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Gazeta Médica

versão impressa ISSN 2183-8135versão On-line ISSN 2184-0628

Gaz Med vol.9 no.2 Queluz jun. 2022  Epub 30-Jun-2022

https://doi.org/10.29315/gm.v9i2.565 

Carta ao Editor

A Importância do Diagnóstico e Tratamento da Depressão Major em Doentes Oncológicos em Cuidados Paliativos

The Importance of Diagnosis and Treatment of Major Depression in Oncological Patients in Palliative Care

1. Clínica Universitária de Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.


Palavras-chave: Cuidados Paliativos; Neoplasias; Perturbação Depressiva Major/diagnóstico; Perturbação Depressiva Major/tratamento

Keywords: Depressive Disorder, Major/diagnosis; Depressive Disorder, Major/therapy; Neoplasms; Palliative Care

De acordo com a Organização Mundial da Saúde,1 os cuidados paliativos (CP) servem para melhorar a qualidade de vida dos doentes e dos seus familiares quando confrontados com doenças ameaçadoras para a vida, desde o momento do diagnóstico até ao final da sua vida. Estes cuidados são realizados com a finalidade de amenizar ou eliminar o sofrimento das pessoas em contexto de fim de vida, sem que haja a tentativa de cura da doença que se encontra subjacente. Na base desse sofrimento encontram-se sintomas físicos, psicológicos, mas também aspetos do âmbito psicossocial e inclusive da esfera espiritual.

A depressão major (DM) é uma patologia psiquiátrica com uma elevada prevalência, sendo um importante problema de saúde mental a nível global. No que diz respeito aos doentes oncológicos em regime de CP, a DM corresponde a um dos principais problemas clínicos associados a esta população, sendo considerado o diagnóstico psiquiátrico mais prevalente.2 Estes doentes apresentam um risco acrescido de desenvolvimento de DM, devido à presença de múltiplos fatores. Destacam-se, a presença de uma doença médica crónica avançada ou terminal, o sofrimento associado ao fim de vida, o mau controlo sintomatológico e a falta de apoio social, sendo a existência de história de DM prévia considerada o principal fator de risco.2

Em Portugal, a resposta às necessidades de CP da população está ainda longe de ser alcançada, sendo referida como uma área da saúde em que é necessário realizar um importante investimento. Com efeito, o controlo da sintomatologia física apresenta normas de orientação e evidência científica relativamente robusta para a sua abordagem e correção, mas a sintomatologia psicossocial, em particular a DP, permanece ainda sub-diagnosticada e sub-tratada.3

A prevalência da DM em doentes oncológicos em CP varia de 14,3% a 16,5%, conforme se utilizem respetivamente os critérios do sistema de classificação do DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) da Associação Americana de Psiquiatria ou do ICD (International Classification of Diseases) da Organização Mundial da Saúde.4 Apesar disso, existe o risco desta perturbação psiquiátrica não estar a ser diagnosticada adequadamente, nesta população de doentes, e os dados da sua prevalência estarem subestimados. Esta situação pode ser explicada essencialmente devido a dois fatores: 1) Vários estudos apresentam uma dimensão da amostra reduzida; 2) Observa-se frequentemente a exclusão de diversos participantes, devido à significativa deterioração da sua condição clínica, o que impossibilita a participação em entrevistas estruturadas ou no preenchimento de questionários.3

Convém sublinhar que os CP devem ser cuidados de saúde holísticos ativos, pelo que também devem incidir sobre o sofrimento psicológico. Como tal, é fundamental reconhecer a necessidade de se realizar um diagnóstico adequado de DM, de forma a se poder implementar a modalidade terapêutica mais apropriada, com vista a melhorar a qualidade de vida desta população de doen tes e reduzir o seu sofrimento.

Por conseguinte, após ter sido estabelecido o diagnóstico de DM, esta patologia deve ser tratada de forma conveniente. A utilização de psicofármacos (antidepressivos, psicostimulantes, ansiolíticos, etc.), reveste-se de uma grande importância nos cuidados médicos a prestar aos doentes em regime de CP, devendo ser escolhida a terapêutica consoante as características clínicas de cada doente. Por outro lado, também a psicoterapia se revela útil nos doentes em CP, podendo ser aplicada através do uso de diversas metodologias, em combinação com a terapêutica farmacológica.5

Facilmente se percebe que a abordagem terapêutica da DP nos doentes em CP justifica a necessidade da presença de uma equipa multidisciplinar (psiquiatra, psicólogo, assistente social e apoio espiritual, neste último caso se o doente o desejar), sem nunca esquecer ou negligenciar as necessidades dos seus familiares e cuidadores.6

Os doentes oncológicos em CP merecem uma atenção particular no que diz respeito à saúde mental. Importa sensibilizar para a necessidade de haver uma melhoria da identificação da DP, tendo em vista prestar um tratamento psiquiátrico adequado, e consequentemente uma melhor qualidade dos cuidados paliativos oferecidos aos doentes oncológicos, promovendo a sua dignidade em contexto de fim de vida. Desta forma, estes doentes poderão ter melhores condições para enfrentar o fim de vida com serenidade e com um alívio significativo do sofrimento psicológico.

Referências

1. World Health Organization. Palliative care. [acedido em 15-01-2022] Disponível em https://www.who.int/health-topics/palliative-care. [ Links ]

2. Irving G, Lloyd-Williams M. Depression in advanced cancer. Eur J Oncol Nurs. 2010;14:395-9. doi: 10.1016/j.ejon.2010.01.026. [ Links ]

3. Julião M, Barbosa A. Depressão em cuidados paliativos: prevalência e avaliação. Acta Med Port. 2011;24:807-18. [ Links ]

4. Mitchell AJ, Chan M, Bhatti H, Halton M, Grassi L, et al. Prevalence of depression, anxiety, and adjustment disorder in oncological, haematological, and palliative-care settings: a meta-analysis of 94 interview-based studies. Lancet Oncol. 2011;12:160-74. doi: 10.1016/s1470-2045(11)70002-x. [ Links ]

5. Perusinghe M, Chen KY, McDermott B. Evidence-Based Management of Depression in Palliative Care: A Systematic Review. J Palliat Med. 2021;24:767-81. doi: 10.1089/jpm.2020.0659. [ Links ]

6. O’Connor M, Fisher C, Guilfoyle A. Interdisciplinary teams in palliative care: a critical reflection. Int J Palliat Nurs. 2006;12:132-7. doi: 10.12968/ijpn.2006.12.3.20698. [ Links ]

Responsabilidades Éticas

Conflitos de interesse: Os autores declaram não possuir conflitos de interesse.

Suporte financeiro: O presente trabalho não foi suportado por nenhum subsídio ou bolsa

Proveniência e revisão por pares: Não comissionado; revisão externa por pares

Ethical disclosures

Conflicts of interest: The authors have no conflicts of interest to declare.

Financial support: This work has not received any contribution grant or scholarship

Provenance and peer review: Not commissioned; externally peer reviewed

Recebido: 15 de Janeiro de 2022; Aceito: 19 de Janeiro de 2022; : 01 de Fevereiro de 2022; Publicado: 30 de Junho de 2022

Autor Correspondente/Corresponding Author: Pedro Afonso [pedroafonso@medicina.ulisboa.pt] Av. Prof. Egas Moniz, 1649-028 Lisboa, Portugal

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