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Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional online

versão impressa ISSN 2183-8453

RPSO vol.11  Gondomar jun. 2021  Epub 07-Jan-2022

https://doi.org/10.31252/rpso.27.03.2021 

Artigo Original

VACINAÇÃO CONTRA A GRIPE SAZONAL NOS TRABALHADORES DE UM CENTRO HOSPITALAR DA GRANDE LISBOA

VACCINATION AGAINST SEASONAL FLU IN WORKERS IN A HOSPITAL CENTER IN GREATER LISBON

A Correia1 

A Roque2 

R Serra3 

M Fernandes4 

1Mestre em Medicina. Interna da Formação Específica de Medicina do Trabalho no Centro Hospitalar Barreiro Montijo, EPE. Morada para correspondência dos leitores: Serviço de Saúde Ocupacional, Avenida Movimento das Forças Armadas, 2834-003 Barreiro. E-mail: anaisabelb.correia@gmail.com

2Mestre em Medicina. Interna da Formação Específica de Medicina do Trabalho no Centro Hospitalar Barreiro Montijo, EPE. Especialização em Medicina do Viajante. 2834-003 Barreiro. E-mail: anaisabelb.correia@gmail.com

3Enfermeiro Especialista em Enfermagem Comunitária. Competências acrescidas em Supervisão Clínica e Gestão e diferenciada em Enfermagem do Trabalho. Enfermeiro do Serviço de Saúde Ocupacional no Centro Hospitalar Barreiro Montijo, EPE. 2834-003 Barreiro. E-mail: anaisabelb.correia@gmail.com

4Diretor do Serviço de Medicina Interna e Responsável do Serviço de Saúde Ocupacional do Centro Hospitalar Barreiro Montijo, EPE. Médico do Trabalho. 2834-003 Barreiro. E-mail: anaisabelb.correia@gmail.com


RESUMO

Introdução:

A Gripe, provocada pelo vírus Influenza, constitui uma doença respiratória contagiosa, sendo os trabalhadores da área da saúde um dos principais grupos de risco. Tais trabalhadores são potenciais transmissores para os colegas de trabalho e doentes aos quais prestam cuidados, nomeadamente para os mais suscetíveis, encontrando-se muitas vezes implicados em surtos nosocomiais nas instituições de saúde. Por isso a vacinação contra a Gripe é fortemente recomendada para este grupo prioritário.

Objetivos:

Caraterizar os principais motivos de decisão de vacinação dos trabalhadores de um Centro Hospitalar da Grande Lisboa.

Metodologia:

Estudo observacional descritivo transversal, onde foi aplicado um questionário sobre vacinação, adaptado da literatura, o qual foi disponibilizado no portal interno da instituição estudada.

Resultados:

Obtiveram-se 81 respostas ao questionário sobre vacinação, com predomínio do sexo feminino (79%), do grupo etário 45-64 anos (62%) e de profissionais de Enfermagem (37%). A maioria (67%) dos participantes vacinou-se para a gripe na época 2018-2019.

Os motivos que mais frequentemente justificaram a decisão de vacinação foram a proteção individual e do doente, assim como as recomendações nacionais e internacionais. Por sua vez, o receio de efeitos adversos, as dúvidas na eficácia da vacina e a crença que a vacina poderá provocar Gripe, foram os motivos mais prevalentes nos trabalhadores não vacinados.

Discussão e Conclusões:

Os comportamentos e atitudes perante a vacinação e o risco de vacinar-se ou não, irão depender da personalidade de cada trabalhador, assim como estarão relacionados com a perceção que o próprio trabalhador tem de tal risco. Assim, este trabalho, ao disponibilizar as crenças dos trabalhadores de um Centro Hospitalar sobre vacinação contra a Gripe, vem reforçar a importância de se apostar na sua informação e educação, através do apoio dos serviços competentes, tais como os Serviços de Saúde Ocupacional, os quais poderão exercer uma influência positiva na formação dos trabalhadores e da entidade patronal. Torna-se necessário um estudo semelhante a nível nacional de forma a obter-se uma maior representação das motivações para a vacinação dos trabalhadores da saúde.

Palavras-Chave: Vacinação; Gripe; Trabalhadores; Saúde Ocupacional; Perceção de risco

ABSTRACT

Introduction:

Seasonal Flu, caused by the Influenza virus, is a contagious respiratory disease, with healthcare workers being one of the main risk groups. Such workers are potential transmitters of influenza other health professionals and patients they care for, particularly for the most susceptible, and are often involved in nosocomial outbreaks in health institutions. Therefore, flu vaccination is strongly recommended for this priority group.

Aims:

To characterize the main reasons for vaccination decisions among workers in a Hospital Center in Greater Lisbon.

Methods:

Cross-sectional observational study, where a vaccination questionnaire was applied, adapted from the literature, which was made available on the internal website of the studied institution.

Results:

81 responses to the vaccination questionnaire were obtained, with a predominance of females (79%), 45-64 years old (62%) and nursing (37%). The majority (67%) of the participants were vaccinated for the flu in the 2018-2019 season.

The reasons that most often justified the vaccination decision were individual and patient protection, as well as national and international recommendations. In turn, the fear of adverse effects, doubts about the effectiveness of the vaccine and the belief that the vaccine could cause disease, were the most prevalent reasons among non-vaccinated workers.

Conclusions:

The behaviors and attitudes towards vaccination and the risk of being vaccinated or not, will depend on the personality of each worker, as well as being related to the perception that the worker has of such risk. So, this work, by making workers' beliefs about flu vaccination available, reinforces the importance of investing in their information and education, through the support of competent services, such as Occupational Health Services, which may exercise a positive influence on the training of workers and the employer. A similar study at national level is necessary to obtain a greater representation of the motivations for vaccination of health workers.

Keywords: Vaccination; Flu; Workers; Occupational Health; Risk Perception

INTRODUÇÃO

A Gripe, provocada pelo vírus Influenza, constitui uma doença respiratória contagiosa. Os principais vírus Influenza que causam doença humana são os tipos A e B, responsáveis pelas epidemias sazonais de Gripe (1). Mantém-se como uma causa importante de morbimortalidade, onde os trabalhadores da área da saúde, pela sua exposição significativa e direta aos vírus, constituem um dos principais grupos de risco para contrair a doença. Os trabalhadores da área da saúde são potenciais transmissores de Gripe para os colegas e doentes aos quais prestam cuidados, nomeadamente para os mais suscetíveis (idosos, doentes crónicos), encontrando-se muitas vezes implicados em surtos nosocomiais nas instituições de saúde. Assim, estes trabalhadores pertencem a um dos grupos alvo prioritários para os quais se recomenda a vacinação, sendo esta atitude uma medida preventiva eficaz (2) (3) (4).

De acordo com o artigo 13º do Decreto-Lei nº 84/97, de 16 de Abril, é recomendada a vacinação (gratuita) aos trabalhadores, sempre que existam vacinas eficazes contra os agentes biológicos a que os trabalhadores estejam ou possam estar expostos, como plano de ação de vigilância da saúde. Esta vacinação deverá obedecer às recomendações da Direção-Geral da Saúde, sendo registada no processo clínico do trabalhador e tem como principal objetivo prevenir a transmissão de agentes biológicos responsáveis por doenças infeciosas evitáveis pela vacinação, as quais poderão ter repercussões na saúde e/ou na capacidade de trabalho do(s) trabalhador(es). Para além disto, o empregador deverá assegurar que os trabalhadores sejam informados das vantagens e desvantagens tanto da vacinação bem como da sua ausência (5).

O Serviço de Saúde Ocupacional, ao efetuar a vigilância da saúde dos trabalhadores, não identifica apenas o estado de saúde do trabalhador, mas também o relaciona com os fatores de risco a que está exposto, com o intuito de avaliar o risco real. Neste sentido, deverá intervir de forma preventiva na redução da exposição aos fatores de risco biológicos, em parte colaborando no cumprimento do Programa Nacional de Vacinação (6), assim como, especificamente, apresentando um papel relevante na adesão à vacinação contra a Gripe, através da realização de campanhas de sensibilização que englobem informação, formação, acessibilidade fácil e gratuita à vacina (7).

Assim sendo, a vacinação contra a Gripe é fortemente recomendada para os trabalhadores da área da saúde, sendo que a vacina deverá ser administrada durante a época de outono/inverno, de preferência até ao final do ano civil, embora possa ser administrada durante toda a época gripal (4) (8). Trata-se, portanto, de uma vacina facultativa, sendo gratuita para este grupo de trabalhadores.

Durante a época gripal 2019-2020, a vacina que esteve disponível foi uma vacina tetravalente inativada, contrariamente às épocas anteriores, onde a vacina era trivalente. Esta vacina tetravalente contra a gripe sazonal, no Hemisfério Norte, incluía uma estirpe viral A(H1N1)pdm09 idêntica a A/Brisbane/02/2018, uma estirpe viral A(H3N2) idêntica a A/Kansas/14/2017, uma estirpe viral B (linhagem Victoria) idêntica a B/Colorado/06/2017 e, uma estirpe viral B (linhagem Yamagata) idêntica a B/Phuket/3073/2013 (8).

O “Vacinómetro”, projeto da Sociedade Portuguesa de Pneumologia e da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, com o apoio da Sanofi, monitoriza desde 2009 a taxa de cobertura da vacinação contra a gripe em grupos prioritários recomendados pela Direção-Geral da Saúde. De acordo com os seus dados publicados, cerca de 52% trabalhadores da área da saúde com contacto direto com doentes vacinaram-se contra a gripe na época gripal 2018-2019, o que corresponde a uma diminuição de 2,8% em comparação ao período homólogo da época anterior (9).

Existem vários benefícios na vacinação dos trabalhadores da área da saúde, desde a diminuição de infeções nosocomiais, ao prognóstico dos doentes, como à diminuição do absentismo dos trabalhadores (4). Infelizmente e, ao contrário do que seria expectável, ocorrem baixas taxas de vacinação contra a Gripe neste grupo de trabalhadores.

A vacinação contra a Gripe em anos anteriores assume-se como um dos preditores mais potentes de vacinação no ano atual, pelo que uma estratégia de vacinação poder-se-á aliar neste pilar de forma a conseguir que outros trabalhadores se vacinem pela primeira vez. Por outro lado, parece que os trabalhadores que sabem que a vacina não causa doença aceitarão, mais provavelmente, a vacina contra a Gripe, embora um bom conhecimento sobre a doença não seja um maior preditor de uma maior taxa de vacinação. A escassez de tempo e o esquecimento são fatores apontados para a não vacinação destes trabalhadores (10).

Perante estes dados, o Serviço de Saúde Ocupacional de um Centro Hospitalar da Grande Lisboa procurou perceber quais os motivos que influenciaram a vacinação nos seus trabalhadores.

OBJETIVOS

Este trabalho teve como objetivo caraterizar os principais motivos que influenciaram os trabalhadores de um Centro Hospitalar da Grande Lisboa na sua decisão de vacinação contra a gripe sazonal, com o intuito de identificar áreas a serem posteriormente intervencionadas com vista à otimização do processo de vacinação.

METODOLOGIA

Foi realizado um estudo observacional transversal descritivo, através da aplicação de um questionário sobre vacinação aos trabalhadores de um Centro Hospitalar da Grande Lisboa. Tal questionário, não validado, (Anexo 1), foi adaptado de um trabalho realizado em 2010 por um grupo de médicos de Medicina Geral e Familiar (11). A sua aplicação obteve a aprovação da Comissão de Ética Hospitalar e a instituição autorizou a divulgação pública dos dados.

Assim, o questionário sobre vacinação foi disponibilizado durante a 2ª e a 3ª semana de novembro de 2019, no Portal Interno do Centro Hospitalar, de forma a ser respondido pelo maior número possível de interessados, numa população total de 1803 trabalhadores. Neste período de aplicação do questionário, já decorria a vacinação contra a Gripe da época 2019-2020, pelo que o questionário serviu para motivar e relembrar a vacinação, bem como, por outro lado, o mesmo ia sendo promovido durante os momentos de vacinação nos vários serviços. Um dos intuitos da promoção do questionário realizado nos vários serviços, tanto clínicos como não clínicos, foi o de minorar o enviesamento das respostas, com o objetivo de obter uma amostra maior e mais abrangente.

Este questionário pretendia perceber quantos trabalhadores se tinham vacinado na anterior época gripal (2018-2019), conhecendo as suas motivações para a vacinação ou não, de forma a identificar estratégias de adesão à vacina contra a Gripe nos trabalhadores da área da saúde.

Dados demográficos como sexo, grupo etário e categoria profissional foram incluídos. A confidencialidade dos dados foi assegurada, sendo o questionário voluntário e anónimo.

Foi criada uma base de dados em Excel, onde foi aplicada estatística descritiva para tratamento de cada uma das variáveis (motivos de adesão ou não adesão à vacinação, sexo, grupo etário, categoria profissional). Utilizou-se o Teste Exato de Fisher para averiguar a diferença entre os vacinados e não vacinados em relação ao sexo.

RESULTADOS

Obtiveram-se 81 respostas ao questionário sobre vacinação, num universo hospitalar total de 1803 trabalhadores, o que corresponde a uma taxa de adesão de 4,5%. Houve um predomínio do sexo feminino (79%). No que diz respeito ao grupo etário, o mais prevalente foi o 45-64 anos (62%). Por sua vez, a categoria profissional que mais aderiu ao questionário foi a dos Enfermeiros, com um total de 30 respostas (37%), seguidos dos Assistentes Técnicos (19%). A maioria (67%) afirmou ter-se vacinado contra a Gripe na época 2018-2019.

Não houve diferença estatisticamente significativa quando se comparou o sexo com o grupo de trabalhadores vacinados e não vacinados (p=0,07). O grupo etário 45-64 anos foi o mais prevalente nos dois grupos (67% vacinados versus 52% não vacinados). Os Enfermeiros predominaram no grupo dos trabalhadores vacinados para a gripe (43%), contrariamente ao grupo dos não vacinados, onde os Assistentes Técnicos predominaram (33%).

Nos 54 trabalhadores que se vacinaram contra a Gripe na época 2018-2019, os três motivos principais da vacinação foram (Gráfico 1): proteger o próprio trabalhador (98%), ser uma recomendação internacional e da Direção-Geral da Saúde (85%) e proteger o doente (83%).

Gráfico 1 Motivos para “vacinação” referidos pelos trabalhadores 

Por sua vez, dos 33% trabalhadores que não se vacinaram, 63% justificaram-se pelo receio de virem a desenvolver efeitos adversos, 52% por apresentarem dúvidas na eficácia da vacina e, 41% por a vacina poder provocar Gripe (Gráfico 2).

Gráfico 2 Motivos para “não vacinação” referidos pelos trabalhadores 

DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

A principal limitação deste trabalho foi a reduzida taxa de resposta ao questionário por parte dos trabalhadores, o que constitui um viés de seleção, pois os principais motivos de vacinação dos respondentes podem diferir dos não respondentes. Por sua vez, a maioria dos participantes vacinaram-se para a gripe na época 2018-2019, embora possa ocorrer maior predisposição e motivação dos trabalhadores vacinados para participarem no questionário. As questões logísticas, nomeadamente no que diz respeito ao reduzido tempo de disponibilização do questionário na Intranet, poderão ter contribuído para uma fraca adesão ao mesmo.

Por outro lado, a amostra de 81 trabalhadores, numa população de 1803, não poderá ser representativa da população de trabalhadores da área da saúde, assim como as variáveis demográficas comparadas neste estudo não poderão ser inferidas para a totalidade da anterior população.

No que diz respeito aos principais motivos para se vacinarem selecionados pelos trabalhadores, são concordantes com a literatura científica (11) (12) (13), sendo estes a proteção do doente e do próprio trabalhador, bem como o facto de ser uma recomendação internacional e da Direção-Geral da Saúde, o que vem demostrar que as campanhas de vacinação têm sido especificamente bem-sucedidas na divulgação destas informações em concreto, contribuindo para a redução de infeções nosocomiais. De salientar que as recomendações nacionais e internacionais das entidades de saúde constituíram o segundo principal motivo para os trabalhadores se vacinarem, o que realça a o impacto positivo que tais entidades exercem na população, atuando como verdadeiros agentes de saúde pública.

Torna-se interessante notar que o facto de a vacina ser gratuita não foi dos aspetos mais valorizados pelos respondentes, embora em alguns estudos, cerca de 11 a 58% dos trabalhadores da área da saúde apontem esta gratuidade como um elemento crucial e motivador para aumentar a taxa de vacinação (2).

Por sua vez, os principais motivos apontados pelos trabalhadores para não se vacinaram (receio de efeitos adversos, dúvidas na eficácia da vacina e a vacina poder provocar Gripe) diferiram da literatura encontrada, onde o motivo mais frequentemente referido foi o facto de a Gripe ser uma doença benigna e autolimitada (11). Tais motivos foram apontados, na sua maioria, por Assistentes Técnicos, seguidos dos Assistentes Operacionais. De facto, constituem categorias profissionais com menor educação em saúde quando comparadas com os Médicos e/ou Enfermeiros. No entanto, dada a elevada frequência de contato com doentes, nomeadamente por parte dos Assistentes Operacionais, os quais prestam cuidados diretos, é de extrema importância uma campanha de vacinação mais orientada, informativa e formativa para estas categorias profissionais.

Os comportamentos e atitudes perante a vacinação e o risco de vacinar-se ou não, irão depender da personalidade de cada trabalhador, assim como estarão relacionados com a perceção que o próprio trabalhador tem de tal risco. Assim, quanto maior e mais intensa for esta perceção, mais seguros serão os comportamentos e decisões dos trabalhadores. Desta forma, o planeamento de uma campanha de vacinação nos trabalhadores da área da saúde dever-se-á guiar pela perceção inicial dos trabalhadores relativamente ao ato de vacinação (14).

Por exemplo, a pandemia por Gripe A poderá ter aumentado a perceção de risco nos trabalhadores da área da saúde, modificando as suas decisões de vacinação, como mostrou um estudo sobre o comportamento dos Enfermeiros perante a vacinação contra a Gripe sazonal, onde ocorreu uma maior taxa de vacinação comparativamente a dados anteriores (15). Por outro lado, em ano de pandemia por SARS-CoV-2, é esperado que tal taxa aumente, pela maior procura e preocupação por parte dos trabalhadores de saúde, os quais se encontram mais sensibilizados para o tema devido à atualidade que se vive.

Cada trabalhador apresenta a sua própria perceção da suscetibilidade de contrair Gripe, sendo que a adesão à vacina será tanto maior, quanto maior for a probabilidade, atribuída por cada um, de contrair a doença. A crenças relativas aos efeitos negativos da doença, como mal-estar geral, absentismo, perda de rendimento, bem como relativas aos benefícios, também irão modular a perceção de risco e, por sua vez, a adesão à vacina (7) (14) (15).

Este trabalho, ao disponibilizar as crenças dos trabalhadores de um Centro Hospitalar sobre vacinação contra a Gripe, vem reforçar a importância de se apostar na sua informação e educação, através do apoio dos serviços competentes, tais como os Serviços de Saúde Ocupacional, os quais poderão exercer uma influência positiva nos trabalhadores, produzindo ciência acessível a todos, nomeadamente nos que possuem menor literacia em saúde. Neste sentido, e perante os motivos apontados pelos trabalhadores participantes no questionário, urge a necessidade de desmistificar que a vacina provoca doença, reforçando que as vacinas apresentam um elevado grau de segurança e qualidade. Paralelamente, há que reforçar que nenhuma vacina está desprovida de efeitos adversos, sendo estes na sua grande maioria ligeiros e autolimitados e, que os efeitos graves provocados pelas vacinas, embora raros, são muito menos frequentes que os resultantes da Gripe. Desta forma, as futuras campanhas poderão ser mais eficazes ao focarem-se, por exemplo, nas consequências negativas de infeção por Influenza e as suas sequelas nos trabalhadores (e nos doentes), bem como na desmistificação da crença de doença e efeitos adversos provocados pela vacina (15).

Assim, a informação e formação dos trabalhadores sobre riscos laborais e de como os minimizar, nomeadamente sobre o risco biológico de uma infeção viral por Influenza, aliadas à acessibilidade fácil e gratuita à vacina contra a Gripe, constituem elementos fulcrais para a promoção da vacinação, conduzindo ao aumento da sua cobertura vacinal.

Os autores consideram pertinente a realização de um estudo semelhante a nível nacional com o intuito de obter uma maior representação das motivações e crenças para a vacinação dos trabalhadores da saúde, de forma a serem desenvolvidas e implementas medidas específicas de vacinação que conduzam a uma adesão mais eficaz à vacina contra a Gripe.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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QUESTÕES ÉTICAS E LEGAIS A realização e publicação deste estudo foram autorizadas pela Comissão de Ética e Direção Clínica Hospitalares.

ANEXO 1 - Questionário aplicado aos trabalhadores de um Centro Hospitalar

Recebido: 30 de Dezembro de 2020; Aceito: 20 de Fevereiro de 2021; Publicado: 27 de Março de 2021

CONFLITOS DE INTERESSE

Os autores não têm conflitos de interesse a declarar.

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