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Gazeta Médica

Print version ISSN 2183-8135On-line version ISSN 2184-0628

Gaz Med vol.8 no.1 Queluz Mar. 2021  Epub May 17, 2021

https://doi.org/10.29315/gm.v8i1.393 

Casos Clínicos

Teratoma Imaturo Ovariano de Grau I: Caso Clínico

Stage 1 Immature Ovarian Teratoma: Case Report

Paulo Costa Correia1 
http://orcid.org/0000-0002-4032-6975

Liliana Coutinho Cabral1 

Maria João Vale1 

Maria Luís Santos1 

1 Serviço de Cirurgia Geral, Hospital Sousa Martins - ULS Guarda, Guarda, Portugal.


Resumo

Os teratomas imaturos são tumores malignos raros, geralmente unilaterais, sólidos, formados por tecidos indiferenciados dos três folhetos germinativos: ectoderme, mesoderme e endoderme. A sua classificação é baseada na quantidade e no grau de imaturidade celular do componente neuroectodérmico (graus 1 a 3).

Os autores descrevem um caso clínico de uma paciente de 16 anos com teratoma imaturo do ovário de grau 1, com cerca de 14 kg. Foi realizada salpingo-ooforectomia direita de urgência com preservação do útero e do ovário esquerdo, mantendo assim a função reprodutiva da doente.

Foi acompanhada durante 5 anos em consulta externa de Cirurgia Geral e não evidenciou sinais de recorrência da doença.

Palavras-chave: Adolescente; Neoplasias do Ovário/cirurgia; Teratoma/cirurgia

Abstract

Immature teratomas are rare malignant tumors, usually unilateral, solid, composed of undifferentiated tissues from the three embryonic germ layers: ectoderm, mesoderm and endoderm. Its classification is based on the quantity and degree of cellular immaturity of the neuroectodermal component (grades 1 to 3).

The authors describe a clinical case of a 16-year-old woman with stage 1 immature ovarian teratoma with approximately 14 kg. Urgent salpingo-right ooforectomy was executed preserving the uterus and the left ovary and keeping the patient’s reproductive function. Subsequently, she was followed closely for 5 years in General Surgery outpatient consultations and had no evidence of cancer recurrence.

Keywords: Adolescent; Ovarian Neoplasms/surgery; Teratoma/surgery

Introdução

Os tumores do ovário são comuns, sendo maioritariamente benignos (80%). Enquanto que, os tumores benignos ocorrem predominantemente em mulheres jovens entre os 20 e 45 anos, os tumores malignos são mais comuns entre os 40 e 65 anos. Histologicamente classificam-se em: benignos, limítrofes e malignos.

São distinguidos e agrupados consoante o tipo de célula que os origina, podendo ser de natureza epitelial ou não epitelial. Os tumores epiteliais dividem-se em mucinosos e não mucinosos - os não mucinosos subdividem-se em serosos, endometrioides, tumores de células claras e inespecíficos. Dentro dos tumores não epiteliais, existem os tumores do estroma gonadal (tumores da granulosa ou tumores de células Sertoli) e os de células germinativas (gonadoblastoma).1-3

Os tumores germinativos do ovário (TGO) derivam de células germinativas que originam espermatozoides e óvulos. Habitualmente crescem dentro das gónadas (ovários ou testículos) durante a embriogénese, mas podem surgir noutros locais (ectópicos).

Os TGO incluem teratomas, tumores monodermais, disgerminomas, tumores de saco vitelino e tumores de células germinativos mistos.3

Os tumores que exibem diferenciação celular (tecidos somáticos) das linhagens endodérmicas, ectodérmicas e/ou mesodérmicas são conhecidos como teratomas.4

Os tumores de células germinativas representam 3% do total de casos de cancro do ovário, mas são os mais frequentes em mulheres entre os 15 e 30 anos. Os teratomas imaturos representam 15%-20% dos casos de tumores de células germinativas.2,5

Os TGO constituem um grupo heterogéneo de tumores no que diz respeito à natureza e comportamento. Devem ser avaliados individualmente, tendo em consideração a idade da paciente no momento do diagnóstico, a localização do tumor, a histologia e os níveis séricos dos marcadores biológicos (alfafetoproteína - AFP, fração beta da gonadotrofina coriónica - BHCG e desidrogenase láctica - LDH). Os marcadores tumorais são sensíveis e úteis para controlar a atividade tumoral - deteção de doença residual ou de progressão da mesma.

Os teratomas maduros não secretam a AFP e a BHCG.4

Os teratomas são as neoplasias germinativas mais comuns das neoplasias do ovário, dividindo-se em maduro e imaturo, consoante o grau de diferenciação celular.4,6 São constituídos por tecidos que se assemelham a cada uma das três camadas de um embrião em desenvolvimento: endoderme, mesoderme e ectoderme. Os componentes celulares destas lesões são exuberantes, podendo conter epitélio respiratório, pele, cartilagem, dentes, fios de cabelos, gorduras e epitélio neural.7-9

O teratoma maduro é o tumor mais comum dos TGO. Geralmente é benigno, e afeta mulheres em idade reprodutora, sendo muitas vezes designado cisto dermoide.

Os imaturos são mais raros e ocorrem em mulheres mais jovens, geralmente com menos de 18 anos. Contêm células que se parecem com tecidos embrionários fetais (tecido conjuntivo respiratório e cerebral), podendo estar localizados no ovário (grau 1) ou disseminados (grau 2 e 3 - mais agressivos, além de cirurgia podem exigir quimioterapia).

Os tumores do ovário, geralmente apresentam-se como massas pélvicas e em 10% dos casos são consideradas emergências cirúrgicas. A tomografia computorizada tem sensibilidade e especificidade elevadas no diagnóstico deste tipo de lesões, particularmente para os teratomas. A avaliação imagiológica (nomeadamente a ressonância magnética) e o estudo histológico são determinantes para o tratamento cirúrgico e prognóstico.10-12 O tratamento das formas benignas dos TGO consiste na ressecção cirúrgica do tumor e tecido ovárico adjacente.

Nas formas malignas (2% a 3% de todos os tumores malignos do ovário) impõe-se a salpingo-ooforectomia uni ou bilateral consoante a localização do(s) tumor(es). Se a doente desejar manter a capacidade reprodutiva, o útero pode ser poupado.13,14 A quimioterapia adjuvante não está indicada em teratomas de grau 1, estadio I pelo risco de recidiva muito baixo. Se indicada, deverão ser feitos 3 ciclos com recurso a cisplatina, etoposido e bleomicina.15

Caso clínico

Adolescente com 16 anos de idade que recorreu ao Serviço de Urgência, acompanhada pelos pais, por distensão e dor abdominal intensa generalizada, tolerando mal a marcha. Referiam um aumento do volume abdominal nos últimos 6 meses. Não procuraram avaliação médica por suspeitarem de uma gravidez (embora a paciente negasse essa possibilidade).

Menarca aos 13 anos com ciclos regulares e toma de anticoncecionais.

A doente apresentava-se em estabilidade hemodinâmica com taquipneia. A palpação abdominal identificava-se massa abdómino-pélvica volumosa (desde o apêndice xifoide ao púbis), tensa e dolorosa, com defesa.

O exame ginecológico extremamente doloroso, com membrana himenal rota, hemorragia vaginal discreta, útero de consistência normal com desvio látero-esquerdo; anexos não palpáveis.

Requisitado estudo analítico: leucocitose com neutrofilia. Constatado posteriormente marcadores tumorais (AFP, CA-125), dentro da normalidade.

Requisitada ecografia abdominal: “massa de grandes dimensões multiloculada, com componentes líquidos e sólidos estendendo-se até a região sub-hepática com derrame peritoneal livre; admite-se dependência do ovário direito.”

Perante a suspeita de diagnóstico de torção de massa ovárica a paciente foi submetida a Laparotomia exploradora urgente onde se verificou uma massa na dependência do ovário direito em torção com áreas de necrose que ocupava todos os quadrantes abdominais. Procedeu-se a salpingo-ovariectomia direita, biópsias peritoneais (sub-diafragmáticas, goteiras parietocólicas e ovário contralateral) e colheita de líquido peritoneal para estudo citológico. (Fig.s 1 e 2)

Figura 1: Massa intra-abdominal de superfície irregular, heterogénea (aparentemente com áreas de necrose) com revestimento íntegro, envolvida pelo grande epiplon. 

Figura 2: Massa multiloculada e de superfície irregular e hetero génea, na dependência do ovário direito (cartilagens e gordura) de 14 kg. 

O estudo histológico revelou: teratoma ovárico imaturo (grau 1); lavado peritoneal e biópsias sem evidência de células tumorais.

Não se registaram complicações intra e pós-operatórias e a doente teve alta ao sexto dia.

Foi avaliada (clínica, analítica e imagiologicamente) semestralmente durante 5 anos em consulta externa e não evidenciou sinais de recorrência da doença. A função reprodutora ficou preservada (teve um filho).

Discussão e conclusão

Trata-se de um teratoma imaturo unilateral do ovário de grau 1 numa adolescente de 16 anos com prognóstico favorável (sobrevida aos 5 anos de 95%).

Macroscopicamente semelhante aos teratomas maduros (quístico com tecido adiposo, apesar de muitos elementos sólidos), sem rotura da cápsula, sem implantes peritoneais, sem ascite e sem elevação dos marcadores tumorais.

Tendo em conta as características da lesão e a idade da paciente optou-se por uma cirurgia mais conservadora, poupando o útero e ovário esquerdo para manter a função reprodutora.

O objetivo é promover um tratamento adequado minimizando as sequelas a médio e longo prazo.

O follow-up implica avaliação clínica, analítica (marcadores tumorais) e imagiológica periódicas.

Referências

1. Meinhold-Heerlein I, Fotopoulou C, Harter P, Kurzeder C, Mustea A, Wimberger P, et al. The new WHO classification of ovarian, fallopian tube, and primary peritoneal cancer and its clinical implications. Arch Gynecol Obstet. 2016;293:695- 700. doi: 10.1007/s00404-016-4035-8. [ Links ]

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Responsabilidades éticas

2Fontes de financiamento: Não existiram fontes externas de financiamento para a realização deste artigo.

3Confidencialidade dos dados: Os autores declaram ter seguido os protocolos da sua instituição acerca da publicação dos dados de doentes.

4Consentimento: Consentimento do doente para publicação obtido.

5Proveniência e revisão por pares: Não comissionado; revisão externa por pares.

Ethical disclosures

7Financing support: This work has not received any contribution, grant or scholarship.

8Confidentiality of data: The authors declare that they have followed the protocols of their work center on the publication of data from patients.

9Patient consent: Consent for publication was obtained.

10Provenance and peer review: Not commissioned; externally peer reviewed.

Recebido: 24 de Novembro de 2020; Aceito: 15 de Fevereiro de 2021; Publicado: 31 de Março de 2021

*Autor Correspondente/Corresponding Author: Paulo Costa Correia [paulo.correia@ulsguarda.min-saude.pt] Rua Almirante Gago Coutinho, nº 39, 1º andar, 6300-523 Guarda, Portugal ORCID iD: 0000-0002-4032-6975

Conflitos de interesse: Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse na realização do presente trabalho.

Conflicts of interest: The authors have no conflicts of interest to declare.

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