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Angiologia e Cirurgia Vascular

 ISSN 1646-706X

     

 

CASO CLÍNICO

Pseudoaneurisma da artéria Temporal superficial

Superficial temporal artery pseudoaneurysm

Carolina Lobo Mendes1, André Marinho, Juliana Varino, Luís Antunes, António Albuquerque Matos, Óscar Gonçalves

 

1Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

 

Autor para correspondência

 

RESUMO

Os pseudoaneurismas da artéria temporal superficial são raros, sendo responsáveis por cerca de 1% de todos os pseu­do aneurismas. Estão maioritariamente associados a traumatismos contusos ou penetrantes da região frontotempo­ral da cabeça.

Relata-se o caso de um jovem de 18 anos com aparecimento de massa pulsátil na região frontotemporal após trauma­tismo contuso cinco semanas antes. Submetido a tratamento cirúrgico com laqueação dos topos arteriais e exérese do falso aneurisma.

Palavras-chave: Pseudoaneurisma; Artéria temporal superficial; Traumatismo contuso;

 

ABSTRACT

Pseudoaneurysms of the superficial temporal artery are uncommon but mainly result secondary to blunt or penetrating trauma of the frontotemporal region of the head.

The authors report a clinical case of a young male with a false aneurysm of superficial temporal artery. Five weeks before he had a blunt trauma of the head. The authors did surgical resection via proximal and distal artery ligation.

Keywords: Pseudoaneurysm; Superficial temporal artery; Blunt trauma;

 

INTRODUÇÃO

A artéria temporal superficial é um dos ramos terminais da artéria carótida externa originando-se ao nível da base da glândula parótida, dando posteriormente diversos ramos que vascularizam a região frontal e temporal do crânio(8,9).

Esta artéria torna-se vulnerável a traumatismos devido à sua localização superficial nesta região frontotemporal (3,8,9).

Assim, apesar de raros, os aneurismas desta artéria são essencialmente secundários a traumatismos, mais frequentemente contusos e de etiologias variadas(2,3,6,8,9). São, então, mais comuns os falsos aneurismas, haven­do descrições raras de aneurismas verdadeiros da arté­ria temporal superficial com origem arterosclerótica, pós-traumática ou vasculítica(9).

Os falsos aneurismas da artéria temporal superficial correspondem apenas a cerca de 1% de todos os aneuris­mas traumáticos descritos(6,9). Pela sua raridade, devemos ter um elevado grau de suspeição diagnóstica na presen­ça de uma massa pulsátil no trajecto arterial com história traumática prévia(3).

 

CASO CLÍNICO

Jovem do sexo masculino, 18 anos, recorre ao serviço de urgência por apresentar massa palpável e indolor da região fronto-temporal direita com crescimento recente e agra­vamento nos últimos dias.

Sem antecedentes patológicos conhecidos, refere história de traumatismo contuso na referida localização em jogo de futebol cerca de 5 semanas antes.

Ao exame objectivo apresentava uma massa pulsátil palpável, com cerca de 1 cm de maior diâmetro, sem sinais inflamatórios locais ou lesões erosivas da pele associadas.

Realizado eco-doppler para confirmação diagnóstica, foi objectivado um falso aneurisma do ramo frontal da artéria temporal superficial direita, com cerca de 1,3x1,2 cm, sem sinais de trombose parietal.

Submetido a laqueação dos topos proximal e distal arte­riais com exérese do falso aneurisma. Sem intercorrências a registar peri-operatoriamente. Assintomático ao ano de follow-up.

 

DISCUSSÃO

A artéria temporal superficial é o sitio mais frequente de aneurisma craniofaciais pós-traumáticos devido à sua localização superficial.

Os aneurismas traumáticos da artéria temporal superficial foram descritos pela primeira vez por Thomas Bartolin em 1740 após um traumatismo craniano contuso (3,8,9).

Em 1934, Winslow e Edwards descreveram 108 casos de aneurisma de artéria temporal superficial, sendo 79 de origem traumática(3).

Os traumatismos contusos são a causa mais comum deste pseudoaneurismas, correspondendo a 75% dos casos descritos na literatura.

A maioria destes aneurismas apresenta-se como uma massa pulsátil frontotemporal, associada a cefaleia ou desconforto ao nível do ouvido. A maioria das queixas álgi­cas destes doentes, deve-se a fenómenos compressivos das estruturas adjacentes, nomeadamente estruturas nervosas.

As queixas geralmente ocorrem em média 2 a 6 semanas após o evento traumático que lhe deu origem (3,10,11). A fácil detecção de massas nesta zona, pela sua localização superficial, deve levar a um grau de suspeição diagnóstico elevado, devendo proceder-se à confirmação com exames complementares e tratamento breve.

Para além da história clínica e exame físico apropriados, o eco-doppler é um exame não invasivo muito apropriado para o diagnóstico e possível tratamento desta patolo­gia. O Eco-doppler apresenta, neste tipo de traumatismos, uma sensibilidade e especificidade de 94 e 97%, respecti­vamente, sendo o método de avaliação de eleição.

A AngioTC e AngioRM podem fornecer dados importantes no que diz respeito a lesões associadas intra ou extracra­nianas (3,9,10). Actualmente a Angiografia diagnóstica não tem um papel tão importante como outrora, sendo na maioria dos casos dispensável.

As opções terapêuticas actuais incluem compressão extrínseca eco-guiada do pseudoaneurisma, injecção de trombina eco-guiada, tratamento endovascular com exclusão aneurismática, nomeadamente através de coils, e abordagem cirúrgica (2,4,5,11).

A escolha do tratamento deve ser adaptada ao doente e ao médico, no entanto, na ausência de sintomas compres­sivos, pode aceitar-se a compressão externa eco-guiada como uma primeira abordagem(11).

A exclusão endovascular deve ser programada e realizada em centros com larga experiência dado ao risco, ainda que pequeno, de AVC associado. Autores defendem, no entan­to, que é uma forma de abordagem segura em doentes selecionados.(1,5,11)

 

 

 

 

 

 

A correcção cirúrgica destes aneurismas continua a ser o tratamento de eleição, sendo preconizada a laqueação dos dois topos arteriais, com ressecção e exérese do pseudoa­neurisma (1,2,7).

Devido à sua evolução imprevisível e ao risco iminente de ruptura, os doentes devem ser orientados para tratamen­to o mais precocemente após o diagnóstico (2,4,7)

 

BIBLIOGRAFIA

Van Uden DJ, Truijers M, Schipper EE, Zeebregts CJ, Reijnen MM. Superficial temporal artery aneurysm: diagnosis and treatment options. Head Neck 2013;35:608–14.         [ Links ]

Egbert J.D. Veen*, Floris B. Poelmann and Frank F.A. IJpma ; A trau­matic superficial temporal artery aneurysm after a bicycle acci­dent JSCR 2014; 10 (2 pages) doi:10.1093/jscr/rju112        [ Links ]

Ana Julia de Deus Silva,- Ricardo Virginio dos Santos, Salvador José de Toledo Arruda Amato, Alexandre Campos Moraes Amato; True posttraumatic aneurysm of the temporal artery , J Vasc Bras. 2016 Abr.-Jun.; 15(2):165-167        [ Links ]

 

*Autor para correspondência

Correio eletrónico: carolinalobomendes@gmail.com (C. Mendes).

 

Recebido a 2017-05-01;

Aceite a 25-10-2017;

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