meios de comunicação depois de se ter tornado ativa na política (Ramón-Vaello, 1985). O El Rayo Azul, um semanário literário produzido em 1864 no estado de Zulia e editado por Perfecto Jiménez, é identificado como o primeiro a introduzir as mulheres no jornalismo, aceitando as suas contribuições. É provável que as mulheres venezuelanas já tivessem participado na imprensa nacional, mas não é possível encontrar dados anteriores ao semanário zuliano.

Finalmente, há dificuldades em localizar a presença de mulheres jornalistas entre os anos 1930 e 1980 na América Latina. Na Colômbia, o estudo de Carreño-Malaver e Guarín-Aristizábal (2008) identificou a posição, a origem e as práticas jornalísticas das mulheres na Colômbia desde a segunda metade do século XX até à primeira década do século XXI. Descobriram que as práticas e rotinas das jornalistas são afetadas pelo mito da beleza, maternidade, casamento e intimidação por patrões, colegas ou fontes; tornar-se mãe, por exemplo, é um processo que tem impacto na vida profissional de qualquer mulher trabalhadora com horários exigentes, mas no jornalismo pode tornar-se um obstáculo.

O seu estudo revelou a existência de tensões na relação entre género, jornalista e fonte, uma vez que “a estratégia de sedução, entendida como uma forma de cativar e ganhar confiança, é uma arma que, dependendo do jornalista, pode ajudar na busca de informação” (Carreño-Malaver & Guarín-Aristizábal, 2008, p. 84). Na mesma linha, a Fundación para la Libertad de Prensa, através de pesquisa realizada com jornalistas em várias regiões do país, descobriu que 40% das mulheres consultadas relatavam tratamento diferenciado no jornalismo devido ao seu género (Jules, 2017).

Relativamente aos efeitos sobre as rotinas jornalísticas em profissionais masculinos e femininos em três países da América Latina, Gutiérrez Atala et al. (2015) constataram que, no Chile, Colômbia e Argentina, as transformações e vicissitudes interferem no seu trabalho e condicionam o seu desempenho profissional, limitando o papel social esperado num sistema democrático.

No Equador, Rosales e Barredo (2014) verificaram que 62% das mulheres inquiridas sofreram assédio, um número “que reflete um tipo de violência estrutural no trabalho jornalístico das mulheres na cidade” (p. 93). Sobre as mulheres jornalistas que trabalham na área do desporto em Quito, Cevallos-Rueda (2019) assinalou que as suas rotinas são condicionadas por aspectos ideológicos, hierárquicos, laborais e de pressão social; para as salvar, estão preocupadas com a formação contínua e autodidata, a leitura de livros, outras notícias e a utilização de redes sociais.

Retegui (2018) verificou que a taxa de participação das mulheres nos processos do Grupo Clarín (o maior conglomerado de mídia da Argentina) é a seguinte: 13,3% das mulheres ocupam um cargo de direção no Clarín/Agea. No departamento de notícias (Clarín/Artear), apenas 10% das jornalistas femininas são editoras, sendo esta uma posição intermédia, uma vez que se encontra atrás dos chefes de seção; no entanto, a situação está a melhorar em termos de gestão da redação e de produções executivas, uma vez que 20% destas áreas são geridas por mulheres. Apesar deste número, foi determinado que 67% do sector do jornalismo gráfico se encontra em seções ou produtos suaves, áreas entendidas como sendo de hierarquia editorial inferior e/ou onde são tratadas questões tradicionalmente dominadas por mulheres.

Por sua vez, Amado (2017) descobriu que as jornalistas do sexo feminino têm uma participação minoritária nos meios de comunicação argentinos, embora os jornais promovam redações mais igualitárias do que a televisão, por exemplo.

Cepeda (2020), no seu estudo sobre a situação das mulheres jornalistas em Tamaulipas, México, concluiu que a flexibilidade necessária para as mulheres praticarem jornalismo, serem mães e subirem na carreira não existe nas estruturas dos meios de comunicação social. A isto acresce a precariedade dos salários. Na sua investigação, descobriu que os salários das jornalistas femininas são entre 1,8 e 2,5 vezes inferiores aos dos seus colegas masculinos, mesmo que trabalhem mais horas ou tenham pós-graduações.

Além disso, na América Latina, estes profissionais enfrentam também o risco de ameaças e mortes. Embora seja evidente que a taxa de homicídios na região reflete uma maior violência perpetrada contra jovens homens e em contextos urbanos, há avisos sobre o aumento do femicídio e das pressões sobre as mulheres jornalistas (De-Frutos, 2016). Ainda assim, os ataques contra elas estão geralmente relacionados com outros aspectos legais e socioculturais, e não com o exercício da sua profissão.

2. Metodologia

Os objetivos deste artigo são identificar as rotinas em que as mulheres jornalistas da Colômbia e da Venezuela têm estado imersas desde a emergência sanitária da covid-19, e determinar os efeitos nas práticas profissionais devido às quarentenas impostas pelos governos dos países onde trabalham.

2.1. Tipo de Investigação

Para o desenvolvimento desta investigação, a abordagem quantitativa foi utilizada a um nível transversal descritivo (Hernández-Sampiere et al., 2010) dado que os dados são recolhidos diretamente da fonte primária sem que os investigadores realizem qualquer processo de manipulação sobre os mesmos. Os dados são fornecidos entre 60 e 80 dias após o início do isolamento preventivo obrigatório na Colômbia. Finalmente, são utilizadas técnicas da estatística descritiva a fim de melhor caracterizar as variáveis em estudo.

2.2. População e Amostra

A população é composta por mulheres jornalistas na Colômbia e na Venezuela3. A amostragem não-probabilística foi utilizada para criar a amostra. O procedimento seguido pelos investigadores para a recolha de dados foi o seguinte:

O link para aceder ao inquérito foi enviado por email, acompanhado por uma mensagem que explicava as motivações do processo de investigação e convidava os informadores a preencher o formulário.

O email foi enviado para os endereços oficiais de Círculo de Periodistas de Bogotá; Red de Radios Universitarias de Colombia; Red de Emisoras Comunitarias de Norte de Santander; Círculo de Periodistas de Norte de Santander; Colegio Nacional de Periodistas de Venezuela e Círculo de Periodistas de El Táchira4.

O prazo para recolher os dados foi de 20 dias, durante os quais se completou um total de 110 inquéritos, o que corresponde ao tamanho da amostra.

2.3. Instrumento de Recolha de Dados

Para a recolha de dados, o inquérito foi utilizado como um instrumento sugerido para caracterização diagnóstica em estudos sociais (Falcón et al., 2019). O instrumento tinha 26 itens distribuídos em cinco categorias descritas na Tabela 1.

Tabela 1: Descrição das categorias 

Uma vez que o instrumento foi proposto pelos investigadores, foi utilizada a validação do conteúdo pelo parecer de peritos (Bohrnstedt, 1976). Foi formado um painel de cinco pessoas, entre os quais três comunicadores sociais e dois peritos em estatística. Durante três sessões de 2 horas cada, os membros do painel analisaram cada uma das categorias a serem medidas e os indicadores dentro de cada uma delas, revendo a redação de cada item juntamente com as possíveis opções de resposta.

2.4. Procedimento e Análise de Dados

Uma vez completos os aspectos a analisar para recolha de dados, o ficheiro Excel gerado pelo formulário Google foi descarregado. Os dados foram revistos para possíveis respostas anómalas e depois codificados e exportados para o SPSS versão 25, o software em que as respetivas análises estatísticas foram realizadas.

3. Resultados e Discussão

Quanto ao perfil demográfico, 73% dos informadores são cidadãs colombianas que trabalham na Colômbia, enquanto 26% são venezuelanas que trabalham em países como a Venezuela, o Chile, os Estados Unidos, o Peru e a Índia. Os restantes 1% são das Honduras ou da Argentina e trabalham no seu próprio país.

A diferença percentual entre as inquiridas colombianas e venezuelanas está associada à desconfiança que existe entre as jornalistas venezuelanas, que ainda residem no seu país, em responder aos questionários sobre a sua vida privada e profissional. Há receios de estarem ligados à oposição e de serem sancionadas pelo regime, ou vice-versa. De facto, dos 23% que concordaram em participar na investigação, a percentagem de mulheres venezuelanas que trabalham no estrangeiro é de 50%.

Em relação ao estado civil, 55% são solteiras, 25% são casadas e 15% vivem numa união consensual. A percentagem restante é separada e uma delas é viúva. Em contraste com a maioria das mulheres solteiras, Liao e Lee (2014) encontraram, no seu estudo realizado em Hong Kong, jornalistas solteiras, mas também reconhecidas pelo seu forte empenho na ética profissional. Isto confirma, tanto na Colômbia e na Venezuela, como na China, a complexidade em que as profissionais estão imersas a fim de avançar na construção de uma vida familiar.

Relativamente à relação entre família e trabalho, 42 dizem que são responsáveis por uma ou duas crianças menores, mas 34 delas também têm pelo menos um adulto mais velho sob os seus cuidados, e cinco são responsáveis pelas necessidades de uma pessoa com uma deficiência.

A Tabela 2 mostra que aproximadamente 21% das informantes afirmam que durante a emergência sanitária não receberam pressão da sua família para abandonar ou alterar o seu trabalho, embora 13% delas não tenham recebido apoio para realizar as suas tarefas domésticas. Os restantes 79% receberam pressão da família pelo seu trabalho, embora 43% delas tenham tido pessoal de apoio para realizar as tarefas domésticas.

Tabela 2: Trabalho doméstico e pressões 

Neste sentido, Lobo et al. (2017) descobriram, nas suas pesquisas com jornalistas portugueses, que, apesar da crença normalizada do equilíbrio de género nas redações, a verdade é que as mulheres jornalistas encontram restrições quando se trata de gerir as exigências familiares e laborais, devido aos horários de trabalho e às atividades inerentes à profissão.

Sobre a vida profissional, foi identificado que os meios de comunicação em que há maior desempenho feminino são os meios digitais, seguidos pela rádio e jornais. No que diz respeito aos meios de comunicação digitais, destaca-se o portal web, seguido da rádio e televisão virtuais transmitidas através de redes sociais.

Aquelas que concentram o seu trabalho na rádio encontram-se em meios de comunicação de interesse público, que na Colômbia correspondem às estações de rádio das universidades, instituições governamentais, e forças policiais e militares. Por outro lado, as profissionais que trabalham nos jornais dividem o seu trabalho entre papel e digital, dada a migração dos meios de comunicação social, mas com uma dupla responsabilidade para as mulheres jornalistas.

Finalmente, 19% das informantes afirmam que as suas atividades de trabalho estão concentradas em aspetos tais como: gestão de portais institucionais e meios de comunicação para organizações não governamentais ou universidades, outras desempenham funções de ensino e algumas criam conteúdos para meios de comunicação independentes ou especializados.

Figura 1: Meios de comunicação em que trabalham como jornalistas 

Quando questionadas sobre o cargo que ocupam nas empresas onde trabalham, foi determinado que 72% são jornalistas, 11% são diretoras, 5% são editoras e a percentagem restante ocupa outras funções, tais como: analista de comunicações, coordenadora de projectos digitais, chefe de imprensa e protocolo, anunciante, apresentadora ou produtora.

Ao determinar os efeitos do isolamento social forçado, 76% das informantes afirmam que, durante este tempo de emergência sanitária, a carga de trabalho aumentou, o que se refletiu no aumento do número de horas necessárias para realizar o seu trabalho, onde 29% precisarem de entre 1 e 3 horas, enquanto a percentagem restante diz que precisou de mais de 3 horas adicionais de trabalho diário.

Nesta linha de análise, muitas atividades de trabalho tiveram de migrar para a opção de home office como efeito de isolamento social forçado, e o jornalismo não tem sido excepção. Quando questionadas sobre esta questão, aproximadamente 83% das informantes reconhecem que a emergência sanitária as forçou a esta opção de trabalho, e, destas, 60% não voltaram aos seus empregos desde o início da pandemia, afetando as suas funções de trabalho, ajustando-as em 43% dos casos.

Isto foi evidenciado por um aumento do número de fontes a cobrir enquanto se acrescentavam tarefas tais como fazer vídeos, tirar fotografias e criar infografias, entre as atividades mais relevantes e comuns. Três casos declaram que foram demitidas das suas posições, enquanto em quatro casos declaram que a necessidade contribuiu para a sua promoção.

É evidente que, ao mudar para a opção de home office, muitas das tarefas realizadas adquiriram maior influência das tecnologias de informação e comunicação, dado que os meios digitais foram utilizados para a comunicação de conteúdos. Por esta razão, as inquiridas foram questionadas sobre as competências que tinham de adquirir para realizar as suas atividades durante este período da emergência sanitária, tendo 90% delas destacado a utilização de diferentes plataformas com as suas respetivas aplicações, seguidas de design gráfico e de websites, entre os mais importantes. Neste sentido, as mulheres jornalistas da Colômbia e da Venezuela, que não tinham dado o salto para o ecossistema digital, entraram no ecossistema digital ao apanharem as tendências internacionais e ao aceitarem as transformações.

Estas transformações, como proposto por Renó e Renó (2015), ocorrem na dinâmica da construção do discurso jornalístico: linguagem, processos, relação com as fontes (redes sociais) e uma nova redação. Outras competências desenvolvidas em nome da covid-19, mas com menos frequência, são a edição áudio e vídeo, apoio técnico de equipamento de radiodifusão, concepção de estratégias e campanhas virtuais ou cobertura ao vivo.

Segundo López-García et al. (2017), os jornalistas de hoje devem ter um perfil versátil que inclua tudo desde a utilização e gestão de redes sociais, a gestão empresarial da sua empresa (Campos-Freire et al., 2016) ou o domínio de ferramentas tecnológicas para a construção de narrativas que conduzam a redações inovadoras, típicas da revolução da comunicação móvel.

No jornalismo, é comum procurar informação de uma variedade de fontes. Devido à declaração de isolamento social obrigatório, as multidões foram proibidas e muitas actividades foram reduzidas a grupos de cinco. Perguntou-se às respondentes se as suas fontes se recusaram a realizar entrevistas presenciais durante a busca de informação, e verificou-se que em 8% dos casos esta situação tinha ocorrido, sendo as autoridades governamentais, as figuras públicas ou os profissionais de saúde os que se tinham recusado a realizar entrevistas presenciais.

Além disso, 31% dizem que no desenvolvimento das suas funções não precisam de ir às fontes, enquanto 61% argumentam que as entrevistas são realizadas por telefone, ou através de canais virtuais como o WhatsApp, Meet, Zoom, Skype, Facebook Live ou Hangouts entre os mais utilizados.

No início do isolamento social obrigatório, muitas empresas enviaram os seus trabalhadores para férias a fim de mitigar o efeito económico desta medida. Perguntou-se às inquiridas se tinham tido dias de descanso durante este período de emergência sanitária e 54% delas disseram que tinham tido os dias de descanso habituais, enquanto a percentagem restante foi dividida entre aquelas que disseram ter tido mais dias do que o habitual (12% dos casos), aquelas que disseram ter menos dias (18% dos casos) e 16% dos casos que disseram ter tido de trabalhar sem descanso durante este período.

Um compromisso dos empregadores foi o de fornecer aos seus trabalhadores os elementos de proteção necessários para evitar a propagação da covid-19. E 40 % das respondentes disseram que tinham recebido equipamentos como luvas, máscaras, gel antibacteriano e, em casos muito raros, álcool anti-séptico ou um termómetro digital; enquanto dos restantes 60% que não os tinham recebido, 50% disseram que os tinham comprado com os seus próprios recursos, enquanto 10% os tinham recebido como presentes.

Ao analisar melhor as condições de trabalho das jornalistas durante este período de emergência sanitária, foi identificado que cerca de 30% delas pensaram em demitir-se dos seus empregos, enquanto as restantes 70% dizem que a demissão não seria uma opção, e mais decisivamente 9% delas dizem que beneficiaram de bónus adicionais pelo desempenho do seu trabalho.

Finalmente, quando questionadas sobre se tinham medo de ser infectadas pela covid-19 durante o exercício das suas funções de trabalho, 57% afirmaram que tinham medo, em comparação com 43% que tinham a certeza de que tal não poderia acontecer, principalmente porque estavam a seguir instruções de prevenção, tais como não sair de casa ou utilizar todo o equipamento de proteção no caso extremo de terem de sair de casa. Deve dizer-se que o jornalismo sempre foi considerado uma profissão de alto risco (De-Frutos, 2016).

3.1. Saúde, Bem-Estar e Novas Rotinas

O interesse em saber acerca dos aspetos da educação para a saúde e se incorporaram novas rotinas de comunicação relacionadas com este tópico, levou à conclusão de que aproximadamente 65% das informantes não consideraram tornar-se youtuber, instagrammer ou blogger como um complemento à sua atividade de trabalho convencional (Tabela 3).

Tabela 3: Decidiu tornar-se uma youtuber, instagrammer ou blogger 

Aquelas que disseram ter-se aventurado como youtuber, instagrammer ou blogger pensaram numa gama diversificada de tópicos, incluindo cozinha, cuidados com crianças ou animais de estimação, movimentos ambientais, saúde e bem-estar, maquilhagem, hábitos de vida saudável, entre outros. De acordo com Liao e Lee (2014), esta situação explora a possibilidade de alguns jornalistas perceberem certos temas como exclusivamente para as mulheres, porque valorizam a sua feminilidade.

A fim de relacionar o exercício jornalístico com as medidas implementadas durante a emergência sanitária, quando foi perguntado às informadoras se os países onde trabalham tinham implementado medidas para mitigar o impacto da covid-19, verificou-se que em todos os casos a resposta foi positiva. Houve uma diversidade de opiniões sobre a implementação destas medidas, por exemplo, a Colômbia foi o primeiro país a iniciar estas medidas de contingência, seguida pelo Peru, pela Índia, pela Venezuela e pelos Estados Unidos.

No que diz respeito à informação sobre a covid-19 e às suas implicações para o seu trabalho, 70% declararam que não tinham recebido qualquer informação (Tabela 4).

Tabela 4: Recebeu formação no âmbito da covid-19 

Aquelas que afirmam ter recebido formação sobre a covid-19 tiveram uma variedade de fontes de informação e instrução, principalmente a seguradora de riscos ocupacionais, os meios de comunicação jornalísticos digitais ou a informação dada pelo Ministério da Saúde. De acordo com os resultados de um inquérito realizado pela Red Colombiana de Periodistas con Visión de Género (Red Internacional de Periodistas con Visión de Género - RIPVG, 2020), quando perguntado se tinham sofrido problemas de saúde física ou mental durante a emergência sanitária, 50% das inquiridas admitiram complicações físicas e 50% mentais.

Foi-lhes perguntado se durante esta situação de emergência se tinham tornado mais ativas nas redes sociais (Tabela 5), 100% delas disseram sim, uma vez que passam mais tempo a rever e a publicar os status no WhatsApp, Facebook ou Twitter, sobre questões pessoais, queixas de cidadãos ou a expressar posições políticas. Mas com menos frequência surgem temas como os estados de saúde mental ou a promoção e prevenção da covid-19.

Tabela 5: Redes sociais e temas consultados  

Segundo Renó e Renó (2015), a utilização das redes sociais permite aos jornalistas no século XXI descobrir informações diversas a que anteriormente não tinham acesso, a menos que fossem reveladas diretamente pela fonte, e comparam trabalhar sem redes sociais a trabalhar sem máquina de escrever na década de 1940. Além disso, é evidente que as mulheres jornalistas encontram nas redes sociais pessoais a possibilidade de publicar informação que não tem lugar nos meios de comunicação onde trabalham. O estudo de Mojica-Acevedo et al. (2019) sobre as mulheres jornalistas como líderes de opinião concluiu que estas lhes permitem fornecer informação de uma forma mais ágil e a partir da sua posição. Desta forma, dão lugar ao debate e convidam o seu público a participar em várias questões, especialmente aquelas relacionadas com a igualdade e o género.

4. Conclusões

Os resultados permitem-nos afirmar que a emergência sanitária da covid-19 transformou as rotinas e práticas profissionais das mulheres jornalistas da Colômbia e da Venezuela, afetando diretamente o número de horas (entre 9 e 13 horas por dia), mas não representou um aumento de salário. Esta situação gerou tensões familiares, dado que, para além da prática profissional, o confinamento acrescenta o cuidado direto e permanente de crianças, idosos ou pessoas com deficiência aos seus cuidados. No entanto, a demissão não é uma opção para estes profissionais, apesar de terem sofrido pressões familiares para deixarem os seus empregos.

Não há provas de ações positivas por parte das empresas jornalísticas para promover a igualdade e equidade de género dentro delas; pelo contrário, os resultados permitem-nos concluir que estas desigualdades se aprofundaram em termos de carga de trabalho, devido ao aumento do número de fontes que lhes foram atribuídas. Contudo, o estudo revela que as mulheres jornalistas tiraram partido das redes sociais e das aplicações de mensagens instantâneas para expressar as suas opiniões sobre questões como a corrupção e as queixas dos cidadãos, o que lhes abriu a possibilidade de interagir noutros canais diferentes dos meios de comunicação onde trabalham. Desta forma, dão maior visibilidade às suas vozes e criam espaços para a gerar a opinião pública, que lhes são restritos no exercício do seu trabalho jornalístico.

A emergência sanitária provocou também a necessidade de adquirir maiores competências digitais para não ficar de fora do mercado de trabalho. As mulheres jornalistas têm-se aventurado na utilização de plataformas e de aplicações para encontrar informação, bem como no design gráfico para a fazer circular, o que reitera a urgência da transformação dos currículos e da construção de novos perfis de licenciadas em programas e faculdades de comunicação e jornalismo. Assim, como o desenvolveram competências para o diálogo multidisciplinar para lhes permitir moverem-se em circuitos de produção de informação diversificados e flexíveis, mas remotos.

O confinamento e a impossibilidade de aceder pessoalmente às fontes transformaram o acesso à informação no contexto colombiano e venezuelano, o que acelerou o desenvolvimento de novas práticas dentro do jornalismo que já tinham lugar com as redes sociais e as grandes quantidade de dados (big data) noutros países. Contudo, esta prática exigirá um exercício ético na recolha de informação, porque no processo digital ou mediado pelas tecnologias de informação e de comunicação, as fontes oficiais ou as que circulam na rede permanecem, deixando de fora o contato directo com os protagonistas dos eventos, cidadãos comuns, bem como com a investigação jornalística através da imersão ou da observação dos ambientes, necessária, por exemplo, para a crónica e para o relatório.

As mulheres jornalistas relataram que não voltaram às salas de imprensa durante o confinamento, embora as restrições de mobilidade em ambos os países excluíssem os jornalistas. É preocupante, então, que estando fora do contexto da sala de redação, onde aprendem sobre práticas e tensões relativas a horários de encerramento, processos organizacionais das empresas jornalísticas e relações com editores e chefes, estejam a enfrentar o surgimento de um novo ecossistema relacional que já enfrentavam, os freelancers, por exemplo. O processo de produção de informação passará por transformações que levarão a ética jornalística aos limites.

Estamos perante uma das mudanças mais significativas no jornalismo moderno. O jornalismo pós-covid-19 será um processo em que a individualidade na produção de informação (típica das rotinas) adquirirá um novo significado? Onde talvez haja mais polarização, menos consenso, mas também menos tensões organizacionais?

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Recebido: 29 de Janeiro de 2021; Aceito: 17 de Maio de 2021

Tradução: José Ernesto Guevara

Gladys Adriana Espinel-Rubio é professora assistente do Departamento de Pedagogia, Andragogia, Comunicação e Multimédia da Faculdade de Educação, Artes e Ciências Sociais da Universidade Francisco de Paula Santander. É investigadora associada ao Colciencias e líder do grupo de investigação em comunicação e media reconhecido pelo Colciencias. As suas linhas de investigação são comunicação, fronteira e pós-conflito, jornalismo e mulheres e tecnologias de informação e comunicação. Email: gladysespinel@ufps.edu.co Morada: Edificio CREAD, segundo piso. Av. Gran Colombia N° 12E-96 Barrio Colsag, Cúcuta, Colombia

Raúl Prada-Núñez é professor associado na Universidade Francisco de Paula Santander e professor a tempo inteiro na Faculdade de Educação, Artes e Humanidades. Tem um mestrado em engenharia de análise de dados, melhoria de processos e tomada de decisões e é professor de investigação do grupo de investigação em pedagogia e prática pedagógica, com reconhecimento de investigador júnior pelo Colciencias. É diretor do viveiro de investigação em educação matemática, editor da revista Perspectives e as suas linhas de investigação são educação matemática, estatística e educação. Email: raulprada@ufps.edu.co Morada: Edificio CREAD, segundo piso. Av. Gran Colombia N° 12E-96 Barrio Colsag, Cúcuta, Colombia

Kelly Giovanna Muñoz Balcázar tem um doutoramento em ciências sociais e políticas pela Universidade Ibero-americana do México, fez um pós-doutoramento no Instituto de Geografia da Universidade Nacional Autónoma do México e um mestrado em desenvolvimento rural na Universidade Autónoma Metropolitana de Xochimilco Campus. É professora investigadora do programa de comunicação social da Fundação Universitária Popayán, Colômbia. Email: kelly.munoz01@correo.uia.mx Morada: Calle 8 N° 9-51, Popayán, Colombia

César Augusto Hernández-Suarez é professor assistente do Departamento de Pedagogia, Andragogia, Comunicação e Multimédia da Faculdade de Educação, Artes e Ciências Sociais da Universidade Francisco de Paula Santander e diretor da especialização em educação mediada por tecnologias de informação e comunicação da mesma instituição. É investigador sénior do Colciencias e líder do grupo de investigação em pedagogia e práticas pedagógicas (categoria B de Colciencias). As suas linhas de investigação são as tecnologias de informação e comunicação aplicadas à educação, educação e práticas pedagógicas e educação matemática. Email: cesaraugusto@ufps.edu.co Morada: Edificio CREAD, segundo piso. Av. Gran Colombia N° 12E-96 Barrio Colsag, Cúcuta, Colombia

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