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New Trends in Qualitative Research

versão On-line ISSN 2184-7770

NTQR vol.8  Oliveira de Azeméis jun. 2021  Epub 07-Dez-2021

https://doi.org/10.36367/ntqr.8.2021.890-897 

Artigos Originais

Guia norteador para condução de grupo focal na identificação de competências gerenciais: Relato de experiência

Guiding Guide for Conducting a Focus Group in Identifying Managerial Skills: Experience Report

Laura Leal Andrian 1 
http://orcid.org/0000-0002-8563-8980

Silvia Henriques Helena 2 
http://orcid.org/0000-0003-2089-3304

1 Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Brasil.

2 Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Brasil.


Resumo:

A utilização da técnica de Grupos Focais na enfermagem estão presentes na literatura, entretanto, ressaltam-se lacunas com relação a guias ou roteiros que podem nortear sua condução. Objetivos: Apresentar a experiência dos pesquisadores na elaboração de um guia para nortear a condução de grupos focais relacionados a identificação de competências gerenciais prioritárias ao desenvolvimento de discentes de enfermagem. Métodos: Relato de experiência realizado em uma universidade brasileira. O guia foi construído tendo por base artigos disponíveis da literatura, referencial proposto e a experiência das autoras em um curso da Espanha. Este guia foi validado e testado por quatro especialistas de gestão em enfermagem, nível doutorado. Após construção e validação, foram realizados três grupos focais com docentes da área de gerenciamento da IES selecionada. A coleta ocorreu no período de março a abril de 2020 e foi realizada análise temática indutiva. Resultados: A construção de um guia norteador demonstrou ser estratégia capaz de identificar aspectos relevantes para a formação do enfermeiro no que diz respeito a identificação das competências gerenciais. Essa construção pôde servir de base para condução de demais grupos. Ademais, a partir do guia construído e sua implementação identificou-se competências gerenciais prioritárias, tais como: liderança, comunicação, relacionamento interpessoal e tomada de decisão gerencial. Conclusões: A estratégia de grupos focais com docentes de enfermagem acompanhadas por um guia norteador demonstrou ser positiva na identificação de competências gerenciais prioritárias ao ensino de enfermagem, favorecendo a elaboração de estratégias para o desenvolvimento destas competências e consequentemente contribuir para a inserção deste profissional no mercado de trabalho.

Palavras-chave: Grupos Focais; Competência Profissional; Pesquisa Qualitativa; Enfermagem

Abstract:

Introduction: The use of the Focus Groups technique in nursing is present in the literature, however, gaps are highlighted in relation to guides or scripts that can guide their conduct in the area of identifying managerial competences. Objectives: To present the researchers' experience with the elaboration of a guide to guide the conduct of FG related to the identification of management skills that are priority to the development of nursing students. Methods: Experience report carried out in a Brazilian Public Higher Education Institution. The guide was built based on articles available in the literature, reference proposed and the experience of the authors in a course offered by Spain. This guide has been validated and tested by four PhD specialists. After construction and validation, three focus groups were held with professors from the management area of the selected institution, who had worked for more than two years in the function. The collection took place from March to April 2020. The groups were had an average duration of 55 minutes. An inductive thematic analysis was performed. Results: The construction of a guiding guide for driving must follow rigorous steps evidenced by the referential, and proved to be a strategy capable of identifying relevant aspects for the training of nurses with regard to the identification of managerial skills. Also can serve as a basis for conducting other groups. In addition, from the guide built and its implementation, priority managerial competencies were identified: leadership, communication, interpersonal relationships and managerial decision making. Conclusions: The strategy of focus groups with nursing professors accompanied by a guiding guide proved to be positive in identifying managerial competencies that are a priority in nursing education, enabling the formation of a better prepared professional to face the job market.

Keywords: Focus Groups; Professional Competence; Qualitative Research; Nursing

1. Introdução

Este artigo é parte da tese intitulada “Competências gerenciais para discentes de enfermagem: implementando metodologia ativa de ensino” que será apresentada futuramente na Universidade de São Paulo. O referido estudo teve como um dos objetivos a identificação das competências gerenciais prioritárias ao desenvolvimento do discente de enfermagem para atuação hospitalar e, para esta identificação foi necessária ampla discussão entre os docentes da área gerencial, o que ocorreu por meio da utilização da técnica de Grupo Focal (GF).

As competências gerenciais estão relacionadas aos conhecimentos, habilidades e atitudes da área de gestão, abrangendo liderança; tomada de decisão; comunicação; relacionamento interpessoal, custos, entre outros (Ferracioli et al., 2020).

O GF pode se constituir como método efetivo para discussões neste âmbito, podendo contribuir para o preparo e formação do profissional. Além disso, tem sido aplicado como técnica com objetivo de coletar informações sobre determinado tema específico por meio da discussão participativa entre os seus integrantes, reunidos em um mesmo local e durante certo período de tempo. Isso proporciona a troca de experiências, conceitos e opiniões entre os participantes. Origina discussões e elabora táticas grupais para solucionar problemas e transformar realidades, pautando-se na aprendizagem e na troca de experiências sobre a questão em estudo (Dall'agnol et al., 2012).

Na enfermagem a realização desta técnica já vem sendo descrita em outros relatos de experiências, como técnica exitosa, entretanto, não é tarefa simples, uma vez que exige dos pesquisadores atitudes adequadas para o aprofundamento acerca dos significados e subjetividade dos participantes a respeito dos aspectos que envolvem seu processo de trabalho (Soares et al., 2016; Santos et al., 2019).

Para realização dos grupos é necessário dispor a condução de algumas etapas, como: o período de sensibilização dos participantes, desenvolvimento do GF com organização do ambiente e condução do grupo propriamente dita. Destaca-se que para concretização destas etapas é preciso dispor de um temário ou guia, que serve como um auxílio para a memorização de questões importantes a serem tratadas e permite melhor compreensão dos objetivos de pesquisa para o GF (Gatti, 2012).

Contudo, a este respeito, cabe destacar a baixa produção de estudos na literatura que focalizam guias para auxiliar o desenvolvimento de GF. Para tanto, realizou-se uma consulta na literatura a fim de aprofundar na compreensão sobre a temática nas bases de dados eletrônicas, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online - MEDLINE, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde-LILACS, e Web of Science, utilizando os descritores em ciências da saúde (DeCS): Guia; Grupos Focais, Pesquisa Qualitativa e Competência Profissional; e com Medical Subject Headings (MeSH): Guideline; Focus Groups; Qualitative Research; e Professional Competence; combinados com o operador booleano AND. Foram considerados artigos disponíveis de forma completa, publicados nos idiomas português, inglês e espanhol, no período de 2000 a 2019. A busca constatou a carência de produção atualizada acerca de guias para nortear a realização de GF.

Foi utilizado como questão norteadora: A elaboração de um guia ou roteiro pode auxiliar a condução de um GF na identificação de competências gerenciais prioritárias ao desenvolvimento de discentes de enfermagem?

Acredita-se na aplicabilidade dos grupos focais em pesquisas qualitativas, e assim faz-se necessário aprofundar no conhecimento de pesquisas que utilizam métodos e/ou estratégias que possam auxiliar na sua condução, com consequências positivas para investigações na área da saúde.

Deste modo, este artigo teve o objetivo de apresentar a experiência dos pesquisadores na elaboração de um guia para nortear a condução de GF relacionado a identificação de competências gerenciais prioritárias ao desenvolvimento de discentes de enfermagem.

2. Metodologia

Trata-se de um relato de experiência sobre a construção de um guia norteador para condução de GF. Foi realizado em uma Instituição de Ensino Superior (IES) pública brasileira do interior paulista. A fim de nortear as discussões nos grupos focais, inicialmente foi construído um guia que teve como base uma consulta na literatura realizada de setembro a outubro de 2019, o referencial proposto por Gatti (2012) e acresce-se a isso a experiência das autoras na implementação do método. A construção deste guia também foi pautada em um curso intitulado “Cómo realizar grupos focales”, disponibilizado pela FUNDACION INDEX, Espanha, de modo virtual, onde uma das autoras participou. Com relação a consulta na literatura inicialmente foram selecionadas oito publicações potenciais, que após a exclusão dos materiais que não respondiam à questão norteadora da introdução estudo, o resultado ficou constituído por duas publicações, as de Kinalski et al. (2017) e Gui (2003).

O guia foi validado e testado por quatro especialistas na área de gestão de enfermagem com nível doutorado e experiência em estudos qualitativos. Após esta etapa, foram realizados três GF(s) com os docentes do último ano do ensino de graduação em enfermagem da referida instituição. Com relação aos critérios de seleção dos participantes, foram convidados docentes responsáveis por disciplinas da área de gerenciamento de enfermagem hospitalar. A escolha se deu pela temática a ser investigada. Foram selecionados os docentes que tinham mais de dois anos de experiência (por considerar que este profissional tinha maior experiência educacional e prática), totalizando 23 docentes. Os docentes afastados ou de licença-saúde foram excluídos da pesquisa.

A implementação dos grupos ocorreu no período de março a abril de 2020. Para facilitar a compreensão da realização do GF, utilizou-se o referencial proposto por Gatti (2012) e optou-se por organizá-lo conforme as etapas propostas na sequência:

  1. 1º passo: Período de sensibilização, seleção e montagem dos GF

  2. 2 º passo: Desenvolvimento do GF: organização e composição do ambiente

  3. 3 º passo: A condução dos GF

2.1 Período de Sensibilização, Seleção e Montagem dos GFs

Na fase de seleção dos participantes para compor o GF, foram convidados de 4 a 10 docentes. A constituição do GF é feita de forma intencional e pretende-se que haja, pelo menos, um ponto de semelhança entre os participantes (Gatti, 2012). Assim, os GF(s) foram realizados em consonância com os períodos de trabalho e estudo dos docentes, ou seja, período da manhã e tarde, bem como de acordo com a disponibilidade de cada um para os encontros. Para registro das informações utilizou-se três gravadores digitais durante as sessões, com o intuito de registrar na íntegra os discursos; além disso, todas as observações e impressões foram registradas em um diário de campo.

2.2 Desenvolvimento do Grupo Focal: Organização e Composição do Ambiente

A escolha do local de realização das sessões do GF tem fundamental importância na adesão dos participantes; é preciso estabelecer um ambiente propício às interações. Diante disso, os participantes foram distribuídos em torno de uma mesa oval em salas próprias da IES selecionada. Ademais, os grupos foram realizados pelo pesquisador (moderador) e um auxiliar de pesquisa (observador) visando descrever as situações identificadas. O papel primordial do observador é facilitar a discussão com o moderador após o encontro com o GF, evitando conclusões precipitadas por parte do moderador, acerca de suas impressões e registros (Gatti, 2012).

Ao moderador do trabalho cabe o importante papel de manter-se atento às discussões, intervindo sempre que há necessidade de esclarecimento das ideias (Dall'agnol et al., 2012).

2.3 A Condução dos GF

Todas as atividades tiveram tempo definido. Assim, foi realizado o encontro com os grupos para a discussão sobre o tema pesquisado. O moderador e o observador receberam cada participante de maneira cordial e confeccionaram de um crachá para melhor identificá-lo. O desenvolvimento do GF foi orientado pelas questões norteadoras do guia. Ademais, ressalta-se que o tempo de duração e o número de participantes de cada reunião grupal podem variar, mas não deve ultrapassar 1 hora, o que aconteceu em nossa investigação. No encerramento dos grupos dessa experiência, o coordenador realizou a síntese do trabalho do grupo. Assim os GFs tiveram duração média total de 55 minutos.

Após a construção e execução dos GF(s) com os docentes realizou-se a transcrição das gravações e foram acrescidas às anotações e reflexões do moderador e do observador. Utilizou-se a análise temática indutiva para interpretação dos dados provenientes das discussões do GF. Este tipo de análise é um método que identifica, analisa e relata os padrões (temas) dentro dos dados; organiza e descreve seu conjunto de dados em detalhes que por meio da sua liberdade teórica (Braun & Clarke, 2006).

Por se tratar de uma pesquisa desenvolvida com seres humanos, foi respeitado as determinações da Resolução de nº 466/2012 e os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Instituição proponente, sob aprovação CAAE número 21390619.1.0000.5393.

3. Resultados

Apresentam-se aqui os resultados da experiência em três capítulos. A princípio pretende-se mostrar o guia construído e validado para condução dos grupos focais, apresentar a realização dos GF(s) a partir do guia construído e finalmente as competências identificadas por meio destes grupos.

3.1 Guia Norteador para Condução

O guia construído para condução dos grupos focais seguiu as fases elencadas previamente no método, conforme nosso referencial teórico, evidenciado no Quadro 1:

Quadro 1: Guia norteador para GF com base na identificação das competências gerenciais prioritárias ao ensino do aluno de enfermagem. Brasil, 2021. 

3.2 Realização dos GF

Dos 23 docentes convidados, efetivamente participaram 12 (52,17%); 10 (43,47%) recusaram por questões de indisponibilidade de horário entre os encontros e um (4,34%) por não concordância em participar da pesquisa, sem um motivo aparente.

Assim, foram realizados três GF(s), sendo quatro participantes em cada. Ainda, para realização dos mesmos, ressalta-se que foi solicitada a limpeza prévia dos ambientes e atenderam-se às necessidades de ventilação e de iluminação. Atentamos particularmente em garantir não só a privacidade dos envolvidos, mas também propiciar-lhes ambiente aconchegante, incluindo servir-lhes água mineral, música ambiente e guloseimas. A cordialidade no acolhimento dos participantes desde sua chegada ao local foi uma preocupação constante. Essas características permitiram acesso facilitado aos participantes por estarem localizadas na própria instituição.

Ademais, o coordenador foi representado pela primeira pesquisadora, sendo que esta coordenou os grupos com o guia e a observadora foi representada por um aluno de pós-graduação (nível doutorado, com experiência em GF), auxiliando em todos os momentos do seu desenvolvimento, porém, sem interferir na moderação.

3.3 Competências Gerenciais

A partir da realização dos GF(s) foi possível identificar competências gerenciais prioritárias para o ensino do discente de enfermagem como: Tomada de decisão gerencial; Liderança; Relacionamento Interpessoal e Comunicação.

4. Discussão

Um dos desafios vivenciados pelas pesquisadoras ao aplicar a técnica de grupo focal foi a dificuldade encontrada na literatura sobre pesquisas que tivessem publicado um guia norteador para o desenvolvimento desta técnica.

Ademais, é relevante destacar que há dificuldade para a elaboração de um guia que responda especificadamente a determinada questão norteadora, ou seja, capaz de atingir o objetivo dos investigadores.

A princípio observou-se que realizar esta técnica de GF seria ideal pelo baixo custo e pela possibilidade de aprofundar discussões, entretanto, vale ressaltar que houve temor se iríamos conseguir concretizar o GF após a construção, pois exige disponibilidade e compreensão no objetivo da técnica que seria aplicada.

A utilização desta técnica auxilia como consulta em etapas de uma pesquisa exploratória qualitativa, quando se busca ampliar a compreensão e a avaliação a cerca de um projeto, programa ou serviço (Ressel et al., 2008), como o caso desta investigação que utilizou esta técnica.

O foco da construção de um guia norteador foi para auxiliar na identificação do objeto do estudo, no caso, as competências gerenciais prioritárias ao desenvolvimento de discentes de enfermagem, contribuindo para a precisão na coleta das informações e condução dos grupos.

A partir dessa premissa, a elaboração de um guia dá a oportunidade ao pesquisador de envolver os participantes da pesquisa, a fim de gerar uma contextualização acerca de uma temática, bem como a reflexão e análise sobre o que se procura investigar, por meio de um processo interativo entre os participantes que gera diferentes opiniões, considerações e sugestões, oriundas das discussões que emergem das questões norteadoras (Soares et al., 2016).

A construção de um guia deve seguir os preceitos ou temas relacionados a área que se almeja pesquisar, sempre em confronto com a literatura disponível e com a validação de especialistas. Nessa linha, pesquisadores evidenciaram diferentes formas de condução do GF na área de moléstias infecciosas com crianças e adolescentes, dos quais avaliaram aspectos positivos (Kinalski et al., 2017).

Ademais, um exemplo de roteiro apresentado em Gui (2003) estruturado, contém, ao lado de cada tópico, o tempo estimado para tratá-lo (dez minutos, cinco minutos, 15 minutos, etc.). Este não é um procedimento padrão na condução de GF em pesquisa, mas pode auxiliar o pesquisador pouco ambientado ao trabalho com grupos. A maioria dos autores propõe um roteiro curto, focalizado e de fácil uso (Barbour, 2009).

Assim, a construção do guia pode servir de base para condução de demais GF(s) relacionados a área de ensino e pesquisa em enfermagem. Ainda, ressalta-se que nessa experiência, uma vez que os objetivos foram alcançados com os participantes dos grupos, não houve necessidade de utilizar técnicas de apoio, como entrevistas. Esses grupos proporcionaram momentos únicos para o desenvolvimento profissional dos pesquisadores e professores, pois as informações coletadas estabeleceram as bases para uma base qualitativa relacionada ao tema em questão.

Corroborando com este fato, para as sessões grupais não é necessário estabelecer uma quantidade exata de reuniões, ou seja, vai depender se os participantes atingiram o assunto em pauta (Aschidamini & Saupe, 2004; Gatti, 2012). Assim, ao identificar que se esgotaram nos depoimentos dos docentes, a descrição das competências, encerrou-se os encontros. Ao atingir-se a fase de saturação iniciou-se a análise dos dados.

É notório enfatizar que durante a discussão em GF, além do roteiro com as questões de investigação que o estudo em pauta visa responder, outros temas podem emergir; assim, o moderador deve oferecer orientações para introduzir o assunto desde que não fuja dos objetivos. Nessa direção, o moderador pode exercer várias funções, como garantir a participação e harmonia, esclarecer ou aprofundar temas específicos, conduzir para o próximo tópico quando não houver mais nada a ser dito, estimular as pessoas mais inibidas, bem como desestimular os mais falantes e finalizar o grupo reiterando os principais pontos discutidos (Gatti, 2012; Soares et al., 2016).

O referencial teórico proposto por Gatti (2012) recomenda que as discussões grupais não ultrapassem de 15 pessoas, entretanto, não há um consenso na literatura sobre a quantidade ideal de pessoas, não obstante, quanto menor a participação de docentes, no caso desta investigação, em torno de 4-5, melhor, para potencializar a fala e troca de experiências de cada um dos participantes.

Com relação a implementação efetiva do GF a partir do guia construído, os docentes observaram que apesar de ser importante o ensino de todas as competências gerenciais, o desenvolvimento da liderança, tomada de decisão, comunicação e relacionamento interpessoal se faz prioritário ao ensino.

A liderança, comunicação e relacionamento interpessoal, são temas que nunca se esgotam durante o período de ensino (Reed et al., 2019), além de que, pela inexperiência do aluno, ou pela falta de padronização e/ou utilização de metodologias problematizadoras durante a formação, o aluno tem dificuldade de desenvolver essas competências e acaba por desenvolvê-las no mercado de trabalho. Ademais, as disciplinas dos cursos de enfermagem devem incluir nos seus programas a aprendizagem da tomada de decisão gerencial, comunicação, liderança e relações humanas (Johansen & O’brien, 2016).

Outrossim, os centros formadores de graduação devem se preocupar em elaborar metodologias ativas de aprendizagem para os futuros profissionais, assim, a técnica de grupo focal reponde com propriedade às exigências de uma formação adequada aos futuros enfermeiros.

Por fim, destaca-se que a experiência de construir um guia e utilizá-lo na condução de grupos focais teve resultados positivos, ao possibilitar identificar as competências gerenciais que devem ser desenvolvidas na graduação, além se provocar a reflexão crítica dos pesquisadores neste método de investigação.

Esta pesquisa apresenta a limitação de ter sido realizada unicamente em uma IES pública e para uma área específica de ensino na enfermagem, não abarcando a análise de demais profissionais e de outros conteúdos gerais para condução de GF. Assim, ressalta-se a importância da realização de outros estudos de forma a abranger outros participantes.

5. Conclusão

Foi possível disponibilizar um guia norteador para condução de GF voltado para área de ensino em enfermagem gerencial, utilizado para identificar as competências gerenciais que devem ser desenvolvidas ainda na graduação. O GF por sua fundamentação na discursividade e interação pressupõe a construção de conhecimento em espaços de intersubjetividade. Portanto, pressupõe-se que muitas vozes ouvidas no grupo contêm aspectos semelhantes e diferentes, de concepção e desconstrução, inerentes à intersubjetividade. É vital conhecer profundamente seus fundamentos e seu processo de desenvolvimento, pois seu sucesso se dará na medida em que os pesquisadores estiverem adequadamente incorporados na pesquisa elegida.

Ademais, a construção de um guia deve favorecer a condução de técnicas metodológicas como o grupo focal, propiciando a transformação dos sujeitos no que diz respeito ao seu conhecimento sobre alguma temática, neste caso, especificamente as competências gerenciais necessárias a formação do enfermeiro.

Agradecimentos

À Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

6. Referências

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Recebido: 18 de Março de 2021; Aceito: 28 de Abril de 2021

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