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Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher

versão impressa ISSN 0874-6885

Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher  no.42 Lisboa dez. 2019

https://doi.org/10.34619/z7m9-3m14 

ESTUDOS

VitaSackville-West e Annemarie Schwarzenbach: dois olhares femininos sobre o Médio Oriente nos anos 20 e 30*

Vita Sackville-West and Annemarie Schwarzenbach: two feminine glances on the Middle East in the 20s and 30s

Gonçalo Vilas-Boas**

** Universidade do Porto, Faculdade de Letras, Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, 4150-564 Porto, Portugal, gonvilasboas@gmail.com


 

RESUMO

Neste estudo pretende-se analisar textos de viagem ao Médio Oriente de Vita Sackville-West e de Annemarie Schwarzenbach, nos anos 20 e 30 do século XX, focando os respetivos contextos individuais e coletivos. Serão vistos à luz de teorias geocríticas, entre outras, tendo em conta os momentos da produção e da receção textuais. O espaço literário só existe nele próprio, como consequência de um processo complexo, englobando a viagem, a vivência quer racional quer subjetiva, a memória e a ficcionalização.

Palavras-chave: Literatura de viagens, Médio Oriente, Vita Sackville-West, Annemarie Schwarzenbach.


 

ABSTRACT

In this essay several travel texts by Vita Sackville-West and Annemarie Schwarzenbach to the Middle East during the 20s and the 30s will be analized, having in account the respective individual and collective contexts. Tools from geocritical theories, among others, will be used, both in the production and the reception moments. Space in texts only exists in itself as a consequence of a complex process, both in the writing and reading processesdealing with rational and emotional aspects and conditions of personal memory and fictionalizing processes.

Keywords: Travel literature, Middle East, Vita Sackville-West, Annemarie Schwarzenbach.


 

Os seres humanos sempre se deslocaram ao longo dos tempos pelas mais diversas razões, e muitas dessas deslocações deram azo a relatos de diferentes tipos. Mas os relatos de viagem sob uma perspetiva feminina começaram a aparecer sobretudo a partir do século XVIII, seguindo as atividades de colonização dos respetivos países, reagindo aos seus espaços de origem, ou em missões religiosas ou mesmo levadas por um espírito de aventura e de autoafirmação do género[1].

Os textos de viagem são construções que têm em conta os contextos individuais e coletivos dos respetivos autores. Cada um de nós vive no seu território e é marcado por ele. Quando dele se ausenta, não deixa, contudo, de o transportar na sua bagagem individual, na sua ‘enciclopédia’, na aceção de Umberto Eco. Do reportório individual fazem parte narrativas lidas sobre os espaços a visitar antes de iniciar a viagem. No novo território, a que o viajante não pertence, mas com o qual quer partilhar algo, depois de atravessar fronteiras, é-se confrontado com espaços outros, que cada viajante percecionará a seu modo. Neste sentido, a literatura de viagens está muitas vezes intimamente ligada à escrita autobiográfica e à diarística, uma vez que, normalmente, tem por base viagens realizadas pelo autor, que depois transforma as suas experiências, filtradas pela memória, pelas leituras, pelas estratégias discursivas, pela introdução de situações imaginadas ou re-construídas, em textos, que mais não são que viagens encenadas em palavras.

O espaço é plural, sempre disponível para quem o experiencia, dependendo do modo como o apreende. O espaço textual é uma produção que cada viajante, e só ele, produzirá daquele modo, produto de uma reação racional e emocional. Assim, os mesmos espaços serão vistos sempre de modo diferente, dependendo do sujeito, e nunca de modo holístico. Os espaços reais tornam-se, assim, “espaços de vivência” (Gertrud Lehnert, 2011, p. 12). Estes podem tornar-se em ‘heterotopias’ individuais, espaços de compensação que, como refere Foucault, são espaços outros que surgem como alternativas face aos dominantes. Nós, leitores, temos, por conseguinte, de fazer um processo análogo, ou seja, fazer a nossa encenação a partir da vivência de um espaço textual apresentado por um autor-viajante.

Podemos abordar este género literário utilizando também instrumentos da geocrítica, um outro modo de situar nos devidos contextos a literatura de viagens. A geocrítica foca as interações entre espaços humanos e a literatura, o que permite uma “perceção plural do espaço” (Westphal, 2000, pp. 17-18) e uma cartografia literária dos locais (Westphal, 2000), uma vez que o centro da análise é o espaço observado, não o espaço real: “C’est effectivement au-delà de la carte que naît l’espace de la littérature” (Laurel, 2015, p. 168). Para lá do mapa e do espaço real - mas com eles relacionado -, está o espaço literário, inexistente na realidade. Nesta perspetiva, os espaços literários serão vistos, seguindo Westphal, através da multifocalização, do polissensorialismo, onde o subjetivo se torna visível pelos sentidos, dados muitas vezes pela adjetivação a eles referente, e da estratografia, onde se têm em conta os diversos estratos espaciais e temporais, dentro e fora do texto (Westphal, 2007). Como refere Fátima Outeirinho, “a constituição do lugar ergue-se a partir desses imaginários geográficos a que as narrativas de viagem dão voz, mapeando ainda por palavras uma geografia mental e dos afetos, difícil de materializar geograficamente” (Outeirinho, 2016, p. 197).

Esta vivência é também condicionada pelo tempo despendido na deslocação: Gertrude Bell (1860-1926), por exemplo, viveu no Médio Oriente, teve tempo para apreender e vivenciar o Outro, assim como a suíça Isabelle Eberhardt (1877-1904), que viveu no Norte de África. Vita Sackville-West (1892-1962) e Annemarie Schwarzenbach (1908-1942), pelo contrário, estão em constante movimento, não tiveram tanto tempo para apreender a grandiosidade da paisagem, nem o Outro. Schwarzenbach diz em alguns textos que, ao chegar a um lugar, já sofria a dor, a angústia, da despedida.

Por seu lado, o leitor pode ter acesso a textos posteriores ao do viajante; nesse caso estes farão parte da construção do espaço pelo leitor, assim como da sua capacidade de comparar. Desta forma, a leitura pode dar lugar a uma construção mais vasta do que um determinado texto poderia prever à data da sua escrita.

Serão analisados alguns textos de viagens ao Médio Oriente de Vita Sackville-West e de Annemarie Schwarzenbach. Comecemos por algumas considerações que ajudam a compreender os contextos das obras das duas autoras.

Porquê o interesse por aquele espaço geográfico no período entre as guerras? As viagens dessa época eram essencialmente eurocêntricas. Partia-se do mundo mais civilizado para visitar países/zonas normalmente sob controlo colonialista ocidental, vistas em grande parte como social e culturalmente inferiores. Burdett/Duncan escrevem: “the pursuit of leisure and the desire to escape the repressive constraint of home” (Burdett & Duncan, 2002, p. 4). O fascínio por essa zona vem de longe: pelos relatos clássicos por exemplo, o relato de Marco Polo, o livro Mil e uma noites, em traduções completamente ocidentalizadas, as Cartas Persas de Montesquieu ou O divã ocidental e oriental de Goethe -, e também pela poesia persa, através de diversas traduções, incluindo as de Hafiz por Gertrude Bell. A importância geopolítica e económica da zona era também estratégica para as potências ocidentais, a que acrescia o petróleo, que começava a ser explorado. Há também o fascínio pelo passado longínquo, manifestado pelas diferentes escavações arqueológicas.

As viagens ao Médio Oriente serviram para confirmar ou corrigir os clichés, as heteroimagens criadas ao longo dos tempos. E quanto mais imbuídos estavam os viajantes das suas próprias imagens, menos estariam na predisposição de as corrigir[2]. Se o olhar depende essencialmente de cada indivíduo, independentemente do género, pode afirmar-se que o olhar feminino na época sobre o espaço social em questão apresenta algumas diferenças, nomeadamente o enfoque nas questões das mulheres e da família, a que elas tinham mais facilmente acesso como mulheres. Susan Bassnett refere que não se pode generalizar o que representam as viagens de mulheres, dado que cada viajante é diferente, não uma categoria. Este ver o Outro implica também a capacidade de as mulheres se verem a si próprias de um outro ângulo. Por outro lado, comparando relatos de viajantes, nota-se que o olhar feminino se prende muitas vezes em pormenores na apresentação do mundo social que encenam, numa visão que seleciona, em muitas ocasiões, uma visão do micro, algo mais focado nas pessoas e nos relacionamentos e dando ênfase a um “documenting the everyday” (Bassnett, 2005, pp. 227-230). Comuns aos dois géneros poderemos ver a descrição do espaço geográfico, as dificuldades na deslocação devido às péssimas redes rodoviárias, as posições face ao tipo de sociedade, comparada com a europeia. A utilização da fotografia ou do desenho permitem reforçar aspetos da narrativa.

Edward Said fala-nos de ‘Orientalismo’, defendendo a ideia de que o viajante ocidental levava consigo um modo de ver colonial e imperial, que se manifestou em muitos textos. Said fala de um “orientalizing the Oriental” (Said, 1995, p. 49): o oriental colonizado deve corresponder à imagem que o colonizador constrói dele. Estas imagens ocidentais provocam um encobrimento da realidade, funcionando na maioria dos casos como um campo de projeção idealizado. Esta visão vai sendo progressivamente posta em causa e corrigida por muitos dos viajantes que a confrontam com a realidade. Pensemos no modo de viajar de muitas delas (e deles), sobretudo a partir dos anos 20: deslocam-se de automóvel, sinal de superioridade técnica, são recebidas pelas autoridades das aldeias por onde passam, são cultas. Claro que também elas são vistas pelo Outro, só que essa voz raramente transparece nos textos, é quase que um Outro com corpo, mas não individualizado, sem voz. O Outro não tem geralmente espaço como indivíduo.

As viajantes querem escrever as suas experiências de viagens, com diferentes motivações, dependendo também das suas biografias. Ueckmann defende que “a função dos relatos de viagem é a tentativa de situar e diferenciar aquilo que se experimentou entre o Aqui e o Ali” (Ueckmann, 2001,p. 51)[3]. As viajantes emancipam-se, mostrando a sua não dependência completa do poder patriarcal. Este aspeto caracteriza o olhar feminino das viajantes daquele tempo.

No século XX muitas mulheres partiram para esta zona do globo. Lembremos as inglesas Freya Stark (1893-1993), Rosita Forbes (1893-1967), Agatha Christie (1890-1976), as alemãs Annemarie von Nathusius (18751926), Clärenore Stinnes (1901-1990), Margret Boveri (1900-1975), a sueca Maud von Rosen ou a francesa Marga d’Andurain (1893-1949). As mulheres abandonaram temporariamente os seus contextos conservadores, libertando-se por uns tempos das condicionantes do seu tempo. O caso de Gertrude Bell, uma das mais importantes viajantes britânicas, é um pouco diferente: ela é viajante, arqueóloga, escritora, tradutora, diplomata, fala árabe, farsi e outras línguas da região, viveu na zona durante décadas, participou na criação da linha divisória com o Iraque, entre muitas outras atividades políticas e administrativas.

Nesta época, já pouco havia para descobrir de novo. Assim o essencial destes textos não era tanto o fornecer informações aos leitores (ainda que obviamente também o fizessem), mas o de mostrar a perceção do que viviam. Trata-se assim da criação de uma encenação de uma viagem, não de uma viagem em si, ainda que a ela ligada. “Accomplished travel writing is no less imaginative or well-crafted than five novels or poems”, escreve Tim Youngs (Youngs, 2004, p. 55).

Vita Sackville-West (1892-1962), conhecida quer pela sua vida, quer pela sua escrita, mas também pela amizade com Virginia Woolf, esteve na Pérsia duas vezes, em 1926 e 1927, para visitar o marido, Harold Nicholson, diplomata em Teerão. Escreveu dois livros sobre o país, Passenger to Teheran (1926) e no ano seguinte Twelve days in Persia. Para ela, “[t]ravel is the most private of pleasures. There is no greater bore than the travel bore” (SackvilleWest, 2010, p. 25). Sackville-West reflete sobre o papel da linguagem nas representações dos locais visitados e sobre a sua incapacidade de exprimir o que não é racional: “It may be that language, that distorted labyrinthine universe, was never designed to replace or even complete the much simpler functions of the eye. Language follows, a tortoise competing with the velocity of light […]. The most - but what a most! - that language can hope to advance is suggestion” (Sackville-West, 2010, p. 27).

Sackville-West refere um outro viajante inglês, Alexander Kinglake (1809-1891): “Like Kinglake’s traveler, I was fit only to report of objects, not as I knew them to be, but as they seemed to me - and to read into them, I might add, a great many attributes they could not really possess” (Sackville-West, 2010, p. 45). Este livro, em conjunto com outros, contribuirá para o mapa textual da região que a viajante levará na sua ‘enciclopédia’ e influenciará a sua leitura daquele espaço.

No primeiro livro, Sackville-West relata, de modo muito vívido e dinâmico, a sua viagem da Europa a Teerão, passando pelo Egito, pela Índia e pelo Iraque, onde se encontra com Gertrude Bell (Sackville-West, 2010, pp. 59-61), passando pelo deserto, que vê como “yellow, hideous, and as flat as the sea, the desert comes right up to the railway line, and stretches away to the circular horizon, unbroken save by a little scrub, a few leprous patches of salt, or the skeleton of a camel” (Sackville-West, 2010, p. 58), a que se segue o regresso pela Rússia e a Polónia. Depois de quatro dias através de paisagens desoladoras e de grande pobreza persa, que vê com alguma ironia: “But Persia had been left as it was before man’s advent” (Sackville-West, 2010, p.67), Teerão não a impressiona e a coroação do Reza Xá parece-lhe uma grande realização carnavalesca (“Now what can be more absurd than a coronation?” (Sackville-West, 2010, p. 132)). Outros locais impressionam esta viajante, com muita curiosidade: “Experience in Isfahan had been set in so different a key; the Madrasseh, the night at Kum, had imposed themselves by virtue of a quality so different and so much more elusive than this crude entertainment” (Sackville-West, 2010, pp. 136-7). A autora revê muitas vezes a paisagem com os olhos de outras viajantes, como Jane Dieulafoy (1858-1916), além de Bell.

No segundo livro, Twelve days in Persia, viaja para o Sul, sobretudo para encontrar as tribos nómadas dos Bakhtiari, terminando com uma visita a Persépolis, apresentada no capítulo XXIII. No capítulo que representa o início da viagem de regresso refere a sua posição de escritora: “I wish I could say that my impartiality had been such that the reader is unable to tell which way my sympathies lie” (Sackville-West, 2009, p. 131). Persépolis, diz ela, está na encruzilhada entre os nómadas de Bakhtiari e os interesses britânicos, representados pela Anglo-Persian Oil Company, ligando o passado e o presente colonial. A descrição da cidade começa por referir a posição numa planície completamente isolada: “Persepolis gains in splendour from its isolation” (Sackville-West, 2010, p 132). As ruínas parecem-lhe mais pequenas do que esperava. São um espaço solitário, com as suas colunas a apontarem para o céu: “As a ship launching out on an expanse of sea, the great terrace drives forward on the plain, encircled by mountains and the open sky and the hawks that wheel and hover between the columns” (Sackville-West, 2010, p. 132). Com a aproximação ao local apercebe-se da grandiosidade do palácio (“how massive that structure really is” (Sackville-West, 2010, p. 133)) e tenta descrever o espaço, levando o leitor consigo: “Now you are in the midst of the ruins; […] A little further, and you are in the Hall of the Hundred Columns” (Sackville-West, 2010, p. 133). E releva a importância dos fragmentos que deixam antever o que a cidade terá sido há milhares de anos: “wars and dynasties rol their forgotten drums, as the fragment is balanced for a moment in the palm of the hand” (Sackville-West, 2010, p. 133). Chama-lhe igualmente a atenção o silêncio que contrasta com a azáfama do espaço outrora habitado, tal como ela o terá imaginado. O tempo passou, a mão humana mal tocou a cidade desde que Alexandre, o Grande a destruiu. Sackville-West termina o capítulo referindo outras cidades arruinadas, como Palmira e Heliópolis, que compara com a “superb isolation of Persepolis” (Sackville-West, 2010, p. 137). Victoria Glendinning escreve, na sua biografia da autora: “But in 1927 she saw the country as a ‘potential paradise’, and the approach to the oilfields on the other side of the mountain as a transition from Paradise into a ‘hell of civilization’” (Glendinning 1983, p. 174). Sackville-West enquadra-se no discurso orientalista e colonialista, de poder, embora manifeste uma abertura face ao Outro, sobretudo o marginal que vive nas montanhas do Sul do país. A descrição da autora, ainda que tentando ser objetiva, não o é pela seleção pessoal dos aspetos que mais a afetaram e que encontram eco no discurso escolhido.

Annemarie Schwarzenbach esteve quatro vezes no Médio Oriente: a primeira em 1933[4]. É esta viagem que está na base do diário viagístico Winter in Vorderasien [Inverno no Próximo Oriente]. A segunda viagem teve lugar em 1934, tendo a autora trabalhado como assistente num campo arqueológico. A terceira visita foi em 1935, ano em que se casou com o diplomata francês Claude Clarac e em que passou parte do verão num acampamento da Embaixada britânica perto de Teerão, no vale de Laar (baseou-se nesta estada para o seu romance Das Glückliche Tal [O Vale Feliz])[5]; e finalmente em 1939-1940 com a aventureira e viajante genebrina Ella Maillart (1903-1997). A autora conhecia o relato da inglesa Gertrude Bell Persian pictures, publicado em 1894, relatando uma viagem feita em 1892, mas também o livro de Robert Byron (1905-1941), The road to Oxiana (1937).

Em Annemarie Schwarzenbach é possível ver como motivo das viagens o desejo de emancipação, de fuga da mãe, da família, da Suíça conservadora e, simultaneamente, a procura de si mesma. A escrita é o único meio que encontra para se relacionar com a realidade, para a tentar controlar. As viagens só são importantes na medida em que lhe possibilitam conquistar o mundo através da escrita. Mas a linguagem também tem de ser conquistada. Schwarzenbach tem de lutar com o mundo e com a linguagem para tentar ganhar o seu próprio espaço e a sua linguagem.

Aqui serão referidos apenas dois livros: Inverno no Próximo Oriente, publicado em 1935, e Todos os caminhos estão abertos: com Ella Maillart no Afeganistão (1939-1940), editado em 2000 com base em textos publicados em jornais ou em manuscritos inéditos[6].

Inverno no Próximo Oriente é um diário de viagem. Os diversos textos são datados, desde 15 de outubro de 1933 até 25 de março de 1934, exceto o último (“Persépolis”), onde é relatada a viagem de regresso à Europa. Trata-se de uma viagem marcada pela curiosidade em conhecer o Outro. As pessoas que encontra são essencialmente ocidentais (muitas delas arqueólogos) ou gente pertencente aos grupos sociais superiores das zonas visitadas que falam francês ou inglês, o que, tal como as leituras que fez anteriormente, influenciará a sua própria visão daquelas regiões. Schwarzenbach viaja para se encontrar a si própria, quer conhecer outras realidades, longe da Europa, que está a cair num caos. Quer procurar uma outra ordem, mas não a consegue encontrar, pois ela própria não a tem e, por isso, também não a pode dar à relatadora. Como diz Georgiadou na sua biografia desta autora: “as montanhas persas tornam-se o palco bombástico para a sua dor do mundo, a sua falta de pátria e o seu desenraizamento” (Georgiadou, 1996, p. 125).

A viajante vê essas paisagens geográficas e humanas com “uma grande sensibilidade para os tons intermédios suaves e para os delicados matizes” (Willems, 2002, p. 20). Os vinte e cinco textos de Inverno no Próximo Oriente são o testemunho de uma observadora perspicaz, ainda que as suas críticas sociais sejam ‘suaves’, bastando-lhe mostrar discretamente uma situação, sem comentários, para que a carga crítica possa ser desenvolvida pelo leitor. Annemarie Schwarzenbach está a entrar num território que na realidade desconhece. Capta esse novo espaço pela linguagem e pela fotografia, as duas formas complementares que usa para mostrar a sua visão. O leitor terá dificuldades em conhecer a viajante textual: ela esconde-se atrás da descrição aparentemente objetiva (dissimulando a escolha subjetiva da perspetiva), ou do pronome pessoal “nós”. Contudo, o seu olhar trai-a: a melancolia, o entusiasmo por uma paisagem ou a tristeza pela pobreza que encontra transparecem naquele discurso que vai perdendo a impessoalidade. Ela vê, cheira, ouve a paisagem. A miséria incomoda os seus olhos europeus e receia que o progresso em curso, nomeadamente a construção de estradas e do caminho de ferro, possa destruir a genuinidade daquelas civilizações.

Schwarzenbach partilha com outras viajantes os campos semânticos de “silêncio”, “solidão”, “tempo”, “deserto”, “montanhas”, “infinidade”, “tristeza”, “vazio”, sempre vistos de uma perspetiva europeia. Nela torna-se claro que exprime a vivência interior destas paisagens, tão diferentes dos Alpes suíços das suas origens. Projeta na paisagem a solidão que vive. Esta imensa solidão é o resultado da imensa liberdade que recebeu, acabando por lhe ser um obstáculo (a autora refere esta questão no romance “persa” O vale feliz).

Face àquela realidade distante, apesar de momentaneamente tão perto, Schwarzenbach diz: “Mas não se podem fotografar dimensões, e a experiência da beleza e da perfeição só incompletamente se transmite” (Schwarzenbach, 2017, p. 59). À dificuldade de se expressar verdadeiramente acrescenta-se o sentimento de ser levada pelo destino e não pela sua vontade, o que fragiliza o seu já precário sentido de segurança: “Mas cada época é como tem de ser e nada escapa mais ao nosso controlo do que os acontecimentos da nossa vida” (Schwarzenbach, 2017, p. 91). Podem planear-se os percursos, mas não as vivências.

Não falando nem árabe nem farsi, Schwarzenbach tem de recorrer a tradutores para perceber alguma coisa e fazer-se percebida. Só que as informações que ela recebe são já filtradas, “traduzidas” dentro de contextos de subordinação “colonial”, no caso da população local, ou claramente “colonial”, quando prestada pelos ocidentais com que se cruza.

Alguns nomes topográficos da região exercem nela uma espécie de fascínio pela sua musicalidade e pela sua magia inexplicável. O lado geográfico junta-se ao histórico e ganha para a autora um simbolismo novo:

Mas quem sabe deveras aonde levam as estradas e quem conhece os nomes das cidades antigas, soterradas e ressuscitadas? O caminho alargar-se-á, a estrada ondulará sem fim sobre as colinas e, no horizonte, haverá sempre o brilho avermelhado da cidade sem nome. (Schwarzenbach, 2017, p. 24)

Os nomes são conhecidos, estão nos mapas ou em estudos arqueológicos. Mas conhece-se verdadeiramente o que se esconde por detrás dos nomes? É aí que reside a sua magia, algo que se pode pressentir, sentir, mas não descrever objetivamente. A narradora escreve, por exemplo, sobre Baalbek: “mas Baalbek faz parte desses nomes heroicos que não se pronunciam com ligeireza [...]” (Schwarzenbach, 2017, p. 59). Ou sobre Persépolis: “Tudo o que o nome real de Persépolis continha adquiria contornos e consistência, condensava-se, como que através de um ato criador único, numa forma eloquente e definitiva” (Schwarzenbach, 2017, p. 170).

Os nomes pertencem à linguagem, mas também à escrita, ao ato criador; isto é, através da linguagem ganham uma realidade única, que a viajante textual apresenta aos seus leitores, viajantes na palavra. Assim estes terão não só de re-construir o espaço que leram, mas sobretudo construir um outro a partir dos seus próprios contextos.

Não se pode apreender tudo o que está por detrás dos nomes, especialmente a magia que podem exercer. A linguagem por vezes falha a sua função comunicativa:

[…] frente à realidade, que nunca experimentou a dúvida que nos toma, nós que estamos tão apegados à palavra, quando deve, pois, tomar forma um ser ou um lugar que o nosso amor dota de há muito de uma aura imaginária e apenas evoca através do seu nome? (Schwarzenbach, 2017, p. 84)

Schwarzenbach sente um grande vazio, cujo preenchimento não consegue concretizar. O medo, não só a dúvida, apodera-se dela, quando entregue às dimensões infindáveis desta região, sem qualquer proteção.

A atitude revelada nos textos de Schwarzenbach de 1939-40, quando viajou pela última vez pela região, é diferente. Os artigos que nos chegam em forma de livro em Todos os caminhos estão abertos foram inicialmente escritos para jornais. Este livro só apareceu em 2000, numa edição de Roger Perret. São vinte textos, dos quais catorze publicados em jornais helvéticos em 1939 e 1940. As condições da viagem foram diferentes das descritas em Inverno no Próximo Oriente: Schwarzenbach já conhece parte da região (o efeito de re-conhecimento é um aspeto a que dá grande importância); viaja com Ella Maillart, uma viajante forte e experiente, que gosta de se relacionar com as populações autóctones e que tem interesses etnológicos, como nota Georgiadou (1996, p. 192). Schwarzenbach está fragilizada, acaba de sair de uma cura de desintoxicação. Por outro lado, as condições da viagem são melhores: desta vez ela tem um carro novo, um Ford com 17 cavalos, na altura um carro de sonho (infelizmente demasiado baixo para os caminhos do deserto e das regiões montanhosas, o que lhes trará alguns dissabores, ainda que sempre resolvidos, com a ajuda das populações). A viagem serve também para corrigir algumas heteroimagens europeias sobre os muçulmanos e as mulheres, como nos narra em “Duas mulheres sós no Afeganistão” (Schwarzenbach, 2016, pp. 111-119). Para Schwarzenbach, esta viagem representava “uma fuga” da Europa, da Alemanha hitleriana[7]. É curioso verificar que grande parte dos textos de Todos os caminhos estão abertos é escrita na primeira pessoa; Ella só é referida poucas vezes, aparecendo então a primeira pessoa do plural, contrariamente ao livro de Ella sobre a mesma viagem, A via cruel, onde Annemarie surge por detrás da figura de Cristina. Percebemos isso se virmos os artigos como reflexões pessoais, ainda que enquadradas numa viagem. É o movimento da paisagem para o interior da viajante, mais do que o movimento desta em direção à paisagem.

A sensibilidade de Annemarie Schwarzenbach à linguagem é aqui maior: os textos são mais poéticos, mais ‘musicais’, o seu eurocentrismo está mais difuso, precisamente pela maior subjetividade expressa nestes artigos, que misturam a reflexão e a narrativa. A autora confessa que não consegue distinguir claramente a realidade das lembranças de sonhos (cf. Schwarzenbach, 2016, p. 37) e ela própria (se) reflete na linguagem:

“A nossa vida parece-se com uma viagem...”, e mais do que uma aventura e uma excursão em regiões inabituais, a viagem parece-me ser um símbolo da nossa existência. (Schwarzenbach, 2016, p. 37)

Viajar é também uma luta contra o esquecer-se de que a vida é uma viagem, um percurso:

Esquecemo-lo, para não cedermos ao medo [...]. Em viagem a realidade muda de rosto com as montanhas, os rios, a arquitetura das casas, a disposição dos jardins, com a linguagem, a cor da pele. E a realidade de ontem arde ainda na dor da partida, a de anteontem é um episódio transato, que não regressará nunca mais, aquilo que se passou há um mês pertence ao sonho e à vida anterior. (Schwarzenbach, 2067, pp. 38-39)

A melancolia do olhar junta-se à experiência de um tempo que parece não avançar. Schwarzenbach olha com apreensão o avanço tecnológico ocidental com o seu potencial destruidor, preocupação que vamos encontrar em muitas outras e outros viajantes da época. Qual dos tempos, o oriental ou o ocidental, ganhará? E qual deverá ganhar? Schwarzenbach não tem respostas claras, não se consegue decidir, depois de ver na sua Europa querida o cataclismo da civilização ocidental e da sua tecnologia. Karolina Fell diz a esse respeito:

O processo de transformação das sociedades do Médio Oriente entre a tradição e a modernidade torna-se visível nas apresentações de pontos de atrito e contradições, criados pelo encontro de elementos da tradição e da modernidade. (Fell, 1998, p. 73)

Schwarzenbach aprecia a extrema cordialidade dos afegãos, apesar das enormes adversidades no deserto: aqui não há só tempestades de areia, há também oásis. É uma visão pessimista, melancólica da vida, mas que não se esgota na negatividade. Ela sente-se só e é através desse prisma que vê os outros, como já ficou dito, através do olhar intertextual. É também assim que vê o tchador da mulher oriental, de modo semelhante a muitas viajantes ocidentais, mas tentando perceber a perspetiva delas.

Voltemos à ‘magia’, àquela dimensão a que a autora tantas vezes recorre:

Ora, a viagem levanta um pouco a ponta do véu sobre o mistério do espaço, e uma cidade de nome mágico e irreal - Samarcanda a Dourada, Astracã ou Isfahã, a cidade da essência de rosa - torna-se real no momento em que nela pomos os pés e a tocamos com a nossa respiração viva. (Schwarzenbach, 2016, p. 38)

A magia aparece marcada pelas cores, normalmente modificadas por compostos (como “amarelo-enxofre”, “castanho-ferrugem”), mas também pela musicalidade da linguagem, sobretudo pelo ritmo e por aspetos formais, como repetições fónicas, construções sindéticas e assindéticas. Aqui, tal como em Inverno no Próximo Oriente, os nomes também têm um papel importante, como constitutivos desse aspeto mágico: “Ó magia dos nomes”, escreve a viajante em “A terra de Ninguém. Entre a Pérsia e o Afeganistão”. No artigo “Três vezes o Hindu Kush” diz que, a primeira vez que viu aquelas montanhas, queria escrever um hino:

Um hino ao seu nome, porque os nomes são mais do que designações geográficas, são música e cor, sonho e recordação, são o mistério, a magia - e longe de ser uma experiência dececionante, é antes uma coisa maravilhosa redescobri-los um dia, carregados de esplendor, de sombra e de fogo, e da cinza fria da realidade. (Schwarzenbach, 2016, p. 61)

A autora não está apenas a viajar: “Parti, de facto, não para conhecer o medo, mas para verificar o conteúdo dos nomes e experimentar a sua magia na minha carne” (Schwarzenbach, 2016, p. 62). Não admira, por isso, a frequência com que ela recorre à palavra “nome” - quase como um programa de viagem. Nomes que se esquecem, porque só são nomes num mapa, e nomes que não se podem esquecer, porque estão cheios de magia: “Resta-me a magia, o nome, a extraordinária emoção do coração” (Schwarzenbach, 2016, p. 67).

Vistos os textos deste modo, torna-se compreensível que alguns destes relatos pairem numa fronteira: “Não me cabe a mim decidir do encontro e da separação ou traçar a fronteira entre a realidade e a visão” (Schwarzenbach, 2016, p. 67).

A viajante sente-se solitária, sente que não tem forças perante a grandiosidade do deserto e das montanhas, quer regressar a casa. Perseguida por complexos de culpa, como muitas vezes na sua vida, acha que neste período de tantas dificuldades para a humanidade “não tem direito a uma felicidade pessoal” (Perret, 2000, p. 150). Vacila entre a resignação e o entusiasmo, nesta viagem com um forte tom de despedida:

Dizia para comigo que nunca mais voltaria à Ásia, que o Afeganistão bem podia continuar a não ser mais do que um nome, o Hindu Kush e o Turquestão visões efémeras, os vales felizes e nunca percorridos dos paraísos. (Schwarzenbach, 2016, p. 123)

Nesta afirmação, escrita num tom de resignação, esconde-se a sua dificuldade de escrita: “nunca mais pegarei numa caneta, nunca mais escreverei uma folha de papel” (Schwarzenbach, 2016, p. 113). O texto em que estas duas citações se inserem, “Cihil Sutun”, é um texto de despedida: da Ásia, do seu amor por Ria Hackin, a mulher do arqueólogo francês que a acolheu para a tratar da doença, após a partida de Maillart para a Índia; mas também uma despedida das esperanças que acalentou antes da partida de Genebra de conseguir ultrapassar a dependência da droga:

Não aprendi muita coisa de novo, mas vi tudo, vivi tudo na minha carne e, até mesmo no coração das regiões desérticas do passo de Lataband, nada senti para lá da dor inteiriçada dos adeuses. (Schwarzenbach, 2016, p. 124)

Os textos reunidos em Todos os caminhos estão abertos são de muito interesse, sobretudo porque, como nota Perret, “a linguagem torna-se viagem” (Perret, 2000, p. 159). O interesse reside na partilha feita pelo leitor das experiências de uma figura controversa, muito sensível e com uma linguagem muitas vezes poética, particularmente no segundo livro. O leitor não se confronta com um espaço, mas com uma visão subjetiva desse espaço, num diálogo da viajante com o mundo exterior, frequentemente hostil, porque ela assim o vê. Schwarzenbach viaja pelas paisagens, não tanto pelas pessoas.

A viagem foi uma derrota. A viagem seguinte, aos EUA, também representou uma derrota na viagem a ela própria, tendo mesmo Schwarzenbach sido expulsa do país, após tratamento pouco condigno. A sua partida para África marcou uma viragem acentuada: aí aprendeu a estar só consigo mesma, a aceitar-se, a não querer estar sempre em fuga. O regresso à Europa fá-la passar por Lisboa, onde quer ficar como correspondente de jornais helvéticos. A morte precoce na Suíça impede a concretização desse seu desejo. Nota-se, assim, como Schwarzenbach é uma pessoa sem raízes, sem espaço, o que contribui muito para a sua insegurança.

Desse modo, os seus textos, sobretudo os de 1939-1940, são menos “orientalistas” do que muitos outros textos de viajantes. A viajante-jornalista escreve numa carta a Ella Maillart, em 18 de março de 1942:

I want to understand the deep roots of our European crisis, and want to search for the source of real force we will need, during and after this terrific war, to build up in each soul the resistance not only against Faschism [sic], but against all evel [sic] and :wrong life9 which has brought it upon. […] - and I want to do all I can, within my capacities, to build up this dignified and beautiful aspect of the human soul. (Carta do espólio na Biblioteca Nacional Suíça, em Berna)

As autoras aqui abordadas representam dois olhares bem diferentes sobre realidades geográficas próximas. Sackville-West viu a Pérsia duma perspetiva colonial britânica, ainda que crítica em vários aspetos. Sendo mulher dum diplomata, está aberta a novas culturas, com curiosidade, revelando-se boa observadora e boa narradora, conhecedora do que representa fazer parte do império. O espaço sociogeográfico é visto de modo eurocêntrico, mas não colonial. Annemarie Schwarzenbach está à procura essencialmente de si própria nessa realidade outra, que lhe serve de ponto de partida para as suas reflexões. Os textos da autora suíça são mais pessoais, em viagem pela palavra no espaço histórico-geográfico, simultaneamente no exterior e no interior da viajante. Os textos de ambas podem ajudar o leitor a perceber melhor o mundo de hoje através das viagens literárias ao/ do passado.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Receção: 14/09/2019

Aceite para publicação: 27/10/2019

 

* Este artigo foi desenvolvido e financiado por Fundos Nacionais através da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito do Programa Estratégico “UID/ELT/00500/2019”. A tradução dos textos críticos alemães é de minha autoria.

[1] Existe uma vasta bibliografia sobre viajantes mulheres. Veja-se, por exemplo, o livro de Sónia Serrano ou de Peter Hulme/Tim Toungs (eds.) (2005), The Cambridge companion to travel writing. A coleção “Travel writing across the disciplines”, editada por Kristi E. Siegel, na editora Peter Lang, apresenta livros de grande interesse na matéria. Refiro somente o de Beátrice Bijon & Gérard Gâcon (eds.) (2009), In: Between two worlds. Narrative by female explorers and travellers.

[2] A sueca Maud von Rosen escreve que há estrangeiros que ela despreza, como uma senhora inglesa que manifestava uma “sovereign ignorance”, ou outra inglesa que se limitava a “doing the Orient” (Maud von Rosen (1937), Persian Pilgrimage: Being the story of a journey through Persia with its experiences and adventures. London: Robert Hale, p. 222), desapontada por não ver correspondida a sua visão ‘orientalista’ com que partiu da sua Inglaterra natal: “I have found no Oriental splendour anywhere in the East” (Maud von Rosen, 1937, p. 223).

[3] O livro de Charles Burdet e Derek Duncan (eds.) (2002) é muito informativo quanto a estas matérias.

[4] Para mais informações sobre Annemarie Schwarzenbach em português, pode-se ver, por exemplo, Gonçalo Vilas-Boas (2015) ou Emília Tavares/Sónia Serrano (2010).

[5] A morte na Pérsia, publicado entre nós pela Tinta-da-China, baseia-se nas mesmas vivências. Trata-se, contudo, dum texto que a autora nunca quis publicar.

[6] Inverno no Próximo Oriente foi publicado em 1934 com o título Winter im Vorderasien. Todos os caminhos estão abertos foi publicado por Roger Perret em 2000 com o título Alle Wege sind offen.

[7] Em 9 de abril de 1939, Schwarzenbach escreve a Ella Maillart: “Estou decidida a continuar esta atividade de viajar, investigar, de fazer jornalismo e de escrever. Neste momento preciso de alimento vindo do exterior, tenho de me libertar de mim própria, deixar-me ser acolhida pelo nosso mundo, ver, aprender, compreender.”