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Revista Portuguesa de Enfermagem de Reabilitação

Print version ISSN 2184-965XOn-line version ISSN 2184-3023

RPER vol.1 no.2 Silvalde Dec. 2018

https://doi.org/10.33194/rper.2018.v1.n2.02.4421 

Artigos

Propriedades Métricas Do Oxford Knee Score Em Pessoas Com Osteoartrite Após Artroplastia Do Joelho: Revisão Sistemática Da Literatura

Propiedades Métricas Del Oxford Knee Score En Personas Con Osteoartritis Después De La Artroplastia De La Rodilla: Revisión Sistemática De La Literatura

Maria Adelaide Conceição Martins Silva Xavier1 

Ana Sofia Carvalho Da Guia2 

Carla Sofia Mota Ascenso3 

Joana Isabel Pissarra Preto4 

Luís Manuel Mota De Sousa5  6 

1- Centro Hospitalar Lisboa Norte, EPE - Polo Hospital Santa Maria | Empresa de Cuidados Domiciliários Integrados com Base nas Novas Tecnologias - “Satélite Familiar”

2- Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte, E.P.E

3- Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra

4- Fundação Champallimaud

5- Hospital Curry Cabral, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central

6- Escola Superior de saúde Atlântica


RESUMO

Objetivo:

Avaliar as propriedades métricas da Oxford Knee Score aplicada em pessoas com osteoartrite após artroplastia do joelho.

Método:

Revisão sistemática da literatura. Recorreu-se à plataforma EBSCOhost que permitiu aceder à base de dados MEDLINE e LILACS e plataforma SCiELO. Os descritores foram validados nas plataformas DeCS e MESH, à exceção de “Oxford Knee Score” e “responsividade”. Foram selecionados artigos publicados nos últimos cinco anos, disponíveis em português, inglês e espanhol.

Resultados:

Obtiveram-se oito artigos que revelaram que o Oxford Knee Score é um instrumento válido, fiável e reprodutivo. A responsividade foi a propriedade métrica menos estuda.

Conclusão:

O Oxford Knee Score é adequado para avaliar a funcionalidade e o impato da dor em pessoas com Osteoartrite após atroplastia do joelho.

Descritores: Estudos de Validação; Reprodutibilidade dos Testes; Joelho; Osteoartrite; Avaliação em Enfermagem

RESUMEN

Objetivo:

Evaluar las propiedades métricas de la Oxford Knee Score aplicada en personas con osteoartritis después de la artroplastia de la rodilla.

Método:

Revisión sistemática de la literatura. Se recurrió a la plataforma EBSCOhost que permitió acceder a la base de datos MEDLINE y LILACS y plataforma SCiELO. Los descriptores fueron validados en las plataformas DeCS y MESH, con excepción de "Oxford Knee Score" y "responsividad". Se seleccionaron los artículos publicados en los últimos cinco años, disponibles en Portugués, Inglés y Español.

Resultados:

Se han obtenido ocho artículos que revelaron que Oxford Knee Score es un instrumento válido, fiable y reproductivo. La responsividad fue la propiedad métrica menos estudiada.

Conclusión:

El Oxford Knee Score es adecuado para evaluar la funcionalidad y el impacto del dolor en personas con Osteoartritis después de la artroplastia de la rodilla.

Descriptores: Estudios de Validación; Reproducibilidad de los Resultados; Rodilla; Osteoartritis; Evaluación en Enfermería

ABSTRACT

Objective:

To evaluate the metric properties of the Oxford Knee Score (OKS) applied in people with osteoarthritis after knee arthroplasty.

Method:

Systematic review of the literature. The EBSCOhost platform was used to access the MEDLINE and LILACS database and the SCiELO platform. The descriptors were validated on the DeCS and MESH platforms, except for "Oxford Knee Score" and "responsiveness". We selected articles published in the last five years, available in Portuguese, English and Spanish.

Results:

There were eight articles that revealed that OKS is a valid, reliable and reproducible instrument. Responsiveness was the least studied metric property.

Conclusion:

The Oxford Knee Scale is adequate to evaluate the functionality and the impact of pain in people with Osteoarthritis after knee arthroplasty.

Descriptors: Validation Studies; Test Reproducibility; Knee; Osteoarthritis; Reliability; Nursing Assessment

INTRODUÇÃO

A Enfermagem, tal como todas as ciências, ao longo do tempo tem vindo a passar por transformações políticas, sociais e económicas, no intuito de se enquadrar ao nível do desenvolvimento e do processo de globalização da nossa década. Como tal, existe a necessidade de implementação de uma prática baseada em evidências científicas, aliando a formação à profissão, fundamentando ganhos em saúde, que advêm da prática em Enfermagem.1

Em Enfermagem de Reabilitação é imprescindível a utilização de instrumentos de avaliação para identificar alterações ao nível de atividades de vida diária, função cognitiva, sensorial e motora, cardiorrespiratória, alimentação, eliminação e sexualidade. O uso desses instrumentos permite ainda, ao enfermeiro, monitorizar os progressos da sua intervenção, documentando a eficácia e o benefício do plano de reabilitação.2

O Oxford Knee Score (OKS) é um instrumento composto por um questionário de doze perguntas e apresenta uma característica bidimensional, uma vez que avalia a componente da dor e da funcionalidade.3 Esta escala foi desenvolvida e validada por investigadores da Universidade de Oxford para funcionar como instrumento de medida de resultados após artroplastia do joelho, em pessoas com osteoartrite (AO).4 O OKS é um instrumento comumente usado para avaliar os sintomas e o estado funcional em pessoas com OA do joelho.5

A utilização do OKS tem vindo a aumentar, tal como a necessidade de ser validada em diferentes países, dado o aumento de pessoas com OA do joelho. Os dados estatísticos demonstram um crescimento substancial de pessoas com OA.

Em Portugal, as doenças reumáticas têm uma prevalência aproximada de 20 a 30%, sendo a principal causa de incapacidade da pessoa idosa com afeção de articulações importantes para a funcionalidade, como é o caso da mão, joelho, anca, coluna vertebral e pé. A realização de artroplastia veio melhorar o prognóstico das pessoas com AO.6 Esta informação equipara-se a um estudo realizado em Inglaterra, o qual refere que a população do Reino Unido está a crescer em número e em idade, e que a OA do joelho é mais comum nas pessoas idosas. O número de pessoas com OA do joelho está estimado aumentar para 5,4 milhões em 2020 e 6,4 milhões em 2035.7

O objetivo desta revisão sistemática da literatura (RSL) foi avaliar as propriedades métricas do OKS, de modo a verificar se esta é válida, fiável, reprodutiva e responsiva, quando utilizada na pessoa com OA.

MATERIAIS E MÉTODOS

Optou-se por uma RSL, uma vez que utiliza um método sistemático, explícito e reproduzível que parte de uma pergunta claramente formulada, que permite identificar, avaliar e sintetizar os estudos primários.8,9

A questão de investigação foi formulada a partir da estratégia PICo,10 considerando as recomendações do Joanna Briggs Institute (JBI),11 onde cada dimensão do PICo10 contribuiu para definir os critérios de inclusão: População (P) - Pessoas com osteoartrite do joelho; Área de Interesse (I) - propriedades métricas da escala Oxford Knee Score e Contexto (Co) - artroplastia do joelho. Assim, definiu-se para a presente RSL a seguinte questão de pesquisa: “Quais as propriedades métricas da escala Oxford Knee Score na pessoa com OA do joelho?”.

A investigação decorreu durante o mês de Outubro de 2014, e foram realizadas duas pesquisas independentes nas plataformas informáticas: EBSCOhost que permitiu aceder à base de dados MEDLINE e LILACS; à plataforma SCiELO. Os descritores foram validados, previamente, nas plataformas DeCS e MESH:

  • Propriedades de medida/ Psycometrics;

  • Validação/Validation;

  • Validade dos resultados/Validity of results;

  • reprodutibilidade dos testes/Reproducibility of tests;

  • Confiabilidade/Reliability;

  • Joelho/Knee, Osteoartrite/Osteoarthritis.

Contudo foram utilizadas as seguintes palavras-chave: Oxford Knee Score e responsividade/Responsiveness, que não estão validadas como descritores em ambas as plataformas, mas que revelam um papel fundamental para que a pesquisa fosse o mais concisa possível.

Os critérios de inclusão e exclusão que permitiram a seleção dos artigos encontram-se descritos no quadro n.º 1.

Quadro n.º 1 Critérios de inclusão e exclusão 

Critérios de seleção Critérios de inclusão Critérios de exclusão
Participantes Pessoa com osteoartrite do joelho Pessoa com outra patologia do joelho e Crianças
Área de interese Validade, fiabilidade, reprodutibilidade e responsividade Não referir, pelo menos, um destes critérios
Desenho do estudo Estudo quantitativo Estudo qualitativo, revisões, artigos de opinião
Período de publicação Artigo publicado entre 2009 e 2014
Língua em que está publicado Artigo publicado em Inglês, Português e Espanhol
Disponibilidade do documento Artigo completo e de livre acesso Artigo incompleto ou que seja necessário o seu pagamento

Foi realizada a pesquisa através da conjugação booleana de descritores, identificados no quadro n.º 2. A pesquisa foi feita por dois revisores de forma independente, para garantir o rigor do método e a fiabilidade dos resultados. Os artigos a incluir na amostra foram selecionados através da seguinte sequência: leitura de título, leitura de resumo e leitura do texto integral, seguindo as recomendações do PRISMA (Figura 1).

Quadro n.º 2 Conjugação Booleana 

Conjugação Booleana Resultados de pesquisa
Oxford Knee Score AND knee osteoarthritis 34
Oxford Knee Score AND assessment 168
Oxford Knee Score AND psychometrics 16
Oxford Knee Score AND validity 23
Oxford Knee Score AND reliability 15
Oxford Knee Score AND reproducibility 19
Knee AND pain AND physical function 1323
Oxford Knee Score AND validation AND cultural 9
Oxford Knee Score AND responsiveness 4
TOTAL 1611

Figura 1 Fluxograma 

Os oito artigos apresentaram ≥ 75% dos critérios de avaliação da JBI, por isso, foram considerados com qualidade metodológica e incluídos na amostra da RSL.

O estudo das propriedades métricas foi realizado com base nos critérios de Validade, Reprodutibilidade e Responsividade.12-13

RESULTADOS

Após a leitura integral de nove artigos eliminou-se um e foram utilizados oito para esta RSL Fizemos um levantamento da informação acerca do ano, país, autor, participantes, intervenções, resultados e o nível de evidência (Quadro n.º 3). Todos os artigos apresentavam nível de evidencia III ou seja, evidências de experimentos bem delineados, tais como estudos não-randomizados, estudos de coorte, séries temporais ou estudos de caso-controle combinados.14

Os oito artigos analisados são originários de vários países, nomeadamente, China,22 Coreia,15 França,18-19 Inglaterra,17 Japão,21 Portugal16 e Suíça.20 Foram publicados entre 2009 e 2013. Todos apresentam nível de evidência III (14). As amostras variam entre 5121 e 18722 participantes com OA do joelho. Estes estudos verificaram a reprodutibilidade, fiabilidade e validade, no entanto, três17,19,21 demonstraram a responsividade.

DISCUSSÃO

No que se refere à reprodutibilidade, Naal e colaboradores20 estudaram a fiabilidade através da consistência interna (α de Cronbach de 0.83) e coeficiente de correlação intraclasse (CCI) que foi de 0.91. Jenny e Diesinger18 verificaram a fiabilidade intra-observador através do valor α de Cronbach, que foi de 0.88, similar à escala original,4 cujo valor foi de 0.87, além disso os valores da fiabilidade inter-observador também foram semelhantes.

No estudo de Xie e colaboradores22 a fiabilidade apresenta um valor de α de Cronbach de 0.896. A fiabilidade no estudo de Takeuchi e colaboradores21 foi demonstrada através de teste-reteste, com CCI de 0.85, e a consistência interna foi avaliada pelo α de Cronbach com o valor de 0.90. O estudo de Jenny e Diesinger,19 na avaliação da fiabilidade interna, revelou um α de Cronbach de 0.88 antes da cirurgia e de 0.66 após a cirurgia, não tendo sido demonstradas associações significativas para este fenómeno.

Na versão portuguesa16 verificou-se, para a consistência interna, α de Cronbach de 0.87. A reprodutibilidade, medida pelo CCI, foi de 0.97 e que demonstra ser adequada.

Harris e colaboradores,17 verificaram a consistência interna, com α de Cronbach 0.94 para OKS, 0.88 para o OKS-componente física (OKS-FCS) e 0.90 para OKS-componente da dor (OKS-PCS). O teste-reteste revelou um CCI para o OKS de 0.93, para o OKS-PCS de 0.91 e para o OKS-FCS de 0.93. No estudo de Eun e colaboradores,15 a fiabilidade interna foi demonstrada com α de Cronbach de 0.932 e a fiabilidade inter-observador por kappa de Cohen entre 0.61-0.87. Através do teste-reteste obteve-se o CCI de 0.848, demonstrando a reprodutibilidade do questionário.

Em todas as versões estudadas a escala demonstrou ser fiável, sendo superior a 0,70,12-13 exceto no estudo de Jenny e Diesinger 19, na avaliação após a cirurgia.

Na validação e adaptação do OKS para a versão alemã, feita por Naal e colaboradores,20 a validade de construto foi avaliada pela comparação entre OKS e as escalas Western Ontario and McMaster Universities Index (WOMAC), Knee Society Score (KSS), Activities of Daily Living Scale (ADLS), Short Form - 12 (SF-12). Foi encontrada maior correlação entre o OKS alemã e ADLS (ρ<0.001), isto pode estar relacionado com as caraterísticas específicas do joelho avaliadas pela escala, enquanto WOMAC foca-se nas especificidades da doença. O menor coeficiente de relação encontrado foi com a SF- 12 (ρ= 0.02).

Quadro n.º 3 Descrição dos estudos 

Autor, ano, país Participantes Objetivo Resultados NE
Eun IS, Kim OG, Kim CK, Lee HS, Lee JS. 2013, Coreia15 142 participantes sujeitos a artroplastia do joelho Validar a versão Coreana do OKS em pessoas sujeitas a artroplastia Neste estudo foi confirmada a fiabilidade, validade e reprodutibilidade. Comparação com Escala Visual Analógica e Short Form - 36. A responsividade não foi determinada devido ao curto espaço de tempo em que foi realizado o teste-reteste. III
Gonçalves RS, Tomás AM, Martins DI. 2012, Portugal16 80 participantes sujeitos a artroplastia do joelho por OA e que estavam a realizar tratamento Realizar a adaptação do OKS para a versão portuguesa e validação das suas propriedades métricas A adaptação do OKS para a língua portuguesa demonstrou fiabilidade, reprodutibilidade e validade. Comparação com Escala Visual Analógica e Short Form - 36: A responsividade não foi avaliada pela impossibilidade realizar um número de retestes suficiente. III
Harris KK, Dawson J, Jones LD, Beard DJ, Price AJ. 2013, Inglaterra17 134 participantes com OA do joelho sujeitas a tratamento não-cirúrgico Avaliar a validade do OKS quando aplicada a pessoas com OA do joelho sujeitas a tratamento não-cirúrgico Comparação com Intermittent and Constant Osteoarthritis Pain, Knee Injury and Ostheoarthritis Outcome Score-Physical, Short Form -12 . O OKS demonstrou ser uma ferramenta fiável, válida e responsiva em pessoas com OA sem indicação cirúrgica. III
Jenny JY, Diesinger Y., 2011, França18 100 participantes com OA a aguardar artroplastia do joelho Validar o OKS para a versão francesa O OKS na versão francesa mostra ser uma ferramenta válida e fiável, segundo os autores mais segura ao ser utilizada na pessoa a aguardar cirurgia. Comparação com International Knee Society Score. A reprodutibilidade não foi apurada, tal como a responsividade. III
Jenny JY, Diesinger Y., 2012, França19 100 participantes com OA a aguardar cirurgia e 100 submetidos a cirurgia de artroplastia do joelho Comparar a validade do OKS aplicando-a antes e após artroplastia do joelho Comparação com American Knee Score. A escala mostra-se válida e responsiva, contudo oferece resultados mais seguros quando aplicada a pessoas a aguardar cirurgia III
Naal FD, Impellizzeri FM, Sieverding M, Loibl M, Von Knoch F, Mannion AF, Leunig M, Munzinger U., 2009, Suiça20 100 participantes submetidos a cirurgia de artroplastia do joelho, pela primeira vez Validar o OKS para língua alemã e avaliação das suas propriedades métricas na aplicação a pessoas com OA do joelho. Comparação com Western Ontario and McMaster Universities Index, Knee Society Score, Activities of Daily Living Scale e Short Form-12. A validação do OKS para a língua alemã mostra-se uma ferramenta válida e fiável para auto-avaliação da dor e função física. III
Takeuchi R, Sawaguchi T, Nakamura N, Ishikawa H, Saito T, Goldhahn S., 2011, Japão21 51 participantes com patologia do joelho, sem artroplastia Validar o OKS para língua japonesa e avaliação das suas propriedades métricas Comparação com o Western Ontario and McMaster Universities Index e Short Form - 36. O OKS validado para a língua japonesa mostra ser uma ferramenta fiável, válida e reprodutiva. Contudo devido a um efeito chão baixo (9%) não foi possível determinar a responsividade. III
Xie F, Ye H, Zhang Y, Liu X, Lei T, LI SC.., 2011, China22 187 participantes com OA Avaliar o OKS quanto à sua validade e fiabilidade na medição de resultados de saúde em pessoas com OA Comparação com Short-Form - 6D, EuroQoL Group 5-Dimension Self-Report Questionnaire score e Escala Visual Analógica. A validade e a fiabilidade foram comprovadas, no entanto a responsividade não foi apurada. III

No estudo de Jenny e Diesinger,18 verificou-se que existe validade concorrente entre o questionário OKS e KSS, e a correlação é negativa, pois os resultados de ambas as escalas são inversos.

A validade de construto, no estudo de Xie e colaboradores 22 foi avaliada através do coeficiente de correlação de Spearman (ρ), e fez-se a comparação com a escala Short Form (SF) - 6D, com a EuroQol Group 5-Dimension Self-Report Questionnaire (EQ-5D) e com a Escala Visual Analógica (EVA), tendo sido comprovada correlação moderada a forte entre elas. A correlação entre o OKS e o domínio da saúde mental, avaliado pela SF-6D, e o domínio da ansiedade/depressão avaliado pela EQ-5D, foi forte ao contrário do que seria de esperar comparando com resultados de estudos prévios, como Dunbar e colaboradores23 na validação do OKS para a versão sueca. Isto talvez possa significar que a OA afeta a qualidade de vida das pessoas, não apenas fisicamente mas também psicologicamente.

Em Takeuchi e colaboradores,21 a validade foi demonstrada pela validade construto através do coeficiente de correlação de Spearman (ρ), comparando o OKS com WOMAC (dor, rigidez e função física) e SF-36 (função física, estado físico, dor física, estado de saúde geral, vitalidade, função social, estado emocional e saúde mental). Esta revelou validade convergente com WOMAC e SF-36 (função, estado físico e dor) e validade divergente entre OKS e SF-36 (estado geral de saúde, vitalidade, aspeto emocional e saúde mental).

Para avaliar a validade, Jenny e Diesinger,19 utilizaram o coeficiente de correlação de Spearman (ρ) entre OKS e a American Knee Score (AKS); o resultado foi negativo, quer antes ou após a cirurgia. Deve ter-se em conta que os resultados do OKS são inversos aos da AKS, ou seja, resultados inferiores no OKS indicam boa condição do joelho e o contrário se passa com a AKS. Desta forma-se conclui-se que uma correlação negativa indica uma boa correlação clínica em termos da validade de construto, sendo o valor de ρ <0.05 na maioria das correlações.

Na validação do OKS para a versão portuguesa,16 a validade de construto do OKS foi medida com recurso ao coeficiente de correlação de Spearman (ρ), em que se correlacionou o OKS com SF-36 e EVA, verificando-se que as três medidas avaliam construtos similares. Sendo que OKS varia do melhor para o pior estado, SF-36 varia do pior para o melhor estado, e por sua vez EVA varia do melhor para o pior estado, esperava-se que OKS se relacionasse negativamente com SF-36 e positivamente com EVA. Esta correlação foi confirmada por um valor de ρ=0.05. O OKS relacionou-se negativamente com SF-36 para valores entre -0.28 e -0.77; por sua vez o OKS relacionou-se positivamente com EVA para valores entre 0.39 e 0.44. A relação negativa do OKS com SF-36 é uma correlação boa, e o inverso de passa com a correlação entre o OKS e EVA.

Para Harris e colaboradores,17 o OKS e subescalas, o OKS-PCS (dor) e OKS-FCS (função física), são passíveis de ser aplicadas em pessoas com OA do joelho sem indicação cirúrgica, como forma de monitorizar a evolução (melhoria ou deterioração) da dor e função física. Neste sentido, na demonstração da validade de construto foi comparada o OKS com a Knee injury and Osteoarthritis Outcome Score-Physical (KOOS-PS), Intermittent and Constant Osteoarthritis Pain (ICOAP) e SF-12, através do coeficiente de correlação de Spearman. Esta comparação revelou uma correlação forte entre OKS, a KOOS-PS e ICOAP, tendo sido mais alta do que o previsto em relação à SF-12 PCS no domínio da dor e, tal como esperado, uma fraca correlação com SF-12 MCS (componente mental). Também foi demonstrado que o OKS-PCS correlaciona-se mais com a ICOAP do que com KOOS-PS e que o OKS-FCS correlaciona-se mais com KOOS-PS do que com ICOAP, conferindo evidência à validade convergente e divergente. No estudo de Eun e colaboradores,15 a validade do OKS foi obtida através da validade concorrente de r=0.692 e ρ<0.001 entre OKS e EVA, e a validade construto entre OKS e SF-36 (r=-0.74), sendo esta considerada convergente, nos domínios estado de função física e dor, e divergente nos restantes domínios.

A validade do OKS em todos os estudos foi verificada pela correlação com escalas que avaliam o mesmo constructo, ou seja através da validade concorrente/divergente,12-13 tendo-se verificado correlações moderadas a fortes e significativas com as escalas utilizadas nas comparações. Foi assim que se verificou a validade do OKS em pessoas com AO no pós-operatório de artroplastia do Joelho.

Relativamente à responsividade, Takeuchi e colaboradores,21 verificaram o efeito chão e efeito teto, sendo que corresponde, respetivamente, ao pior score e ao melhor score.12-13 Nos questionários avaliados a amostra correspondente ao efeito chão foi muito baixa (9%), não sendo possível determinar a responsividade.

No estudo de Jenny e Diesinger,19 a responsividade avaliou-se através da aplicabilidade do OKS antes e depois de artroplastia do joelho, e conclui-se que o grupo de pessoas que aguardavam cirurgia apresentou um efeito chão nulo e um efeito teto baixo. Inversamente, no grupo de pessoas sujeitas a cirurgia averiguou-se que o efeito chão foi substancial e o que o efeito teto foi nulo. O efeito teto sugere que pessoas a aguardar cirurgia sofrem com dor e com incapacidade funcional sérias; após a cirurgia o efeito chão fortemente presente sugere que existe uma melhoria no bem-estar físico e funcional, mas não permite compreender diferenças nos resultados entre duas pessoas diferentes.

Em Harris e colaboradores,17 estas escalas foram aplicadas no primeiro dia e três meses após, e OKS revelou que 15% das pessoas apresentaram deterioração do estado de saúde, 30% revelou melhoria do seu estado de saúde e 55% não refletiram qualquer mudança, confirmando assim a sua responsividade.

O OKS é fiável, reprodutível e válida.15-22 Estes resultados são semelhantes às versões validadas para outras línguas, como a chinesa,24 holandesa,25 italiana,26 sueca23 e tailandesa.27

O OKS permite a auto-avaliação da dor e função física em pessoas com OA do joelho20 no entanto, oferece resultados mais seguros quando aplicada a pessoas que ainda não realizaram cirurgia.19 Nesta revisão verifica-se que versão portuguesa do OKS é um instrumento fiável, reprodutivo e válido para ser utilizada na população portuguesa.16

Relativamente à responsividade, apenas foi demonstrada em dois estudos.17,19

Implicações práticas e para futuras investigações

O estudo das propriedades métricas do OKS revela que é efetivamente um instrumento fiável, válido em várias línguas, incluindo em português europeu, quando utilizada antes de qualquer procedimento, seja ele cirúrgico ou não cirúrgico. No entanto, sugere-se que seja considerada em estudos futuros a verificação da responsividade do OKS. A utilização de uma escala válida, fiável, reprodutível e responsiva na prática clínica, permite garantir a objetividade e precisão dos resultados obtidos, ajudando o enfermeiro de reabilitação a realizar juízos clínicos mais adequados e a verificar os ganhos obtidos com a sua intervenção.

Esta escala pode ser utilizada antes da cirurgia e quatro semanas após a cirurgia, visto que é o período que está contemplado na escala, ou seja, é abordado como é que a pessoa se sente nas últimas quatro semanas, relativamente à dor e à realização das atividades de vida diária. 3,28

Limitações do estudo

Pode-se referir como limitação, a inclusão de artigos disponíveis apenas nos idiomas Inglês, Português e Espanhol e por outro lado, a inclusão de artigos completos de livre acesso.

CONCLUSÃO

Após análise e interpretação dos artigos incluídos, os resultados encontrados permitem responder à questão de investigação definida. Contudo, não é possível comparar todos os estudos incluídos, uma vez que não são homogéneos na amostra, nos vários conceitos que avaliaram, bem como nas diferentes estratégias utilizadas.

Apesar da diferença geográfica, cultural e socioeconómica, onde os diferentes estudos foram executados, é de referir que foi possível avaliar as propriedades métricas do OKS quando aplicada em pessoas com OA.

A avaliação da consistência interna foi demonstrada através do α de Cronbach, o qual se verificou ser superior a 0.70 em todos os estudos selecionados, demonstrando assim a fiabilidade da escala, exceto num estudo realizado no pós-operatório. A validade foi demonstrada pela validade construto, através do coeficiente de correlação de Spearman (ρ), quando comparando o OKS com outras escalas selecionadas para cada estudo. A reprodutibilidade também só foi confirmada em alguns estudos usando o CCI, obtido através do teste-reteste. A responsividade não foi assegurada em todos os estudos analisados, pois nem todos tinham estabelecido um efeito chão e/ou efeito teto, ou período de tempo suficiente para avaliar mudança na condição de saúde.

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Recebido: 25 de Agosto de 2018; Aceito: 26 de Novembro de 2018; Publicado: 06 de Dezembro de 2018

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