Ontem à noite, depois da tua partida definitiva, fui para aquela sala do rés-do-chão que dá para o parque, fui para ali, onde fico sempre no mês trágico de Junho, esse mês que inaugura o Inverno.
Tinha varrido a casa, tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral. Estava tudo limpo de vida, isento, vazio de sinais, e depois disse para comigo: vou começar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba. Tinha lavado as minhas coisas, quatro coisas, estava tudo limpo, o meu corpo, o meu cabelo, a minha roupa, e aquilo que encerrava o todo também, o corpo e a roupa, estes quartos, esta casa, este parque.
E depois comecei a escrever.