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Media & Jornalismo

Print version ISSN 1645-5681On-line version ISSN 2183-5462

Media & Jornalismo vol.23 no.42 Lisboa June 2023  Epub June 30, 2023

https://doi.org/10.14195/2183-5462_42_3 

Artigos

VOZ: Comunicação e Redes de Mobilização para Mudança Social

Voice: Communication and Mobilization Networks for Social Changes

Cinthya Pires Oliveira1 
http://orcid.org/0000-0001-8702-7166

1 Universidade Federal Fluminense, Brasil cinthyaoliveira@id.uff.br


Resumo

Apesar de debates sobre a necessidade de direcionar o olhar da sociedade para práticas que garantam os direitos humanos em regiões periféricas como as favelas brasileiras, o tema tende a receber menor espaço na grande imprensa. Por outro lado, mecanismos para fortalecimento da cidadania são observados em iniciativas como o “Voz das Comunidades” (VOZ), ONG que faz uso da comunicação como processo estratégico e instrumento para acesso a outros direitos como segurança, saneamento básico, saúde e educação. A partir do campo da Comunicação para Mudança Social (Rogers, 1974; Melkote, 2018) e por meio de pesquisa bibliográfica e documental aliada à análise de dados em redes sociais (ARS), o objetivo deste estudo é refletir sobre a atuação do “VOZ”, que surgiu em 2005 no Rio de Janeiro/Brasil, e repercute em âmbito nacional e internacional. Como resultado, observaremos que as experiências do VOZ colaboram para a construção da cidadania e de mudanças sociais, inclusive em outras localidades.

Palavras-chave: voz das comunidades; mudança social; redes locais; cidadania; direitos humanos

Abstract

Despite the recurring debates about the need to direct the gaze of everyday society towards practices that guarantee human rights in peripheral regions such as Brazilian favelas, the subject tending to have less space in the mainstream press will be deepened. On the other hand, mechanisms for strengthening citizenship can be observed in initiatives in local initiatives such as the “Voice of Communication Communities” (VOZ), a NGO, as a strategic process and instrument for other rights such as security, basic sanitation, health and education. From the field of Communication for Social Change (Rogers, 1974; Melkote, 2018), through bibliographic and documentary research combined with data analysis on social networks, this study aims to reflect on the performance of “VOZ”, launched in 2005, Rio de Janeiro/Brazil, and reverberates nationally and internationally. As a result, we will observe that VOZ experiences collaborate for the construction of citizenship and social changes for peripheral regions

Keywords: voice of communities; social change; local networks; citizenship; human rights

Redes de contenção social ou redes de mobilização e transformação social? Nós que unem ou que apertam? As redes não têm um sentido único. Podem ser um dispositivo para mudanças, porém também um aparato para impedir os câmbios.

Gabriel Kaplún1

1. Introdução

O cenário midiático com expansão da acessibilidade e ampliação do número de dispositivos nos ambientes digitais deve ser compreendido a partir das relações cotidianas tecidas nas contradições, nas disputas inerentes às relações constituídas entre comunicação e política. A partir desse enquadramento e mediante o avanço das tecnologias digitais, as práticas comunicativas voltadas para a mudança social podem ser observadas enquanto processo de contínuo tensionamento na atuação de movimento sociais e coletivos voltados para comunicação comunitária local.

Ainda que na América Latina a corrente de pensamento sobre Comunicação para Mudança Social (CMS) tenha sido delineada com ênfase na participação e no estabelecimento de diálogo (Melkote, 2018), a emergência de novos movimentos sociais urbanos no século XXI (Peruzzo, 2006) evidencia configuração diferenciada de ações coletivas que se sobressaem com agendamento de pautas públicas e agenciamento de notícias.

E conforme Tufte and Tacchi (2020) apontam, nos últimos anos tem se constituído de modo substancial linha de reflexão voltada para associar o campo de CMS com desenvolvimento comunitário e processos participativos. Embora, os estudos sobre comunicação comunitária e participação política possuam suas próprias matrizes teóricas, no contexto de ebulição de movimentos sociais e iniciativas comunitárias locais atuantes em redes sociais na internet, torna-se inevitável reflexão acadêmica interdisciplinar sobre práticas comunicativas que busquem gerar mudança social, reivindicar melhores condições de vida e lutar pela garantia dos Direitos Humanos.

No entanto, devemos realizar avaliação cuidadosa sobre as potencialidades e contradições dos movimentos sociais e iniciativas comunitárias atuantes na internet. Se por um lado o ambiente digital parece propício para a produção e multiplicação de conteúdos, garantindo aos sujeitos sociais o direito de distribuição e expressão como garantia do Direito Humano à Comunicação, por outro, nos deparamos com questões sensíveis relacionadas ao cenário de reivindicação pela democracia participativa.

Embora o cenário de uso das tecnologias digitais proporcione acesso a diferentes canais de distribuição de mensagens na internet (algo até então inalcançável com a radiodifusão), as lutas tendem a ser potencializadas em outro campo de batalha. Efervesce a arena pela disputa da atenção que carrega tensões e impasses para o efetivo exercício da democracia e da participação por vozes que buscam alcançar mudanças sociais locais, mas podem se tornar dependentes justamente das estruturas mercadológicas de sites de redes sociais que prometem disponibilizar lugar(es) de fala, enquanto encobrem os gritos e possibilidades de diálogo por meio de mecanismos silenciosos que atuam nas contrariedades da internet.

A visão otimista sobre o uso da tecnologia tem como principal fator a redução de distâncias espaciais e temporais, construindo “espaço público” ao permitir que informações estejam acessíveis a todos de modo praticamente simultâneo em diferentes localidades. Se por um lado a tecnologia é reverenciada como recurso endossador da democracia participativa, evidenciando ingenuidade embasada em argumentos míopes e utópicos, por outro, não podemos negar o seu suporte em mobilizações dos sujeitos sociais e na diversificação de vozes a serem constituídas com a distribuição de conteúdo.

Diante da complexidade relatada e dada as inevitáveis contradições que permeiam a atuação de movimentos sociais e comunitários locais na internet, enquanto esfera pública constituída por estruturas hegemônicas detentoras de poder socioeconômico e político, este estudo tem como objetivo refletir sobre a contribuição de movimentos sociais e iniciativas de comunicação comunitária para as práticas de Comunicação para a Mudança Social, partindo da hipótese de que estratégias locais de comunicação podem gerar micro processos de mudanças sociais de abrangência nacional, a despeito das tensões e desafios observados nas práticas de comunicação tecnologicamente mediadas.

A partir do caso particular do jornal “VOZ”, enquanto movimentos social atuante na internet, de modo a gerar resultados reais e práticos de mudança social, evitando a perspectiva utilitarista já sinalizada por Dutta (2011), embora considerando os potenciais e limitações proporcionados pela internet para o exercício da participação (Manyozo, 2012). No tempo em que reflexões aprofundadas sobre as complexidades das favelas esvaecem na grande imprensa diante do característico senso de urgência e novidade das notícias factuais2., manchetes sobre violência urbana proliferam e estigmatizam os moradores da região.

A iniciativa local “Voz das Comunidades” (VOZ) surgiu em 2005 no bairro do Complexo do Alemão (também conhecido somente como “Alemão”), na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Enquanto prática atuante no espaço físico local em sinergia com a esfera digital, o projeto traz contribuições para mudança social e demonstra caminhos para geração de impactos positivos nas comunidades locais, embora sujeito à estrutura midiática e tecnológica controlada por grupos hegemônicos detentores de poder socioeconômico e político.

A partir do referencial teórico do campo da CMS ou Desenvolvimento3, abordado por Rogers (1974), por meio de pesquisa bibliográfica e documental, este estudo discorre sobre a comunicação para o desenvolvimento enquanto processo voltado para ações de cidadania, a partir do uso estratégico e tático de tecnologias de comunicação que possibilitem mecanismos de reflexão, ação e mobilização de pessoas com intuito de viabilizar mudanças sociais efetivas nas sociedades. Para tal, aliamos ao debate pesquisa empírica baseada em coleta, categorização e análise de dados (publicações) em redes sociais (ARS) do veículo comunitário VOZ.

Como o sentido político da cidadania está contido no comunitário (bem comum), independente de limites territoriais, de modo a contribuir para o desenvolvimento de atividades coletivas, é inevitável também compreender que a “valorização dos cidadãos e da cidadania” deve ser o pressuposto da comunicação pública (Matos, 2009, p. 57) e que a “cidadania implica em mobilização, cooperação e formação de vínculos de corresponsabilidade para com os interesses coletivos” (Matos, 2009, p.111). De modo adicional, se por um lado as transformações nas relações sociais e do crescimento exponencial do uso de tecnologias e mídias têm ressignificado os processos de comunicação que adquirem ainda maior centralidade no cotidiano urbano, a comunicação também passou a ser apreendida como instrumento para exercício e garantia de outros direitos fundamentais4, incluindo o direito de acessar e transmitir informação (Unesco, 1983). Portanto, o respeito à dignidade e à legitimação do interesse público devem fundamentar a constituição de experiências comunicacionais locais que viabilizem o diálogo com a sociedade, processo essencial para fomento de ações comunicativas em prol da transformação social.

Como agenda para este estudo, iniciaremos com breve exposição sobre as barreiras sócio-históricas que perpetuam as desigualdades a serem vencidas em regiões periféricas como o conjunto de favelas no Alemão, no Rio de Janeiro. Na sequência, analisaremos que, mesmo diante de toda a vulnerabilidade da região, processos voltados para mudança social podem ser potencializados por meio da comunicação. Para tal, observaremos como práticas, narrativas e mobilizações para a transformação de realidades e o exercício da justiça social são eixos com potencial de reprodução em outras regiões.

1.1. As barreiras sócio-históricas de desigualdades a serem vencidas no Alemão

Dados do último Censo (20105) do IBGE reportam que a população do Complexo do Alemão (Alemão) seria composta por 58.962 habitantes. No entanto, a característica dessa região torna difícil reportar com precisão a densidade populacional e a delimitação do bairro, já que as casas se constituem não somente por extensões de terras, mas também com crescimento vertical. Dessa forma, com o aumento das favelas no Rio de Janeiro, acima da média das cidades6, fontes reportam que cerca de 180 mil habitantes7 residem no Alemão. E estimativa do IBGE aponta que um em cada cinco moradores do Rio vive em favelas. De fato, esse bairro abriga um dos maiores conjuntos de favelas 13 ao total8, abrangendo a Zona Norte e a Zona da Leopoldina, no município do Rio de Janeiro, Brasil.

Sobre as condições dos serviços básicos, para 71% dos moradores, os serviços de saúde, educação, limpeza de ruas e abastecimento de água não atendem às necessidades locais. Com a precariedade dos serviços públicos, a população sente literalmente na pele as violações dos direitos fundamentais.

Diante da redução de condições básicas de subsistência para a população residente, ampliam-se os desníveis na qualidade de vida e no índice de desenvolvimento humano (IDH) nas periferias do Rio de Janeiro. Logo, o desequilíbrio denunciado pelas favelas eleva os desafios para o fortalecimento da cidadania e a construção de sociedade mais justas, inclusivas e mobilizadas para o desenvolvimento social.

Os dados demográficos da região também revelam outros abismos sociais. De acordo com estudo 2019/20209 do IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), 63% das pessoas que moram no Alemão contam com renda máxima de até um salário-mínimo10, sendo que 24% não possuem renda. Esse indicador reflete na alta vulnerabilidade do direito à alimentação na região: para 83% dos moradores ainda há pessoas passando fome na região.

Ainda de acordo com o IBASE, as mulheres representam 51% dos moradores no Alemão - comparativamente, um pouco abaixo da estimativa populacional feminina (52%) para o Estado do Rio de Janeiro (IBGE, 2010)11. Por trás desse desnível, um outro dado expõe mais fragilidades: a população feminina tende a ser maior, mas essa diferença se acentua no Rio quando comparado com os demais estados brasileiros em virtude dos óbitos por violência sofrida pela população mais pobre e masculina12. A respeito dos indicadores de violência e discriminação, segundo o IBASE, 69% dos jovens do Alemão sinalizaram já ter sofrido ou conhecer alguém que sofreu violência de agentes do estado e 60% dos entrevistados entre 15 e 29 anos afirmaram que já sofreram ou conhecem quem tenha sofrido injúria em virtude de fatores como raça/cor, condição financeira, religião ou gênero (pelo fato de ser mulher ou trans).

Os números apresentados nesta seção traduzem as barreiras sócio-históricas de desigualdades no Alemão, mas não revelam as realidades individuais e coletivas que constituem esse bairro como região economicamente ativa, fomentadora de profissões e serviços, formadora de talentos, fonte de produção e comércio de produtos. Uma vez que essa região foi durante anos o principal polo industrial do Rio de Janeiro, mas a violência afastou empresas, gerou desocupação de imóveis e consequentemente perda de circulação de renda13, ações comunicativas locais como o VOZ tendem a fomentar redes de mobilização e experiências para transformação social, conforme os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) apresentados na Agenda 2030 da ONU14.

2. Vozes que ecoam: do espaço físico local para a esfera digital

As iniciativas de comunicação locais adquirem importância diferenciada devido ao impacto social e aos benefícios gerados nas comunidades constituídas nos territórios que compõem as favelas. Embora o tema muitas vezes receba menor atenção em estudos no Brasil, a CMS adquire outras nuances no século XXI, sobretudo diante do crescente suporte das tecnologias digitais e da conectividade possibilitada pela internet.

Redes sociais e intervenções urbanas tem contribuído para moldar as práticas de CMS, mas ainda há necessidade de ampliar a abordagem desse cenário contemporâneo no campo teórico (Thomas, 2014, p. 08), a partir de observações e exemplos que expressem a realidade local de áreas periféricas, partindo do paradigma alternativo (bottom-up) de desenvolvimento.

No panorama midiático mundo afora emergem movimentos sociais e iniciativas comunitárias15 para reivindicar proteção aos direitos humanos e garantia ao exercício da cidadania. Se por um lado tais formas de expressão contribuem para a diversificação de falas e para expor problemáticas muitas vezes invisíveis ou pouco reconhecidas pela sociedade, por outro, a contínua proliferação do chamado “clickativismo” (ou “ativismo de sofá”) tende a ser reconhecido como “alaridos” ou burburinhos (que geram “muito discurso e pouca ação ou resultado” - dizem alguns) nas plataformas digitais de redes sociais, ocasionando desconfianças sobre sua efetividade para as comunidades locais.

Apesar da complexidade do tema, há práticas que possibilitam que a esfera pública digital seja agregadora de relevantes debates inerentes às necessidades socioeconômicas observadas no cotidiano das regiões periféricas. Desta forma, a partir da atuação do VOZ, apresentaremos a convergência da esfera digital e do espaço físico enquanto estratégia para alcance de resultados, de modo a contribuir com reflexão coletiva, ação e mobilização em prol de avanços sociais e materiais nas favelas.

Foi com a preocupação de mudanças efetivas na localidade que surgiu a ideia do VOZ. Lançado em 2005 por cinco jovens voluntários, os textos tinham como principal intenção a divulgação dos problemas da região por meio de um jornal escolar. Quando o jornal comunitário surgiu, o líder Rene Silva (então com onze anos) desejava expor os problemas de estrutura, saneamento básico e serviços essenciais que afetavam a sua escola (localizada no Morro do Adeus, parte do Complexo do Alemão), de modo a ajudar a solucioná-los a partir da sensibilização de autoridades e sociedade em geral. A partir daí, textos começaram a ser distribuídos gratuitamente e não pararam mais.

Desta forma, o objetivo do veículo comunitário se configurou na vontade de Silva dar visibilidade às problemáticas sociais no Alemão, “muitas vezes ignoradas pelas mídias tradicionais”16. A ascensão e reconhecimento do VOZ, no entanto, é emblemática. O crescimento no acesso aos perfis nas redes sociais do projeto comunitário, assim como seu reconhecimento para além dos muros das favelas, ocorreu em 201017 (após cinco anos de seu lançamento), quando ações policiais no Complexo da Alemão foram narradas pelo veículo, disseminando informações para moradores e sociedade em geral18.

Durante os confrontos, as publicações do VOZ passaram a ser referenciadas pelos veículos geridos por grandes corporações midiáticas, sobretudo diante da impossibilidade de acesso dos jornalistas aos locais do confronto19. A atualização das postagens ocorria tanto a partir das situações observadas pelo núcleo responsável pelo projeto, como também a partir de informações vindas dos moradores da região. Esse se tornou um marco20, na história do Alemão, com grande repercussão midiática possibilitada pelo uso de tecnologias digitais para disseminação dos fatos a partir do olhar dos moradores.

Diante do uso de plataformas de redes sociais para amplificar o acesso às mensagens de veículos comunitários, o processo de conectividade e mobilidade proporcionado pelas tecnologias digitais viabiliza uma outra ambiência em que se reacomodam as dimensões sociocultural, política e econômica. Mesmo diante das restrições e dificuldades de infraestrutura enfrentadas pelos jovens, 76%21 dos moradores do Complexo do Alemão com idade entre 15 e 29 anos acessam diariamente a internet por smartphone. Se há um longo caminho a percorrer para garantir acesso à internet22 e às tecnologias digitais para todos, há também vozes que ecoam dessas regiões periféricas possibilitando o fortalecimento de redes de mobilização para exercício da cidadania.

2.1. Comunicação, redes de mobilização e influência para exercício da cidadania

Esse marco no Alemão evidencia a importância da valorização e reprodução de ações comunicativas norteadas para práticas de mudança social, da defesa dos direitos humanos e da cidadania. Ao surgir em 2005, de modo gradual o VOZ tem possibilitado maior visibilidade para as causas locais e debates sobre as problemáticas da região, para além dos limites das favelas.

Ao longo de 17 anos, após surgimento de iniciativa com jornal escolar, o projeto se tornou uma Organização Não Governamental (ONG), a equipe cresceu e os produtos midiáticos se multiplicaram, principalmente com o suporte das plataformas de redes sociais na internet. Enquanto o jornal impresso bimestral23 possui distribuição de 10.000 exemplares, o jornal digital alcança a marca de um milhão de visitas na internet (com picos de três milhões de acessos em dias específicos)24.

Figura 1 “Voz 16 Anos” - Antes e Depois dos jovens fundadores. Fonte: Imagem obtida dos perfis no Instagram. Agosto de 2021 

Além dos canais de distribuição em plataformas digitais, o veículo também conta com a importante articulação e influência do seu fundador Rene Silva, que alcançou papel de destaque na luta por melhores condições de vida para os moradores do Alemão. Em 2018 ganhou o prêmio da organização Mipad (Most Influential People Of African Descent), que o reconheceu como um dos 100 negros mais influentes do ano. Em 2021 recebeu a Medalha Pedro Ernesto25 concedida pela Câmara Municipal do Rio enquanto comunicador comunitário, ativista pelas causas dos direitos humanos e antirracista.

Em paralelo, Silva se tornou jornalista e influenciador digital, ultrapassando 120 mil seguidores no Instagram e mais de 240 mil seguidores no Twitter. A repercussão de suas publicações nas plataformas de redes sociais adquire notoriedade e forma opiniões. Em 2020, quando o Supremo Tribunal Federal26 proibiu as ações da polícia nas favelas do Rio de Janeiro, o ministro Edson Fachin chegou a referenciar um tweet de Silva sobre as operações policiais que estavam acontecendo durante a pandemia. Outro exemplo da influência de Silva pode ser observado na Figura 2, quando a cantora Anitta27 anuncia doação de cachê do novo clipe musical para a ONG Voz das Comunidades.

Figura 2 Instagram do Voz: mobilização de atores sociais externos às favelas para ações humanitárias voltadas para distribuição de cestas básicas. Fonte: Imagem obtida do feed do perfil do VOZ no Instagram. Abril de 2021 

Assim, de modo gradual, o VOZ conquistou espaço e ampliou seus canais de distribuição de narrativas para sensibilizar e mobilizar a sociedade. Além do jornal impresso, a iniciativa conta com um site atualizado diariamente (embora não todas as editorias) e presença massiva nas redes sociais (Twitter, Instagram, Facebook, Youtube e WhatsApp). Inclusive, com o apoio do Consulado dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, o veículo lançou em maio de 2020 (Figura 3) um aplicativo com o objetivo de “combater a desinformação como forma de minimizar os impactos da pandemia nas comunidades em maior vulnerabilidade social”28. Além das publicações para combater a desinformação sobre a Covid-19, o aplicativo foi atualizado em julho de 2022 com recursos de interatividade para potencializar a participação e o acesso das pessoas às notícias.

Para garantir essa dinâmica de produção dos conteúdos, a então chefe de redação do VOZ, ressalta a dependência da conectividade, expondo que utiliza muito o celular e suas diversas funções: “Usamos muito o celular. O tempo todo. É nosso canal de comunicação com a equipe e com os moradores. Eu uso para gravar, fotografar e também fazemos muitas transmissões ao vivo através do Facebook” 29.

Figura 3 Matéria jornalística sobre o aplicativo do VOZ no jornal RJTV da emissora Globo: “Voz das Comunidades cria aplicativo com informações sobre a Covid-19”. Fonte: Imagem do jornal da TV Globo. Maio de 2020 

Portanto, a apropriação da esfera pública midiatizada de comunicação e o uso crítico de tecnologias possibilitam a interação com o público numa conjuntura jamais vista e que dificilmente poderia ser superada. Esse vínculo constituído por afetos e vivencias compartilhadas pelo VOZ ao lado de moradores da região, demonstra fortalecimento de elos e gera empatia.

Contudo, no que diz respeito às práticas deliberativas e participação social, nem todos os grupos marginalizados necessariamente tem vontade, intenção e possibilidade de exercer ações relativas aos mecanismos de participação social, no entanto, é também pertinente considerar a construção de um paradoxo contemporâneo para as práticas de CMS por meio das redes sociais na internet, a partir da sinergia entre espaço material e esfera digital: a problemática da representatividade. Um ou mais grupos (ainda que oriundos de periferias) pautando a opinião pública estariam representando a(s) comunidade(s) e pautando a opinião pública a partir da percepção de desenvolvimento que as pessoas anseiam?

De outro modo, ainda que a participação enquanto conceito tenha se esvaziado do seu potencial político, a comunicação participativa enquanto processo para promoção de mudança social (Manyozo, 2012) demanda compreensão de mecanismos deliberativos e tomada de decisão coletiva. No entanto, as práticas de comunicação por meio de iniciativas de comunicação comunitária tendem a demonstrar a “falta de um processo partilhado de ação, embora possam estar agindo em favor da ‘comunidade’” (Peruzzo, 2004, p.04).

2.2. Outras narrativas possíveis, afetividades e vínculos constituídos

Aliado ao exercício de mobilização de redes em prol das causas humanísticas vivenciadas no Alemão, o VOZ conta com o uso de tecnologias de comunicação para narrar vivencias não ditas que precisam ser valorizadas e reconhecidas pela sociedade. A partir do monitoramento e coleta de dados das publicações30 realizadas nos perfis do VOZ em plataformas como Facebook, Instagram e YouTube ao longo do mês de agosto de 202131, é possível observar a divulgação de narrativas que fortalecem outras vivências e percepções a respeito dessas comunidades, de modo a valorizar os laços do viver comunitário entre moradores e sensibilizar a sociabilidade em geral. Problemáticas que saem do espaço físico (são vivenciadas nas regiões periféricas) e vão para a esfera digital, na qual são debatidas e disseminadas para reverberar novamente no espaço físico. Embora não seja um ciclo perfeito de processos e etapas a serem seguidas, a circularidade (dos conteúdos, debates e resultados) demonstra a importância da comunicação como estratégia para proporcionar micro rupturas rumo à movimentos de mudanças sociais em estruturas cristalizadas há anos. Ao longo de agosto de 2021, o VOZ realizou 181 postagens que monitoramos e categorizamos por temáticas. Como nem todas as mensagens publicadas pelo veículo possui referência de editorias, ao realizarmos a categorização das publicações foi possível obter visão geral a respeito das narrativas e ações desenvolvidas pelo VOZ enquanto estratégia de atuação, conforme objetivos propostos para este estudo. Dentre as postagens analisadas, o maior volume (19%) de publicações envolve mensagens da categoria “cotidiano e estilo de vida” (vide Figura 4)32 que engloba postagens com fotografias das favelas, do cotidiano das comunidades e datas comemorativas, dentre outras.

Figura 4 Facebook do VOZ: divulgação de profissionais liberais em ação. Fonte: Extraído do perfil do VOZ no Facebook (junho de 2022) e Instagram (maio de 2020) 

O segundo lugar (17% do total) ficou com a categoria “institucional e divulgação na grande mídia”, com mensagens sobre o aplicativo, a veiculação do jornal e majoritariamente divulgação sobre a participação do VOZ em emissoras comerciais de TV como Globo, SBT e Record. Essa articulação com a grande mídia pode ser observada a partir da publicação sobre atuação do “Voz das Comunidades” em quatro diferentes programas num único final de semana (Figura 5).

Figura 5 “Voz das Comunidades” e seu fundador “Rene Silva” em 04 programas de TV. Fonte: Elaborado a partir de dados coletados e extraídos das publicações no Instagram. Agosto de 2021 

Em terceiro lugar (com 15% no volume de publicações) está a categoria “saúde” em que constam majoritariamente avisos e calendários sobre a vacinação contra Covid-19 (vide painel - Figura 6). Do total de 28 publicações, cinco são matérias divulgadas nas redes sociais. Destas, quatro matérias abordam o cenário da pandemia nas favelas com indicativos sobre aumento ou redução do número de casos e uma notícia a respeito das condições respiratórias que podem piorar com o clima mais frio. Logo na sequência, está a categoria “Esporte, cultura e arte” com 14% das publicações, seguida de “Educação e carreira” (9%), “Ação social” (9%) e “Saneamento e infraestrutura (7%)”.

Figura 6 Painel Covid-19 (Dados reunidos e consolidados pelo Voz das Comunidades). Fonte: Extraído do site do VOZ https://painel.vozdascomunidades.com.br/  

Assim, podemos observar que a categoria “Política e segurança” ocupa a 8ª posição, correspondendo a 3% das publicações. Essa distribuição de mensagens por temática demonstra que o VOZ produz notícias sobre casos de violência, mas não utiliza essa abordagem como principal vertente para atrair atenção da sociedade, operando, portanto, na contramão da grande mídia. De modo geral, a imprensa faz coberturas sobre problemas de segurança na cidade com intuito de gerar audiência e atender aos critérios técnicos do jornalismo para produção de notícias. Dessa forma, em muitos casos, a ênfase para a dramatização das narrativas e uso de imagens fortes permeiam o sensacionalismo33. Desta forma, a exibição de conteúdos produzidos pelo VOZ na grande mídia proporciona oportunidade para que a sociedade em geral adquira outros olhares sobre a região, a partir da perspectiva e das narrativas de quem habita nessas favelas. Apesar de notícias sobre violência ainda serem o destaque quando a grande imprensa faz referências ao VOZ, nosso acompanhamento sobre essa dinâmica indica que o veículo comunitário tem contribuído para que outras pautas sejam reproduzidas pela imprensa em geral, envolvendo temas como projetos culturais e de entretenimento, práticas esportivas e projetos de ação social.

Porém, embora esforços possam ser observados nas tentativas de pautar a grande imprensa e o poder público a respeito dos meandros das regiões periféricas, a atuação do VOZ não deve ser avaliada fora da interrelação com o sistema estruturante que permeia as indústrias midiáticas e tecnológicas, tendo em vista a orquestração do poder econômico e político. Assim como em todos os casos de mobilizações dessa natureza, há a possibilidade de “nenhum dos movimentos sociais atuantes nas redes sociais na internet estar fora do sistema, apesar deles buscarem de algum modo subverter o sistema” (Thomas, 2014, p. 13).

De todo modo, com a percepção de que “No Rio de Janeiro (RJ), todos os outros veículos só mostram a violência. Operações da polícia aparecem na TV o dia inteiro, a semana toda” 34, a estratégia do VOZ é, portanto, proposital em 2018 anunciara a intenção de “mostrar o RJ além da violência”. Nesse sentido, assume posicionamento diverso daquele adotado pela grande imprensa do Brasil para constituir e disseminar outras narrativas e vivências que vibram no tecido social das favelas, mas poucas vezes possuem oportunidade de estar em foco nas lentes da mídia que tende a direcionar o olhar e a atenção da sociedade.

Em paralelo, o VOZ desenvolve atividades sociais nas comunidades e se posiciona como veículo para “prestar serviço de utilidade pública” (Figuras 7 e 8)35. A então chefe de redação explica que “o jornal faz a ponte entre as comunidades e os órgãos públicos - o veículo serve para cobrar e fiscalizar melhorias e serviços, de acordo com a demanda da população” 36.

Figura 7 Prestação de serviço, proximidade e diálogo com moradores. Fonte: Extraído do perfil do VOZ no Instagram e Twitter. Maio de 2021  

Figura 8 Voluntários do VOZ auxiliam moradores da Rocinha a limpar casas. Fonte: Extraído do perfil do VOZ no Instagram. Fevereiro de 2019 

Logo, além das práticas comunicacionais para transformação social, há o desenvolvimento de ações para ajuda humanitária, mobilizando campanhas de doação e ações culturais (com distribuição de livros e sessão de cinema, por exemplo). Atividades desenvolvidas em virtude da pandemia gerada pela Covid-19 demonstram o papel social desempenhado pela instituição37. Em abril de 2020, a iniciativa lançou a campanha “Pandemia com Empatia” para arrecadar produtos e atualmente faz doações de cerca de mil cestas básicas todos os meses38. Na Figura 9, à esquerda, atuação do VOZ e da iniciativa comunitária parceira NordesteuSou para distribuição de cestas básicas em Salvador e, à direita, imagem do projeto #pratodascomunidades.

Figura 9 Ações humanitárias do VOZ com distribuição de alimentos. Fonte: Extraído do VOZ no Instagram (Jun de 2020) e pratodascomunidades.com.br 

Para manutenção de todas as frentes de atuação do VOZ, além da equipe de 30 pessoas, a iniciativa conta com o apoio de voluntários, colaboradores e correspondentes atuantes em diferentes favelas do Alemão. Como estratégia, o VOZ busca alcançar novos voos e se articular com outras instituições e organizações de mídia, inclusive atuantes fora do eixo Rio-São Paulo. Com essa perspectiva, o VOZ mobiliza redes de apoio com entidades e ONGs, gerando oportunidade para dar voz aos moradores dos bairros de outras favelas. Como exemplo, podemos citar parcerias estabelecidas com outras iniciativas como NordesteuSou (Nordeste de Amaralina/Salvador), Vozes das Periferias (São Paulo) e Voz da Baixada (Baixada Fluminense/RJ).

Embora esforços possam ser observados nas tentativas de pautar a grande imprensa e o poder público a respeito dos meandros das regiões periféricas, a atuação do VOZ não deve ser avaliada fora da interrelação com o sistema estruturante que permeia as indústrias midiáticas e tecnológicas, tendo em vista a orquestração do poder econômico e político. Assim como em todos os casos de mobilizações dessa natureza, há a possibilidade de “nenhum dos movimentos sociais atuantes nas redes sociais na internet estar fora do sistema, apesar deles buscarem de algum modo subverter o sistema” (Thomas, 2014, p. 13).

Embora, o processo seja gradual e os resultados paulatinos diante da dificuldade de financiamento e de gerar mudanças estruturais em níveis mais profundos, as práticas relatadas demonstram relevância ao produzir, divulgar e tornar visíveis outras narrativas, constituindo afetividades e vínculos que se fortalecem a cada ação, de modo a transformar as realidades locais e gerar outras percepções da sociedade sobre as favelas e os moradores do Alemão.

3. Percursos para a cidadania, nós que unem e redes de mobilização

Como são diversas as ações desenvolvidas a partir das ondas de mobilização provocadas pelo VOZ, a intenção desse estudo não foi esgotar exemplos de suas práticas, mas refletir sobre atributos a serem considerados no âmbito da comunicação para mudança social. A partir dos critérios estabelecidos pela Fundação Rockefeller (Gumucio-Dagron, 2001) com levantamento de experiências comunitárias em diferentes países, é possível identificar características referenciais para as práticas de comunicação para mudança social, com lições e desafios que podem ser adaptados e apropriados por cada comunidade. Obviamente não existe (nem existirá) modelo ideal com padrões de atuação a serem fidedignamente replicados, pois cada experiência é única e possui trajetórias específicas, a depender do contexto cultural, político e social.

Ao longo dessas páginas foi possível observar que o VOZ constrói laços e faz parte da vida cotidiana da comunidade, possui práticas que contribuem com o fortalecimento dos valores de democracia, da cultura e da paz, assim como possibilitam difundir a identidade cultural das comunidades locais.

Além disso, o VOZ utiliza diferentes instrumentos de comunicação para alcançar o maior número possível de pessoas, gerar envolvimento, desenvolver redes para compartilhamento de conhecimento e formar ondas de solidariedade por meio de atuação horizontal com outras ONGs, sociedade e comunidades locais, mas também ao valorizar o diálogo vertical com agências de fomento, instituições e empresas privadas.

Considerações finais: redes de contenção ou redes de transformação social?

A visão otimista sobre o uso da tecnologia por movimentos sociais e comunitários tem como principal fator a redução de distâncias espaciais e temporais, construindo “espaço público” ao permitir que informações estejam acessíveis a todos de modo praticamente simultâneo em diferentes localidades.

Considerando que a comunicação é uma ferramenta de mediação que potencializa as ações dos públicos39 e os reveste de poder de influência (Esteves, 2004, p.130), parece proveitosa a possibilidade de replicar experiências baseadas na jornada, nas lições e nas estratégias do VOZ em outras localidades do país, em atendimentos às características e necessidades de mobilização social para cada região e conforme fatores levantados pela Fundação Rockefeller (Gumucio-Dagron, 2001) sobre comunicação para mudança social.

Embora o acesso às tecnologias ainda seja um desafio em áreas mais afastadas das regiões metropolitanas, o aumento da penetração desses dispositivos junto à sociedade viabiliza apropriação social e novas configurações de fluxos comunicacionais. Portanto, apesar dos interesses majoritariamente comerciais que ordenam a internet, buscamos aqui contribuir com outras perspectivas sobre o uso de tecnologias enquanto potencial benefício a favor da mudança social, alcançando (ainda que em parte) bases para fortalecimento da cidadania e dos direitos humanos de comunidades locais. Apesar de todas limitações e condições estruturantes que tendem a reduzir o poder de ação de iniciativas comunitárias, é possível identificar no VOZ características que geram mobilizações em prol do bem comum, fortalecendo reciprocamente as esferas públicas no local, regional e nacional, a partir de ações de comunicação partilhadas e potencializadas pelo sentimento de pertença.

Desta forma, sua ampliação e aprendizados levados para outras regiões periféricas do país tendem a fomentar a construção da cidadania, mediante fortalecimento dos valores da democracia, da paz e da consciência social coletiva em prol da redução dos índices de violência, de melhorias de qualidade de vida e do debate em torno de políticas que viabilizem mudança social para essas localidades.

No entanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido diante das barreiras sócio-históricas que perpetuam desigualdades e restringem a garantia dos direitos humanos. Os processos de mudança social por meio de práticas comunicacionais são significativos e necessários, mas tendem a ser graduais e demandam cuidadosa análise microssocial para alcançar efeitos de longo prazo que proporcionem fissuras na conjuntura estruturante. Por isso, para fortalecimento e sustentabilidade das mobilizações, tais iniciativas carecem de reconhecimento da sociedade e do Estado. Para tanto, é inevitável valorizar o processo, reconhecer a natureza de longo pra-

zo para execução de ações humanísticas, gerar mobilização coletiva da sociedade e fomentar processos dialógicos de comunicação por/com/para as comunidades locais. Com essa perspectiva, um futuro é possível para que as redes de contenção social causadas pela injustiça social sejam transformadas em redes de mobilização e mudança social para construção da cidadania, do fortalecimento dos valores da democracia, da paz e da consciência social. Nós que unem e mobilizam para proteção dos direitos humanos e garantia do exercício da cidadania.

Referências

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1 Kaplún, Gabriel. Entre mitos e desejos: desconstruir e reconstruir o desenvolvimento, a sociedade civil e a comunicação comunitária. In: PAIVA, Raquel (Org.). O retorno da comunidade: os novos caminhos do social. Rio de Janeiro: Mauad, 2007, p. 190.

2 “Hard news” ou notícia importante, relato de fatos e acontecimentos relevantes para a vida política, econômica e cotidiana.

3 Campo de estudo possui diferentes correntes teóricas desde que surgiu na segunda metade do século XIX, sendo mais recorrente a adoção da nomenclatura “Comunicação para Mudança Social” na América Latina, privilegiando a abordagem humanística e de envolvimento coletivo com abordagem dialógica e participativa, inclusive sob influência dos ensinamentos de Paulo Freire.

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5 O CENSO 2020 do IBGE ((Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) foi suspenso em virtude da pandemia provocada pela disseminação da Covid-19.

7 Disponível em: https://wikifavelas.com.br/ Acesso em: 09 abr. 2022.

8 Algumas fontes estimam 17 favelas, em virtude da irregularidade dos limites que avançam para outras regiões. O bairro Complexo do Alemão possui extensões que avançam e se mesclam com outros bairros da periferia do Rio de Janeiro como Ramos, Higienópolis, Olaria, Penha, Inhaúma e Bonsucesso.

9 O estudo “Juventudes em Movimento” representou em sua amostragem as favelas Adeus, Alemão, Alvorada, Baiana, Fazendinha, Grota, Loteamento, Matinha, Mineiros, Nova Brasília, Palmeiras, Pedra do Sapo (Esperança) e Reservatório. Desenvolvido em parceria com o Instituto Raízes em Movimento, o trabalho foi financiado pela organização canadense International Development Research Centre (IDRC), que apoia estudos sobre juventudes em todo o mundo.Com metodologia Incid (Sistema de Indicadores de Cidadania), a pesquisa utiliza informações de bancos de dados públicos, como o Censo Demográfico do IBGE, Censo Escolar, Datasus, Instituto de Segurança Pública (ISP/RJ) e outras estatísticas oficiais do município do Rio de Janeiro.

10 Em 2023, salário mínimo igual a $ 1.302,00/Real (BRL), equivalente a $ 251,395 / USD ou $ 238,42/EUR.

11 Em 2010, a população feminina do Estado do Rio de Janeiro foi de 8.517.251, representando 52,24% do total da população Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia Estatística - IBGE. Projeção da população do Brasil e das Unidades da Federação.

14 Disponível em: https://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/70/1&Lang=E. Acesso em: 15 mar. 2021.

15 Entidades como AMARC, ULEPICC, IAMCR, dentre outras, possuem grupos de trabalho e pesquisas voltadas para estudar a formação de movimentos sociais e iniciativas de comunicação comunitária.

16 BRAZIL FOUNDATION. FalaJovem: Protagonismo jovem na criação de um legado para a comunidade. Voz das Comunidades. Disponível em: https://www.brazilfoundation.org/pt-br/project/voz-das-comunidades/. Acesso em: 13 de jul. de 2020.

17 Em 26 de novembro de 2010 agentes militares iniciaram a ocupação das favelas do Complexo do Alemão. No dia 28 do mesmo mês, a comunidade foi totalmente ocupada pelas forças militares do Estado, dando início a um processo de pacificação que demonstra sinais de retrocessos.

18 EL PAÍS. A voz da comunidade que corre o Rio. Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/05/politica/1428194084_073598.html. Acesso em: 13 jul. 2020.

19 Devido ao grande volume de tiroteios e barricadas (espécie de trincheiras feita de improviso), o acesso de jornalistas ou quaisquer outros profissionais não era recomendado nem seguro. Desta forma, as informações sobre os confrontos nos meandros das favelas somente poderiam ser relatadas por aqueles que já estivessem no local ou pelos próprios moradores.

20 O histórico de violência, tiroteios e mortes no Complexo do Alemão demonstra a ocorrência de episódios cíclicos. A partir de 2016, a plataforma Fogo Cruzado (https://fogocruzado.org.br/) iniciou a coleta de dados e vem reportando aumento de registros de tiroteios/disparos na comunidade. Em 21 de julho de 2022, novos confrontos ocorreram na região ocasionando 18 mortes.

21 Fonte: IBASE, 2019/2020.

22 No Brasil, de acordo com Instituto Locomotivas e Consultoria PWC, cerca de 34 milhões não possuem conexão à internet e 87 milhões não conseguem se conectar diariamente. Maior proporção do grupo é formado por pessoas negras, que estão nas classes socioeconômicas C, D e E. Disponível em: https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2022/03/21/mais-de-33-milhoes-de-brasileiros-nao-tem-acesso-a-internet-diz-pesquisa.ghtml. Essa realidade de desigualdade é enfrentada em todo o mundo estudos reportam que há quatro bilhões de cidadãos desconectados no mundo, pessoas que ainda não possuem acesso à internet (Belli, 2017).

23 Inicialmente com 12 páginas, o jornal passou por reformulações e dobrou o número de páginas a partir de 2017. A versão impressa é distribuída gratuitamente nas favelas do Complexo do Alemão, Borel, Cantagalo, Cidade de Deus, Fumacê, Formiga, Pavão Pavãozinho, Vila Kennedy, Complexo da Maré e Complexo da Penha.

24 EL PAÍS. A voz da comunidade que corre o Rio. Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/05/politica/1428194084_073598.html. Acesso em: 13 jul. 2020.

26 Na época, estavam ocorrendo ações policiais concomitantemente com as atividades para doações de alimentos durante o ápice da crise pandêmica. Disponível em: https://www. geledes.org.br/rene-silva-mobilizacao-e-comunicacao-na-favela/ Acesso em: 09 mar. 2022.

27 Anitta é uma cantora, compositora e dançarina brasileira que adquiriu projeção nacional ao longo de 13 anos de carreira e tem ampliado a divulgação de seu trabalho nos demais paí-ses nos últimos seis anos. Foi uma das indicadas ao prêmio de Best New Artist (Artista Revelação, em tradução livre) na cerimônia da 65ª edição do Grammy Awards.

29 VEJA RIO. Voz das Comunidades: da favela para o mundo. . 06 de nov. de 2017. Cidades, Abril Branded Content. Fala de Maria Carolina Morganti (Chefe de redação em 2017). Disponível em: https://vejario.abril.com.br/cidade/voz-das-comunidades-da-favela-para-o-mundo/. Acesso em: 13 jul. 2020.

30 A partir dos dados coletados nesse período, realizamos a leitura das publicações para categorizar por temática de modo a relacionar a editorias. Na sequência, a partir da de análise quantitativa e qualitativa das informações publicadas, foi possível obtermos algumas conclusões.

31 Período em que o veículo comemorou seus 16 anos de existência, a completar 18 anos em agosto de 2023.

32 Na Figura 5, à esquerda, publicação sobre a amizade de barbeiros e, à direita, ilustração de vídeo publicado em homenagem aos garis - desenvolvimento de relação e vínculos com moradores das favelas.

33 No jornalismo, a expressão “imprensa marrom” é utilizada para nomear a imprensa sensacionalista.

34 ESTADÃO. Portal Voz das Comunidades quer mostrar o RJ além da violência. 06 set 2018. Fala de Melissa Canabrava (Chefe de Redação em 2018) https://brasil.estadao.com.br/blogs/em-foca/portal-voz-das-comunidades-quer-mostrar-o-rj-alem-da-violencia/

35 Na Figura 8, à esquerda, divulgação do programa “Quais seus direitos em tempos de pandemia?” do “VOZ” para esclarecer dúvidas sobre o auxílio emergencial. À direita, o VOZ retuita denúncia de moradora sobre o descarte de lixo. Na Figura 9, mobilização do veículo para auxiliar a comunidade a se recuperar após fortes chuvas na região.

36 VEJA RIO. Voz das Comunidades: da favela para o mundo. 06 de nov. de 2017. Cidades, Abril Branded Content. Fala de Maria Carolina Morganti (Chefe de redação em 2017). Disponível em: https:// vejario.abril.com.br/cidade/voz-das-comunidades-da-favela-para-o-mundo/. Acesso em: 13 jul. 2020.

37 Durante a crise provocada pela pandemia com disseminação do coronavírus, Voz das Comunidades não somente atuou na distribuição de cestas e produtos de limpeza, conforme publicações nas redes sociais. Fonte: https://www.diariodeceilandia.com.br/brasil/consulado-dos-eua-no-rio-e-voz-das-comunidades-lancam-aplicativo-para-combater-a-desinformacao-sobre-a-covid-19/ Acesso em: 13 jul. 2020.

39 Para o autor, o conceito de público pode ser interpretado como uma evolução dos indivíduos. Nesse caso, os públicos ganham coesão e se sobrepõem às tradicionais divisões ou conflitos sociais. Contudo, apesar do ordenamento dessas aglutinações se tornarem menos caóticas através da comunicação, não devemos desconsiderar a possibilidade de conflitos internos e externos, como ocorre na dinâmica de configuração das redes sociais online.

Recebido: 01 de Outubro de 2022; Aceito: 10 de Fevereiro de 2023

Cinthya Pires Oliveira. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Mídia e Cotidiano pela Universidade Federal Fluminense; Master em Marketing Estratégico e Entretenimento; Bacharel em Jornalismo e Publicidade; Pesquisadora no grupo EMERGE/UFF; Editora na Revista Eletrônica Pontos de Contato; Consultora em Marketing e Comunicação. Especialista em Comunicação Pública na EBC. Lattes ID: 7777707018533646 Morada: Universidade Federal Fluminense. Rua Tiradentes. Ingá 24210510 Niterói, RJ Brasil

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