SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número39O pensamento feminista de Maria Teresa Horta na revista Mulheres (1978-1989)Que papel de parede? Uma leitura do conto “O Papel de Parede Amarelo” de Charlotte Perkins Gilman índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher

versão impressa ISSN 0874-6885

Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher  no.39 Lisboa jun. 2018

 

ESTUDOS

Mulheres doutoras nas universidades portuguesas (1926-1960)

Women and PhDs in Portuguese universities (1926-1960)

Armando Luís de Carvalho Homem*

*Universidade do Porto, Faculdade de Letras, Departamento de História e de Estudos Políticos e Internacionais (aposentado). Universidade Autónoma de Lisboa, Departamento de História, Artes e Humanidades (professor convidado), ahomem@autonoma.pt


 

RESUMO

Procura-se neste trabalho encarar o primeiro arranque de doutoramentos femininos nas Universidades portuguesas, interpretar a sua lenta afirmação e a sua relativa continuidade por cerca de três décadas e meia, com especial incidência nas ciências exactas e na Universidade de Lisboa; e, a fechar, o porquê da sua atenuação na década de 1960.

Palavras-chave: século XX português, Estado Novo, mulheres, universidades, doutoramentos.


 

ABSTRACT

This paper aims to face the first female PhDs in Portuguese universities, interpret his slow statement for about three and a half decades, with special incidence in the exact sciences and at the University of Lisbon; and, to close, why his attenuation in the 60s.

Keywords: 20th century in Portugal, Salazar's government, women, universities, PhDs.


 

In honorem:

Maria Cândida Gonçalves da Costa Reis Monteiro Pacheco, minha professora de Cultura Medieval na Faculdade de Letras/Universidade do Porto (1969/70) e uma das primeiras doutoradas portuguesas em Filosofia (1974, Mar.)

Remontará à década de 1980 a actual atenção ao género na Historiografia. De então até hoje, uma evolução linear? Como em quase tudo o que é novidade, não raro um registo de História de Heroínas, como se as Mulheres pioneiras o tivessem sido isoladamente ou tivessem ostentado um desempenho intelectualmente sempre correcto e convivialmente sempre inatacável. Esquecem-se, não raro, os pontos menos fortes das individualidades em causa, para além dos feitios difíceis, das dinâmicas de sucesso, ainda que por vezes apenas a partir de um dado momento da carreira e do facto de se tratar de pessoas frequentemente confinadas ao universo do celibato[1]… Por último, e no caso concreto das universitárias, uma evocação às vezes em termos de panegirismo unicitário, esquecendo-se as conjunturas da História do nosso Ensino Superior e a existência, já então, de um mínimo de comunidade científica

A cronologia do presente trabalho nada tem de casual. Porque a verdade é que, no mais de um quarto de século abrangido, se verificou um montante de doutoramentos femininos totalmente novo, quando muito a recolher antecedentes vários - na totalidade da população académica - dos anos da República ou, mais pontualmente, dos tempos finais da Monarquia. Montante inédito, a conhecer depois uma desaceleração nos anos 60 do século XX, para só retomar em força no último quartel de Novecentos. E praticamente ninguém notou até hoje tal cronologia da afirmação das Filhas de Minerva nas Universidades do nosso País… Lembre-se, de qualquer modo, que o projecto (não concretizado) de uma Junta Propulsora dos Estudos remonta a 1923 e à efémera passagem de António Sérgio (1883-1969) pela pasta da Instrução Pública, no executivo de Álvaro de Castro (1878-1928), e que na Ditadura Militar pré-Estado Novo surgirá a Junta da Educação Nacional (1929), mais tarde Instituto para a Alta Cultura (1936) e de Alta Cultura (1952). Organismos na dependência do Ministério da Instrução Pública (< 1936)/da Educação Nacional (> 1936), talvez nem sempre as relações com a tutela tenham primado pela excelência: por alguma razão o lente Augusto Pires Celestino da Costa (1884-1956), Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FM/UL), presidente do Instituto para a Alta Cultura (1936-1942), chegou a ser temporariamente afastado da cátedra no ano de 1947 (Rosas & Sizifredo, 2013)... Não viria, pois, de um favorecimento de tipo bonapartista esta limitada primeira afirmação das Filhas de Minerva, sabendo-se da intensidade dos preconceitos de género assumidos por altos quadros do Regime, bem como da resistência de muitos universitários do tempo ao intensificar da investigação no âmbito das próprias Universidades (Matos & Ó, 2013). Pense-se talvez, e em possível contrapartida, numa tolerância relativa em áreas científicas aparentemente apontadas à investigação de laboratório, e portanto ideologicamente inócuas, ainda que não inocentes em termos académicos estritos…

Há, por isso, que fazer notar que nestas quase duas dezenas de láureas doutorais predominam as Ciências Exactas (com relativo destaque para a Física, a Química e a Biologia), estando a Farmácia em posição inferior, e a Mineralogia/ Geologia (tal como o Direito e a Medicina) em situação residual; e a ausência total das Matemáticas Pura e Aplicada, da Linguística ou da Filosofia. Alguns dos domínios que integravam as Faculdades de Letras (Filologias Clássica e Românica, História, Geografia) conseguem globalmente valores intermédios, como iremos ver. Além disso, o predomínio vai para as Universidades de Lisboa (doze doutoramentos) e, a boa distância, do Porto (seis); Coimbra surge apenas com duas láureas doutorais[2]; e é total a ausência da então Universidade Técnica de Lisboa.

Comecemos assim pela Universidade de Lisboa. É na então Faculdade de Farmácia que em 1926 se doutora Maria Gabriela de Lemos Pereira Beato (1891-?) (Matos & Ó, 2013). Não se sabe muito sobre a pessoa em causa, e o próprio título da dissertação (Doseamento da glicose no sangue) só se conhece através da Acta das provas. Também se sabe que se formou depois em Medicina e que foi técnica superior de laboratório da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FM/UC).

Ainda na Capital, passemos aos casos da Faculdade de Ciências. O primeiro tem igualmente uma componente internacional: trata-se de Branca Edmée Marques (1899-1986) (Matos & Ó, 2013), e de novo temos em cena Marie Curie (1867-1934) e o seu Institut du Radium da Universidade de Paris, criado em 1914, onde aquela académica foi bolseira na primeira metade da década de 1930, aí defendendo, em 1935, a tese Nouvelles recherches sur le fractionnement des sels de baryum radifère. Apesar de um relatório da própria M.me Curie extremamente elogioso para o seu trabalho, a carreira de Branca Edmée Marques na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FC/UL), onde já era segunda-assistente, foi tudo menos fácil (Matos & Ó, 2013): doutorada em 1935, como se disse, só seis anos mais tarde conseguiu a promoção a primeira-assistente. A partir de 1942 foi professora extraordinária contratada e, em 1954, concorreu a uma cátedra, mas a aprovação em mérito absoluto não lhe deu lugar elegível em mérito relativo. Apenas em 1966, a três anos da jubilação, atingiu a cátedra. Sem embargo da lentidão do percurso, deixou longa e frutífera memória entre os seus antigos alunos.

Nos anos 40 do século passado, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FC/UL) irá conhecer dentro de portas mais três doutoramentos femininos. O primeiro data de 1942 e reporta-se a Seomara da Costa Primo (1895-1986), Biologia - Botânica) (Matos & Ó, 2013). É outro caso de uma pioneira que não terá tido vida fácil no meio universitário: formada pela FC/ UL em Ciências Histórico-Naturais (1919), de 1921 a 1942 acumulou (coisa corrente ao tempo) o Ensino Liceal com a situação de segunda-assistente de Botânica na sua Alma Mater. Doutorada em 1942 (tese: Contribuição para o estudo comparativo da acção do arsénio e da colciquina na célula vegetal), nem as provas nem ulteriores concursos terão sido inteiramente pacíficos: com mais de 20 anos de docência, intensa experiência de trabalho de herbário e grande conhecimento de sistemática, Seomara Primo “representa(ria) a tradição” e o trabalho de gabinete, em conjuntura de afirmação da investigação laboratorial. Daí a oposição que lhe moveu alguém academicamente tão insuspeito como Flávio Resende (1907-1967) (Matos & Ó, 2013). Resultado: foi primeira-assistente e professora extraordinária contratada, mas jamais atingiu o topo da carreira; e nos anos post-aposentação viveu com dificuldades materiais.

Seguem-se na FC/UL, em 1945 e 1946, Lídia Coelho Salgueiro (19172009, Física) e Marieta Amélia da Silveira (1917-2004, Química). A primeira doutorou-se com a tese O Espectro gama dos derivados de vida longa do radão, obra pioneiramente considerada “trabalho experimental original na área da física atómica e nuclear” (Carvalho, 2009). Sem embargo, só atingiria a cátedra na segunda metade dos anos 70. De algum modo representou na FC/UL a herança académica do politicamente mal-amado Manuel Valadares (1904-1982) (Rosas & Sizifredo, 2013).

A segunda doutorou-se com um trabalho intitulado As Radiações do urânio X complexo. Obra considerada de “interface entre a física e a química”, com investigação feita no Laboratório de Física, e não no de Química, onde era assistente, “ter ousado atravessar fronteiras espaciais e disciplinares, foram ‘crimes' que Pereira Forjaz[3], director do Grupo de Química, nunca lhe perdoou” (Matos & Ó, 2013, vol. II, 819-820). Este facto, associado, sobretudo a partir dos anos 50, a uma militância na oposição de esquerda ao regime[4], teria como consequência que durante bastante tempo lhe não atribuíssem regências teóricas - quando em Química isso se fazia a alguns segundos assistentes… - e que a cátedra, também aqui, chegasse tarde: nos anos 70.

Na Universidade de Lisboa (UL) é, entretanto, tempo de passar para a Faculdade de Letras (FL) e de, portanto, recuar para finais dos anos 30: é com efeito em 1938 que um primeiro doutoramento feminino se realiza nesta Escola - o de Elza Paxeco Machado (1912-1989) (Matos & Ó, 2013). Filha do então cônsul de Portugal no Maranhão, Fran Paxeco, fez o essencial da sua formação graduada e post-graduada na Universidade do País de Gales. Radicada em Portugal e casada com o filólogo e dicionarista José Pedro Machado (1914-2005), em 1938 apresenta-se a provas de doutoramento em Literatura Francesa na FL/UL, com a tese Essai sur l'oeuvre de Samain[5]. Foi aprovada por unanimidade e - coisa pouco vulgar ao tempo - as provas parecem ter decorrido em ambiente de certa cordialidade, mormente nos pontos arguidos por Hernâni Cidade (1887-1975). Ulteriormente habilitada com o Estágio Pedagógico para o Ensino Liceal (Liceu Pedro Nunes, 1939), em princípio de 1940 ingressou na FL/UL como professora contratada. Ensinou Língua e Literatura Francesa e Literatura Inglesa. Testemunhos de Hernâni Cidade salientam que “não usava nunca o português em aula, banira o uso da tradução e incitava os alunos a dirigirem-se-lhe em francês, mesmo no convívio extra-escolar” (Matos & Ó, 2013, p. 1038); para além do que, era “rigorosíssima no julgamento dos seus alunos, sem deixar de com eles conviver em perfeito ambiente de simpatia respeitosa” (H. Cidade citado em Matos & Ó, 2013, vol. II, p. 1038). Em 1948 pede a exoneração do lugar, incomodada com o ambiente criado pela purga universitária de 1947. Numa situação em que o único vínculo profissional parece ter sido o de membro de júris de admissão ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, Elza Paxeco investiga intensamente, devendo-se-lhe por exemplo, em colaboração com seu Marido, a edição do Cancioneiro da Biblioteca Nacional (1949-1964).

O caso seguinte é o de Andrée Jeanne-Françoise Crabbé Rocha (1917-2003) (Rosas & Sizifredo, 2013), cidadã de origem belga diplomada pela Universidade de Bruxelas; aí conheceu Vitorino Nemésio, em estadia no País. E veio para Portugal, na mira de preparar um doutoramento com aquele Mestre. Num jantar em sua casa conheceu Miguel Torga (1907-1995), com quem casaria em 1942[6]. O doutoramento concretizar-se-ia em 1944, com a tese O teatro de Garrett. Contratada pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FL/UL), o ensino não seria longo, apanhada que foi pela purga universitária de 1947[7]. Demitida, vai passar 23 anos a exercer em colégios privados de Coimbra[8]. Em 1970 é admitida a concurso para professora extraordinária da FL/UL. Aprovada, reingressa na carreira. Dois anos mais tarde atinge a cátedra, e meses depois transfere-se para a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FL/UC). Com Carlos Alberto da Mota Pinto (1936-1985), será brevemente Vice-Reitora na primeira equipa reitoral de José Joaquim Teixeira Ribeiro (1908-1997), Reitor da Universidade de Coimbra (1974-1976). Nesta fase coimbrã, que se estende até à jubilação (1987), participou no ensino de Literatura Francesa e na fundação da revista Cadernos da Literatura. No todo ou em parte, terão ficado ligados ao seu magistério os lentes Carlos Reis, José de Oliveira Barata e Cristina Robalo Cordeiro (doutorados entre 1983 e 1991).

Há muito consagrada como a primeira historiadora em Universidades portuguesas, Virgínia Robertes Rau (1907-1973) (Pereira, 1979; Matos & Ó, 2013; Fernandes, 2017; Gonçalves, 2017) nasceu em Lisboa e iniciou nos anos 20 a frequência da licenciatura em Ciências Histórico-Geográficas na FL/UL. Por pouco tempo: a transferência residencial da família para França leva-a para esse País, com regresso apenas no eclodir da Segunda Guerra Mundial. Retoma então o curso, agora já de Ciências Histórico-Filosóficas, que concluirá em 1944[9]. Assistente da Escola a partir de então e até 1946, passa depois à situação de bolseira e no ano seguinte presta provas de doutoramento[10]. Continuando como bolseira, em 1952 apresentar-se-á a concurso para professora extraordinária[11]. E em 1953 é nomeada professora catedrática, por convite/escolha, segundo a legislação do tempo. No topo da carreira, a dinâmica de sucesso - que já vinha da década anterior - acentua-se: um ensino cuidado e preparado, a corporização de um mínimo de estruturas investigativas - v.g., a criação de um Centro de Estudos Históricos, anexo à FL/UL, de que será directora de 1958 ao fim da vida -, a fundação de uma revista - Do Tempo e da História, 1965-1972 (Leal, 1995; Homem, 1996) -, o incentivo à investigação sobre fontes primárias[12], a produção de uma bibliografia extensa[13], a formação de discípulos[14], a participação regular em reuniões científicas internacionais[15]ou o estabelecimento de contactos assíduos com historiadores de outros países[16]. Mas é claro que nem tudo foram rosas. Dificilmente haveria ao tempo Mestre que aguentasse bem a afirmação intelectual dos seus discípulos; na FL/UL dizia-se, nos anos 50/60, que os catedráticos praticavam o tiro ao assistente… A crise académica de 1962 complicou a situação[17]. O desempenho do cargo de directora da FL/ UL pela própria Virgínia Rau (1964-1969) nada melhorou, só a ‘escravizando' burocraticamente. E a ascensão de antigos alunos seus à cátedra ou à situação de professor extraordinário como que enfraqueceu as bases da sua autoridade. Os tempos finais da vida da Mestra, que viria a ser vítima de fulminante doença de foro oncológico, bem lembram a história do leão moribundo… Por tudo isto, a fortuna intelectual póstuma de Virgínia Rau não foi famosa durante bastante tempo, até por a sua morte ter ocorrido escassos meses antes da mudança de regime; e o perfil de pessoa autoritária também não ajudaria[18]. O próprio centenário do nascimento (2007) passou despercebido na sua Escola; e só nos 40 anos da morte (2013) começaram as evocações. Justamente em 2017, no 70.º aniversário do seu doutoramento, um ensaio interpretativo veio trazer alguma novidade (Fernandes, 2017). O respectivo autor vem colocar o percurso de Virgínia Rau sob o signo do cosmopolitismo, valor obviamente favorecido pela estadia em França nos anos 20 e 30[19]. A isto se ligaria, no quadro de fundo da Idade Média portuguesa, a questão do povoamento, a formação das cidades e vilas, o desenvolvimento do comércio externo e a emergência de uma elite burguesa-comercial de constantes relacionamentos internacionais - no que deu especial atenção à Itália. O trabalho que estou a seguir intenta - talvez como nenhum outro autor precedentemente - uma visão de fundo da obra de Virgínia Rau que a coloca a um nível intelectual que nunca antes lhe terá sido atribuído, ainda que em substancial contraste com a maior parte dos medievistas portugueses, de gerações próximas ou futuras.

A situação subsequente reporta-se a Maria de Lourdes Belchior Pontes (1923-1998) (Matos & Ó, 2013). Licenciada em Filologia Românica pela FL/UL (1946; tese: Da Poesia de Frei Agostinho da Cruz. Tentativa de Análise Estilística), inicia então carreira docente na Escola (1947), e pelo meio é brevemente leitora do Institut Catholique de Paris (1950-1952); doutora-se em 1953 (tese: Frei António das Chagas. Um Homem e um Estilo do Século XVII). Seis anos mais tarde ‘persiste' no Barroco, ao apresentar-se a concurso para professora extraordinária (tese: Itinerário Poético de Rodrigues Lobo). Uma discreta solidariedade com as reivindicações estudantis na crise de 1962 leva o executivo a desviá-la do País, nomeando-a conselheira cultural da embaixada em Brasília (1963-1966). No regresso, tem finalmente oportunidade de atingir uma cátedra: o recém-criado segundo Grupo da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FL/UP) põe uma vaga a concurso. Maria de Lourdes concorre e é aprovada por unanimidade (Dez. 1969), sendo a primeira professora catedrática da UP. Mas só exercerá até ao Outono de 1970, altura em que a criação de uma nova vaga na FL/UL lhe permite o regresso por transferência. E começa então a sua dinâmica de sucesso: presidente do Instituto de Alta Cultura (1970-1973), membro da Comissão Instaladora da Universidade Nova de Lisboa (UNL) e, já depois de Abril, secretária de Estado dos Assuntos Culturais e Investigação Científica nos I-II Governos Provisórios (Mai.-Nov. 74); professora visitante em Paris III (1977-1978), o ano seguinte veria a sua instalação na Universidade da Califórnia/Santa Bárbara, assegurando a sucessão do entretanto desaparecido Jorge de Sena (1918-1978) na Direcção do Departamento de Espanhol e Português. Seria mais tarde Directora do Centro Cultural Português da Fundação Calouste Gulbenkian (Paris, 1989-1994). Membro da Academia das Ciências de Lisboa (1975 e ss.) no imediato post-jubilação, seria doutora honoris causa pela FL/ UP (Doutoramento, 1999) e pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH/UNL) (1999). Entretanto, os anos 70 haviam assistido ao seu avançar pela contemporaneidade em termos de História e Crítica Literárias[20]. Em matéria de formação de discípulos, durante algum tempo pareceu privilegiar os estudiosos do Barroco, e particularmente da «literatura de espiritualidade»[21]; mas também orientou teses sobre o século XX português, particularmente a de Arnaldo Saraiva sobre os modernismos português e brasileiro (1986) e a de Maria de Fátima Marinho sobre O Surrealismo em Portugal e a obra de Mário de Cesariny (1987).

Finalmente, na FL/UL temos Maria Raquel Viegas Soeiro de Brito (n. 1924) (Matos & Ó), a única personalidade viva entre as dezanove recenseadas. Licenciada em 1948, assistente da FL/UL desde 1952, viria a doutorar-se em 1955 (tese: A Ilha de S. Miguel. Estudo geográfico); mas não ficaria na Alma Mater por muitos anos: em 1960 transferiu-se para o então Instituto Superior de Estudos Ultramarinos (actual Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas/UL) e aí atingiu a cátedra em 1966. Em 1977 passou para a UNL, onde seria uma das fundadoras da FCSH e do respectivo Departamento de Geografia e Planeamento Regional. Ao jubilar-se (1996), exercia nesta faculdade o cargo de Subdirectora. Autora de obra extensa, é membro da Academia da Marinha, onde ocupa o lugar de vice-presidente.

Restam-nos as Faculdades de Medicina e de Direito/UL, ambas apenas com um nome. Cesina Borges Adães Bermudes (1908-2001) (Matos & Ó, 2013; Rosas & Sizifredo, 2013) consubstancia o primeiro caso. Filha do dramaturgo Félix Bermudes, formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FM/UL) e, após vários internatos de especialidade (culminando em Obstetrícia, 1938), tornou-se assistente de Anatomia e Clínica (1938 e ss.), junto do Mestre Henrique Jardim de Vilhena (1879- 1958). Viria a doutorar-se em 1948, com a tese Os Músculos Radiais Externos Estudados nos Portugueses de Condição Humilde (classificada com 19 valores). Tal distinção académica não logrou contrariar a conjuntura extremamente desfavorável aos universitários conotados com a oposição de esquerda ao regime; Cesina Bermudes não passou assim de segunda a primeira-assistente. Afastada do ensino, concentrou-se na clínica obstétrica (que exercerá até 1987), particularmente nos Hospitais Civis de Lisboa; após um estágio em Paris (1954), virá a ser pioneira entre nós do parto sem dor (na altura ainda hostilizado pelos sectores mais tradicionais da Igreja Católica); também ensinou Puericultura em Escolas Técnicas e fez múltiplas acções de formação para parteiras. Longamente assistiu, com discrição, puérperas que eram cônjuges de militantes do Partido Comunista Português (PCP) na clandestinidade. Pertenceu ao Movimento de Unidade Democrática (MUD), ao Movimento Nacional Democrático (MND) e ao Conselho Nacional de Defesa da Paz; e apoiou as candidaturas presidenciais de Norton de Matos (1949) e de Arlindo Vicente (1958). Foi também desportista na juventude (equitação, ciclismo e automobilismo) e ainda teósofa e vegetariana.

Isabel Maria Moreira de Almeida Tello de Magalhães Collaço (1926- 2004) (Albuquerque et al., 2013) corporiza aqui o saber jurídico. Filha do prestigiado lente de Direito Público João Maria Tello de Magalhães Collaço (1893-1931)[22], a ora biografada desde muito jovem mostrou qualidades excepcionais; e daí a cuidada preparação que recebeu no Ensino Secundário. Licenciada pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FD/UL) no ano de 1948[23]com elevadas classificações, de pronto começou a preparar o doutoramento[24]; entregue a tese, esperou vários anos pelas provas, que acabou por prestar em 1954. Só em 1957 ingressou como primeira-assistente da sua Alma Mater. Aí, e ao longo de uma carreira de praticamente 40 anos, vai ensinar Direito Internacional Privado, Introdução ao Estudo do Direito, Teoria Geral do Direito Civil, Direito da Família, Direito Comparado, Direito das Comunidades Europeias, Direito do Comércio Internacional, Direito Processual Civil Internacional e Arbitragem Privada Internacional. Em 1964 apresentou-se a concurso para professora extraordinária[25] e em 1966 para professora catedrática[26]. De há muito as qualidades invulgares desta jurista foram realçadas com entusiasmo, ainda que salientando a sua elevada auto-exigência; vejamos os testemunhos de dois Mestres da Escola:

Pedro Soares Martínez: Isabel Magalhães Colaço era pesada de físico mas ágil de espírito, e de muito agradável timbre de voz, apenas prejudicado pela velocidade da elocução. O excelente nível das suas dissertações universitárias e de outros trabalhos leva a lamentar que não tenha escrito e publicado as lições professadas, durante muitos anos, (…) pelo que a preparação dos seus alunos em Direito Internacional Privado ficou na dependência da respectiva “sebenta”. (Albuquerque et. al., 2013, p. 288)

Marcelo Rebelo de Sousa: (…) a seguir a Gomes da Silva[27], a mais inteligente, fulgurantemente capaz de ir directa ao cerne dos problemas e de os apreciar nos seus contornos mais ínfimos, nunca plenamente convencida das respostas dadas, e por isso avessa à sua passagem definitiva a papel. (Sousa, 2006, p. 69 ss.)

Na FD/UL, e para além do ensino, foi presidente da Comissão de Reestruturação (1976-1978)[28]e dos Conselhos Directivo (1978-1979) e Científico (1994-1996) e ainda professora bibliotecária (1972-1974 e 1979- 1984); pertenceu também à Comissão Científica do Senado da UL (1992- 1996). Exteriormente à Escola, integrou o primeiro Conselho de Estado do post-25 de Abril (de Maio de 1974 a Março de 1975) e depois a Comissão Constitucional, órgão que, de 1976 a 1982, constituiu, junto do Conselho da Revolução, um proto-Tribunal Constitucional[29]; foi também membro da comissão revisora do Código Civil (reforma de 1977). Internacionalmente, integrou, por exemplo, o Institut International pour l'Unification du Droit Privé (UNIDROIT). Respeitada e por vezes temida pela sua frontalidade, viria a jubilar-se em 1996, perante a homenagem consensual da Escola. Entre os seus discípulos podem enumerar-se António Marques dos Santos (1938-2003), Luís Lima Pinheiro e Dário Moura Vicente (todos em Direito Internacional Privado), Carlos Ferreira de Almeida (em Direito Comparado)[30] e Teresa Pizarro Beleza (em Direito Penal)[31].

Será tempo de passarmos à Universidade do Porto, e mais concretamente à respectiva Faculdade de Ciências (FC/UP). As duas pioneiras andaram aqui muito próximas nos seus doutoramentos: foram elas a antropóloga Leopoldina Ferreira Paulo (1908-1996) (Faculdade, 2000) - doutorada em 1944 - e a geóloga Judite dos Santos Pereira (??) (Faculdade, 2000) - doutorada no ano subsequente. A primeira apresentou uma tese intitulada Alguns caracteres morfológicos da mão dos portugueses. O trabalho doutoral da segunda versou Formações portuguesas com aloisite, caulinite e montmorilonite. As duas pioneiras portuenses acabarão por ter carreiras algo apagadas na FC/UP, embora, porventura, por diferentes razões. Leopoldina Paulo foi longos anos assistente de Joaquim Rodrigues dos Santos Júnior (1901-1990). As rememorações do que foi sendo o viver do grupo de Zoologia e Antropologia e do Instituto de Zoologia Dr. Augusto Nobre da FC/UP não dão notícia de grandes empreendimentos investigativos em que tenha participado: apenas pelos anos 50/60 nos aparece ligada a trabalhos de pesquisa da Sistemática de Ostrácodes. Em 1969 passou de primeira-assistente à nova categoria de professora auxiliar. Em data por certo ligeiramente posterior prestou provas para professora agregada; e em tal categoria - professora auxiliar com agregação - se aposentou em 1976.

Quanto a Judite dos Santos Pereira, iniciou em 1932 a sua carreira como assistente do Grupo de Geologia da FC/UP, doutorando-se em 1945, como já se disse. Terá sido quase sempre pessoa de saúde frágil, e daí as diversas situações de baixa médica e a aposentação algo prematura (1972). De qualquer modo, participou enquanto pôde em linhas de investigação do Laboratório Geológico da FC/UP, nomeadamente no domínio das rochas ígneas portuguesas. Três anos antes da aposentação tinha transitado da situação de primeira-assistente para a de professora auxiliar.

Seriam depois necessários 12 anos para novo doutoramento feminino pela FC/UP: tratou-se de Maria Alzira Bessa Almoster Moura Ferreira (1928-2008) (Faculdade, 2000). Licenciada em Ciências Físico-Químicas pela UP, ingressou como assistente em 1951. Pertenceu à primeira geração que, em Química, pôde beneficiar de bolsas, no seu caso no Reino Unido. Doutorou-se em 1957 (tese: Estudo sobre a Decomposição Espontânea do Ácido Hiponitroso), e na dúzia de anos seguinte exerceu como primeira assistente. Em 1970 concorreu a professora extraordinária da FC/UL; aprovada, viria a atingir a cátedra em 1972 e a jubilar-se em 1998.

As duas personalidades que dão sequência de algum modo representam na Física da FC/UP a mesma geração feminina da de Alzira Almoster em Química.

A primeira, Maria Otilde Barbosa Pereira da Costa (??) (Faculdade de Ciências, 2000), viria a ter, enquanto assistente, oportunidade de uma bolsa, concretamente na FC/UL. Doutorou-se em 1959 (tese: Contribuição para o Estudo de Probabilidades Relativas de Ionização dos Elementos de Número Atómico Elevado), ascendendo a primeira-assistente (depois professora auxiliar). Em 1971 concorre a uma das cinco vagas abertas no grupo de Física da FC/UP; apresentam-se sete candidatos. O processo arrasta-se, quer por alterações legislativas, quer pela mudança de regime. As provas irão ter finalmente lugar em Fevereiro de 1975, sob a presidência do Reitor Ruy Luís Gomes (1905-1984). Otilde Costa é uma das escolhidas. A lógica do primeiro Estatuto da Carreira Docente Universitária (ECDU, Novembro de 1979) leva a crer que alcançou a cátedra com efeitos a partir de 1 de Dezembro de 1979. Também Maria Luísa Fânzeres de Castro Fernandes Regan (??), assistente desde os alvores da década de 50, teve a oportunidade de auferir de uma bolsa (no seu caso em Paris, 1957-1959). Doutorada em 1960 (tese: Contribuição para o Estudo de Plasmas de Densidade Fraca), passou a primeira-assistente e mais tarde a professora auxiliar. A sua carreira virá a ter um final quase insólito, ainda que pouco documentado e pouco ou nada mencionado. Escreve José Moreira de Araújo:

Na sequência dos acontecimentos políticos de Setembro de 1974 a Doutora Maria Luísa F. C. F. Regan, casada com um cidadão inglês, pede licença sem vencimento e, posteriormente, a rescisão do seu contrato de professora auxiliar. (Faculdade de Ciências, 2000, p. 101)

Que se terá ao certo passado? Um fim inglório para uma das pioneiras de Minerva da UP?

O caso que se segue, em Farmácia, conta em rigor tanto (ou quase) para a UP como para a UC. Trata-se de Maria Serpa dos Santos (1916-2011) (Gomes, 1987; Santos, 1991; Santos, 1997: passim; Silva, 2011), uma açoriana filha de militar, que se diplomou em Coimbra com o Curso Profissional de Farmácia da então Escola Superior de Farmácia da Universidade de Coimbra (ESF/UC). Logo de seguida cursou a licenciatura na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FF/UP). Contratada em 1942 como preparadora da ESF/UC, de imediato avançou para o doutoramento na única instituição possível em Portugal ao tempo: a FF/UP[32]. Obteve o grau em 1947, com a tese: Os factores de crescimento das bactérias lácticas: Lactobacillus acidophilus. Contribuição para o seu estudo. Passou então a primeira-assistente da ESF/ UC. Foi sempre tendo tudo para uma carreira brilhante e supostamente no pronto caminho da consagração académica plena. Mas o quadro dos lentes da ESF/UC era mínimo. Só com a restauração da Faculdade de Farmácia/UC (1968) a situação se modificou, e Maria Serpa dos Santos pôde então prestar provas de concurso para professora extraordinária (1970) e catedrática (1972). Esta grande distância temporal às vezes quase faz esquecer que foi a primeira Mulher de Coimbra a doutorar-se no País - só que noutra Universidade, mas ainda assim quase dez anos antes da subsequente - e a primeira a fazê-lo e a chegar à cátedra em Farmácia. Na memória dos seus antigos alunos dos anos 40 ficou a solicitude (quase maternal) com a segurança física dos escolares nas aulas práticas de Criptogamia e Fermentações, nomeadamente no vestir de uma bata à entrada e na sua retirada logo junto à porta de saída. Para além de cientista e mestre, teve estudos musicais e foi uma melómana. Apenas ao aproximar do centenário do nascimento começou a ter da Universidade de Coimbra a atenção homenageante que o seu percurso mais do que merece; no Porto tem sido sempre institucionalmente lembrada pela sua posição de primeira doutorada da FF/UP.

O derradeiro caso reporta-se à FL/UC - Filologia Clássica: trata-se de Maria Helena Monteiro da Rocha Pereira (1925-2017) (Ferreira, 2009), doutorada em 1956 com a tese Concepções helénicas de felicidade no Além: de Homero a Hesíodo. Apesar de uma certa dinâmica de sucesso que a carreira desta Senhora a partir de certa altura ostentou, os princípios nem sempre lhe foram fáceis. Licenciada pela FL/UC em 1946, ano em que os pontos para o acto final foram excepcionalmente numerosos, num grupo da sua Alma Mater dividido entre os lentes Carlos Simões Ventura (1893-1975) e Francisco da Luz Rebelo Gonçalves (1907-1982), e numa Escola onde a maior parte dos lentes se opunha à entrada de membros femininos no Corpo Docente[33], o apoio de Simões Ventura quanto a um ingresso na Casa não bastava. Nesses anos, a nossa ora biografada ensina no Centro de Estudos Humanísticos/ UP[34] e beneficia de bolsas no Reino Unido (Oxford). Mas em 1952 Rebelo Gonçalves requer a transferência para a FL/UL, onde já se formara, doutorara e ensinara (anos 30). Porta aberta, portanto, para o recrutamento de um(a) novo(a) assistente. Doutorada em 1956, como se disse, em 1962 e em 1964 prestou provas de concurso para professora extraordinária (tese: Sobre a autenticidade do fragmento 44 Diehl de Anacreonte) e catedrática, sucessivamente[35]. No topo da carreira, a dinâmica de sucesso instala-se. Do seu longo cursus honorum, ficam a Obra, os discípulos[36] e a circunstância de que foi de facto a primeira professora catedrática e a primeira doutorada da UC a prestar provas na própria UC.

E será tempo de fechar. A chave explicativa deste limitado surto de doutoramentos femininos creio estar, a partir essencialmente dos anos 20, no envio de assistentes universitários e outros investigadores para Universidades e Institutos além-fronteiras, numa conjuntura de aparecimento dos primeiros órgãos remotamente preludiadores da actual Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), como se viu. A purga universitária dos anos 40 prejudicou este movimento; mas não o deteve. A viragem da década de 1950 para a de 1960 é que algo modifica. Orçamentos que, marcados pela situação militar em África, passam a beneficiar substancialmente menos a investigação científica e a sua internacionalização? Talvez sim… Mas o movimento não pára de todo, e inclusivamente a UP e a UC assistem, nos anos finais do regime (dinâmicas de Veiga Simão em tempos de Marcello Caetano?), aos seus primeiros doutoramentos femininos em Medicina. E bem se justificará uma investigação dirigida à indagação de senhoras doutorandas até ao final dos seventies… Resta acrescentar que a maioria destas pioneiras de Minerva não teve vida profissional fácil, isto sem embargo das dinâmicas de sucesso ostentadas, mutatis mutandis, por Virgínia Rau, Maria de Lurdes Belchior, Isabel Maria Magalhães Colaço, Maria Helena Rocha Pereira e mesmo Raquel Soeiro de Brito e Maria Alzira Almoster Ferreira. Mas pense-se, ao mesmo tempo, nas carreiras pré-anunciadas e não concretizadas, nas carreiras cortadas ou interrompidas, e nestes casos às vezes com longas soluções de continuidade; ou ainda nos não-acessos (ou nos tardios acessos) à cátedra ou nas renúncias ao matrimónio e à maternidade… Quand-même, talvez luzinhas tremeluzindo ao longe… anunciando melhores dias para o Ensino Superior e para a investigação científica entre nós…

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Albuquerque, M., Mello, G. S. & Waldyr, L. (Dir. / Coord.). (2013). A Faculdade de Direito de Lisboa no seu centenário, I. A Instituição. Lisboa: Faculdade de Direito.

Carvalho, L. (2009). Em homenagem: Lídia Salgueiro (1917-2009). http://web.archive.org/web/20120121035852/ http:/infociencias.fc.ul.pt/noticia.aspx?id=502&editoria=4 (consultado em 2018/01/01).

Faculdade de Ciências. (2000). Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (1911- 1986): Os primeiros 75 anos. Porto: Faculdade de Ciências.         [ Links ]

Faculdade de Letras. (1999). Doutoramento honoris causa da Prof.ª Doutora Maria de Lourdes Belchior Pontes (1996). Porto: Faculdade de Letras.         [ Links ]

Fernandes, H. (2017). Virgínia Rau: Algumas variações sobre um cosmopolitismo. Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher, 37, 23-39.         [ Links ]

Ferreira, J. R. (2009). Três mestres, três lições, três caminhos. Coimbra: Fluir Perene.         [ Links ]

Gomes, J. F. (1987). A mulher na Universidade de Coimbra. Coimbra: Almedina.         [ Links ]

Gonçalves, I. (2017). Lembrando a Professora Doutora Virgínia Rau. Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher, 37, 17-20.         [ Links ]

Homem, A. L. C. (1996). Revistas universitárias de História no Portugal do século XX. Revista de História das Ideias, 18, 339-372.         [ Links ]

Homem, A. L. C. (1997) - Mulheres historiadoras no Portugal das últimas décadas (anos 50/ anos 90). In Actas dos 3.os Cursos Internacionais de Verão de Cascais/1996, vol. 1. A Mulher e a Sociedade (pp. 83-98). Cascais: Câmara Municipal de Cascais.

Leal, E. C. (1995). Memória e historiografia: Notas sobre a revista “Do Tempo e da História”, 1965-1972. Clio. Revista do Centro de História da Universidade de Lisboa, 1 (nova série), 163-173.         [ Links ]

Matos, S. C., & Ó, J. R. (Coord.) (2013) - A Universidade de Lisboa nos séculos XIX-XX, I e II. Lisboa: Tinta da China.

Pereira, I. da R. (1979). Elogio da Prof.ª Doutora Virgínia Rau. Lisboa: Academia Portuguesa da História.         [ Links ]

Rosas, F. & Sizifredo, C. (2013). Estado Novo e Universidade: A perseguição aos professores. Lisboa: Tinta-da-China.         [ Links ]

Santos, C. (1991). A mulher e a Universidade do Porto. A propósito do centenário da formatura das primeiras médicas portuenses. Porto: Universidade do Porto.         [ Links ]

Santos, C. (1997). Universidade do Porto: Raízes e memória da instituição. Porto: Universidade do Porto.         [ Links ]

Silva, F. R. (Coord.) (2011). Os reitores da Universidade do Porto: 1911-2011. Porto: Universidade do Porto/Fundação Eng. António de Almeida.         [ Links ]

Silva, J. P. da (2011). Recordando Maria Serpa dos Santos. Revista da Ordem dos Farmacêuticos, 98, 71.         [ Links ]

Simões, A. (Coord.) (2001) - Memórias de professores cientistas, Lisboa: Faculdade de Ciências.         [ Links ]

Sousa, M. R. (2006). Trinta e três anos de professor. In Archivum et Jus. Ciclo de Conferências: Actas. Coimbra: Arquivo da Universidade de Coimbra.         [ Links ]

Universidade Nova de Lisboa. (1999). Universidade Nova de Lisboa: Honoris Causa 1998. Doutoramentos de: Eduardo Lourenço de Faria, Luciana Stegagno Picchio, Maria de Lurdes Belchior Pontes. Oração de Sapiência por Teresa Rita Lopes. 8 de Maio de 1998. Lisboa: Reitoria da Universidade Nova de Lisboa.         [ Links ]

 

Recepção: 14/01/2018

Aceite para publicação: 25/03/2018

 

[1] Estas situações representarão cerca de um terço das pessoas tidas em conta.

[2] Embora haja vários exemplos de pessoas integrando o «corpus» que ensinaram em mais do que uma Universidade, o caso de Maria Serpa dos Santos é único, como veremos.

[3] Trata-se de António Augusto Álvares Pereira de Sampaio Forjaz Pimentel (1893-1972), primeiro doutor pela Universidade de Lisboa (1917), longamente director da FC/UL (1944-1960) e figura de peso na Academia das Ciências de Lisboa.

[4] No post-25 de Abril foi militante do Partido Comunista Português.

[5] Trata-se do poeta simbolista francês Albert Samain (1858-1900).

[6] Deste casamento há uma filha, Clara Crabbé Rocha (n. 1955), que foi assistente e professora da FL/ UC e é hoje lente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

[7] Bem será caso para perguntar se esta demissão teve a ver directamente com alguém que exercia há apenas três anos, ou se no fundo terá sido o facto de ser casada com quem era…

[8] Da sua Obra no período de afastamento veja-se nomeadamente A Epistolografia em Portugal(1965, com reedição em 1985).

[9] Tese: Subsídios para o estudo das feiras medievais portuguesas, reedição em 1982 (Lisboa, Presença), com o título Feiras Medievais Portuguesas. Subsídios para o seu Estudo, introdução e estabelecimento de bibliografia por José Manuel Garcia.

[10] Tese: Sesmarias Medievais Portuguesas, reedição em 1983, pela editora e organizador citados para a Obra referida na nota precedente.

[11] Tese: A Exploração e o comércio do sal de Setúbal. Estudo de História Económica, reedição em 1984, com o título Estudos sobre a História do sal português (Lisboa, Presença), em volume enriquecido com alguns pequenos estudos da Autora sobre a problemática em apreço; organização, uma vez mais, de José Manuel Garcia.

[12] É na década de 50 do século XX que, em definitivo, os licenciandos em História passam a elaborar as suas teses com base em fontes de arquivo ou reproduções fotográficas ou microfilmadas. Na FL/UL, e em História Medieval, o processo tem obviamente muito a ver, à partida, com Virgínia Rau e também com Manuel Heleno (1894-1970) e Irisalva Moita (1924-2004); e, em fases subsequentes, com mestres academicamente mais jovens, como A. H. de Oliveira Marques (1933-2007), Jorge de Macedo (1921-1996) ou Iria Gonçalves.

[13] Onde curiosamente é superior o número de títulos consagrados aos séculos XVI-XVIII do que aos tempos medievais.

[14] Pense-se em Oliveira Marques, Eduardo Borges Nunes (1924-2008), Iria Gonçalves, Maria José Lagos Trindade (m. 1980), Maria José Ferro Tavares ou João Cordeiro Pereira (1944-1999).

[15] Pense-se em alguns dos congressos quinquenais do Comité International des Sciences Historiques ou nos Congressos Internacionais de História Económica (Archivio di Stato di Prato).

[16] V.g. Fernand Braudel (1902-1985), Yves Renouard (1908-1965), Federigo Melis (1914-1973), Michel Mollat (1911-1996), Emílio Saez (1917-1988) ou Jacques Heers (1924-2013).

[17] Em 1964, após dois adiamentos do concurso para professor extraordinário, Oliveira Marques pede a demissão da Função Pública e pouco depois exila-se academicamente nos Estados Unidos da América.

[18] Saliente-se que José Mattoso (ainda brevemente seu Colega na FL/UL) e as antigas assistentes Iria Gonçalves e Maria José Ferro Tavares permaneceram fiéis à sua memória.

[19] Ainda que se conteste a suposta influência dos Annales como decisiva.

[20] Cf. nomeadamente o vol. II da recolha de artigos Os homens e os livros. Sécs. XIX-XX, 1980.

[21] V.g. Maria Idalina Cobra Pereira Resina Rodrigues, José Adriano Moreira de Freitas Carvalho, Maria Lucília Gonçalves Pires…

[22] Que ensinou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (1912-1921) e na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (1922-1931).

[23] Tese: Da legitimidade do acto jurídico (dactil.).

[24] Tese: Da compra e venda em Direito Internacional Privado.

[25] Tese: Da qualificação em Direito Internacional Privado.

[26] Aprovada por unanimidade em mérito absoluto, graduada em segundo lugar em mérito relativo, face a José Dias Marques (1926-2005), mais antigo na carreira; de qualquer modo, as vagas eram duas.

[27] Manuel Duarte Gomes da Silva (1915-1995).

[28] Órgão-chave na superação pela Escola da complexa e dolorosa situação em que caíra no post-25 de Abril.

[29] A sua biblioteca, aliás, foi legada a este último órgão, em cuja sede se encontra, instalada em sala própria.

[30] Actualmente lente jubilado da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa (FD/UNL).

[31] Foi a terceira doutorada da FD/UL (1993); a segunda foi Fernanda Palma (1992), e é actualmente lente da FD/UNL.

[32] Entre 1944 e 1961, outros Mestres de Farmácia da UC se doutoraram na UP antes da restauração da FF/UC (1968): José Ramos Bandeira (1906-1991), Aloísio José de Carvalho Fernandes Costa (1906-1980), André da Silva Campos Neves (1926-2014) e António Pinho de Brojo (1927-1999).

[33] Havia um efémero antecedente em Filologia Clássica, com Augusta Faria Gersão (anos 40).

[34] Criado em 1947, este organismo tinha uma política de Ensino Superior livre e de outorga de bolsas, particularmente no domínio da Arqueologia. Constituiu, de certa forma, um prelúdio da actual FL/ UP.

[35] Por indisponibilidade - recíproca - de Rebelo Gonçalves, único lente de Filologia Clássica no País para além de Simões Ventura, os júris integraram dois lentes de Filologia Românica, a saber, Vitorino Nemésio (1901-1978) e Jacinto do Prado Coelho (1920-1984).

[36] A secção de Estudos Clássicos do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da FL/UC conta actualmente com cinco professores catedráticos, cinco associados (dois dos quais com agregação) e seis auxiliares; acrescem dois catedráticos jubilados.