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PsychTech & Health Journal

versão On-line ISSN 2184-1004

PsychTech vol.1 no.1 Vila Real dez. 2017  Epub 29-Set-2021

https://doi.org/10.26580/pthj.ed1-2017 

Editorial

Psychtech & health: da interdisciplinaridade a uma prática transdisciplinar

Psychtech & health: from interdisciplinarity to a transdisciplinary practice

José Vasconcelos-Raposo1 

1Universidde de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal.


INTRODUÇÃO

A revista científica que agora lançamos pretende ser uma plataforma para a promoção do diálogo interdisciplinar e, eventualmente a longo prazo a divulgação da transdisciplinaridade que o Mundo real de hoje exige.

Nos dias que correm, redescobre-se o conceito, as vantagens, mas nem sempre se discutem as desvantagens da interdisciplinaridade. A interdisciplinaridade, como processo de combinação de saberes tem os seus antecedentes no pensamento Grego que visava desenvolver uma ciência unificada. Na Europa, no Sec. XVII a ideia de justiça universal, proposta por Leibniz, implicava tomar em consideração vários domínios da vida dos cidadãos, nomeadamente a economia, ética, gestão, filosofia do direito, política e a história, os usos e costumes, e até a linguística.

Para entender a interdisciplinaridade temos que ter por base aquela que é a realidade do mundo atual e a sua complexidade. O mundo tornou-se de tal forma complexo que o conhecimento científico, tal como o conhecemos, alicerçado num saber que é gerado e divulgado de forma descontextualizada daquelas que são as realidades vividas pelos cidadãos, deixou de ser eficaz para responder às questões que se colocam no dia-a-dia, quer ao cidadão comum quer ao cientista. São exigidas novas respostas para as novas situações que as mudanças que emergem, rapidamente nos domínios sociais, políticos, económicos e culturais apresentam. O saber que acumulámos ao longo dos séculos, e de uma forma particular nas últimas décadas, quando a liberdade de pensamento tomou formas mais consistentes, exige, agora, que a ciência reflita as dinâmicas que todos observam quotidianamente. Assim, a interdisciplinaridade deverá ser pensada como um avanço na forma de pensar e de gerar saberes, o que implica mudanças na maneira de estar, em particular, no mundo da academia/ das universidades.

Hoje, já não olhamos para a interdisciplinaridade como uma estratégia para unificar o conhecimento, mas sim como forma de potenciar o volume crescente de conhecimentos que emergem diariamente das diversas áreas científicas. Na verdade, mais numas disciplinas do que noutras, a história da ciência evidencia a importância da integração dos conhecimentos ou, se quisermos, das diferentes visões do Mundo. A reprodução acrítica de um saber segmentado, como aquele que continua a ser feito na academia, já não faz sentido, na medida em que deixou de dar resposta às necessidades a que a sociedade está exposta. A noção de escola de pensamento, como por exemplo procuram fazer permanecer na Psicologia, só fez sentido na época e no contexto em que essas teorias foram desenvolvidas. Fazem-se progressos, mas esses estão quase sempre presos ao paradigma da substituição do velho pelo novo, mas sempre numa perspectiva unidisciplinar. Esta persistência, no caso da Psicologia, tende a evidenciar como os especialistas se transformaram em agentes factualmente cultos, mas cientificamente incultos, evidenciando desconhecerem a história das ideias da sua própria disciplina/ Ciência. A Psicologia seria particularmente pobre se o desenvolvimento do seu conhecimento dependesse apenas de psicólogos por formação convencional. Na realidade as grandes correntes teóricas nasceram do pensamento de indivíduos que não eram psicólogos (.i.e. Freud, médico; Yung, psiquiatra; Skinner, Letras, mas fez doutoramento em Psicologia; Piaget, Zoologia; Herikson, sem formação formal; A. Ellis, Letras, fez doutoramento em psicologia; e C. Rogers, formado em Ciências Agrárias, com pós-graduação em ciências religiosas e doutoramento em psicologia. Estes são alguns de entre muitos outros).

Bons exemplos do desenvolvimento de um saber interdisciplinar podem ser encontrados nas equipas de pesquisa nas diferentes áreas da engenharia e da saúde. Nas tecnologias, a resolução de problemas requer múltiplos olhares para o mesmo fenómeno. O mesmo acontece nas equipas de pesquisa na área da saúde. Os exemplos nascem de uma perspectiva pragmática em que o verdadeiramente importante são as perguntas e as múltiplas estratégias a serem utilizadas para se encontrarem respostas, independentemente dos métodos. Mas, como sabemos, a grande exigência do sistema é que se produza saber e “produtos” que possam ser transferidos, de preferência para o sector empresarial e a que com alguma frequência designam de sector produtivo. Esta ideia de transferência acarreta uma nova forma de pensar, de trabalhar e fazer ciência. Exige que os agentes interdisciplinares sejam capazes de dialogar entre si sobre o que aceitam ser o mesmo objecto de estudo.

A interdisciplinaridade é fundamental, para que a transdisciplinaridade seja bem sucedida, desde que devidamente alicerçada nos valores que devem orientar o princípio da transformação, implícito no conceito de transdisciplinar: transformar para promover melhor qualidade de vida aos cidadãos. Enquanto com a interdisciplinaridade se consegue fazer o somatório dos saberes, com a transdisciplinaridade pretende-se que esse saber/ conhecimento vá para além da soma dos saberes de cada uma das disciplinas.

Intelectualmente a interdisciplinaridade, para além de apelativa, é razoavelmente fácil de entender, porém as adversidades surgem quando se procura implementá-la, daí a necessidade de se proporcionar fóruns onde esse diálogo entre disciplinas possa acontecer. Poderá ser em contexto de reuniões entre pares, com a vivência da experimentação prática em contexto de laboratório ou na facilitação através de meios onde se apresentem estudos cujo objecto seja idêntico, mas analisado sob diferentes perspectivas.

Nos primeiros dois casos, para que o diálogo aconteça, é importante que todos os participantes assumam uma postura de humildade, respeito pela opinião do colega de trabalho, coerência entre a prática e o discurso e o desapego às ideias que sustentam a sua identidade profissional, e talvez o aspecto mais importante seja a atitude de cada um em saber aproveitar as oportunidades de troca de saberes, e assim expandir o conhecimento que já dominava. A conjugação destes requisitos em todos os membros de uma equipa leva tempo e requer saber encontrar meios que facilitem o diálogo, quer entre sujeitos quer entre disciplinas. O diálogo entre as disciplinas poderá ser facilitado pela oferta de periódicos que se disponham a promove-lo.

O desafio que a PSYCHTECH & HEALTH deixa aos seus colaboradores, presentes e futuros, é que sem abandonarem a lógica das suas disciplinas de origem não façam dela algo de absoluto e que por excelência seja tida como a detentora da verdade, pois essa será redescoberta em cada novo projeto em que a equipa (interdisciplinar) se empenha no desenvolvimento de um conhecimento que transcende cada uma desses disciplinas, para assim poder melhor servir a humanidade (transdisciplinaridade).

Como periódico científico procuramos proporcionar um espaço para a divulgação de pesquisas inéditas, reflexões de carácter teórico e estudos de qualquer outro tipo, desde que solidamente concebidos e desenvolvidos. As áreas científicas privilegiadas pela PSYCHTECH & HEALTH são os múltiplos domínios da Psicologia, das áreas tecnológicas que abordem o comportamento humano e como estas se associam à performance humana quer em contexto de doença quer de saúde.

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