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Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional online

versão impressa ISSN 2183-8453

RPSO vol.11  Gondomar jun. 2021  Epub 07-Jan-2022

https://doi.org/10.31252/rpso.26.06.2021 

Artigo Original

PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS A SINTOMAS DE ANSIEDADE, DEPRESSÃO E PERTURBAÇÃO PÓS-STRESS TRAUMÁTICO EM PROFISSIONAIS DE SAÚDE DURANTE A PANDEMIA POR COVID-19

PREVALENCE AND ASSOCIATED FACTORS OF SYMPTOMS OF ANXIETY, DEPRESSION AND POST-TRAUMATIC STRESS DISORDER IN HEALTHCARE WORKERS DURING THE COVID-19 PANDEMIC

M Urzal1 

I Donas-Boto2 

M Moreira3 

P Nogueira4 
http://orcid.org/0000-0001-8316-5035

J Vian5 
http://orcid.org/0000-0001-5260-2335

1Mestre em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Médica interna da Formação Específica em Psiquiatria e Saúde Mental no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental. Serviço de Psiquiatria de Adultos do Hospital Egas Moniz. Morada para correspondência dos leitores: Rua da Junqueira 126, 1349-019 Lisboa. E-mail: mnovaes@chlo.min-saude.pt

2Mestre em Medicina pela Nova Medical School - Faculdade de Ciências Médicas. Médica interna da Formação Específica em Psiquiatria e Saúde Mental no Centro Hospitalar de Lisboa Occidental. 1400- 157 Lisboa. E-mail: Iesturrenho@chlo.min-saude.pt

3Mestre em Psicologia pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. Psicóloga clínica. Estágio profissional no Hospital de Dia de Psiquiatria do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental. Formadora profissional certificada do Instituto de Emprego e Formação Profissional. 1949- 003 Lisboa. E-mail: mmoreira@chlo.min-saude.pt

4Mestre em Probabilidades e Estatística pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Doutoramento em Saúde Internacional pela Universidade Nova de Lisboa. Técnico Superior no Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública, Investigador Auxiliar na Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa. 1649- 028 Lisboa. e-mail: nogueira16@gmail.com

5Mestre em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Médico Assistente Hospitalar de Psiquiatria no Centro Hospitalar de Lisboa Occidental. 1400- 157 Lisboa. E-mail: jpnunes@chlo.min-saude.pt


RESUMO

Introdução:

A pandemia por COVID-19 trouxe preocupações crescentes quanto à saúde mental dos profissionais de saúde.

Objetivos:

Investigar a prevalência e fatores associados a sintomas de ansiedade, depressão e perturbação pós-stresstraumático em profissionais de saúde portugueses durante a pandemia por COVID-19.

Material e Métodos:

Foram distribuídos questionários a uma amostra de conveniência de profissionais de saúde, documentando dados demográficos, antecedentes clínicos, suporte psicossocial, dados relativos à infeção por COVID-19 e atividade laboral desempenhada. Foram avaliados os sintomas de ansiedade, depressão e perturbação pós-stresstraumático através da Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS-subescalas HADS-Ansiedade e HADS-Depressão) e da Escala de Impacto de Eventos 6 (IES-6).

Resultados:

Uma percentagem significativa dos profissionais de saúde (n=554) apresenta sintomas de ansiedade (40,61%), depressão (25,99%) e perturbação pós-stresstraumático (20,40%). Dos fatores associados a sintomas mais graves, destacam-se alterações ao agregado familiar (HADS-Ansiedadep<0,001; HADS-Depressãop=0,015; IES-6p=0,002) e menor satisfação com apoio de familiares e amigos (HADS-Ansiedade e HADS-Depressão,p<0,001). Enfermeiros e assistentes operacionais apresentam mais sintomas de ansiedade (p=0,011;p<0,001) e depressão (p=0,003;p=0,007), comparativamente aos médicos. O trabalho com doentes COVID-19 associa-se a pontuações superiores (HADS-Ansiedadep=0,030; HADS-Depressãop=0,019; IES-6p=0,008).

Discussão:

As alterações à rotina trazidas pela pandemia são fatores de risco significativos para o desenvolvimento dos grupos sintomáticos investigados. A satisfação com o suporte social é mais importante do que a frequência do contato. Quando comparados com profissionais de saúde com atividade clínica sem doentes COVID-19 ou com atividade não clínica, aqueles com contato próximo e prolongado com doentes COVID-19 têm maior risco de desenvolvimento de sintomas de ansiedade, depressão e perturbação pós-stresstraumático.

Conclusões:

A pandemia por COVID-19 associa-se a sintomas de ansiedade, depressivos e de perturbação pós-stress traumático nos profissionais de saúde, influenciados por alterações à rotina, suporte psicossocial, grupo profissional e trabalho clínico desenvolvido. Os presentes dados contribuem para a caracterização da dimensão do sofrimento psicológico dos profissionais de saúde e para o planeamento de estratégias de intervenção.

Palavras-chave: Depressão; Perturbação Pós-stress Traumático; Profissionais de Saúde; Pandemia; COVID-19; Saúde Ocupacional

ABSTRACT

Introduction:

The COVID-19 pandemic has raised growing concerns towards the mental health of healthcare workers.

Objectives:

To investigate the prevalence and associated factors of anxiety, depression, and post-traumatic stress disorder symptoms in Portuguese healthcare workers during the COVID-19 pandemic.

Material and Methods:

An online questionnaire was delivered to a convenience sample of healthcare workers. The questionnaire collected data on demographics, clinical history, psychosocial support, COVID-19 infection, type of work performed during the pandemic and evaluated anxiety, depression and post-traumatic stress disorder symptoms through the Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS - HADS-Anxiety and HADS-Depression subscales) and the Impact of Events Scale 6 (IES-6).

Results:

A significant percentage of healthcare workers (n=554) reports anxiety (40,61%), depression (25,99%) and post-traumatic stress disorder symptoms (20,40%). Factors associated with more severe symptoms include changes in household (HADS-Anxiety,p<0,001; HADS-Depression,p=0,015; IES-6,p=0,002) and lower satisfaction with social support (HADS-Anxiety and HADS-Depression,p<0,001). Nurses and nurse assistants display more anxiety (p=0,011;p<0,001) and depression symptoms (p=0,003;p=0,007) compared with doctors. Working with COVID-19 patients is associated with higher symptom scores (HADS-Anxietyp=0,030; HADS-Depressionp=0,019;IES-6p=0,008).

Discussion:

Changes in daily routine brought by the pandemic are significant risk factors for the development of the identified symptoms. Satisfaction with social support is more relevant than frequency of contact. Healthcare workers with longer and closer contact with COVID-19 patients bear an increased risk of anxiety, depression, and post-traumatic stress disorder symptoms, compared with those with clinical activity without COVID-19 patients and non-clinical activity.

Conclusions:

The COVID-19 pandemic is associated with significant anxiety, depression, and post-traumatic stress disorder symptoms in healthcare workers, and is influenced by changes in daily routine, psychosocial support, professional group, and type of clinical work. The collected data outlines the dimension of psychological suffering in healthcare workers and may contribute to the development of intervention strategies for this population.

Keywords: Depression; Post-traumatic Stress Disorder; Healthcare Workers; Pandemic; COVID-19; Occupational Health

INTRODUÇÃO

Desde o primeiro caso registado decoronavirus disease2019 (COVID-19), a vida das populações e, em particular, dos profissionais de saúde (PS) transformou-se inesperadamente, levantando preocupações crescentes relativamente à saúde mental (1).

Estudos anteriores à pandemia indicam que os PS exibem indicadores de saúde mental piores do que outros grupos profissionais (2,3), com sintomas significativos de depressão em 10,30% (4) a 28,00% (5) e sintomas do espetro de ansiedade eburnoutnuma proporção importante (6), que atinge metade dos PS em alguns estudos (4). Em Portugal, estima-se que 21,6% destes apresente síndrome deburnoutcom intensidade moderada e 47,8% elevada (7); a prevalência das restantes síndromes está menos documentada.

O risco dos PS acentua-se em contexto epidémico, em que apresentam probabilidade significativa de desenvolvimento de perturbações mentais a curto e longo prazo (8). O fato de a infeção por COVID-19 ser transmitida por contato interpessoal e envolver morbimortalidade significativa contribui para a perceção de risco dos PS (9), que temem também o contágio de familiares e colegas (1,10). O aumento do número de casos, a sobrecarga de trabalho clínico (11), a adaptação a novas rotinas de trabalho (12), a escassez de equipamento de proteção individual e o desconhecimento inicial em relação à doença contribuem para a sensação de falta de controlo (13), com potencial exaustão física e emocional (11) e consequências adversas sobre a qualidade do trabalho desempenhado (14).

Os relatos do impacto da pandemia sobre a saúde mental surgiram sucessivamente, num ritmo que seguiu o aumento do número de casos nos países afetados. No que diz respeito aos PS, estudos internacionais identificam sintomas relevantes de ansiedade em 24,1% a 67,6%, depressão em 12,1% a 55,9% (15); sintomas clinicamente significativos de perturbação pós-stress traumático (PPST) em 7,4 a 71,5% (9,16) e alterações do sono em quase metade (17). Os profissionais do sexo feminino (9,18,19), envolvidos na assistência direta a doentes COVID-19 (20), médicos em formação (19) e enfermeiros (9,17,18,21) são mais frequente e gravemente afetados. Por outro lado, a coabitação com elementos da família (22), satisfação com o suporte social (23) e as estratégias decopingativas (21,22) são fatores protetores.

No primeiro mês da pandemia em Portugal, eram já notórios sintomas mais graves de depressão e ansiedade e níveis destressmais elevados em enfermeiros portugueses, quando comparados com a população geral (24). A resiliência foi identificada como mediadora entre dimensões de depressão eburnoutem PS portugueses, havendo, no entanto, espaço para outros possíveis fatores, nomeadamente o suporte social (25). Finalmente, um estudo do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) identificou sinais de sofrimento psicológico em 44,8% de uma amostra de PS, sendo o risco de sofrimento psicológico superior em PS com contato regular presencial com doentes e naqueles que prestam cuidados a doentes com COVID-19 (26).

OBJETIVOS

Os objetivos deste trabalho são determinar a prevalência e gravidade de sintomas de ansiedade, depressão e PPST em PS portugueses durante a pandemia por COVID-19 e investigar a associação a fatores sociodemográficos, antecedentes clínicos, suporte psicossocial, fatores relacionados com infeção COVID-19 e atividade profissional.

MATERIAL E MÉTODOS

Desenho do estudo

Trata-se de um estudo observacional transversal, com uma amostra de conveniência de PS. Os dados foram recolhidos através de um questionárioonlinesediado na plataformagoogle forms, distribuído no período de 23 de julho a 23 de agosto de 2020.

Participantes

Consideraram-se todos os PS a trabalhar no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental no momento de realização da avaliação. O questionário foi enviado via endereço eletrónico institucional, acompanhado de um pequeno texto a descrever o intuito do estudo.

Dados recolhidos

O questionário inquiria sobre dados demográficos (género, idade, estado civil, escolaridade, agregado familiar, alterações ao agregado durante o período de pandemia); antecedentes clínicos (doença médica crónica, incluindo antecedentes psiquiátricos); suporte psicossocial desde o início da pandemia por COVID-19 (frequência do contato com pessoas próximas e satisfação com o suporte obtido); fatores relacionados com infeção por COVID-19 (contato de risco, infeção de pessoa que considera próxima e/ou do próprio); e dados relacionados com atividade laboral (grupo profissional; regime presencial ou teletrabalho; atividade clínica/não clínica, com/sem doentes COVID-19); bem como avaliação de sintomas de ansiedade, depressão e PPST.

A avaliação de sintomas de ansiedade e depressão foi obtida através da Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS), uma escala de autopreenchimento com duas subescalas, com seteitenscada, que identifica sintomas do espectro da ansiedade (HADS-Ansiedade) e da depressão (HADS-Depressão) presentes na semana anterior. A pontuação de cada subescala é calculada separadamente (27), com um ponto de corte de 8 (28-30), considerando-se gravidade “ligeira” (8-10), “moderada” (11-15) ou “severa” (16-21) (31). A HADS tem validade demonstrada na avaliação de doentes hospitalares, nos cuidados de saúde primários e comunidade (29,32), tendo sido validada para a população portuguesa em 2007 (33).

A avaliação de sintomas de PPST foi cumprida através da Escala de Impacto de Eventos- 6 (IES-6), novamente uma escala de autopreenchimento. Trata-se de uma versão abreviada da Escala de Impacto de Acontecimentos Revista (IES-R), um instrumento de rastreio de sintomas de PPST com validade e fiabilidade estabelecidas para diversos tipos de trauma e em várias culturas. Apesar de conter apenas seisitens, preserva sintomas das três sub-dimensões focadas na escala original (sintomas intrusivos, de evitamento/embotamento e hipervigilância) e demonstrou ser uma medida robusta de sintomas de PPST, útil em estudos epidemiológicos e como instrumento de rastreio na prática clínica (34). A IES-6 foi validada para a população portuguesa em 2013 (35), tendo sido estabelecido um ponto de corte de 12,5 para a presença de sintomas clinicamente significativos, que se adotou para este estudo.

Métodos estatísticos

Realizou-se o tratamento estatístico dos dados utilizando osoftware SPSS Statisticsversão 27.0.

Para além de métodos estatísticos descritivos, foram utilizados testes paramétricos (testetpara amostras emparelhadas,Analysis of Variance- ANOVA) e testes não paramétricos (teste deKruskal-Wallis, Teste U deMann-Whitney). Diferenças entre as variáveis estudadas foram consideradas significativas parap< 0,05.

RESULTADOS

Participantes

Dos 4741 contatos disponíveis na lista de endereços institucionais, 46 encontravam-se desativados.

Receberam-se 556 respostas, correspondentes a uma taxa de retorno de 11,84%. Duas pessoas não aceitaram os termos do consentimento, pelo que foram analisados dados de 554 participantes (n=554).

Dados recolhidos através do questionário

A Tabela 1 mostra os dados demográficos, antecedentes clínicos, dados relacionados com o suporte psicossocial, com a infeção por COVID-19 e com a atividade laboral desempenhada.

Tabela 1 Dados recolhidos através do questionário 

  Frequência Frequência relativa
Dados demográficos
Género Masculino 126 22,74%
Feminino 427 77,08%
Prefiro não responder/outro 1 0,18%
Idade 18-25 42 7,58%
26-35 165 29,78%
36-45 152 27,44%
46-55 120 21,66%
56-65 71 12,82%
>65 4 0,72%
Estado civil Solteiro/a 217 39,17%
Casado/a ou em união de fato 292 52,71%
Separado/a 39 7,04%
Viúvo/a 6 1,08%
Escolaridade Ensino Básico e Secundário 127 22,92%
Ensino Superior 427 77,08%
Coabitação no início da pandemia Sozinho/a 76 13,72%
Acompanhado/a 478 86,28%
Alterações ao agregado familiar Nenhuma 420 75,81%
Entrada/Saída de elementos 70 12,64%
Mudança do próprio 58 10,47%
Outra 6 1,08%
Antecedentes clínicos
Doença crónica Sim 155 27,98%
Não 399 72,02%
Acompanhamento Psiquiátrico Atual 44 7,94%
Pretérito 85 15,34%
Não 425 76,72%
Diagnóstico Não aplicável 356 64,26%
Depressão 52 9,39%
Perturbações Ansiedade 40 7,22%
Perturbação Afetiva Bipolar 1 0,18%
Perturbação do Uso de Substâncias 1 0,18%
Outra 89 16,06%
Não sei/prefiro não responder 15 2,71%
Suporte psicossocial
Frequência de contato com familiares e amigos Diário 73 13,18%
>5 vezes 10 1,81%
2 a 4 28 5,05%
Semanal 58 10,47%
Raro 385 69,49%
Satisfação com apoio dos familiares e amigos (classificação de 0 a 5) 0 0 0,00%
1 8 1,44%
2 30 5,42%
3 88 15,88%
4 177 31,95%
5 251 45,31%
Fatores relacionados com infeção por COVID-19
Contato de risco Sim 7 1,26%
Sim, no contexto clínico 334 60,29%
Não 213 38,45%
Infeção por COVID-19 Sim 23 4,15%
Não 531 95,85%
Infeção por COVID-19 de alguém próximo Sim 151 27,26%
Não 403 72,74%
Dados relativos a atividade profissional
Grupo Profissional Médicos 128 23,10%
Enfermeiros 198 35,74%
Assistentes Operacionais 51 9,21%
Técnicos Superiores de Diagnóstico e Terapêutica 76 13,72%
Assistentes técnicos 62 11,19%
Técnicos Superiores de Saúde 21 3,79%
Assistentes Sociais 4 0,72%
Outros 14 2,53%
Regime de atividade Presencial 460 83,03%
Teletrabalho 5 0,90%
Misto 76 13,72%
Outro 13 2,35%
Tipo de atividade Clínica, com doentes COVID-19 244 44,04%
Clínica, sem doentes COVID-19 209 37,73%
Não clínica 101 18,23%

A maioria dos participantes é do género feminino (77,08%), encontra-se casada ou em união de fato (52,71%), completou o ensino superior (77,08%) e vivia acompanhada no início da pandemia (86,28%). Apesar de o contato com pessoas próximas ser raro em 69,49%, uma proporção significativa (45,31%) indica o nível máximo de satisfação com o suporte social. Mais de metade (60,29%) regista pelo menos um contato de risco; 27,26% viu alguém próximo ficar infetado, e 4,15% foi contagiado por COVID-19. Verifica-se que os enfermeiros são o grupo mais representado (35,74%) e que 44,04% dos PS prestou cuidados a doentes com COVID-19.

Uma proporção significativa dos participantes apresenta sintomas significativos de ansiedade (40,61%), depressão (25,99%) e PPST (20,40%), como mostra a Tabela 2.

Tabela 2 Frequência de sintomas de ansiedade, depressão e PPST 

Frequência Frequência relativa
Pontuação HADS-Ansiedade
Sem ansiedade significativa <8 329 59,39%
Ansiedade significativa ≥8 225 40,61%
Ligeira 08/out 108 19,49%
Moderada nov/15 92 16,61%
Grave ≥16 25 4,51%
Pontuação HADS-Depressão
Sem depressão significativa <8 410 74,01%
Depressão significativa ≥8 144 25,99%
Ligeira 08/out 90 16,24%
Moderada nov/15 44 7,94%
Grave ≥16 10 1,81%
Pontuação IES-6
Sem sintomas significativos <12,5 441 79,60%
Sintomas significativos >12,5 113 20,40%

Fatores associados a ansiedade, depressão e PPST

A análise dos fatores associados a ansiedade, depressão e PPST encontra-se na Tabela 3.

Tabela 3 Associação entre fatores investigados e ansiedade, depressão e PPST 

  HADS-Ansiedade HADS-Depressão IES-6
  Média p Média p Média p
Dados demográficos
Género Masculino 5,95 0,001 4,51 0,235 8,12 0,391
Feminino 7,34 4,99 8,5
Idade 18-25 7,38 0,166 4,64 0,272 9,12 0,209
26-35 6,99 4,39 8,59
36-45 7,45 5,49 8,84
46-55 7 4,9 8,01
56-65 6,2 4,89 7,52
>65 3,25 2,25 5,5
Estado civil Solteiro/a 7,05 0,603 4,9 0,44 8,75 0,671
Casado/a ou em união de fato 6,96 4,78 8,18
Separado/a 6,74 4,95 8,18
Viúvo/a 10,5 7,5 9,17
Escolaridade Ensino Básico e Secundário 7,88 0,021 5,26 0,25 8,42 0,987
Ensino Superior 6,76 4,75 8,41
Coabitação no início da pandemia Sozinho/a 6,66 0,415 4,62 0,555 8 0,382
Acompanhado/a 7,08 4,91 8,48
Alterações ao agregado familiar Nenhuma 6,6 <0,001 4,58 0,015 8,03 0,002
Entrada/Saída de elementos 8,61 6 9,46
Mudança do próprio 7,72 5,43 9,59
Outra 10,5 6,67 11,83
Antecedentes clínicos
Doença crónica Sim 7,95 0,001 5,54 0,013 9,38 0,002
Não 6,66 4,61 8,04
Acompanhamento Psiquiátrico Atual 10 <0,001 7,05 <0,001 9,11 <0,001
Pretérito 9,16 6,52 10,51
Não 6,28 4,31 7,92
Diagnóstico Não aplicável 6,25 <0,001 4,27 <0,001 8,03 <0,001
Depressão 9,73 7,25 10,75
Perturbações Ansiedade 10,28 7,25 10,43
Perturbação Afetiva Bipolar 11 11 14
Perturbação do Uso de Substâncias 14 8 14
Outra 6,42 4,37 7,53
Não sei/ prefiro não responder 10 6,73 8,6
Suporte psicossocial
Frequência de contato com familiares e amigos Diário 7,27 0,003 8,48 0,126 8,48 0,126
>5 vezes 4,3 6,9 6,9
2 a 4 6,71 8,86 8,86
semanal 5,47 7,07 7,07
Raro 7,3 8,61 8,61
Satisfação com apoio dos familiares e amigos (classificação de 0 a 5) 0 - <0,001 - 0,001 - 0,001
1 11,13 9,25 9,25
2 9,33 10,6 10,6
3 7,82 9,19 9,19
4 7,47 8,64 8,64
5 6,01 7,69 7,69
Fatores relacionados com infeção por COVID-19
Contato de risco Sim 7,57 0,017 4,57 0,019 9,29 0,118
Sim, no contexto clínico 7,37 5,15   8,69  
Não 6,46 4,43   7,94  
Infeção por COVID-19 Sim 8,52 0,075 6,22 0,162 10,13 0,056
Não 6,95 4,81   8,34  
Infeção por COVID-19 de alguém próximo Sim 7,69 0,02 5,48 0,038 9,09 0,026
Não 6,77 4,64   8,16  
Dados relativos a atividade profissional
Grupo profissional Médicos 5,86 <0,001 3,88 <0,001 7,8 0,293
Enfermeiros 7,38 5,42 8,95
Assistentes Operacionais 9,18 6,47 8,61
Técnicos Superiores de Diagnóstico e Terapêutica 7,01 4,99 8,46
Assistentes técnicos 7,31 4,73 8,52
Técnicos Superiores de Saúde 5,71 3,05 7,24
Assistentes Sociais 5,5 4,25 6,5
Outros 5,71 3,21 7,29
Regime de atividade Presencial 7,21 0,002 5,14 0,001 8,62 0,011
Teletrabalho 6,2 3,4 8
Misto 5,58 3,24 6,87
Outro 8,92 5,23 10,08
Tipo de atividade Clínica, com doentes COVID-19 7,41 0,03 5,25 0,019 9,04 0,008
Clínica, sem doentes COVID-19 6,72 4,77 7,88
Não clínica 6,68 4,15 8

O género feminino apresenta pontuações superiores, sendo esta diferença estatisticamente significativa apenas na dimensão de ansiedade (7,34versus(vs) 5,95.p=0,001).

As alterações ao agregado familiar durante o período da pandemia estão associadas a pontuações superiores nas três escalas (HADS-Ansiedadep<0,001; HADS-Depressãop=0,015; IES-6p=0,002); o grupo com pontuação mais elevada é consistentemente o que seleciona a opção “outra”, descrevendo alterações transitórias na residência para proteção do agregado familiar.

A doença crónica está associada a sintomas mais graves de ansiedade (7,95vs6,66.p=0,001), depressão (5,54vs4,61.p=0,013) e PPST (9,38vs8,04.p=0,002). Verifica-se ainda associação destes sintomas com o acompanhamento psiquiátrico (HADS-Ansiedade,p<0,001; HADS-Depressão,p<0,001; IES-6,p<0,001) e também com o diagnóstico estabelecido. Quando realizadas comparações par a par entre os vários diagnósticos, os resultados da HADS-Ansiedade e HADS-Depressão mostram-se superiores na presença de diagnóstico de depressão (p<0,001) ou perturbação de ansiedade (p<0,001), por comparação com a ausência de patologia psiquiátrica. O mesmo acontece para a IES-6 (p=0,001).

Quanto ao suporte psicossocial, pontuações mais baixas de satisfação com o apoio de familiares e amigos estão relacionadas com sintomas de ansiedade (p<0,001), depressão (p<0,001) e PPST (p=0,001).

O trabalho em regime presencial associa-se a níveis mais elevados de sintomas de ansiedade (p=0,002) e depressão (p=0,001). Entre os fatores relacionados com infeção por COVID-19, os contatos de risco associam-se a sintomas de ansiedade (p=0,017) e depressão (p=0,019). A infeção confirmada não se relaciona com nenhuma dimensão, sendo mais relevante o contágio de alguém próximo, a que correspondem pontuações mais elevadas na HADS-Ansiedade (7,69vs6,77.p=0,020), HADS-Depressão (5,48vs4,64.p=0,038) e IES-6 (9,09vs8,16.p=0,026).

Observam-se diferenças entre grupos profissionais nas pontuações da HADS-Ansiedade (p<0,001) e HADS-Depressão (p<0,001), mas não na da IES-6 (p=0,273). Quando explorada a comparação par a par, as diferenças são evidentes entre enfermeiros e médicos (HADS-Ansiedade 7,38vs5,86.p=0,011; HADS-Depressão 5,42vs3,88.p=0,003) e assistentes operacionais e médicos (HADS-Ansiedade 9,18vs5,86.p<0,001; HADS-Depressão 6,47vs3,88.p=0,007). Há diferenças nas três dimensões estudadas, de acordo com o tipo de trabalho desempenhado: os sintomas depressivos diferem entre o trabalho com doentes com COVID-19 e trabalho não clínico (5,25vs4,15.p=0,021); os sintomas de PPST, entre o trabalho clínico com e sem doentes COVID-19 (9,04vs7,88.p=0,012).

DISCUSSÃO

A proporção de PS com sintomas relevantes de depressão (25,99%) é superior à prevalência a doze meses das perturbações do humor na população portuguesa (7,9%) (36), embora a presença de sintomas depressivos não equivalha à formulação diagnóstica através de entrevista estruturada (37), como a realizada no Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental citado. Os valores encontrados enquadram-se nos reportados por estudos internacionais, embora a comparação seja difícil, dada a heterogeneidade das metodologias e instrumentos psicométricos utilizados (15).

Também a percentagem de PS com sintomas relevantes de ansiedade (40,61%) é superior à da PG e próxima dos valores reportados por estudos de outros autores (15). A percentagem de PS com sintomas de PPST (20,4%) aproxima-se de estudos realizados na China em fevereiro (27,39%) e junho (20,87%) de 2020 (18,23); no entanto, a utilização de diferentes instrumentos de avaliação nos vários estudos dificulta uma análise comparativa.

Apesar da elevada prevalência de fatores protetores para a saúde mental (estar casado/em união de fato (38); ter um nível educacional elevado (39)), as alterações recentes ao agregado familiar e/ou à atividade laboral parecem exercer maior influência. De fato, a pandemia por COVID-19 obrigou a reajustamentos em múltiplas dimensões, com a incerteza a constituir umstressorde resolução impossível apesar de tentativas sucessivas de restabelecimento dostatus quo, com consequências para a saúde mental e física (40).

A primazia da satisfação com o suporte social, em detrimento da frequência dos contatos, está em consonância com a literatura disponível, que indica que os elementos funcionais (emocionais e instrumentais) do suporte social são genericamente mais relevantes do que os estruturais- tamanho da rede de apoio, frequência do contato. Do nosso conhecimento, é a primeira vez que estes dados são confirmados durante a pandemia por COVID-19, período de condicionantes importantes aos relacionamentos interpessoais.

Curiosamente, a infeção de alguém próximo teve maior peso do que a infeção do próprio, o que se poderá relacionar com uma preocupação real com o outro, com a perda temporária de suporte e, caso haja a suspeita de ter sido o PS a origem do contágio, com sentimentos de culpa e hiper-responsabilização por um acontecimento que não pode ser reparado (41).

A associação entre doença crónica e sintomas psiquiátricos, mais evidente nos PS, poderá relacionar-se com a perceção de risco para infeção mais grave por COVID-19 (42). O impacto poderá ser superior ao registado, já que, durante a pandemia, parece haver uma tendência para o desenvolvimento de sintomas de somatização na população com doenças crónicas (43), que não são adequadamente captados nas escalas aplicadas.

Os enfermeiros e os assistentes operacionais são grupos de risco para desenvolvimento de sintomas de depressão, ansiedade e PPST, o que se poderá relacionar com um contato mais próximo e prolongado com os doentes, com maior carga de trabalho num período de tempo mais curto e com trabalho de maior exigência física (44). De realçar que os assistentes operacionais exibem outros fatores de risco para doença mental, como escolaridade inferior, além de que se encontram em número insuficiente durante a pandemia (45).

O presente estudo apresenta algumas limitações metodológicas, de que se destacam a amostragem por conveniência e a utilização de questionários de autopreenchimento, que são condicionados pela motivação do participante, desejabilidade social das respostas e dificuldades na interpretação das perguntas (46). Para além disso, deverá ainda considerar-se que a pandemia pode ter exercido um efeito desigual sobre diferentes regiões geográficas e em horizontes temporais distintos, o que limita a generalização dos resultados. Procedeu-se a nova recolha de dados em outubro de 2020 e março de 2021, que se encontram atualmente em análise e que contribuirão para enquadrar os presentes achados numa perspetiva longitudinal.

CONCLUSÕES

A pandemia por COVID-19 associa-se a níveis significativos de sintomas de ansiedade, depressão e PPST nos PS. Fatores relacionados com alterações à rotina apresentam associação significativa com estes sintomas. A satisfação com o suporte psicossocial revela-se mais importante do que a frequência do contato estabelecido. Os PS com contato próximo com os doentes COVID-19 apresentam maior risco, sendo ainda necessária maior atenção ao sofrimento manifestado pelos assistentes operacionais. Apesar de algumas limitações metodológicas, o presente estudo contribui, em primeiro lugar, para a sensibilização quanto ao sofrimento psicológico dos PS e, potencialmente, para o alívio do estigma associado à doença mental, fomentando a procura de cuidados. Para além disso, e dada a prevalência significativa dos sintomas citados, justifica-se a sua pesquisa clínica nos contatos realizados pelos profissionais de saúde dos Serviços de Saúde Ocupacional. Recomenda-se, ainda, uma articulação mais próxima entre os Serviços de Saúde Ocupacional e os Serviços de Psiquiatria e Saúde Mental (nomeadamente os NúcleosLocais deRespostadaSaúde Mentala Acidentes Graves ou Catástrofes) e o planeamento de respostas integradas que englobem campanhas de sensibilização, psicoeducação, sinalização e encaminhamento precoce. Este modelo considera as dimensões dos PS enquanto profissionais e enquanto indivíduos que necessitam, eles próprios, de assistência e pode contribuir para a desestigmatização da doença mental nesta população. Encontrando-se as intervenções limitadas por restrições de ordem prática e de saúde pública, devem ser considerados como principais candidatos os enfermeiros, assistentes ocupacionais e os PS dedicados à assistência a doentes com COVID-19, sem prejuízo de uma avaliação individualizada. As intervenções dirigidas à saúde mental em PS devem recomendar estratégias de relaxamento e de autocuidado e, num momento de quebra de continuidade, incentivar o uso de estratégias decopingindividuais que tenham sido eficazes em momentos de crise no passado. Mais especificamente, e de acordo com os nossos dados, poderão ser utilizadas estratégias focadas no enriquecimento do suporte social e na manutenção de rotinas.

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QUESTÕES ÉTICAS E LEGAIS A realização do presente estudo foi autorizada pela Comissão de Ética e Direção Clínica do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental.

Recebido: 11 de Junho de 2021; Aceito: 25 de Junho de 2021; Publicado: 26 de Junho de 2021

CONFLITOS DE INTERESSE

Os autores não têm conflitos de interesse a declarar.

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