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Comunicação e Sociedade

versão impressa ISSN 1645-2089versão On-line ISSN 2183-3575

Comunicação e Sociedade vol.42  Braga dez. 2022  Epub 25-Fev-2023

https://doi.org/10.17231/comsoc.42(2022).4025 

Varia

A Arte de Macular: Como É Recebido o Artivismo Descolonizador Feminista Pelos Jornais Italianos? O Caso da Estátua de Montanelli

iCentro de Estudos de Comunicação e Sociedade, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho, Braga, Portugal


Abstract

On March 8, 2019, during a demonstration organised on occasion of the International Women’s Day in Milan, members of the feminist collective Non Una Di Meno (not one woman less) Milano threw washable pink paint on the statue that commemorates the Italian journalist Indro Montanelli (1909-2001). The aim of exposing at a visual level the acclaimed writer’s controversial past was crucial to the group’s symbolic action. In fact, despite being a reference figure for many Italian intellectuals, Montanelli participated in the Abyssinian war in 1935 and, as a member of the fascist army, he engaged in a relationship with a 12-year-old local girl who acted as his wife and sexual object. The collective’s action, which can be labelled as a feminist decolonizing performance, has already been read as a form of artivism that manipulated the Italian’s artistic heritage with the objective of criticising the existing narrative on Italy’s colonial past. In this sense, an analysis of the resonance that journalistic coverage assigned to the event proves crucial for understanding the impact that such an action has had on Italian public opinion and the progress towards the country’s mental decolonization. This article presents the findings of a qualitative analysis conducted on a corpus of 10 online newspaper articles published in the aftermath of the artivist performance on Montanelli’s statue. The study employs Foucauldian critical discourse analysis in order to identify the rhetorical strategies used by journalists to criticise or legitimate the feminist collective’s action. Among these strategies, particular attention is paid to those discursive techniques adopted to portray the act as a form of vandalism or, on the contrary, as a form of art. The aim is to show how the discourse on art versus non-art/vandalism is used to confirm (or overcome) the discursive limits imposed by the still dominant narratives on the nation’s colonial history as well as on the disposability of “othered” women’s bodies.

Keywords: Indro Montanelli; feminist activism; gender-based violence; Italian journalism; decolonizing; Italian colonialism

Resumo

No dia 8 de março de 2019, durante uma manifestação organizada no âmbito do Dia Internacional da Mulher em Milão, membros do coletivo feminista Non Una Di Meno (nem uma mulher a menos) de Milão lançaram tinta rosa lavável sobre a estátua em homenagem ao jornalista italiano Indro Montanelli (1909-2001). O objetivo de expor visualmente o passado controverso do aclamado escritor foi crucial para a ação simbólica do grupo. Apesar de ser uma figura de referência para muitos intelectuais italianos, Montanelli participou na guerra abissínia em 1935 e, como membro do exército fascista, manteve um relacionamento com uma menina local de 12 anos que desempenhou o papel de esposa e objeto sexual. A ação do coletivo, que pode ser rotulada como uma performance feminista descolonizadora, já foi lida como uma forma de artivismo que manipulou a herança artística italiana visando criticar a narrativa vigente sobre o passado colonial italiano. Assim, para compreender o impacto que a ação teve na opinião pública italiana e o progresso para a descolonização mental do país, é crucial uma análise da ressonância que a cobertura jornalística atribuiu ao evento. Este artigo apresenta os resultados de uma análise qualitativa realizada sobre um corpus de 10 artigos de jornal online publicados na sequência da performance artivista sobre a estátua de Montanelli. O estudo utiliza a análise crítica do discurso foucaultiano para identificar as estratégias retóricas utilizadas pelos jornalistas para criticar ou legitimar a ação do coletivo feminista. Entre estas estratégias, é dada particular atenção às técnicas discursivas adotadas para retratar o ato como uma forma de vandalismo ou, pelo contrário, como uma forma de arte. O objetivo é mostrar como o discurso sobre arte versus não arte/vandalismo é usado para confirmar (ou superar) os limites discursivos impostos pelas narrativas ainda dominantes sobre a história colonial da nação, bem como sobre a disponibilidade de corpos de mulheres “alheias”.

Palavras-chave: Indro Montanelli; artivismo feminista; violência baseada no género; jornalismo italiano; descolonização; colonialismo italiano

1. Introdução

No dia 8 de março de 2019, durante uma manifestação realizada em Milão e organizada pela rede feminista italiana Non Una Di Meno4 (nem uma mulher a menos) no âmbito do Dia Internacional da Mulher, alguns participantes no evento envolveram-se numa ação performativa organizada que consistiu em lançar tinta rosa lavável sobre uma estátua de homenagem ao jornalista italiano Indro Montanelli. Para compreender as razões que levaram o coletivo feminista a alterar temporariamente a estética da estátua, devemos debruçar-nos sobre a aclamada, mas controversa figura de Indro Montanelli. Nascido em Fucecchio (Toscana) em 1909, começou a sua carreira como jornalista durante o “Ventennio” fascista, como são conhecidos os 20 anos da ditadura de Benito Mussolini (1922-1943) em Itália. Foi voluntário na guerra abissínia em 1935, como membro do exército fascista que invadiu a Etiópia2. Depois da sua breve experiência na colónia, regressou a Itália e dissociou-se progressivamente da política fascista, que começou a criticar ao ponto de ser expulso da associação nacional de jornalistas e privado da filiação no partido fascista. Durante os anos após a Segunda Guerra Mundial, Montanelli distinguiu-se como jornalista conservador e fundou o jornal de direita Il Giornale em 1974. Apesar da sua clara orientação política, a sua figura foi reabilitada mesmo nos círculos da esquerda italiana quando, no início dos anos 2000, criticou abertamente Silvio Berlusconi. Após a sua morte, em 2001, Montanelli acabou por ser considerado de modo geral a maior e mais respeitável figura do jornalismo italiano3.

Assim aconteceu, apesar das controvérsias associadas ao seu envolvimento nas práticas de concubinato, comummente referida como madamato pelos historiadores italianos (Trento, 2011), e, em particular, uma relação com Destà, uma menina abissínia de 12 anos que desempenhou o papel de esposa de Montanelli, escrava e objeto sexual durante os meses da sua empreitada colonial. O jornalista nunca lamentou publicamente a sua participação nas práticas racistas e sexistas de madamato, como demonstra a seguinte declaração, divulgada em 1969 durante uma entrevista:

parece que escolhi bem. Ela era uma menina local muito bonita e tinha 12 anos (lamento, mas em África as coisas funcionam de forma diferente). Casei-me legalmente com ela, o que significa que a comprei ao seu pai, e ela acompanhou-me com as esposas de outros membros da tropa. As esposas não seguiam a tropa todos os dias. Costumavam alcançar-nos a cada quinze dias. Nunca compreendi realmente como conseguiam encontrar-nos nessas infinitas terras da Abissínia, mas conseguiam, e com elas, a minha mulher, que, com um cesto na cabeça, costumava trazer-me roupa limpa. (Bisiach, 1969, 00:47:43)

Foi com base nos comportamentos e declarações de Montanelli que o ramo milanês da rede Non Una Di Meno decidiu organizar a performance feminista e descolonizadora da tinta rosa, que pode ser descrita como um ato de re-simbolização visando desafiar o atual regime de visibilidade que regula a negociação da memória cultural nos espaços públicos italianos. Por outras palavras, a tinta rosa funcionou como uma ferramenta para subtrair, a um nível estético, a visibilidade e o prestígio atribuídos à figura de um colonizador branco, masculino e patriarcal, recuperando da invisibilidade a figura esquecida de Destà. Uma forma de descolonização simbólica feminista, a ação do coletivo já foi lida, nos círculos académicos, como uma forma de artivismo que manipulou a herança artística italiana com o objetivo de desencadear “o debate junto do grande público em torno da narrativa canonizada do passado colonial da Itália” (Lissi, 2019, p. 6). Como Stefano Lissi (2019) afirmou, esta narrativa canonizada gira em torno do mito enganador das práticas colonizadoras suaves da Itália fomentada por reconstruções históricas institucionais que retratavam os italianos como “bons colonizadores” interessados em promover um processo de civilizações e não na implementação daquelas ações violentas de conquista que caracterizam infamemente as ocupações francesas, belgas e britânicas do solo africano. Só nos últimos anos (designadamente a partir dos anos 90) historiadores e ativistas começaram a desafiar esta retórica dominante, quando começaram a revelar as crueldades praticadas pelos soldados italianos na Etiópia, fazendo assim uma revelação completa da falsa narrativa promovida pelo fascismo e continuada pelas elites políticas no período pós-guerra (Del Boca, 1998; Endaylalu, 2018; Jedlowski, 2011; Leone, 2011; Pankhurst, 1999). Ainda mais recentemente, a interseção de atos racistas de invasão e práticas de objetificação de género de mulheres etíopes e eritreias foi exposta no discurso histórico em Itália (Giuliani, 2018; Houérou, 2015; Ponzanesi, 2012; Trento, 2012). Académicos como Gaia Giuliani (2018, p. 67) destacaram como o mito sexista do viril colonizador fascista, retratado como sendo incumbido de dominar a natureza e promover uma boa modernização, sustentou perfeitamente operações subtis e perigosas de subjugação contra as outras colonizadas, especialmente se femininas.

A performance da tinta rosa da Non Una Di Meno deve ser lida como uma tentativa bem-sucedida de inscrever no “texto-cidade”, ou seja, nomes de ruas e estátuas que comemoram eventos ou indivíduos passados (Palonen, 2008, pp. 219-220), os sinais de um contra discurso que contribui para problematizar as crónicas oficiais. Por outras palavras, é uma ação que, com Chantal Mouffe (2007), podemos considerar como parte dessa contínua “luta agonista” que se opõe aos “projetos hegemónicos [a ordem hegemónica e uma contra-hegemónica] que nunca podem ser reconciliados racionalmente”, “construções precárias e pragmáticas que podem ser desarticuladas e transformadas” (p. 3). Foi precisamente esta incompatibilidade visualmente exposta através da ação do coletivo feminista, que diferiu significativamente do famoso fenómeno de encaixotar estátuas de colonizadores racistas que se espalhou por todo o globo entre 2019 e 2020 como resultado da insurreição da onda da “Black Lives Matter” (as vidas dos negros importam). O ato de derrubar ou remover estátuas que marcou as práticas do recente movimento descolonizador que visava apagar do texto da cidade a presença do símbolo colonial, negligenciando ou ignorando assim a relevância que esses símbolos, quer queiramos, quer não, ainda têm em outras esferas da memória cultural das nossas sociedades. Por outro lado, a performance da Non Una Di Meno modificou temporariamente o monumento e, ao fazê-lo, tornou visível a contínua e produtiva dialética entre os discursos hegemónicos e contra-hegemónicos. A ação do coletivo feminista italiano, sendo um sinal expressivo e apelativo das controvérsias em curso sobre o legado colonial, amplificou os debates sobre a Itália, as suas ex-colónias, o racismo e o género, atingindo rapidamente a esfera dos principais meios de comunicação social.

2. Objetivo e Metodologia

À luz do enquadramento teórico acima referido, este artigo propõe um estudo da resposta à operação de pintura rosa com o intuito de compreender que efeitos a performance teve num plano discursivo extremamente popular, o do jornalismo online, e que discurso (se o hegemónico, o contra-hegemónico ou ambos, para usar a categorização de Mouffe, 2007) fez a cobertura do evento reproduzir ou ecoar. Apresenta os resultados de uma análise qualitativa realizada sobre um corpus de 10 artigos publicados na sequência da performance artivista sobre a estátua de Montanelli, numa seleção de 10 dos mais populares jornais online italianos. Os jornais não têm, na sua maioria, conotações políticas específicas, tais como Il Post, La Repubblica, Il Giorno, Il Corriere della Sera, Ansa, Milano Today, Globalist e Fanpage. No entanto, o corpus inclui um jornal tradicionalmente associado à esquerda italiana, Il Manifesto, e Il Giornale, jornal fundado por Indro Montanelli, que está ligado ao meio da política conservadora e de direita italiana. As razões desta escolha podem ser remetidas para as observações de Daniel Hallin e Paolo Mancini (2004) sobre as peculiaridades do jornalismo italiano, que pertence ao “modelo pluralista mediterrânico ou polarizado” e é historicamente influenciado por filiações políticas (p. 210). Neste sentido, a inclusão de Il Manifesto e Il Giornale permite avaliar as diferenças na perceção da ação de Non Una Di Meno entre os planos liberais e conservadores discursivos. Os artigos foram selecionados através de uma pesquisa com base em palavras-chave (palavra-chave: “Montanelli statua” [estátua de Montanelli]/“Montanelli statua” + nome do jornal) realizada nos sites dos jornais e no Google. A pesquisa resultou num corpus de 10 artigos, e nenhuma outra seleção foi feita pela autora do presente estudo. O período de publicação dos artigos selecionado foi de 1 de março de 2019 a 31 de março de 2019, fornecendo à pesquisa uma amostra das reações jornalísticas produzidas no rescaldo do evento artivista.

O estudo utilizou a metodologia da análise crítica discursiva foucaultiana (Jäger & Maier, 2009). Esta metodologia foi utilizada para identificar as estratégias retóricas adotadas pelos jornalistas para legitimar ou criticar a ação do coletivo feminista, ou seja, para abraçar o contradiscurso ou reproduzir o discurso hegemónico, respetivamente. Entre estas estratégias retóricas, foi dada particular atenção às técnicas discursivas adotadas para retratar Montanelli e os seus atos. As escolhas lexicais, assim como a inclusão e o endosso de declarações externas sobre o comportamento do jornalista, foram consideradas para averiguar a proximidade da cobertura ao éthos do grupo feminista de denunciar a atitude colonizadora e misógina de Montanelli. Além disso, o artigo analisa a descrição do ato artivista, dando particular atenção à gama de símbolos coletivos ou topoi utilizados pelos jornalistas. Segundo Sigfried Jäger e Florentine Maier (2009), os símbolos coletivos “fornecem o repertório de imagens a partir do qual construímos uma imagem da realidade para nós próprios. Através dos símbolos coletivos, interpretamos a realidade e temos a realidade interpretada para nós, especialmente pelos meios de comunicação social” (p. 49). Ao analisar como os símbolos coletivos são utilizados na cobertura jornalística para classificar o ato artivista como uma forma de vandalismo ou como uma forma de arte, o objetivo é mostrar como uma figura comum que opõe a sujidade à limpeza ou a desfiguração à beleza é utilizada para confirmar ou desafiar os “limites discursivos” (Jäger & Maier, 2009, p. 47) impostos pelas narrativas sobre a história colonial da nação.

3. Análise. Abraçar o Contradiscurso

A análise mostra como a ação de Non Una Di Meno resultou numa cobertura jornalística que geralmente condena Indro Montanelli pela sua participação nas práticas de madamato com uma menor. O que contribui fecundamente para a problematização da retórica dominante que retrata o colonialismo italiano como não prejudicial ou gentil, e ajuda a identificar as atitudes sexistas e racistas que caracterizaram a invasão fascista da Etiópia e Eritreia.

A principal e mais frequente estratégia utilizada pelos jornalistas para denunciar os atos e declarações controversas de Montanelli consiste na inclusão da declaração de Non Una Di Meno nos seus artigos. Esta é a declaração de como ela é, na maioria das vezes, relatada pela maioria dos jornais considerados na análise, mostrando o quão bem descrita é a prática exploradora de Montanelli.

Estas são as palavras proferidas por Indro Montanelli sobre a sua experiência colonial: “Ela tinha doze anos... aos doze, aquelas [mulheres africanas] já eram mulheres. Eu comprei-a ao seu pai em Saganeiti, assim como um cavalo e uma espingarda. Paguei por tudo 500 liras. Ela era um animalzinho obediente, e eu construí-lhe um tucul (uma construção circular simples com um telhado cónico feito com barro e palha) com algumas galinhas. Depois, a cada quinze dias, ela costumava ir ter comigo aonde quer que eu estivesse, com as outras esposas... ela costumava chegar com um cesto na cabeça e roupa limpa” (entrevista concedida a Enzo Biagi para a emissora RAI em 1982). Serão estes os homens que devemos admirar? (Non Una Di Meno - Milano, 2019)

Esta afirmação, que contém as declarações de Montanelli, bem como as críticas do coletivo feminista às mesmas, é frequentemente reproduzida pelos jornalistas sem a presença de outros juízos, que podem ser interpretados, a um nível discursivo, como um endosso implícito. Oito em cada 10 artigos utilizam esta técnica (Il Post; Il Giornale; Il Manifesto; Milano Today; Ansa; Globalist; La Repubblica; Il Giorno). Entre estes, o artigo do conservador Il Giornale, onde a declaração é relatada sem comentários, apesar de ser precedida por um título publicitário (“Montanelli Imbrattato e Delirio ‘Rosa’”; Montanelli Maculado e Delírio “Rosa”; Il Giornale, 10 de março de 2019). No mesmo artigo, a afirmação é seguida por um parágrafo em que a ação do coletivo é descrita como decorrente do clima de protestos feministas que deu origem a uma ação contra uma rotunda com o nome do militante de extrema-direita Sergio Ramelli em Perugia.

Outra demonstração da tendência geral expressa pelos autores dos artigos analisados para culpar implicitamente Montanelli é o facto de a declaração de Non Una Di Meno ser frequentemente seguida por outras estratégias indiretas para condenar o comportamento do homem, tais como a inclusão de outras palavras abertamente controversas que Montanelli disse sobre o caso (Il Manifesto) ou pela menção das opiniões de outras feministas sobre a figura do jornalista (Il Post). Entre as mais pungentes está a referência, mencionada por Il Post, às perguntas desafiantes que a feminista e afrodescendente Elvira Banotti fez a Montanelli durante a entrevista televisiva já citada, publicada em 1969 para Giovanni Bisiach. Aqui está um excerto, tal como é relatado por Il Post (10 de março de 2019):

Banotti: “Acaba de afirmar que tinha uma mulher de 12 anos (digamos assim) e que aos 25, simplesmente não se preocupou com isso porque ‘Em África, faz-se este tipo de coisas’. Gostaria de perguntar-lhe como concebe as suas relações com as mulheres” Montanelli: “Lamento, senhora, mas em relação à violência... não houve violência porque as meninas na Abissínia casam-se aos 12 anos” Banotti: “Isso é o que o senhor diz” Montanelli: “Na altura, funcionava assim” Banotti: “No plano da consciência pessoal, a relação com uma criança de 12 anos é uma relação com uma criança de 12 anos. Se fizer isto na Europa, pensaríamos na violação de uma menina, certo?” Montanelli: “Sim, na Europa, sim, mas...” Banotti: “Precisamente. Que diferenças pensa que existem a nível psicológico ou mesmo físico?” Montanelli: “Não, veja. Ali, eles casam aos 12 anos. E pronto”.

Para além disto, que contribui claramente para descrever a conduta do homem como desprezível, a maioria dos jornalistas decide relatar nos seus artigos material como a resposta discutível de Montanelli a uma leitora mulher que comentou a sua figura no jornal onde ele escrevia (Il Post); a opinião de historiadores ou especialistas que contextualizaram o comportamento de Montanelli sublinhando a existência de uma lei contra as relações sexuais com menores de 14 anos que estava na altura em vigor em Itália (Il Manifesto; Il Post); a declaração de I sentinelli (as sentinelas), um grupo que apoiou a ação de Non Una Di Meno (Il Giorno; Globalist; La Repubblica; Il Giornale; Ansa). Tudo isto, referido em seis dos 10 artigos, constitui uma condenação implícita das ações de Montanelli.

As escolhas lexicais também destacam a propensão do artigo para condenar o ato de Montanelli de comprar e casar com uma menina de 12 anos. Em alguns casos, as escolhas lexicais do jornalista envolvem o emprego de adjetivos fortes como “pedofilo” (pedófilo) ou “schiavista” (esclavagista), bem como o uso de palavras como “stupro” (estupro; Il Post, 10 de março de 2019; Milano Today, 9 de março de 2019; Globalist, 9 de março de 2019), que, em duas ocasiões, são claramente expostas na secção do título (Milano Today). As escolhas lexicais acima mencionadas sublinham a intenção de construir nós discursivos (Jäger & Maier, 2009, p. 48), ou seja, enredar o discurso sobre o empreendimento colonial com o discurso sobre a violência. Prova disso é o facto de três dos 10 artigos (Il Post; Il Manifesto; Fanpage) utilizarem referências implícitas ou explícitas ao fenómeno da violência baseada no género como uma técnica discursiva para mostrar os aspetos controversos do comportamento de Montanelli. No caso do jornal progressista/de esquerda Il Manifesto, por exemplo, a ligação com o tema discutido da violência contra as mulheres é sugerida não só no texto, mas também pela escolha da imagem, que pertence ao repertório limitado de imagens que os jornalistas italianos utilizam nas coberturas de casos de violência contra as mulheres. Il Manifesto também discute a questão das mutilações genitais femininas, e a infibulação em particular, geralmente abordada sob a categoria de violência baseada no género, sendo esta uma “manifestação de desigualdade de género” (Office of the High Commissioner for Human Rights et al., 2008, pp. 5-6). A infibulação é descrita pela Organização Mundial de Saúde como se segue: “estreitamento do orifício vaginal através da criação de uma membrana selante, pelo corte e aposição dos pequenos lábios e/ou dos grandes lábios, com ou sem excisão do clítoris” (Office of the High Commissioner for Human Rights et al., 2008, p. 24) A referência à infibulação é viabilizada pelas próprias palavras de Montanelli, que descrevem, num artigo escrito para a coluna “La Stanza di Montanelli” (A Sala de Montanelli), para o jornal Il Corriere della Sera, e subsequentemente republicado online em La Voce Della Sera (Montanelli, 2020), o difícil processo de iniciar relações sexuais com uma menina infibulada como aquela com quem ele casou. O artigo menciona a brutalidade a que as meninas infibuladas são condenadas quando têm relações sexuais (o homem deve, de facto, cortar a entrada vaginal reduzida para tornar a penetração possível), e a total incapacidade da jovem para experimentar prazer sexual que resulta da remoção do clítoris, alimentando assim a denúncia da cumplicidade de Montanelli com o sistema patriarcal de exploração:

a infibulação envolve o corte do clitóris, pequenos lábios e grandes lábios, bem como o ato de coser a vagina, que deixa um orifício grande como uma botoeira. Quando a mulher se casa, o marido precisa de abrir a botoeira brilhante com uma faca, para poder penetrá-la. A primeira abolição deste tipo de excisão foi promulgada pela Guiné em 1965. Será preciso dizer mais para questionar como um famoso jornalista, em 2000, com 91 anos, pode contar tal experiência sem mostrar um pouco de remorso? (Il Manifesto, 12 de março de 2019)

Além disso, tanto Il Manifesto como o jornal Il Post definem o ato de Montanelli como violência sexual considerando as investigações históricas que demonstram que na época, a pedofilia foi identificada como crime pelo sistema penal fascista (Codice Rocco, Artigo 519) e que a relação sexual com menores de catorze anos foi automaticamente considerada abuso nos termos da lei.

4. Análise. Confirmar o Discurso Hegemónico e os Seus “Limites Discursivos”

Todos os artigos analisados mostram um claro enfoque discursivo sobre a figura de Indro Montanelli, enquanto as estratégias retóricas que transferem o enfoque narrativo para a figura da vítima estão ausentes. Isto pode ser interpretado como uma traição à ação performativa de Non Una Di Meno, que, como já foi dito, visava dar nova visibilidade à menina de 12 anos que o jornalista italiano subjugou como a sua “madama”. Tal é evidente pelo facto de o nome da menina, Destà, nunca ser mencionado no corpus e pela presença esmagadora de construções sintáticas onde Montanelli aparece no papel do sujeito e Destà no do objeto. De acordo com os estudos existentes (Abis & Orrù, 2017, p. 21; Boyle, 2005, p. 84; Bullock & Cubert, 2002, p. 493; Mandolini, 2019, p. 262; McNeill, 1992; Meyers, 1996, pp. 65-66), esta é uma das tendências mais generalizadas na cobertura que os meios de comunicação social dão à violência baseada no género, e pode ser descrita como problemática porque não reconhece a subjetividade feminina e, consequentemente, a experiência de violência da vítima. No entanto, esta propensão para privilegiar uma acusação implícita ou explícita do perpetrador destaca a crítica geral com que os atos de Monanelli são tratados, testemunhando o impacto geralmente positivo que a operação de Non Una Di Meno parece ter tido na representação, através dos jornais online italianos, da figura de Montanelli como controversa e, consequentemente, do empreendimento colonial em que participou como explorador.

Apesar deste impacto globalmente positivo, a análise sugere a presença de um preconceito significativo em relação à performance da tinta rosa, muitas vezes descrita como uma forma de vandalismo e desprovida dos seus valores estéticos. Se excluirmos o Il Manifesto de esquerda, todos os jornais do corpus rotulam a ação de atirar tinta rosa lavável sobre a estátua do jornalista como um ato de vandalismo, maculador ou comportamento incivilizado. A recorrência do verbo “imbrattare”, que em italiano significa “macular” e está geralmente associado ao ato negativo de fazer algo sujo ou visualmente desagradável, é impressionante já que é usado em nove dos 10 artigos (Il Post; Il Giorno; Il Giornale; Milano Today; Repubblica; Fanpage; Globalist; Ansa; Il Corriere della Sera) e se repete mais de uma vez na maioria deles. Também são comuns as referências ao vandalismo, uma vez que a palavra ou as suas derivações são usadas por sete jornais (Il Corriere della Sera; Milano Today; Ansa; Globalist; Repubblica; Il Giornale; Il Giorno). A inclusão do termo em três deles (Ansa; Globalist; La Repubblica) é o resultado da reprodução de declarações de outros sujeitos ou associações, mas nos restantes quatro (Il Corriere della Sera; Milano Today; Il Giornale; Il Giorno) aparece como uma escolha lexical clara do jornalista. No caso do segundo grupo de artigos, a palavra “vandalismo” é claramente empregue para descrever o ato e, consequentemente, para depreciar a iniciativa do coletivo feminista de organizar uma manifestação. Entre os exemplos, contam-se estes retirados de Il Giorno e Il Corriere della Sera, onde a intenção do jornalista é claramente a de apresentar a operação de Non Una Di Meno como vandalismo:

no dia 8 de março, uma manifestação com 15.000 pessoas tomou as ruas da cidade para reclamar os direitos das mulheres: mas o evento organizado por Non Una Di Meno em Milão incluiu também um ato de vandalismo contra a estátua em homenagem a Indro Montanelli. (Il Giorno, 9 de março de 2019)

A comemoração do dia dedicado às mulheres na sexta-feira passada ficou marcada não só pelo desfile que contou com a presença de 15.000 pessoas, mas também por atos de vandalismo. Entre estes, a maculação da estátua de Montanelli. No sábado de manhã, os trabalhadores da Amsa interviram para a limpar. (Il Corriere della Sera, 9 de março de 2019)

Esta representação da operação artivista como maculadora e ato de vandalismo, associada ao uso da figura do comportamento incivilizado (que se repete uma vez no corpus, designadamente no artigo publicado por Milano Today), está geralmente relacionada com uma tendência para insistir na categoria semântica da limpeza. O artigo do Il Corriere della Sera, por exemplo, incide completamente na descrição do processo de limpeza que a câmara municipal de Milão ordenou um dia após o ato do coletivo feminista. Também o jornal Milano Today começa por relatar a notícia da limpeza e continua a tratar o ato como um desacato. A repetição desta figura ou símbolo coletivo demonstra a decisão dos repórteres de confirmar ainda mais a categorização da atuação do coletivo feminista como um ato de maculação e adulteração que precisava de ser lavado e polido. Além disso, apenas um artigo (Il Post) menciona o facto de a tinta rosa ser lavável. Esta omissão não é um pormenor insignificante que teria claramente condicionado a possibilidade de rotular a ação como vandalismo incivilizado. No corpus, as referências textuais à dimensão estética da operação idealizada pelo coletivo feminista italiano são raras, e, quando existem, nunca são explícitas. Apesar de, a nível académico, a operação poder ser facilmente rotulada como uma forma de artivismo ou ativismo artístico, ou seja, uma ação ativista que emprega as ferramentas da criação artística, interferindo assim diretamente nas esferas estética e simbólica da comunicação política (Groys, 2014, p. 1), este aspeto é quase completamente apagado da cobertura jornalística do evento. I sentinelli di Milano, um grupo milanês que apoiou Non Una Di Meno na organização do protesto de rua, faz uma descrição vagamente estética do ato de atirar tinta rosa lavável sobre o monumento de Montanelli. Esta declaração, frequentemente relatada nos artigos analisados, refere: “a estátua de Indro Montanelli ficou cor-de-rosa para cobrir o preto das coisas horríveis que ele fez na sua vida. Não devemos esquecer” (I sentinelli di Milano, 2019). Aqui, a insistência na escolha das cores rosa versus preto que sustenta claramente a ação artivista é destacada e usada retoricamente para sugerir uma ligação entre a dimensão estética e a dimensão política, precisamente o objetivo do artivismo. Contudo, a referência ao artivismo permanece críptica e implícita, não permitindo considerar a reprodução da afirmação como um reconhecimento real do protesto como uma forma de artivismo.

A análise do corpus evidencia ainda a propensão de alguns jornais para condenar a ação como vandalismo no plano do discurso textual e, por outro lado, para a legitimar como esteticamente relevante a nível visual. Para o fazer, os jornalistas incluem galerias de fotos nos seus artigos e documentam em pormenor a ação artivista e abordam-na visualmente como um objeto que merece uma contemplação estética, como nos casos de Il Giorno e La Repubblica. Este tratamento é evidenciado pela seleção de diferentes enquadramentos, contextos e luzes feita pelos fotógrafos, que atribuem à estátua meio rosa múltiplas conotações estéticas e a representam como um objeto de interesse fotográfico. Aspeto extraordinariamente ilustrado por uma fotografia tirada do jornal La Repubblica, onde dois transeuntes são fotografados enquanto fotografam o monumento re-simbolizado. Curiosamente, a galeria fotográfica de Il Giorno acompanha as fotografias com uma legenda que reproduz, textualmente, as acusações de vandalismo, já que a estátua é descrita como “imbrattata di rosa” (maculada com tinta rosa). Esta discursividade contraditória, que se vale de diferentes modalidades (textual e visual) para comunicar mensagens antagónicas, pode ser considerada representativa das tendências que regulam todo o corpus de artigos analisados, onde a propensão para considerar as acusações de Non Una Di Meno contra Montanelli e os seus atos é paradoxalmente contra-balançada por uma resistência discursiva aos métodos e atividades do grupo feminista.

5. Conclusões

A análise mostra claramente a coexistência, nas práticas de reportagem utilizadas pelos jornalistas que cobriram o caso de 8 de março de 2019, de dois sentidos discursivos opostos: por um lado, a clara condenação do comportamento de Montanelli, que pode ser interpretado como o resultado do esforço de Non Una Di Meno para desafiar com um contradiscurso a retórica do bom colonizador italiano. Por outro lado, a propensão para ignorar a dimensão estética da operação artivista idealizada pelo coletivo feminista, apenas parcial e indiretamente matizada pela presença de representações estéticas dispersas da estátua pintada. Esta última propensão, pode ser rotulada como um “limite discursivo” (Jäger & Maier, 2009, p. 47) porque impõe um tabu, limita as possibilidades do discurso dizendo implicitamente que não é possível qualificar a ação do coletivo como arte. Esta restrição discursiva é aplicada de forma recorrente através de referências frequentes às áreas semânticas de vandalismo, mácula, comportamento incivilizado e sujidade. O não reconhecimento da operação dos ativistas como artística é particularmente perturbador porque realça a incapacidade dos jornalistas em aceitar qualquer mudança visível no regime de iconicidade que domina a cidade em relação ao passado italiano. O que corresponde à afirmação da inalterabilidade da ordem simbólica que legitima a memória cultural dos italianos como bons colonizadores. À luz desta coexistência de posições discursivas opostas, as ideias de incompatibilidade e processos discursivos antagónicos de Chantal Mouffe podem ser aplicadas ao caso da estátua de Montanelli, onde a cidade, tal como a plataforma mais tradicional do texto, é claramente um campo de batalha para a afirmação lenta e gradual de novas narrativas históricas, mais respeitosas, inclusivas e verdadeiras. Considerando esta abordagem, a prática artivista de Non Una Di Meno revelou-se bem-sucedida ao atingir o objetivo que, segundo Mouffe (2007), deveria orientar a arte crítica, aquele tipo de arte “que fomenta o dissenso, que torna visível o que o consenso dominante tende a obscurecer e obliterar” (p. 4).

Agradecimentos

Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto UIDB/00736/2020 (financiamento base) e UIDP/00736/2020 (financiamento programático).

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Recebido: 08 de Abril de 2022; Aceito: 04 de Junho de 2022

Tradução: Anabela Delgado

Nicoletta Mandolini é investigadora júnior da Fundação para a Ciência e a Tecnologia no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho (Portugal), onde está a trabalhar no projecto Sketch Her Story and Make It Popular. Using Graphic Narratives in Italian and Lusophone Feminist Activism Against Gender Violence (Esboçar a Sua História e Torná-la Popular. Usando Narrativas Gráficas do Ativismo Feminista Italiano e Lusófono Contra a Violência de Género; https://www.sketchthatstory.com/). Trabalhou como investigadora pós-doutorada na Research Foundation - Flanders na KU Leuven (Bélgica) e é doutorada pelo Universidade College Cork (Irlanda). É autora da monografia Representations of Lethal Gender-Based Violence in Italy Between Journalism and Literature: Femminicidio Narratives (Representações da Violência Letal de Género em Itália Entre Jornalismo e Literatura: Narrativas de Feminicidio; Routledge, 2021). Entre outros artigos sobre o abuso sexista na literatura e nos média contemporâneos, coeditou o volume Rappresentare la Violenza di Genere. Sguardi Femministi tra Critica, Attivismo e Scrittura (Representar a Violência de Género. Perspetivas Feministas entre Crítica, Ativismo e Escrita; Mimesis, 2018). É membro ativo do grupo sobre violência, conflito e género do Centre for Advanced Studies in Languages and Cultures, do qual foi coorganizadora desde 2016 até 2019. É membro fundador do Studying’n’Investigating Fumetti. Email: nicoletta.mandolini@ics.uminho.pt Morada: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho, 4710-057 Gualtar, Braga, Portugal

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