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Comunicação e Sociedade

versión impresa ISSN 1645-2089versión On-line ISSN 2183-3575

Comunicação e Sociedade vol.44  Braga dic. 2023  Epub 31-Dic-2023

https://doi.org/10.17231/comsoc.44(2023).4751 

Artigo Temático

Estudo Bibliométrico Sobre Jornalismo de Qualidade na Base de Dados Scopus: Evolução do Tema e Características

Luisa del Carmen Martínez García1  , Curadoria dos dados, análise formal, visualização
http://orcid.org/0000-0002-1304-5326

Edson Capoano2  , Análise formal, redação do rascunho original, redação - revisão e edição
http://orcid.org/0000-0001-6766-802X

1 Departamento de Comunicación Audiovisual y Publicidad, Universitat Autònoma de Barcelona, Barcelona, Espanha

2 Departamento de Jornalismo, Escola Superior de Propaganda e Marketing, São Paulo, Brasil


Resumo

Este artigo pretende descrever a evolução da produção acadêmica sobre o binômio jornalismo e qualidade, a partir do estudo bibliométrico e análise de conteúdo da base de dados Scopus, através de busca do termo. Para tal, são apresentadas análises automatizadas do sistema Scopus e mapas das redes sobre os termos dos artigos, através da ferramenta VOSviewer. O objetivo é descrever as características da produção científica e o impacto da pesquisa no campo de estudo do jornalismo de qualidade e identificar tendências neste campo de pesquisa. A amostra do estudo é composta por 971 artigos de pesquisa publicados entre os anos de 1939 e 2022 e indexados na Scopus, levados em consideração apenas artigos de pesquisa publicados na área de ciências sociais em qualquer idioma.

Os resultados indicam que o interesse sobre a qualidade do jornalismo cresce nas revistas científicas analisadas a partir do século XXI e com predominância de países ocidentais, apesar da tendência de crescimento nos países orientais. Os Estados Unidos são a origem do maior número de artigos, de citações e de primeiros autores; as três revistas que mais publicam sobre qualidade do jornalismo também são anglo-saxônicas. Há desenvolvimento de clusters de investigações sobre o objeto de estudo fora desse eixo, capitaneados pela produção científica espanhola e portuguesa. A análise bibliométrica também mostra a evolução dos temas relacionados com a qualidade do jornalismo.

Palavras-chave: qualidade do jornalismo; Scopus; estudo bibliométrico; análise de conteúdo

Abstract

This article uses a term search to describe how academic work on the relationship between journalism and quality has evolved. It relies on a bibliometric study and content analysis of the Scopus database. Using the VOSviewer tool, this article presents automated analyses of the Scopus system and network maps that pertain to article terms. The goal is to outline scientific production’s features and the impact of research on quality journalism identifying emerging trends in this research area. The study sample consists of 971 research articles published between 1939 and 2022, specifically focusing on social sciences articles across various languages, indexed in Scopus.

The findings suggest a rising interest in journalism quality within analysed scientific journals, especially in the 21st century, predominantly in Western countries, despite a growing trend in Eastern countries. The United States is the primary source for articles, citations, and first authors. Additionally, the three journals publishing most on journalism quality are of Anglo-Saxon origin. Research clusters are developed on the object of study outside this axis, led by Spanish and Portuguese scientific production. The bibliometric analysis also shows the evolution of topics related to journalism quality.

Keywords: journalism quality; Scopus; bibliometric study; content analysis

1. Introdução

A qualidade do jornalismo é fundamental para a credibilidade do campo, seja para o papel dos mídia em informar o público, seja para contribuir para a formação de opinião pública. Regularmente, a ideia de qualidade do jornalismo está atrelada à qualidade da informação oferecida por este, através das notícias. Por esse aspecto, é preciso garantir que as informações noticiadas sejam precisas, objetivas e baseadas em fatos verificáveis, sem a distorção deliberada desses. Nesse âmbito, é preciso levar-se em conta a relevância das informações para o público, a profundidade da cobertura e a clareza da linguagem utilizada para comunicar as informações de forma compreensível. Assim, é comum encontrar-se artigos científicos que se referem à precisão, relevância, imparcialidade, clareza e profundidade da informação apresentada pelos meios de comunicação (Kovach & Rosenstiel, 2021; McQuail, 2010).

Contudo, há outras formas para compreender o que se considera qualidade do jornalismo para além da notícia, como pelos processos, pela precisão da informação, pelo negócio jornalístico ou pelos suportes midiáticos. Em estudos das ciências da informação, compreende-se qualidade ou conhecimento como objeto ou conteúdo a ser desenvolvido, comprado, possuído ou vendido, com foco nos aspectos objetivos e subjetivos da informação. Ferreira (2011), por exemplo, identificou o que é a qualidade da informação em artigos de periódicos e atas de eventos científicos da área das ciências da informação, da comunicação e do jornalismo em língua inglesa, entre 1974 e 2009. Foram detetados 101 atributos, reorganizados em 40 atributos de qualidade através de três grandes categorias: “meio”, “conteúdo” e “uso”. Já nos estudos das ciências da comunicação, há uma tensão entre conceitos tradicionais sobre a qualidade para o campo, como a diversidade das fontes ou a polifonia, a variedade temática, a promoção de cidadania e a representação do debate público (Shoemaker & Reese, 1996), e conceitos comuns às ciências da informação (Tuominen et al., 2005), introduzidos nas ciências da comunicação, graças ao processo de digitalização e de convergência do campo jornalístico no século XXI (Jenkins, 2006; Salaverría Aliaga et al., 2010). Finalmente, qualidade da informação em jornalismo pode ser definida como a atividade profissional de compilar, analisar e divulgar informações atuais, com base em normativos legais e um código deontológico (Society of Professional Journalists, 2014), bem como pelos aspectos do negócio em que se enquadra a sua atividade (Sánchez, 2015). A medição da qualidade do jornalismo deve ser feita a partir dessas dimensões, que marcam ou determinam seus limites, restrições e exigências.

Este artigo pretende apresentar como se investiga jornalismo de qualidade em revistas científicas indexadas na plataforma Scopus. Assim, espera-se reconhecer os temas relacionados ao objeto de estudo, a evolução durante as últimas décadas, a nacionalidade dos autores e a procedência dos artigos, e com isso contribuir para o estado da arte sobre jornalismo e qualidade. Para tanto, os resultados da análise da pesquisa estão organizados em duas seções. Na primeira são apresentados os dados obtidos na análise quantitativa e na segunda são detalhadas as relações e coocorrências, através de mapas de visualização do software VOSviewer.

2. Referencial Teórico

Em uma abordagem panorâmica sobre o objeto de estudo deste artigo, é plausível considerar que a obra de Meyer (2002) seja um marco na investigação sobre a precisão e a confiabilidade das informações noticiosas, já que destaca a importância de técnicas rigorosas de pesquisa para garantir a qualidade das reportagens jornalísticas, contribuindo para a fundamentação metodológica do jornalismo de qualidade.

Mas outras abordagens sobre a qualidade da informação veiculada pelos meios de comunicação revelam que a precisão, objetividade e clareza são elementos essenciais para se determinar a qualidade do jornalismo (Weaver & Wilhoit, 2020). Suas análises abrangentes contribuíram para a compreensão dos padrões éticos e profissionais que sustentam a credibilidade da imprensa. Já Blumler e Gurevitch (2002) enfatizam a importância da diversidade de fontes, a polifonia e a representação do debate público para fortalecer a qualidade do jornalismo e promover a cidadania ativa.

Já no século XXI, Boczkowski (2005) explora como a digitalização e a convergência no campo jornalístico impactam a forma como as notícias são produzidas e consumidas, influenciando, assim, a qualidade do jornalismo nesse século. McQuail (2010) é outra referência sobre qualidade do jornalismo, ao abordar a relevância das informações para o público e a necessidade de uma cobertura jornalística que vá além do simples relato de fatos, explorando questões mais profundas para promover uma compreensão abrangente dos eventos.

O mesmo Mcquail (2010) tinha identificado anteriormente cinco valores de qualidade para os mídia em geral: liberdade, igualdade, diversidade, verdade e qualidade da informação, ordem social e solidariedade. Já Bogart (2004) classifica a qualidade dos jornais através de fatores como diversidade de fontes e de pontos de vista, reportagens vigilantes e notícias contextualizadas.

A qualidade pública da comunicação social poderia mostrar a espectadores e ouvintes o significado dos valores democráticos (Dagger, 1997). No caso dos Estados Unidos, o jornalismo público teria potencial para melhorar a qualidade da imprensa americana, ao reconectar as redações com seus leitores, ouvintes e telespectadores, promovendo o engajamento do cidadão na busca de valores compartilhados e melhorando a imprensa de forma concreta (Rosen, 2000).

Outro campo da comunicação em que a qualidade poderia sobressair é no jornalismo popular (Meijer, 2001), quando mantém características como a defesa da democracia, a independência do jornalista/produtor da informação, a racionalidade das opiniões e o conteúdo do texto e a qualidade da informação em si. Em sentido oposto, a qualidade pode ser comprometida em grandes veículos noticiosos (Christofoletti, 2008), quando o monopólio no setor da comunicação restringe a diversidade na oferta de informação a poucos fornecedores, fenômeno agravado pela convergência e digitalização das comunicações.

Das diversas variantes para se alcançar qualidade no jornalismo, haveria elementos essenciais para se fornecer aos cidadãos as informações de que necessitam para serem livres e se autogovernarem: a verdade; a lealdade com os cidadãos; a disciplina da verificação; a independência; a monitoração independente do poder; o fórum público; a informação significativa, interessante e relevante; a compreensão e a proporcionalidade; e a liberdade de consciência (Kovach & Rosenstiel, 2021). De forma semelhante, tais atributos surgem como parâmetro para o jornalismo: a veracidade; a comunicabilidade; a pluralidade; a liberdade; a sócio-referencialidade; a inteligibilidade e a transmissibilidade (Benedeti, 2009).

Ouvir atentamente os usuários de notícias também levaria a uma ampliação do repertório narrativo e democrático do jornalismo (Meijer, 2013). As audiências contemporâneas aspirariam a participar do processo jornalístico e exigiriam uma representação mais otimizada de sua situação, experiências, preocupações e questões. Os usuários dos mídia tendem a responder menos em termos de conteúdo dos mídia, ou sua função pretendida, e mais em termos do afeto cotidiano dos mídia. O conceito “qualidade de vida” surge como um padrão normativo para o jornalismo de valor.

No entanto, estudiosos do jornalismo e jornalistas profissionais centram-se sobretudo na qualidade dos conteúdos jornalísticos e por extensão na qualidade das condições de produção das notícias. A pesquisa de audiência desempenha um papel marginal nos estudos de jornalismo. Isso pode ser em parte devido à suposição implícita ou explícita de que a preocupação com a qualidade é difícil de conciliar com a perspectiva do público. ( … ) Embora os jornalistas profissionais estejam bem cientes da crescente relevância de índices de audiência, acessos, compartilhamentos e cifras de circulação, muitos, de fato, consideram a crescente atenção dada às audiências como um dos sinais e causas da perda gradual de relevância jornalística qualidade. (Meijer, 2013, pp. 754-755)

O slow journalism (jornalismo lento) seria outra alternativa para o jornalismo de qualidade, ao adotar uma abordagem mais em contato com as possibilidades epistemológicas da cultura pós-moderna (Harbers, 2016). Isso implica uma verdade agregativa com uma base moral aberta, onde os jornalistas orientam os leitores por meio de informações relevantes, pesquisa, observação e experimentação da realidade.

Eles [atributos de qualidade] são estruturados em torno da subjetividade mediadora dos jornalistas e são, portanto, abertamente subjetivos. No entanto, eles também se baseiam em pesquisas empíricas e conhecimento cientifico. Além disso, eles são transparentes sobre o processo de comunicação, que através de sua reflexão se torna parte integrante da própria história. Sendo assim transparentes sobre sua combinação de diferentes formas de conhecimento, enraizadas em investigação racional-positivista, bem como na experiência e emoção pessoal, eles tentam reconciliar a tensão entre as reivindicações modernistas e pós-modernistas de verdade. (Harbers, 2016, p. 494)

A discussão sobre a qualidade do jornalismo cruza, portanto, o interesse de vários estudiosos e profissionais, segundo Lacy e Rosenstiel (2015), em três abordagens: especificar as características das organizações jornalísticas orientadas para a qualidade; especificar os atributos de conteúdo que refletem a produção dessas organizações; e analisar os dados de engajamento, para ver que tipo de qualidade ressoa com o público. Dessa forma, os investigadores sugerem características comuns de qualidade de conteúdo: qualidade de apresentação; confiabilidade; diversidade; profundidade e amplitude da informação; abrangência; assuntos públicos; e relevância geográfica.

Entretanto, apesar de a qualidade do jornalismo ter sido amplamente definida e avaliada por profissionais e investigadores usando uma abordagem de produto, outras percepções sobre o tema diversificam abordagens para definir o objeto de estudo para além do conteúdo. Haveria outras direções ou polos de interesse em relação ao conceito de qualidade do jornalismo (Pinto & Marinho, 2003): a qualidade como característica da organização e do produto, a qualidade entendida como serviço público e a qualidade vista como um investimento estratégico. Com isso, estes autores identificam qualidade na maior eficiência e eficácia organizacional com a proposição de uma maior atribuição de valor ao tempo e ao dinheiro gastos pelos consumidores; na prestação de serviço dirigido aos cidadãos para melhorar a compreensão do espaço público e fortalecer a democracia; e na articulação da ideia de qualidade com a ideia de negócio, destacando-se que a qualidade vende e pode ser um investimento compensador. Desta forma, propõem seis dimensões para a investigação sobre qualidade em jornalismo: fontes de informação; empresas e grupos multimídia; condições e características da profissão de jornalista; produção jornalística; tecnologias; públicos e políticas de comunicação e informação.

Uma década adiante, voltou-se a discutir as diferentes perspectivas sobre o que constitui o jornalismo de qualidade, entre objetivos e diferentes formações dos acadêmicos e dos profissionais com interesse no tema. Enquanto a literatura acadêmica examina a qualidade do jornalismo do lado da produção e do produto, Lacy e Rosenstiel (2015) sugerem a abordagem de demanda, que avalia atributos de conteúdo com base em quão bem eles atendem às necessidades e desejos de informação do indivíduo. Afinal, a avaliação da qualidade seria baseada no motivo do indivíduo para acessar e consumir jornalismo, que pode diferir, dependendo de seus interesses de informação e necessidades psicológicas.

Assim, a combinação entre as abordagens de demanda e de produto podem gerar novas formas de se compreender a qualidade do jornalismo. Enquanto a abordagem da demanda envolve a avaliação da qualidade do jornalismo com base nas percepções individuais dos consumidores sobre como o jornalismo atende às suas necessidades e desejos, a abordagem do produto assume que existem características inerentes às mensagens que podem ser alteradas para melhorar a qualidade do conteúdo (Lacy & Rosenstiel, 2015).

3. Metodologia

A metodologia desta pesquisa é quantitativa, com recurso à análise de conteúdo quantitativa e à análise bibliométrica. O objetivo da análise de conteúdo é descrever a evolução da produção acadêmica sobre o binômio jornalismo e qualidade. Especificamente, serão descritas as características da produção científica e o impacto da pesquisa no campo de estudo do jornalismo de qualidade. Tal estudo será combinado com uma análise bibliométrica, com a qual se pretende identificar tendências neste campo de investigação.

A análise de conteúdo quantitativa é descritiva e os dados foram extraídos da Scopus (a análise bibliométrica também utiliza a mesma base de dados). As categorias de análise são as contempladas pela Scopus. Para este estudo, foram analisadas as seguintes: autoria do artigo, país de origem dos autores, título do artigo, ano de publicação, nome da revista, origem da revista e palavras-chave do artigo.

A análise bibliométrica é um método de pesquisa utilizado para avaliar e quantificar a produção acadêmica e científica em um campo específico, com o objetivo de compreender tendências, padrões e a influência da pesquisa em um determinado domínio. Neste caso, a análise é baseada no modelo de Sharifi et al. (2021) e adaptada às necessidades desta pesquisa. Tratam-se de duas etapas de análise: (a) criação do banco de dados e (b) análise de dados, usando Excel e VOSviewer. Estas etapas podem ser divididas nas seguintes fases:

  1. Identificação da base de dados: a base de dados Scopus foi selecionada como fonte de dados para este estudo, por ser considerada uma das mais completas e atualizadas no campo da pesquisa científica.

  2. Definição de busca: foi estabelecida uma busca exaustiva e precisa utilizando as palavras-chave “jornalismo” e “qualidade”, além de operadores booleanos, como “e”, que são operadores lógicos que conectam palavras para ampliar ou estreitar os resultados.

  3. Seleção dos artigos: foram selecionados os artigos que atenderam aos critérios de inclusão estabelecidos para o estudo, ou seja, artigos de pesquisa que foram publicados em revistas da área das ciências sociais. Buscou-se a descrição evolutiva do assunto, pelo que se pesquisaram artigos publicados entre os anos de 1936 e 2022.

  4. Extração de dados: os dados foram extraídos de acordo com as possibilidades da Scopus e foram registrados dados descritivos dos artigos, tais como: título, autoria, revista, ano de publicação, palavras-chave, resumo, citações recebidas, afiliações acadêmicas e fundos de pesquisa, entre outros. Com os dados extraídos da Scopus, foram criadas duas bases de dados: uma em formato Excel, para realizar a análise de conteúdo quantitativa, e outra em formato CSV (um arquivo que separa os valores por vírgulas), para realizar a análise bibliométrica com o VOSviewer.

  5. Análise de conteúdo quantitativa: foi realizada uma análise descritiva dos dados, para se obter uma visão geral das características dos artigos selecionados, como a evolução temporal das publicações, idiomas dos artigos, país de origem da autoria (primeiro autor), acompanhada de observações qualitativas, para se entender a contribuição específica dos autores que assinam mais de três artigos indexados na Scopus, os principais periódicos que publicam sobre o assunto e o idioma de origem das publicações.

  6. Análise bibliométrica (coocorrências): o VOSviewer foi utilizado para analisar a coocorrência entre palavras, ou seja, a aparição de palavras ou termos juntos extraídos das palavras-chave dos artigos que compõem a amostra. O objetivo foi determinar a frequência com que os dois tópicos aparecem juntos.

  7. Interpretação dos resultados: por fim, foram interpretados os resultados obtidos nas análises realizadas no Excel e no VOSviewer. Isso permitiu tirar conclusões sobre o estado da pesquisa sobre jornalismo de qualidade, identificar possíveis lacunas da pesquisa e estabelecer áreas para pesquisas futuras.

É importante destacar que “quando indicadores bibliométricos são usados, ( ... ) os indicadores geralmente não fornecem uma medida exata do conceito de interesse, mas podem fornecer informações aproximadas” (Waltman & Noyons, 2018, p. 4).

A amostra do estudo é composta por 971 artigos de pesquisa publicados entre os anos de 1939 e 2022 e indexados na Scopus. Conforme mencionado acima, foram levados em consideração apenas artigos de pesquisa publicados na área das ciências sociais, em qualquer idioma.

4. Resultados

4.1. Resultados da Análise Quantitativa

A produção científica sobre qualidade e jornalismo no campo das ciências sociais cresce a partir do ano de 2006 (Figura 1). No entanto, o crescimento não é uniforme, não tem um padrão marcado: há anos em que a presença de artigos na Scopus é baixa em relação ao ano anterior, por exemplo, em 2017, quando foram indexados 63 artigos de pesquisa, enquanto que em 2018 foram contabilizados 86 e, em 2019, caíram para 67.

Figura 1 Evolução do número de artigos publicados sobre jornalismo e qualidade, por ano 

O gráfico da Figura 1 mostra a evolução do interesse sobre o tema, interesse recente para o campo das ciências sociais, se considerada a amostra. São quatro os anos (2018, 2020, 2021 e 2022) em que 39% das publicações cadastradas estão condensadas. É importante destacar que o maior número de publicações identificadas por ano, sobre jornalismo e qualidade, é referente aos três anos da pandemia de COVID-19. Infere-se que o estudo sobre a qualidade jornalística tenha sido relacionado à cobertura do coronavírus.

Os artigos são expressos em 25 idiomas, a maioria ocidentais: inglês, espanhol, russo, alemão, português, francês, sueco, chinês, holandês, húngaro, croata, polonês, italiano, norueguês, árabe, lituano, esloveno, africâner, finlandês, japonês, letão, malaio, eslovaco, turco e catalão. Também há artigos bilíngues: em inglês e espanhol (0,9%), em inglês e francês (0,1%) e em inglês e português (0,1%).

Na Tabela 1 são apresentados os países de origem (afiliação) dos primeiros autores dos artigos analisados (países com 10 ou mais artigos). Para complementar esses dados, identificamos os autores que lideram os rankings de artigos publicados (autores com mais de três artigos) e anotamos observações qualitativas e gerais sobre as suas carreiras científicas. O primeiro resultado a ser detalhado é que os Estados Unidos são o país com o maior número de primeiros autores identificados nos artigos, representando 23% da amostra. Dentre esse percentual, destaca-se a produção científica do acadêmico Jesse Abdenour (Universidade de Oregon), cujos interesses de pesquisa se resumem à análise da produção de informações de qualidade sobre não ficção, sua comunicação eficaz e a identificação de soluções para manter a qualidade apesar dos contextos sociais de crise. Em segundo lugar, identifica-se o trabalho de Scott Reinardy (Universidade do Kansas), que dedicou grande parte de sua pesquisa ao estudo das transformações das rotinas produtivas dos jornalistas após a convergência digital e as diversas ações que a profissão enfrentou apesar das condições de precariedade. Por último, as pesquisas de Anya Schiffrin (Universidade Columbia, Escola de Relações Internacionais e Públicas) sobre os mídia na África são referência; além disso, em 2018, a investigadora editou o livro Global Muckraking: 100 Years of Investigative Journalism From Around the World (Global Muckraking: 100 Anos de Jornalismo Investigativo em Todo o Mundo; New Press), no qual reúne uma série de reportagens investigativas icônicas. Em segundo lugar, está o trabalho de autores da comunidade científica espanhola, com 18% das primeiras assinaturas. Dentro desta comunidade, destacam-se os trabalhos de três acadêmicos: Manuel Goyanes (Universidade Carlos III de Madrid), Juan Carlos Suárez Villegas (Universidade de Sevilha) e Alba Córdoba-Cabús (Universidade de Málaga). Manuel Goyanes é uma referência na análise dos modelos de negócio no setor jornalístico; atualmente, este investigador conduz estudos para compreender as motivações que levam os leitores a pagar por informações dos meios on-line. Por sua vez, Juan Carlos Suárez Villegas aborda a ética jornalística, o pluralismo informativo, a accountability (responsabilização/prestação de contas) e o jornalismo. Enquanto isso, Alba Córdoba-Cabús realizou uma série de pesquisas abordando a desinformação e o jornalismo de dados. Por último, do Reino Unido, com 7%, destaca-se a contribuição de J. Lewis (Universidade de Cardiff) e seus estudos sobre política, jornalismo, opinião pública e audiências.

Tabela 1 País de origem dos primeiros autores assinantes (10 ou mais artigos) 

No total, 142 revistas internacionais publicaram artigos sobre jornalismo e qualidade, de 1939 a 2022. A Tabela 2 apresenta as 15 revistas que mais publicam. Ressalta-se que a produção científica destas representa 44% do total de artigos que compõem a amostra deste estudo. São três revistas anglo-saxônicas que ocupam os três primeiros lugares com relação ao maior número de artigos publicados (Journalism Studies, Journalism Practice e Journalism).

Tabela 2 Número de artigos publicados por revista (10 ou mais artigos) 

Há 23 anos que a revista Journalism Studies tem sido uma referência no campo da pesquisa jornalística, abrangendo perspectivas teóricas, metodológicas, éticas, sociológicas, culturais, entre outras. Journalism é outra revista internacionalmente relevante, lançada em 2000, que publica estudos sobre jornalismo a partir de diferentes abordagens: econômica, política e social. Enquanto isso, a Journalism Practice, ao longo de 16 anos, publica estudos sobre as características das práticas jornalísticas, sua evolução, ética e o impacto da convergência tecnológica. Por outro lado, há cinco revistas espanholas que se incluem neste ranking das revistas que mais publicaram, no âmbito da Scopus, sobre qualidade e jornalismo. Seus artigos representam 12% das publicações sobre o assunto.

A fim de realizar-se uma análise mais aprofundada, fez-se o agrupamento das revistas que mais trataram de qualidade no jornalismo segundo suas regiões e países. Além disso, foi realizada uma análise evolutiva de tal recorte, ao ser acrescentada a categoria “ano”, desde o ano 2000 até 2022. O período foi escolhido por ser o que forneceu os dados mais significativos sobre qualidade no jornalismo. Como resultado, os três clusters obtidos foram revistas de origem portuguesa, inglesa e espanhola.

Já o gráfico da Figura 2 expressa a evolução dos clusters de origem das revistas e mostra que a maior produção científica está concentrada nas revistas anglo-saxônicas, em segundo lugar as espanholas e em terceiro as portuguesas. As revistas anglo-saxônicas têm dois picos importantes, um em 2018 e outro em 2022. No esforço de contextualizar as informações é preciso lembrar que em 2018 foi assinada a saída do Reino Unido (Brexit) da União Europeia.

Figura 2 Número de artigos publicados por origem das revistas 

O cluster de revistas anglo-saxônicas tem apresentado um comportamento crescente desde 2020, ano em que se iniciou a pandemia de COVID-19, enquanto que nos clusters português e espanhol a produção diminui em 2021. No caso português, o decréscimo prolonga-se até 2022, enquanto o cluster espanhol volta a crescer no mesmo período.

No caso do cluster português, tais números assentam-se nos resultados da revista de acesso aberto Media and Communication, gerida pela editora portuguesa Cogitatio Press, editada integralmente em inglês. Já o caso espanhol assenta-se em publicações de origem espanhola, mas que publicam tanto em idioma nativo quanto em inglês.

Os resultados da contagem das palavras mais frequentes nas palavras-chave dos artigos indicam uma tendência temática de pesquisas que relacionam o jornalismo de qualidade, a informação produzida pelos meios de comunicação, especialmente com temas de saúde humana, assuntos médicos e de cuidados (Tabela 3).

Tabela 3 Palavras mais frequentes nas palavras-chave nos artigos 

Em menor medida, as palavras-chave dos artigos se relacionam com temas de educação, aprendizado, sobre o papel do jornalismo e/ou sobre os meios de comunicação de massa para geração de qualidade no campo jornalístico.

4.2. Resultado da Análise Bibliométrica

A análise bibliométrica foi realizada com o software VOSviewer e teve como foco o estudo de coocorrências por palavras-chave. É importante destacar que as informações obtidas após a aplicação da ferramenta de análise devem ser compreendidas como uma análise de tendências e de aproximações, que em nenhum caso são cenários exatos.

O VOSviewer agrupou as palavras-chave em quatro clusters (amarelo, vermelho, azul e verde), conforme pode ser observado na Figura 3. O nó mais importante é o do “jornalismo”.

Figura 3 Análise de coocorrências de palavras-chave 

Os agrupamentos criados nas coocorrências são uma forma de expressar os termos que aparecem juntos com maior frequência. Neste caso, na Figura 3, observam-se as palavras-chave dos artigos que se relacionam de maneira recorrente com o termo “jornalismo”. A seguir são listados os clusters e detalhadas as palavras com 20 ou mais ocorrências:

  • Cluster 1 (21 palavras-chave): representado no mapa maioritariamente em verde, destacando-se as palavras-chave “jornalismo digital” (39 ocorrências) e “jornalista on-line” (28 ocorrências);

  • Cluster 2 (18 palavras-chave): expresso em vermelho, foram identificadas as palavras-chave “qualidade” (28 ocorrências), “análise de conteúdo” (27 ocorrências), “comunicação” (21 ocorrências), “qualidade da notícia” (21 ocorrências), “jornalismo de qualidade” (21 ocorrências) e “jornalista de dados” (20 ocorrências);

  • Cluster 3 (13 palavras-chave): expresso principalmente em amarelo, “mídia” (40 ocorrências), “mídia social” (40 ocorrências) e “democracia” (21 ocorrências);

  • Cluster 4 (10 palavras-chave): representado em azul, “humano” (33 ocorrências), “meios de comunicação de massa” e “humanos” (29 ocorrências cada) e “internet” (25 ocorrências).

Esses resultados com mais coocorrências indicam que o tema “qualidade” está relacionado principalmente aos itens do Cluster 2, especificamente com as palavras-chave “análise de conteúdo”, “comunicação”, “qualidade da notícia”, “jornalismo de qualidade” e “jornalista de dados”. Pode inferir-se que os artigos se referem a estudos que utilizam a análise de conteúdo para observar a qualidade das notícias, da comunicação e do jornalismo de dados.

Para uma melhor compreensão do comportamento das palavras-chave que estão mais especificamente relacionadas com o termo “jornalismo” foi feito um mapa do Cluster 2 (Figura 4).

Figura 4 Análise de coocorrências das palavras-chave incluídas no Cluster 2 

O mapa da Figura 4 mostra as relações dos itens e sua força (expressada pela espessura das linhas, como na ligação entre “jornalismo”, “democracia” e “notícias”). As palavras-chave relacionadas a “qualidade” e “qualidade da informação” (cor verde) estão mais relacionadas a “mídia digital”, “credibilidade”, “jornalista”, “inteligência artificial”, “COVID-19”, “jornalismo de dados” e “jornalismo esportivo”. Essas informações marcam uma tendência quanto ao interesse da comunidade científica em realizar estudos que relacionem a qualidade da informação ao contexto da pandemia de COVID-19, por exemplo, ou sobre a qualidade da informação com jornalistas e inteligência artificial.

As palavras-chave “jornalismo de qualidade” e “valores da notícia” (em vermelho) estão ligadas a “objetividade”, “papel dos mídia”, “televisão”, “jornalismo científico”, “fontes”, “análise de conteúdo” e “Alemanha”. Neste caso, as palavras-chave estão predominantemente relacionadas com a qualidade da informação jornalística dos meios de comunicação de massa, como a televisão, os valores da notícia e as fontes.

5. Sistematização

O estudo revelou uma evolução temporal notável na produção acadêmica sobre jornalismo e qualidade, destacando-se a influência da pandemia de COVID-19 entre os temas de pesquisa. A identificação da ocorrência das palavras incluídas nas palavras-chave dos artigos confirma esta tendência: se destacam as palavras “saúde”, “humanos” e “médico” (Tabela 3).

O estudo em questão proporciona uma análise quantitativa da produção acadêmica indexada na Scopus sobre jornalismo e qualidade, abrangendo o período de 1939 a 2022. A apresentação gráfica (Figura 1) destaca uma ascensão do interesse pelo tema nas ciências sociais, notadamente a partir de 2006. No entanto, o crescimento não é uniforme, com flutuações significativas ao longo dos anos. O ano de 2017, por exemplo, testemunhou uma diminuição no número de artigos, enquanto no período entre 2018 e 2022 registraram-se aumentos substanciais, seguidos por um pico notável nos anos da pandemia de COVID-19 (2020, 2021 e 2022).

A predominância de revistas anglo-saxônicas e a conexão entre qualidade jornalística e eventos contemporâneos emergem como pontos-chave. No entanto, destaca-se a presença de autores espanhóis que atuam como contrapeso a essa hegemonia acadêmica. Os autores mencionados no contexto espanhol se destacam pela variedade de abordagens em seus estudos, que vão desde aspectos deontológicos do jornalismo até modelos de negócios e desinformação.

Já a Tabela 1 fornece uma visão da distribuição geográfica da produção científica, destacando os Estados Unidos como líderes, seguidos da Espanha e do Reino Unido. Uma característica notável é a prevalência de artigos em idiomas ocidentais, refletindo a predominância da comunidade científica ocidental no campo.

Finalmente, a Tabela 2 revela as revistas mais prolíficas no tópico, com uma ênfase particular em periódicos anglo-saxões. Essa concentração se reflete nos clusters de origem das revistas (Figura 2), onde os periódicos anglo-saxões lideram, seguidos dos espanhóis e dos portugueses. Uma análise temporal desses clusters destaca um crescimento consistente nas revistas anglo-saxônicas, especialmente após 2020, coincidindo com o início da pandemia de COVID-19.

A análise bibliométrica aprofunda essas tendências, destacando áreas temáticas específicas e relações entre palavras-chave. Essa abordagem integrada fornece uma compreensão mais abrangente do cenário acadêmico em torno de jornalismo e qualidade, estabelecendo uma base sólida para pesquisas futuras.

A mesma análise bibliométrica, agora considerada com o software VOSviewer, se concentra em coocorrências de palavras-chave e em coautorias por país. A Figura 3 exibe quatro clusters principais, com destaque para palavras-chave como “jornalismo digital”, “qualidade”, “análise de conteúdo”, “comunicação” e “jornalismo de qualidade”. Esses clusters indicam áreas temáticas-chave dentro do campo de estudo.

A Figura 4, derivada do Cluster 2, aprofunda a relação entre palavras-chave específicas relacionadas à “qualidade”. Destacam-se termos como “mídia digital”, “credibilidade”, “jornalismo de dados” e “COVID-19”, indicando uma conexão significativa entre estudos de qualidade e temas contemporâneos, como a pandemia.

As palavras-chave “jornalismo de qualidade” e “qualidade da notícia” estão associadas a “objetividade”, “papel dos mídia”, “televisão” e “valores da notícia”, indicando uma ênfase em avaliar a qualidade da informação jornalística nos meios de comunicação de massa. Essa análise bibliométrica complementa a abordagem quantitativa, fornecendo percepções adicionais sobre as tendências e conexões temáticas na produção acadêmica sobre jornalismo e qualidade.

6. Considerações Finais

Os resultados quantitativos coletados mostram que a produção científica relacionada com a qualidade e ao jornalismo é um interesse recente no campo das ciências sociais, a partir do ano de 2000, período em que se concentram 44% dos artigos publicados sobre o tema. No entanto, observa-se que o crescimento não é uniforme e há anos em que a produção científica sobre o tema é baixa em relação a outros anos. Percebe-se que a hegemonia da produção e citação sobre o que é jornalismo de qualidade em revistas indexadas pela Scopus ainda pertence aos países anglo-saxônicos, e de artigos e autores do chamado “Norte Global”. Cerca de 97% do idioma original dos artigos é o inglês.

Porém, é animador perceber que, ao longo de 20 anos, tem havido certa mobilidade no centro do debate, ao menos no eixo cultural-linguístico da produção científica sobre o objeto de estudo, a partir de produções cujos autores não são oriundos da língua inglesa, nem de países ocidentais ou de nações ricas. De fato, os resultados quantitativos indicam que a comunidade científica espanhola tem um papel fundamental na produção científica sobre o tema, comprovado pelos 18% da afiliação dos primeiros signatários dos artigos de origem espanhola e pelos 14% das principais revistas que publicaram sobre o assunto também serem espanholas. Nesse sentido, a produção científica espanhola rompe, em certo sentido, a hegemonia da abordagem anglo-saxônica.

Ainda sobre a produção científica, quase metade desta passa pelos padrões de publicação e pelos critérios de seleção de 15 periódicos, que representam apenas 10% do total de periódicos que publicaram sobre o tema. Isso poderia dar origem a um panorama pouco diversificado, em uma primeira análise.

Outro ponto interessante a ser ressaltado é que o conceito de “qualidade” está relacionado às temáticas do período em que os artigos coletados foram produzidos, como, por exemplo, o maior interesse no tema entre 2020 e 2022 (13% da amostra total), durante os anos da pandemia de COVID-19. Esse resultado é complementado pelos dados obtidos na análise temática das palavras-chave, onde se identificou uma maior presença das palavras “saúde”, “humanos” e “médico”; e na análise bibliométrica, que indica que as palavras-chave “qualidade” e “qualidade da informação” estão mais relacionadas com a “COVID-19”, entre outros casos identificados. Essa hipótese deve ser complementada com investigações mais aprofundadas e específicas.

Dessa forma, pode inferir-se que, ao menos na amostra coletada, não há definição estanque do que seja qualidade do jornalismo, mas definições dinâmicas, que respondem às demandas e debates de seu tempo. É certo, porém, que tal definição dinâmica ainda está ancorada nos debates temáticos em que circula o campo jornalístico, como a desinformação dos anos 2020, a profusão da comunicação digital nos anos 2010 e as metodologias e gêneros que surgem e ressurgem no campo. Também é notória a preocupação dos investigadores e profissionais do campo em buscar a qualidade do jornalismo através das mudanças do ofício e das demandas sociais durante todo o período analisado.

Finalmente, essa análise exploratória e descritiva abre caminho para investigar temas com maior profundidade, como os perfis científicos dos autores dos artigos, das universidades e a identificação dos organismos que, por meio de subsídios, apoiam esse tipo de pesquisa.

7. Limitações da Pesquisa

Essa pesquisa se define como uma análise exploratória da produção científica sobre jornalismo de qualidade. Espera-se que esta contribuição, a partir de um estudo bibliométrico, seja válida para compor os demais estudos sobre o objeto.

Há algumas limitações a serem consideradas na interpretação dos resultados. A escolha da base de dados Scopus, embora seja uma fonte reconhecida e abrangente, pode introduzir um viés geográfico e linguístico, uma vez que prioriza publicações em inglês e pode não capturar totalmente trabalhos relevantes em idiomas ou regiões específicas que não estão adequadamente representados na base. A delimitação temporal entre 1939 e 2022 também pode resultar em uma visão histórica, excluindo dinâmicas mais recentes e tendências emergentes no campo do jornalismo e qualidade, especialmente considerando a rápida evolução tecnológica e das práticas jornalísticas.

A metodologia utilizada também apresenta desafios. A definição de categorias de análise com base nas inclusões da Scopus pode restringir a amplitude da pesquisa, excluindo contribuições valiosas que podem não se encaixar precisamente nessas categorias. A aplicação de critérios de inclusão, como a limitação aos artigos de revistas científicas das ciências sociais, pode excluir pesquisas relevantes de outras disciplinas que contribuem significativamente para a compreensão do tema. Além disso, a dependência de indicadores bibliométricos, embora forneça uma visão quantitativa, pode não capturar completamente a complexidade e a riqueza dos debates acadêmicos sobre jornalismo e qualidade.

A interpretação dos resultados também está sujeita a certas limitações. Apesar da análise rigorosa, a interpretação de dados complexos, como os mapas bibliométricos, pode envolver um grau significativo de subjetividade. As coocorrências de palavras-chave em clusters podem ser interpretadas de maneiras diversas e a atribuição de significado a essas relações pode variar entre diferentes analistas. Portanto, é justo reconhecer essas limitações para uma avaliação adequada da robustez e generalização dos resultados deste estudo sobre jornalismo e qualidade.

Agradecimentos

Parte deste trabalho foi apoiado e financiado com fundos nacionais por meio da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto UIDB/00736/2020.

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Recebido: 15 de Abril de 2023; Aceito: 13 de Novembro de 2023

Luisa del Carmen Martínez García é doutora em Comunicação Audiovisual e Publicidade, com mestrado em Teoria e Prática do Documentário Criativo pela Universitat Autònoma de Barcelona. É professora no Departamento de Comunicação Audiovisual e Publicidade, colaboradora do Instituto de la Comunicación e participa no mestrado de Social Media da Universitat Oberta. Suas áreas de pesquisa incluem ecossistema comunicativo digital, desinformação e representação midiática da mulher, redes sociais e gênero. Email: luisa.martinez@uab.cat Morada: Carrer de la Vinya s/n. Bellaterra, Cerdañola del Vallés

Edson Capoano é doutor em Comunicação e Cultura pelo Programa de Integração Latino-Americana (2013), mestre em Semiótica e bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atual professor de jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing. Períodos de investigação nas Universidades do Minho (2019-2023), Castilla-La Mancha (2017), Navarra (2015) e University of California San Diego (2012). Autor dos livros Como Se Banca o Jornalismo? (2022), La Jornada del Periodista (O Percurso do Jornalista; 2017) e A Natureza na TV (2015). Email: edson.capoano@espm.br Morada: Rua Álvaro Alvim, 123, Vila Mariana, São Paulo, SP, Brasil

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