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New Trends in Qualitative Research

versão On-line ISSN 2184-7770

NTQR vol.14  Oliveira de Azeméis set. 2022  Epub 01-Ago-2022

https://doi.org/10.36367/ntqr.14.2022.e592 

Artigo original

A tese metodológica: Metodologia vista como teoria e teoria como Metodologia

The methodological thesis: Methodology seen as theory and theory as methodology

1ISCTE.IUL., Portugal

2Escola Superior de Educação João de Deus, Portugal


Resumo:

A tese metodológica é um projeto antigo que visa ver os trabalhos nas Ciências Sociais do ponto de vista metodológico em vez do teórico. Os objetivos desta proposta podem ser diversos, mas os centrais são avaliar o trabalho científico efetuado, validando-o e melhorar uma investigação no seu decurso ou posteriormente. O que é proposto neste artigo não é novidade, tendo sido encontrado em muitas obras metodológicas com exemplos de boas e más práticas, assim como sugestões de como se deveria proceder. Na pesquisa efetuada para este artigo não se encontraram obras que do início ao fim tivesse efetuado uma análise vista do ponto técnico e metodológico. A proposta que é aqui apresentada consiste em fazer uma tese dentro de outra tese, invertendo os polos, a metodologia vista como teoria e a teoria vista como metodologia. Nesta inversão dá-se mais atenção à metodologia, aprofundando-a indo além do mero procedimento, assim como a todos os elementos que em nome da redução foram omitidos do trabalho final. A tese metodológica é principalmente qualitativa, não visa a universalidade e a representatividade estatística, mas sim a transversalidade e intersecçionalidade dos métodos assim como das técnicas. Apesar de ser uma metodologia qualitativa, existe uma abertura quer para metodologias mistas quer quantitativas. A ideia central defende que qualquer investigação quantitativa ou qualitativa é única porque se realiza num contexto social, cultural, económico e temporal único. Os métodos e as técnicas são transversais a cada contexto, mas tomam formas específicas perante a especificidade de cada investigação. Neste campo pode recorrer-se á abdução quer á indução analítica, olha-se para uma investigação de uma forma aberta com todo o seu potencial. No final resulta o desenvolvimento de um olhar crítico com a tomada de consciência do trabalho realizado.

Palavras-chave: Metodologia; Teoria; Reflexividade; Consciência; Significado.

Abstract:

The methodological thesis os an old project that aims to see the work in the Social Sciences in the methodological point of view instead of the theoretical. The objectives of this proposal can be several. The main are to evaluate scientific work that have been done, validating it and improving one research during his corse or after the same. What is proposed in this article isn’t new, it has been found in many methodological books with good and bad practices, as well how it should proceed. In the research done to this article, it wasn’t found woks that from the beginning to the end done in the point of view technical and methodological. The presented proposal invites the researcher to do a thesis inside other theses. Reversing the poles, the methodology is seen as theorys and theory as methodology. In this reversion the main attention is given to the methodology, deepen it and Going beyond the mere procedure, just as, all elements due reduction process had been omitted. The methodological theses are mainly qualitative, neither aim for universality nor statistical representativity, but the transversality and intersectionality of methods and techniques. Although it is one qualitative methodology, there are one openness either to mixed methodology or quantitative. The main idea argues that any research qualitative or quantitative is unique because it is done in a social, cultural, economic, and temporal unique. The methods and techniques are transversal to all contexts, but the tale specific forms before the specificity of each research. In this field it can be used either abduction other the analytical induction. In the end, the outcome is the development of a critical eye and to be aware of the work done.

Keywords: Methodology; Theory; Reflexivity; Conscience; Meaning.

1.Introdução

A tese metodológica é fruto do conjunto de trabalhos teórico e metodológicos da metodologia adaptada ao contexto e ao investigador. O grande e único objetivo desta metodologia é tornar a investigação social acessível a todos os que a desejem fazer (Camalhão, Camalhão, & Saraiva 2019). Um dos trabalhos publicados, mais próximos desta proposta (Camalhão & Camalhão, 2018) procurou uma resposta ao problema de que muitas vezes muitos dados são deitados fora, quer porque é preciso reduzir o número de páginas do trabalho académico é limitado, quer porque são fruto de mudanças no percurso da investigação. A tese metodológica é mais um instrumento ou ferramenta que está ao serviço de orientadores, alunos orientados, professores que ensinem metodologias e todos os que, por alguma razão queiram ou desejem melhorar um trabalho de investigação realizado expurgando-o de lacunas, erros e imperfeições. Observa-se, no entanto, que não existem seres humanos perfeitos (Ricoeur, 2019), o ser humano na metodologia adaptada ao contexto e ao investigador, é incompleto, imperfeito e falível, mas sempre em perpétuo aperfeiçoamento. Justifica-se assim, a necessidade de existir uma ferramenta que permita tal aperfeiçoamento. O que é a tese metodológica? A tese metodológica consiste em ver todos os elementos de uma investigação do ponto de vista metodológico. Não é raro ou novo nos livros de metodologia onde se apresentam exemplos de erros cometidos nos trabalhos académicos. Becker (2017 pp. 1 a 17), por exemplo, faz vários comentários ao trabalho de Wallin e Waldo, no que fizeram certo ou errado, com observações que apresentam um forte pendor técnico e metodológico. Uma das bases desta proposta é a Grounded Theory, de Glasser & Strauss (1967). Estes autores construíram uma metodologia de raiz, recorreram a todos os contributos das Ciências Sociais, pelo critério da relevância e independentemente da sua contribuição ser recente ou antiga. Desta sairão duas contribuições: a inspiração da inversão proposta de ver a metodologia do ponto de vista teórico e a opção por uma abertura a todas as contribuições das Ciências Sociais que se demonstrem uteis, independentemente da sua antiguidade. Dentro deste espírito de abertura além da Grounded Theory, incluíram-se formas mais clássicas de ver a metodologia de autores como Yin (2016), Bryman (2016) e Van Campenhoud, Marquet & Quivy (2019) onde a investigação assume um caráter mais linear, por fases bem identificadas, apesar de todas terem caráter circular, pois todas remetem-se para momentos anteriores e posteriores da investigação. Posicionado a tese metodológica perante o polo quantitativo, qualitativo esta encontra-se claramente no lado qualitativo (Lessard-Hérbert, Goyette & Boutin, 1994, pp. 95 - 106) uma vez que se privilegia o texto, os gráficos é um processo principalmente indutivo e interpretativo. Procura-se o sentido e significado que se encontra na escolha dos diversos atores da investigação perante uma metodologia, método e técnica. O seu carácter aberto inclui a descoberta e verificação, sendo que os polos quantitativos e qualitativos fazem parte do mesmo contínuo. É possível aplicar à tese metodológica a todos os tipos de abordagem qualitativa, mista e quantitativa, mas nunca perde o seu carácter qualitativo. Este artigo é composto por quatro partes: a apresentação de uma simulação de um caso com a construção de um cenário ao qual pode-se aplicar uma tese metodológica; na segunda procura-se explicar com maior profundidade o que é aqui proposto; na terceira vai-se para os aspetos mais práticos de como se faz este tipo de investigação; por último como conclusão apresentam-se os problemas, limitações e vantagens.

2.O Doutorando e a Ambição Desmedida

Num trabalho anterior, (Mendes, Camalhão & Camalhão, 2020) criou-se um modelo de uma aluna de mestrado com um cenário catastrófico com muitos anos fora do meio académico, poucos recursos, trabalhadora-estudante, mãe e mulher de família. O cenário apresentado neste artigo é igualmente difícil, aplica-se a um aluno de doutoramento. É professor universitário necessitando deste grau académico para manter o seu trabalho e progredir na carreira. O seu objeto de estudo são representações sociais dos políticos do funcionamento das instituições políticas. A investigação decorreu durante a pandemia do covid, por isso, não conseguiu uma bolsa de investigação e teve de conciliar a atividade letiva com o trabalho de investigação. Tinha as vantagens de fazer parte de um departamento de investigação, uma carreira de 20 anos e muitos contactos com o mundo da política. É um investigador ambicioso, tendo a ambição de construir uma grande teoria das instituições e realizar um trabalho a nível nacional. Numa luta contra o tempo utiliza toda a sua experiência sem parar para ter tudo pronto de 2 a 3 anos. Quando faz a primeira versão escrita, apercebe-se quer dos inúmeros erros quer de uma falta de integração entre os diversos elementos. Aquela versão não acessível para o investigador, júri e para o leitor. O que pode fazer a tese metodológica para este doutorando? Pode fazer uma avaliação trabalho realizado (Patton, 2015), através de uma pesquisa qualitativa que interrogue os documentos utilizados, e interpretar o seu significado, distinguindo o que tem, do que não tem significado. Avaliar é também perceber como as coisas funcionam, principalmente como trabalhou neste doutoramento no seu todo. É importante ver como a investigação afetou a sua vida e a comunidade estudada. Igualmente, se compreendeu o contexto onde realizou o trabalho e se soube lidar com os eventos inesperados. No campo dos métodos e técnicas utilizadas, saber se estas foram adequadas e bem aplicadas no contexto estudado. Por último responder à pergunta se o trabalho efetuado serve o propósito para o qual foi efetuado, se é compreendido pelo publico a que se destina. O primeiro diagnóstico, fruto de uma primeira leitura, foi que o investigador não teve tempo para fazer uma necessária reflexividade do que estava a fazer, realizou muitas atividades mecânicas pouco conscientes (Rallis & Rossman, 2012). A segunda conclusão tornou evidente ao longo de processo de investigação o investigador caiu em duas armadilhas apresentadas por Van Campenhoud, Maquet, & Quivy (2019) o pular etapas em nome da pressa e a gula que não foi só livresca, mas com uma ambição para os quais não tinha tempo nem os meios para corresponder.

3. A Tese Metodológica: Uma Visão Diferente do Trabalho Científico

A tese metodológica o que é? E para que serve? Tome-se o exemplo do modelo do doutorando em dificuldades. A sua tese está confusa e não se percebe o seu sentido, para o próprio doutorando, júri, para o público e para o orientador. A tese metodológica ajuda este investigador a explicitar o sentido do seu trabalho, possibilitando a sua melhoria. A tese metodológica, na prática visa quatro finalidades ligadas à avaliação:

Avaliar o trabalho durante o processo de investigação de forma a adaptar a investigação ao longo de todas as fases numa atitude de constante melhoria.

Avaliar o trabalho no final da investigação, com o fim de detetar erros, melhorando-o como forma de ter sucesso numa prova académica.

Avaliar o trabalho, depois de defendido com vista à sua publicação e melhoramento.

Avaliar um trabalho como exercício pedagógico ao serviço do ensino das metodologias nas ciências sociais utilizando exemplos práticos.

Estes são os objetivos que os autores deste artigo consideram ser centrais resultado de uma leitura global da obra de Patton (2015) centrada na relação das metodologias de avaliação com a pesquisa qualitativa. A tese metodológica define-se como a inversão do trabalho académico ou científico nas Ciências Sociais tomando por centro o polo metodológico em vez do teórico. Tornando mais clara esta ideia central, dir- se-ia que consiste em olhar para a metodologia com um olhar mais profundo, explicativo onde se centram as hipóteses ou proposições. O lado teórico por seu lado é do ponto de vista metodológico mais sintético e prático. Na explicação desta perspetiva, utilizaram-se preferencialmente os autores mais simples, no caso, Almeida & Pinto (1990, pp. 64 - 68) apresentam teoria em sentido amplo e sentido estrito, no qual se aplica a inversão as quais se definem como:

“… chamaremos à matriz teórica: a matriz corresponda assim a um corpo conceptual disciplinar, ou seja, à teoria em sentido amplo. Os elementos de uma matriz teórica poderiam notar-se, genericamente cij; o índice j representa a linha i da matriz, identificando, em termos de problemática, uma das dimensões desta; o índice j representa uma coluna da matriz, uma «zona» de problemas. Será assim possível identificar o corpo conceptual de uma formação científica num dado momento dispõe através de uma matriz com n linhas representativas das n dimensões «exploradas» da problemática em colunas correspondentes às m dimensões dos problemas «visíveis».” (Almeida & Pinto, 1990, p. 65)

Na passagem da tese teórica para a tese metodológica, a metodologia é aprofundada e fundamentada associada a conceitos metodológicos, ditos paradigmas, tem um corpo conceptual, a qual está associada a problemas relacionados com o objeto de estudo. Que metodologias, métodos e técnicas foram utilizados para aquele tema? Destas, quais são as que melhor se aplicam? No final ter-se-á, não capítulo pequeno e sucinto, mas muito desenvolvido com uma matriz conceptual. E na inversão relativamente às Teorias? Está-se a referir três níveis metodologias, métodos e técnicas.

“Tínhamos dito atrás que o campo de incidência dos métodos era constituído pelas operações técnicas de investigação. Para cada pesquisa concreta caberia ao método seleccionar as técnicas adequadas, controlar a sua utilização, integrar os resultados parciais obtidos. A metodologia será assim, a organização crítica das práticas de investigação” (Almeida & Pinto,1990, p. 84).

As técnicas correspondem às práticas ou procedimentos a aplicar no terreno (Almeida & Pinto,1990, p. 84), o que na inversão da teoria é vista como metodologia, está orientada para aspetos mais práticos, ter um olhar mais crítico para o que dizem os autores e conteúdos teóricos, após isso é vista como método para ver como ordenar e integrar os elementos teóricos. O centro da atenção está nas consequências que estes elementos têm em termos de decisões metodológicas. A dimensão desta inversão teórica vista do ponto de vista metodológico é reduzida ao essencial porque já foi desenvolvida na tese teórica.

3.1 As Opções de Um Doutorando em Dificuldades

A Singularidade da tese metodológica face à tese teórica, está no propor-se a ajudar alunos ou investigadores em dificuldades ou que desejem melhorar os seus trabalhos. Para este doutorando encontraram-se quatro campos onde pode-se integrar a sua situação: a alunos ou investigadores que estejam em dificuldades; desejem melhorar os seus trabalhos, antes ou após validação pelos pares, desejem melhorar para fins de publicação e que desejem utilizar os seus elementos para fins de ensino. O doutorando encontra-se na primeira situação, o seu desafio consiste em perceber as suas dificuldades, erros e como melhorar o que fez. Quais são as opções que poderia seguir com recurso à tese metodológica? A primeira opção é avaliar o trabalho durante o processo de investigação. É algo que não é possível porque já terminou o trabalho e só tomou consciência disso na primeira versão integral da tese. Ele pensou no que faria se tivesse decidido por este caminho desde o início. Na metodologia adaptada ao contexto e ao investigador considera-se que desde o início ao fim do trabalho de uma investigação tudo é trabalho de campo porque implica uma atividade com um processo social ativo de procura de informação (Saldaña, 2011; Rossmann & Rallis, 2017), a isso chamou-se trabalho de campo em sentido alargado. Neste campo utiliza-se a filosofia “all is data” (Glaser, 2008), onde todos os elementos de uma investigação são considerados como dados. Independentemente deste princípio, estes dados são de natureza diversa, sob a forma texto, imagem e som, e têm um tratamento distinto (Bauer & Baskell, 2002; Saldaña, 2021). Aqui defende-se que os dados foram recolhidos de formas distintas, apresentam formas diferentes e à partida podem ser sujeitas a múltiplas metodologias, dependem da finalidade a que se destinam, nomeadamente seguindo as metodologias de origem. Avaliar o trabalho no final da investigação, é a única opção deste investigador, como ainda a não entregou a sua tese ainda pode corrigir erros ou melhorar o trabalho efetuado. Na prática o que faz é a reanálise dos dados (Akerström, Jacobsson & Wästerdorfs, 2004) procurando rever todo o trabalho em todas as fases de investigação e não apenas os dados. Torna-se possível também utilizar-se uma análise secundária de dados (Corti & Thomson, 2004), mas é menos apropriado visto que se trata de dados em primeira mão. Uma outra possibilidade levantada é a desconstrução (Derrida, 1967, 293 - 295) desmontando e remontando todo o processo de investigação na procura de contradições. Avaliar depois da defesa ou validação dos pares é sempre possível fazê-lo, podendo já ter feito uma das duas formas de avaliação anteriores. O objetivo consiste na publicação da tese metodológica, em comparação com as formas anteriores de avaliação que resultam num texto mais ou menos formal que contém uma reflexão em relação ao trabalho que se realizou ou que se está a decorrer com as possíveis correções antes da entrega da tese académica em formato final. Nas duas primeiras formas iniciais, não implica que este texto seja necessariamente publicado. Quando se deseja publicar ( Wolcott, 2009, pp. 151 - 164) é preciso ter em conta se foi convidado a fazê-lo ou anda à procura de editora, independentemente disso implica uma revisão do texto tendo em conta uma dada audiência. Na perspetiva deste artigo, quer sob a forma de livro quer de um artigo de uma revista científica. A revisão é algo de complexo, em primeiro lugar é uma questão de uma escrita sem erros gramaticais ou ortográficos com uma clareza (Fowler, 2006), em segundo é mais que escrever, o desafio está em escrever cientificamente de uma forma acessível (Schimel, 2012) por último é uma questão formal de seguir um estilo ou norma de escrita como por exemplo as normas APA (APA, 2020). A última forma de avaliação pode passar quer pelo texto reflexivo e crítico quer como um texto publicado sob a forma de artigo ou livro. O investigador que pretenda fazer do seu trabalho com fins pedagógicos, não deita fora os dados recolhidos, independentemente da sua forma, foram recolhidos sistematicamente e classificados (Schatzman & Strauss, 1973, pp. 94 - 107). Quem deseja seguir esta via, segue uma atitude de aproveitamento dos dados (Camalhão & Camalhão 2018) de não deitar nenhuma informação fora, para poder ser reanalisada (Wästerfors, Åkerström & Jacobsson, (2014). Os alunos poderão reutilizar os dados, quer para reconstituir uma investigação, aprendendo a fazer, mesmo com os erros que não foram apagados ou aplicar os mesmos noutro tipo de metodologia, passível de ser utilizada.

4.Bases da Tese Metodológica

A tese metodológica é herdeira da Grounded Theory em muitos aspetos, mas principalmente no constante método comparativo, segundo Glasser & Strauss (1967, pp. 105 - 115) o investigador compara constantemente os dados vai criando e juntando-os em categorias, as categorias e propriedades são constantemente integradas até que se tornam sólidas permitindo delimitar a teoria e finalmente estes permitem redigir um trabalho académico. Esta é uma simplificação que nesta proposta significa que comparando os dados recolhidos, não se atinge a saturação teórica, mas sim saturação dos elementos recolhidos revelando todo o seu potencial. O método comparativo utilizado utiliza também o método de acordo de Mill e de método indireto de diferença de Mill (Ragin, 2014, pp. 36 - 42). Na tese metodológica, significa que se adota estes métodos para comparar as diferenças e semelhanças, revelando a variedade dos dados, assim como aquilo que tem de comum passível dar um sentido ao conjunto dos dados. A triangulação é outro recurso que pode ser utilizado, o termo mais utilizado e aproximado é triangulação metodológica (Flick, 2018). A triangulação, no sentido, corresponde a um desenho de investigação onde duas ou mais métodos que se complementam e validam resultados. Na tese metodológica, não apenas métodos e técnicas servem para contrastar resultados, quer completando-os quer revelando lacunas e contradições, mas os próprios resultados e dados recolhidos servem este propósito. Tomando o conjunto do método comparativo e da triangulação, entra-se no campo das considerações práticas, apresentadas por Rossmann & Rallis (2017, p. 101) onde joga-se a faseabilidade do projeto com o termo ser capaz de fazer, os interesses pessoais do investigador com a capacidade de fazer o que quer e a dimensão ética com o que deve fazer.

Figura 1 Investigador no contexto da tese metodológica 

A figura 1 é uma adaptação de Rossmann & Rallis (2017) dos aspetos práticos de uma investigação para a tese metodológica. Estas autoras têm por centro o investigador nas competências necessárias para fazer um projeto viável. A tese metodológica, por seu lado, tem por centro um investigador que se encontra dividido entre o que fez ou está a fazer com o que teria de fazer num modelo ideal e o que na realidade, independentemente do que fez ou é prescrito idealmente pela literatura, aquilo que o meio académico e o terreno lhe permitem fazer. No que se refere à tese metodológica, aquilo que o meio académico e o terreno permitem fazer na investigação, não corresponde totalmente aos modelos metodológicos que prescreve nem ao que o se fez. Existem sempre outras soluções presentes no meio académico e no terreno, mas só são visíveis pela avaliação constante ao longo da investigação ou no final desta. Esta a afirmação é apoiada em Fielding (2004, pp. 236 - 248), o qual ao referir-se ao trabalho em ambientes hostis onde aos participantes resistem e perante temas sensíveis colocam-se questões éticas. Neste contexto é necessário ter-se uma grande competência técnica e sensibilidade perante os participantes, isto significa colocar o foco fora de si mesmo, mas sim naquilo que o campo permite e oferece, uma qualidade chamada flexibilidade.

5.Como Proceder?

É difícil falar em abstrato de como se faz uma tese metodológica, especialmente quando não se encontraram exemplos completos na literatura. Simula-se assim o que poderia parecer uma tese metodológica com base no doutorando com um grande problema que dificulta a finalização da sua tese. Como aparenta a tese metodológica? Existem duas hipóteses, apresentar-se como uma tese com capítulos (Beaud, 2006) mas sem limite de páginas ou como artigos que servem muitas vezes para apresentar teses em andamento ou resultados dos mesmos. Não existem receitas prévias de como proceder. Existem três estratégias gerais de investigação linear, indutiva e abdutiva (Miles, Huberman & Saldaña, 2020 pp. 239 - 240; 297). A forma linear corresponde a uma estratégia dedutiva caracteriza-se pela segmentação das diversas fases de investigação bem definidas e estanques, visam o teste de conceitos e proposições propostas previamente. No modo de trabalhar indutivo não deixam de existir fases prévias, mas estas são revistas na medida em que a investigação avança, as estratégias de investigação, assim como métodos e metodologias vão sendo ajustadas. A abdução examina e reflecte todas possibilidades de explicar algo surpreendente, inverte o processo de investigação passando das observações e padrões, podendo servir para colocar em causa, melhorar ou suportar uma teoria. O procedimento, regra geral, acompanha a estratégia de investigação utilizada, um dado objetivo, um problema que se quer resolver, podendo juntar todos estes aspetos ou combinações de dois.

6.O Problema do Investigador e o Problema Metodológico

A tese metodológica destaca dois aspetos indissociáveis, o investigador que tem de colocar em prática metodologias, métodos e técnicas, sendo que outro como é que estes estão adaptados ao campo, nomeadamente como é que os participantes aderem e percebem. No campo do investigador, entra-se no campo da autoetnografia e adaptando o que Denzin (2014, pp. 2 - 6) refere neste campo, inclui a intensão e significado, os quais são fruto das experiências vividas no mundo social. Há uma história, motivos, acontecimentos que deram forma à investigação. Poder-se-ia dizer que é possível ver a génese de todas as opções do investigador relativos à sua tese. No lado do campo, exemplificando com o caso das entrevistas (Ghiglione & Matalon, 1998, pp. 64 - 68) a forma como se colocam as perguntas aos entrevistados tem que ter em conta fatores culturais atendendo ao seu vocabulário e à capacidade de compreender as questões colocadas, em relação à situação é inútil fazer perguntas sobre temas irrelevantes para os participantes, também é preciso ter em conta a capacidade de memória dos entrevistados quando se constrói perguntas, por último existem os fatores motivacionais, no qual há que ter em conta a sensibilidade dos participantes para certos temas.

7.O Problema do Investigador

Qual é o problema metodológico apresentado para este doutorando? Não é um problema, mas três, o primeiro a falta de reflexividade, o segundo a complexidade e por arrasto a acessibilidade. O doutorando fez um projeto, confiante que conseguia os meios para o fazer, conseguindo tempo de pausa para olhar o que tinha feito de uma forma crítica. A este aspeto chama-se reflexividade a que Bourdieu (2001, 15 - 16) refere-se a este termo tendo como fins dar instrumentos de conhecimento que podem voltar contra o sujeito de conhecimento com o fim controlar e reforçar o conhecimento científico. Num outro prisma, que é o que a metodologia adota, do ponto de vista da etnografia segundo Atkinson & Hammersley (2019, pp. 167 - 197) o processo de análise implica que esta se faça através do constante método comparativo, podendo ter-se que alterar todo desenho de investigação, nomeadamente a pergunta da partida, problemática e teorias. Em termos práticos implica a necessidade de reduzir o número de materiais recolhidos, nomeadamente notas de campo. O problema, que em parte passa para a simulação de um doutorado, é que ou acumulam-se montanhas de dados difíceis de tratar, ou a falta de tempo, vê todos os dados superficialmente sem espírito crítico. O segundo problema chama-se de complexidade, Van Campenhoud, Marquet & Quivy (2019, pp. 24 - 25) chama a isto gula livresca, no caso o investigador tem muita experiência e anos estudo, resolve utilizar tudo que tem numa grande teoria. O que é a complexidade? A complexidade do mundo atual é uma evidência esta é segundo Morin (1991, pp. 17 - 18) “um tecido (...) de constituintes heterogéneos inseparável associados: coloca o paradoxo do uno e do múltiplo. Na segunda abordagem, a complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem o nosso mundo fenomenal.” Na perspetiva deste autor é preciso reconhecer a complexidade, mas também a impossibilidade de controlar todos os fatores e fazer previsões, e a dificuldade em lidar com a mesma. A grande sugestão que este autor dá está na auto- organização, sendo que cada ser humano ou grupo organizam-se segundo os seus referenciais que incluem a multiplicidade de que faz parte. Poth (2018 pp. 12 - 18) indica que a atividade de fazer investigação hoje é complexa, distinguindo entre complexidade baixa, media e alta. No nível baixo e médio é possível criar aspetos que são identificáveis na alta, tal não é possível, mas apenas estabelecer fronteiras, isto é independentemente da complexidade existem aspetos que podem ser identificados. Luhmann (2012, pp. 32 - 35) utilizando o termo autopoiesis, indica que diante da complexidade pessoas, grupos e organizações possuem a capacidade de auto-organização, simplificando as relações com o ambiente retirando aquilo que lhes pertence. O que aconteceu com o nosso investigador que tentou incluir todos os fatores, teorias e dados empíricos, sem definir aquilo que seria parte da investigação, de bem, construiu referenciais que permitissem lidar com a complexidade, mas não estabeleceu fronteiras. Em suma encontrou uma tese complicada, confusa e inacessível.

7.1 Acessibilidade o Centro do Problema

A falta de reflexividade e a extrema complexidade do trabalho efetuado gerou um problema de acessibilidade. A acessibilidade é um dos temas centrais da metodologia adaptada ao contexto e ao investigador tem por objetivo tornar a investigação acessível a todos (Camalhão, Camalhão & Saraiva, 2019), mas inicialmente a grande preocupação era que as pessoas com deficiência tivessem acesso ao ensino superior e à investigação (Camalhão & Camalhão, 2018). Durante muitos anos, procuraram-se autores que tivessem a mesma preocupação, o que não faltam, mas ainda não se tinham os termos adequados bem apurados embora estivessem presentes. O primeiro termo é acessibilidade, Aidley & Fearon (2021) apresentam uma obra completa metodológica que tem como preocupação tornar a investigação social acessível às pessoas com deficiência, apresentam a mesma ideia da metodologia adaptada ao contexto ao investigador (Camalhão, Camalhão & Saraiva, 2019). As questões da acessibilidade colocam-se a todos os investigadores e não apenas às pessoas com deficiência. O conceito de acessibilidade é mais amplo originando o termo investigação acessível. A investigação acessível ( Aidley & Fearon, 2021, pp. 40 - 49) parte do conceito de acessibilidade relacionado com a deficiência e inclui todos os elementos de uma investigação acessível que tem em conta, as características do investigador, a proposta de investigação, quem é investigado, que métodos são utilizados, como é financiada, como se pergunta e quem beneficia com a investigação. Entra aqui outro termo intersecçionalidade apresentado por Esposio & Evans Winters (2022) no qual a investigação deve ter em conta as populações estudadas. A imagem que se apresenta é que fazer investigação numa população africana não é o mesmo que fazê-lo nos povos indígenas da América Central. As técnicas são transversais, mas o modo de o fazer é sempre diferente. O problema do investigador modelo é não teve em conta as suas características, os seus recursos, e as características dos seus participantes. O seu trabalho era demasiado complexo.

8.Tese metodológica

O investigador utilizou a análise de conversas (Heritage, 2021), realizando 150 entrevistas num período de um ano, a políticos de vários partidos e instituições. Preocupou-se apenas com o texto e na análise dos verbos maias utilizados e associados ao funcionamento das suas instituições. Algo de aparentemente tão simples, como é possível complicar?

9.Como Proceder?

A resolução do problema começa quando este pensa nas duas opções que poderia ter, o ter feito a avaliação durante a investigação e a outra no final desta. São semelhantes com a diferença que na última já não pode alterar nada do que fez. O recurso ao método comparativo é evidente, há o constante método comparativo Glasser & Strauss (1967), método de acordo e da diferença de Mill (Ragin, 2014) e a triangulação (Flick, 2018) vista do ponto de vista da comparação. Olhando para a figura 1, comparação faz-se entre três polos: no trabalho efetuado; o que é prescrito; o que é possível fazer. O procedimento de análise dos dados é realizado sob a forma de memorandos e notas de campo metodológicas, de observação, breves, de processo e teóricas (Schatzman & Strauss, 1973). Fica claro que este processo não começa do nada, existe um ponto de partida que é sempre, o que seria uma investigação perfeita. É um modelo ideal (Lallement & Lima, 2009) que não existe na realidade, mas para explicitar a realidade. Porque o modelo ideal existe previamente analisa-se que se com recurso aos memos e notas de campo pelo constante método comparativo revelando a unidade e diversidade de aspetos metodológicos envolvidos. Comparam-se os resultados do que se fez com o que metodologicamente é prescrito e surgem os erros, as limitações, assim como as boas práticas e inovações, nasce então a consciência do que se poderia fazer. O que é que o doutorando descobriu? O seu trabalho estava tecnicamente confuso porque tinha pulado etapas (Van Campenhoud, Maquet & Quivy, 2019), é também mais uma vítima da hipercultura, alguém que sabe muito, mas nada aprofundado (Bertman, 1998), a pressa quer por falta de tempo quer por uma ambição desmedida.

10.Tornar a investigação Acessível

Como é que é possível tornar a investigação acessível. Para a maioria dos investigadores corresponderia a uma simplificação e redução aos aspetos principais como é caso da obra coletiva de Humble & Ardina (2019) que se apresenta propostas de análise qualitativa de vários autores, todas muito acessíveis. A solução para este investigador consiste em complexificar o que fez, o inverso do que é normal, isto é fazer notas e memos do que fez tornando-os mais claros, após isso utilizar a autopoiesis (Luhmann, 2012) e ver aquilo que pertence à sua investigação. Para tornar o trabalho mais acessível a revisão faz-se parte a parte da investigação, (Silvermann, 2020) e utiliza uma técnica, também recolha e sua análise. A revisão da literatura, a metodologia, o trabalho de campo, a análise dos dados e a apresentação de resultados estão ligados igualmente por a uma metodologia, método e técnica que pode ser aprofundada.

11.Conclusão: Dar Tempo ao Pensamento

O doutorando descobriu que fazer investigação não é correr, saber, ou juntar muitos dados. O que é fazer investigação? É dar sentido ao que se observa e cada um observa o mundo, observa-se a si mesmo e é observado, e nas contradições que encontra faz distinções explicando o mesmo. Outra palavra que justifica a tese metodológica é consciência (Bentz & Shapiro, 1998) o investigador tem que ter a noção clara das suas ações e decisões, escolhas ao longo da investigação. Para isso é preciso procurar explicar todo trabalho, o mais possível tornando a ciência acessível a todos. Com este artigo, lançam-se os princípios para a construção de uma tese metodológica. Esta procura valorizar e aprofundar as questões metodológicas, tão importantes como as teóricas. Aqui é necessária alguma humildade, é um projeto ambicioso, no qual não se conseguiu apresentar todo o processo de investigação associado, nomeadamente como se apresentam as hipóteses, proposições ou asserções metodológicas, também no final não se fica a saber como este doutorando resolveu concretamente o seu problema, mas apenas as suas opções. É uma tradição da metodologia adaptada ao contexto e ao investigador deixar questões em aberto para o leitor criar a sua versão da tese metodológica, que pode ser a de um investigador que está a ler este artigo e está com dificuldades ou quer melhorar o seu trabalho. Terminamos com a frase que começamos, dar tempo ao pensamento, na redação deste artigo, foi algo que se notou, a pressão do tempo, o querer fazer mais, a pressa dos prazos, e uma ambição desmedida que só se resolve com a criação de tempos de reflexão para pensar no que se faz.

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Recebido: 01 de Fevereiro de 2022; Aceito: 01 de Abril de 2022

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