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Relações Internacionais (R:I)

versão impressa ISSN 1645-9199

Relações Internacionais  n.31 Lisboa set. 2011

 

Os Estados Unidos e Osama bin Laden uma década depois a derrota da Al-Qaida e o fim da unipolaridade?

 

Bruno Cardoso Reis

Licenciado e mestre em História (Faculdade de Letras de Lisboa). Tem o mestrado em Historical Studies pela Universidade de Cambridge (2003). É doutor em Segurança Internacional (War Studies, King’s College) desde 2008, e a sua tese sob o título Big Armies and Small Wars deverá ser publicada durante o próximo ano. Em 2007 publicou Salazar e o Vaticano que recebeu os prémios Vítor de Sá e Aristides de Sousa Mendes. É actualmente investigador no ICS – UL e do IDN e investigador associado do King’s College. É membro do CEHR – UCP, do IISS e da APCP.

 

RESUMO

Uma década após os ataques terroristas de 11 de Setembro, existem alguns tópicos que podem ser desenvolvidos para melhor compreendermos as transformações ocorridas. O artigo começa por explorar os contornos da criação da Al-Qaida avaliando se representou uma nova forma de terrorismo, se alterou as dinâmicas da segurança internacional e qual o real impacto da Al-Qaida em termos da segurança internacional. Depois avalia o impacto do 11 de Setembro na forma de pensar as relações internacionais, concluindo com a análise da Al-Qaida no sistema internacional e o seu futuro após a morte de bin Laden.

Palavras-chave: Estados Unidos, 11 de Setembro, terrorismo, Al-Qaida

 

US and Usama bin Ladin a decade after. The al-Qaida’s defeat and the end of the unipolarity?

ABSTRACT

A decade after the 9/11 terrorist attacks there are some issues that could be examined in order to understand the transformations occurred. This article explores the origins of Al-Qaida and tries to understand whether Al-Qaida had represented a new form of terrorism or a reason to the international security changes and also explores the real impact of Al-Qaida in the international security. Then it examines the 9/11 impact on the way to think International Relations discipline, and analyses the Al-Qaida in the international system and its future after bin Laden’s death.

Keywords: United States, 9/11, terrorism, Al-Qaida.

 

Os ataques do 11 de Setembro de 2001 chocaram o mundo. Percebe-se porquê. Os ataques orquestrados por um grupo de 19 terroristas da Al-Qaida – uma organização terroristas islamita radical liderada por Osama bin Laden (1932-2011) – usaram aviões de passageiros como armas para destruírem as Torres Gémeas, o edifício mais alto dos Estados Unidos, a superpotência por excelência, e atingiram imponentemente o Pentágono, o quartel-general das Forças Armadas mais poderosas do planeta. Numa época dominada pela secularização, pelo menos no Ocidente, atacavam em nome de uma guerra santa.

Passada uma década, o que fundamentalmente interessa perceber, parece-nos ser:

 

• A Al-Qaida representou uma nova forma de terrorismo que alterou as dinâmicas da segurança internacional?

• Com que objectivos e porquê surgiu a Al-Qaida dos despojos do triunfo do Ocidente na Guerra Fria?

• Teve um mero grupo terrorista um real impacto em termos da segurança internacional?

• Teve o 11 de Setembro algum impacte na forma de pensar as relações internacionais?

• Qual foi o impacto da Al-Qaida no sistema internacional e qual será o seu futuro, após a morte de bin Laden?

 

UM TERRORISMO DIFERENTE E COM FUTURO?

Muito se falou e temeu em 2001 uma era futura dominada por um novo superterrorismo face ao qual até as superpotências seriam impotentes. Este cenário mais pessimista não se verificou. Ou seja, o 11 de Setembro de 2011 não marcou o início de uma década de atentados terroristas muito frequentemente causando milhares de mortos num momento.

Podemos ver hoje que um dos problemas da Al-Qaida com o 11 de Setembro foi que não só levou a uma resposta violentíssima dos Estados Unidos contra si, como estabeleceu um patamar de expectativas difícil de igualar.

O que não anula o facto de que a Al-Qaida elevou de forma terrível a fasquia desta forma de combate essencialmente psicológico. Há, portanto, um maior risco de novos atentados com esse nível de ambição ou superior – o terrorismo vive do choque causado – ao 11 de Setembro.

Mais ainda, se não houve terrorismo maciço nesta década, houve uma massa de terrorismo ligado ou alinhado com a Al-Qaida. Deram-se vários ataques significativos contra países ocidentais – embora os Estados Unidos nunca mais tenham sido atingidos, uma clara derrota da Al-Qaida, ainda que por pouco em vários casos. Houve ainda muitos ataques, geralmente menos notados, contra aliados do Ocidente e inimigos da Al-Qaida fora do Ocidente, desde Java até Bombaim, passando pela Arábia Saudita e chegando até Rabat. O que significa que os horizontes das relações internacionais ainda precisam ser mais alargados.

E, apesar de não na forma de ataques com milhares de mortos da cada vez, pode dizer-se que com a Al-Qaida ganhou preeminência um estilo de terrorista relativamente novo pela conjugação de duas características principais:

 

• um modus operandi que procura levar a cabo coordenadamente vários ataques terroristas simultâneos;

• uma estrutura organizacional transnacional, que recusa expressamente uma identificação nacional1.

 

Quanto aos ataques simultâneos há indicadores fortes de que esta é uma marca que a Al-Qaida tem procurado manter. Foi assim com o 11 de Setembro, tinha sido assim antes com os ataques de 7 de Agosto de 1998 contra as embaixadas norte-americanas no Quénia e Tanzânia. E foi assim também com o 7 de Julho de 2005 em Londres e o 11 de Março de 2004 em Madrid. Esta forma de operar torna o terrorismo mais aterrorizador e dificulta uma resposta eficaz.

O ataque do Lashkar-i-Taiba, um grupo jihadista próximo da Al-Qaida e baseado no Paquistão, em Bombaim, a 26 de Novembro de 2011, pode ser visto como um sinal de difusão deste modus operandi – consistiu em mais de 10 ataques simultâneos, que dividiram e confundiram as forças de segurança e espalharam o terror.

Mais recentemente ainda, o último grande ataque terrorista – na Noruega, em Julho de 2011 – parece mostrar que até um lone wolf, um terrorista solitário, ironicamente hostil ideologicamente com a Al-Qaida, pode imitar este novo modelo de terrorismo. Parece portanto haver uma perigosa tendência na multiplicação deste modus operandi2.

O 11 de Setembro, do ponto de vista do terrorista como táctica, está certamente entre os ataques mais bem-sucedidos da história se não mesmo o mais bem-sucedido de sempre (daí a imitação): pelo grau de destruição, nunca antes visto, mais de trinta vezes o número de vítimas do maior atentado anterior; e por ter violado a barreira psicológica da invulnerabilidade militar do território continental dos Estados Unidos que remontava ao ataque britânico a Washington em 1812.

Tacticamente, portanto, o 11 de Setembro foi um grande sucesso para a Al-Qaida. Mas também criou um nível de expectativas difícil de gerir no futuro. E colocou a questão do que fazer estrategicamente com este ataque, que obteve com ele a Al-Qaida? Tema da próxima secção.

 

PRINCÍPIOS E FINS DA AL-QAIDA, SUCESSOS E FRACASSOS

A Al-Qaida – ou A Base – surgiu com essa designação entre 1988 e 1992, em torno da liderança de Osama bin Laden (1932-2010). Ela nasceu da Guerra Fria. Referimo-nos não só às bem conhecidas circunstâncias da sua origem, mas sobretudo – o que tem sido menos sublinhado – à forma como uma certa leitura de bin Laden quanto ao fim da Guerra Fria determinou o essencial das suas opções que culminaram no 11 de Setembro de 2001.

Ela teve origem como é sabido nos esforços crescentes feitos durante aquela que seria a última década da Guerra Fria para apoiar a guerrilha contra a URSS no Afeganistão. Para os Estados Unidos a ideia era simples e irresistível – desgastar o poderio soviético, com fundos, armas e homens em boa parte fornecidos por outros. Para a Arábia Saudita era uma forma de mostrar serviço ao Ocidente e ao islão. Para o Paquistão era uma forma de fazer outros pagarem a sua agenda de aquisição de profundidade estratégica no Afeganistão evitando ser encurralado entre duas ameaças combinadas – a Índia e a URSS.

Bin Laden encontrou a sua vocação neste contexto. Ele seria um gestor como o seu pai, mas não no ramo da construção, e sim no da demolição de uma superpotência, a URSS. Mas quem destrói uma superpotência pode sempre tentar destruir outra se ela também se revelar avessa aos seus propósitos.

O que nos conduz à questão do final da Guerra Fria e das lições que daí se tiraram para o futuro do sistema internacional. Em suma, quem ganhou e porquê?

 

• Nos Estados Unidos valorizou-se sobretudo o papel de Reagan no final da Guerra Fria, e a sua política externa assertiva e algo unilateral, assim como o poderio militar e tecnológico crescente dos norte-americanos – fez-se uma interpretação mais realista.

• Na Europa Ocidental valorizou-se sobretudo as novas normas dos direitos humanos pós-Helsínquia e a conversão de Gorbatchev, o papel dos dissidentes que as promoveram no Leste como Vaclav Havel, e o das novas instituições e grande liberdade e prosperidade da integração europeia levando ao grande desejo de entrar na CEE de boa parte da Europa de Leste – fez-se uma interpretação essencialmente liberal e institucionalista.

• Os islamitas radicais ligados a bin Laden consideraram que tinha sido a sagrada guerrilha, a jihad, e o islão que triunfaram no Afeganistão e ganho a Guerra Fria. Tinham sido eles – com a protecção divina – e não o Ocidente, quem ganhou a Guerra Fria. Tinham sido os mujahaddin árabes e afegãos que tinham derrotado uma URSS muito poderosa militarmente, utilizando a guerrilha, do terrorismo, do combate assimétrico. Em suma, bin Laden e os seus seguidores formularam uma interpretação terrorista do final da Guerra Fria.

 

Poderia pensar-se que a humilhante recusa da oferta feita repetidamente por bin Laden à dinastia saudita de aplicar esta lição contra o agressivo Iraque de Saddam Hussain, e a vitória da alternativa, a Blitzkrieg dos Estados Unidos em 1991, teria feito bin Laden ver a sabedoria da Realpolitik saudita e comprovado definitivamente a hegemonia política e militar dos Estados Unidos no pós-Guerra Fria3.

Mas não foi assim com bin Laden – uma personalidade pouco dada a dúvidas – que, logo a seguir, em 1992-1993, acreditou ver a confirmação da validade desta sua visão das relações internacionais pós-Guerra Fria. Uma das primeiras acções da incipiente Al-Qaida baseada no Sudão – onde o popular bin Laden se exilou, voluntariamente, em 1992 – foi apoiar os grupos armados que na vizinha Somália faziam guerrilha contra a intervenção militar dos Estados Unidos, tal como ele o tinha feito no Afeganistão. A retirada precipitada das tropas norte-americanas, em 1993, alguns meses após uma emboscada em que morreram 18 soldados norte-americanos, tê-lo-á convencido de que os Estados Unidos eram realmente um tigre de papel.

A estratégia da Al-Qaida assentou, portanto, no pressuposto que se revelou errado – mas que não era delirante – de que os Estados Unidos eram, tanto ou mais do que a URSS, um Golias vulnerável às tácticas do terrorismo e da guerrilha. Bin Laden deu-se ao trabalho de listar nove casos bem-sucedidos de guerrilha islâmica contra estados mais poderosos – a começar pela URSS no Afeganistão, passando por Israel e os Estados Unidos no Líbano, e referindo explicitamente a Somália, para terminar com ataques da própria Al-Qaida4.

A derrota dos Estados Unidos pela Al-Qaida por via assimétrica – terrorismo e guerrilha – iria, segundo bin Laden, fazer com que se afastassem do Médio Oriente. Depois, seria fácil fazer cair os regimes árabes que dependiam do apoio dos Estados Unidos. Tinha sido assim com os regimes comunistas no Leste da Europa, e em 1992 com o regime comunista afegão de Najibullah.

Livre do Ocidente, o islão guiado pela Al-Qaida poderia recuperar a sua unidade e seria um vasto califado e uma nova superpotência. Este tem sido o objectivo estratégico máximo declarado da Al-Qaida. E é claro que falhou neste aspecto.

A Al-Qaida ignorou, nomeadamente, a distinção entre intervenções ocidentais voluntárias por razões humanitárias que se começam a causar muitas baixas perdem sentido, e intervenções consideradas vitais e necessárias. Ora o Médio Oriente é de importância vital para o Ocidente. De tal forma, que foi o mais liberal e menos intervencionista dos presidentes dos Estados Unidos das últimas décadas, Jimmy Carter, quem declarou, expressamente, uma doutrina implícita há muito, que os Estados Unidos usariam todos os meios necessários para impedir que uma única potência hostil controlasse todo o petróleo do Médio Oriente5. A Al-Qaida aumentou o preço de o fazer mas não a ponto de o tornar insuportável.

E, apesar de derrotada no que os seus discursos apontavam como o seu objectivo estratégico central, a Al-Qaida obteve pelo menos três objectivos intermédios importantes depois do 11 de Setembro. O primeiro tem a ver com o estabelecimento da Al-Qaida como o principal movimento islamita violento do mundo em termos da atenção dos media, ocidentais e não só6. Este é um ponto especialmente valorizado por aqueles que consideram que o terrorismo vive menos de uma lógica estratégica clássica, e mais de uma lógica social – de sobrevivência, coesão e afirmação de um grupo em que o recurso à violência passa a ser um identificador essencial7. O segundo, com a retirada dos Estados Unidos de todas as suas forças militares da Arábia Saudita, o que permitiu à Al-Qaida passar a poder reclamar que tinha «libertado» a terra mais santa do islão. E por fim, os Estados Unidos invadiram o Afeganistão em 2002 e o Iraque em 2003, algo que a Al-Qaida esperava como resultado da provocação do 11 de Setembro – pois assim forçaria os norte-americanos a mostrar a sua face de agressores, de imperialistas, a todo o mundo islâmico e iriam provocar uma jihad defensiva.

Foi, e é, neste quadro que o impacto e o sucesso de mais longo prazo da Al-Qaida se joga. Se acabar por levar ao colapso do movimento o seu falhanço será total. Mas sobre isso, e sobre a morte de bin Laden falaremos a seguir.

 

IMPACTO DA AL-QAIDA NA SEGURANÇA INTERNACIONAL

O facto de a Al-Qaida não ter atingido o seu objectivo principal é algo frequente nos grupos terroristas, que geralmente são tão maximalistas nos objectivos e violentos nos meios, quanto mínima é a sua capacidade para os obter. Isto não significa que a Al-Qaida não tenha transformado significativamente a segurança internacional, ainda que indirectamente e não necessariamente no sentido que mais lhe convinha.

É inegável que o terrorismo passou a estar claramente entre as ameaças prioritárias em todos os documentos estratégicos dos principais estados – geralmente revistos pouco depois do 11 de Setembro de 2001.

Tudo indica também que a Al-Qaida passou a ser o grupo terrorista mais temido no Ocidente e não só – um objectivo implícito de qualquer grupo deste tipo.

Tal teve um impacto profundo, não apenas nos discursos ou nas percepções na opinião pública, mas também nas opções e nas instituições de segurança, nomeadamente nos Estados Unidos e no Ocidente:

 

• Forçou as Forças Armadas dos Estados Unidos a ultrapassar a «síndrome do Vietname» e a adaptar-se e empenhar-se a fundo e dar prioridade a missões não convencionais, e o mesmo sucedeu com outras instituições militares ocidentais.

• Chocou de frente com a «síndrome de Watergate» e o modelo de segurança dominante no Ocidente democrático a partir dos anos 1970, ao tornar evidente os perigos de manter em compartimentos estanques a segurança interna ou externa, e estabelecer fortes divisórias entre vários serviços de informações, polícias, forças de segurança.

• Acelerou fortemente a robotização da guerra. A luta armada contra a Al-Qaida e os seus aliados tem sido cada vez mais feita com o recurso a drones – o Presidente Obama lançou mais ataques deste tipo no primeiro ano da sua presidência do que em todos os anos desde 2001.

 

De facto, a Al-Qaida, e os conflitos em que por sua causa mais ou menos directamente os Estados Unidos e os seus aliados se viram envolvidos, obrigaram as respectivas forças armadas a adaptarem-se em termos de estrutura, de equipamento, de treino, de doutrina para combater conflitos assimétricos. Sejam estas operações de contraguerrilha, de estabilização/pacificação ou de operações especiais de contraterrorismo como a que matou bin Laden8.

Uma ideia dominante na nova doutrina de segurança pós-11 de Setembro tem sido a de uma abordagem abrangente – comprehensive approach9. Isto significou quebrar, ou pelo menos atenuar significativamente a separação entre as várias forças de segurança e serviços de informações, uma das formas encontradas para evitar futuros abusos de poder depois do escândalo das escutas de Watergate envolvendo o Presidente Nixon, com impacto no resto do Ocidente.

O 11 de Setembro marcou, portanto, uma mudança importante, pelo menos ao nível das regras, que se antes impediam, e que agora passaram a obrigar à partilha de informações entre serviços policiais, serviços de contra-espionagem e contraterrorismo internos e externos. Houve ainda um impulso de reforço da cooperação neste campo entre serviços de diversos países do Ocidente. E também ao nível dos militares houve transformações, passando estes a contribuir mais para operações especiais e capacidade de resposta pós-atentados; mas tendo de valorizar mais a componente das informações, contrariando velhos preconceitos.

A questão em aberto é saber até que ponto estas transformações foram profundas e serão duradoiras. Muito dependerá da consolidação ou não de uma tendência de longo prazo na segurança internacional para a relativa ausência de conflitos convencionais e a maior frequência e importância de ameaças não convencionais10.

A luta contra a Al-Qaida e outros grupos seus aliados ou imitadores tem sido cada vez mais um conflito de drones/robots, já mais visível no ar, mas que também já se estende à terra. Estas máquinas de guerra automatizadas começaram por ser em números muito limitados e com funções de vigilância. Hoje os drones são muito significativos em número e variedade de missões, e têm assumido cada vez mais importância ofensiva11.

No raide visando bin Laden em Maio de 2011 a decisão fundamental de Obama foi saber se deveria ser um robot armado a lidar com o homem mais procurado desde o 11 de Setembro de 2001 ou uma operação de forças especiais, os Seals. Esta era uma discussão impensável há dez anos atrás.

Claro que com isto surge uma série de problemas novos e fundamentais:

 

• Éticos e estratégicos, sobre se isto não torna a guerra perigosamente virtual e aparentemente indolor a ponto de levar a mais mortos entre a população civil confundida ou misturada com os alvos, cuja reconquista se pensa ser uma componente essencial da comprehensive approach.

• Operacionais, pois a informação nunca é completa e a decisão humana tem sempre uma margem de erro, mas o passo seguinte – de eliminar o erro humano automatizando os drones – seria abrir uma outra caixa de Pandora.

• Proliferação, pois esta é uma tecnologia armada relativamente barata, muito mais barata e acessível do que jactos ou mísseis nucleares.

 

Aparentemente o Hezbollah usou drones «suicidas» primitivos na sua guerra híbrida contra Israel. Será preciso esperar muito mais tempo para outros grupos, quem sabe alguma das Al-Qaidas, também fazerem uso destes robots armados? Afinal, eles foram suficientemente engenhosos para transformar aviões civis em armas letais12.

Por si só nenhuma tecnologia transformou a guerra, para não falar da segurança internacional. Foi preciso dar-lhe o uso eficaz por uma adaptação inteligente de estruturas e doutrinas de emprego a determinados fins estratégicos.

Mas seria disparatado negar o impacto potencialmente enorme desta robotização da guerra que, não fora a ameaça premente da Al-Qaida e companhia, poderia ter continuado dormente por muito mais tempo. Poderemos estar, relativamente à robotização da guerra, num período de transição semelhante ao da guerra aérea e da mecanização exactamente há um século atrás.

 

IMPACTO DA AL-QAIDA NA DISCIPLINA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

O 11 de Setembro de 2001 também abalou alguma coisa da disciplina das relações internacionais, desafiando as grandes escolas das relações internacionais, relativamente:

 

• às normas de avaliação da distribuição do poder material e militar entre estados considerada essencial pelas correntes mais realistas – ficou evidente que muito do enorme investimento dos Estados Unidos em armamento altamente sofisticado e caro era inútil numa guerra de guerrilha;

• à noção de que, com o fim da Guerra Fria, os estados estavam cada vez mais ligados por normas multilaterais, instituições internacionais – ficou evidente que a globalização não permitia apenas a paz no mundo por via do doce comércio globalizado como esperam as correntes mais liberais, também facilitava a acção de terroristas.

 

Porém, se o inesperado final da Guerra Fria não fez ninguém mudar radicalmente os seus paradigmas teóricos, dificilmente um evento como o 11 de Setembro o faria13.

Apesar de não ter revolucionado o campo das relações internacionais – nem ser evidente que o devesse fazer, pois uma disciplina académica não tem de ter uma agenda definida apenas pela actualidade –, ainda assim, a década do pós-11 de Setembro trouxe ou acentuou quatro tendências importantes e interessantes no campo das relações internacionais. Em primeiro lugar, mais atenção a conflitos violentos não convencionais – guerrilha, terrorismo e outras formas de violência mais ou menos organizada – depois, mais atenção ao papel crescente de actores não estatais, na sua complexidade, desde as Organizações Não Governamentais (ONG) «tradicionais» a organizações criminosas e terroristas; mais atenção à religião, como algo que não é exterior às relações internacionais, mas que deve ser considerado a par de outras dimensões seculares de organização e convicção; assim como mais atenção aos actores não ocidentais no campo internacional, que foi historicamente formado pelos estados ocidentais e dominado por eles até há muito pouco, ou mesmo até hoje.

Portanto, a Al-Qaida pode não ter alterado fundamentalmente a forma de pensar as relações internacionais, mas levou a um aumento significativo de estudos, ainda que essencialmente empíricos e descritivos, sobre as formas de conflito não convencional, sobre actores não estatais, sobre o papel do islão e de outras regiões que não o Ocidente.

Não houve uma insurreição nas relações internacionais, mas a insurreição passou a merecer mais presença nas publicações do campo da segurança internacional dentro das relações internacionais. Não houve uma conversão nas relações internacionais, mas a religião passou a ser mais uma dimensão a ter em conta. Não se deixou de focar o Estado, mas percebeu-se que as ONG mereciam atenção e, sobretudo, não queriam apenas significar organizações simpáticas e pacíficas, podiam também ser grupos extremistas e violentos. As relações internacionais ainda são uma disciplina muito americana e ocidental, mas têm procurado sê-lo um pouco menos.

Mais uma vez, ainda é cedo para perceber se a transformação será durável e se irá aprofundar e acabará por ter algum impacto significativo nos aspectos mais centrais da própria teorização da disciplina das relações internacionais.

Seria tentador concluir que, em termos genéricos e teóricos, estes eventos tenderam a reforçar as tendências construtivista e crítica nas relações internacionais, as quais tendem a valorizar mais a dimensão cultural – em que a religião, e as visões não ocidentais do mundo teriam mais cabimento. Porém, por outro lado, o realismo viu também fortemente confirmada a importância de algumas das suas prioridades e abordagens tradicionais, como sejam: a centralidade do dilema de segurança e da segurança em geral, ou ainda o papel central da Realpolitik e das grandes potências na vida internacional.

Deste ponto de vista, o maior perdedor seriam as correntes mais neoliberais e centradas na economia, pelo menos até à pequena depressão que nos atingiu a partir de 2008...

 

CONCLUSÃO: A EROSÃO DA UNIPOLARIDADE, A MORTE DE BIN LADEN E O FUTURO DO TERRORISMO

A ideia de que um pequeno grupo terrorista como a Al-Qaida possa ter um impacto importante nas dinâmicas sistémicas das relações internacionais é naturalmente incrível. No entanto, ainda que indirectamente, e por via da reacção que provocou, em três aspectos distintos mas relacionados, parece-nos que de facto isso aconteceu:

 

• ao levar os Estados Unidos, o actor inegavelmente mais poderoso do sistema, a repensarem radicalmente a sua estratégia nacional, não uma, mas pelo menos duas vezes;

• ao levar os Estados Unidos a reagirem usando a força militar de forma largamente unilateral aos ataques do 11 de Setembro, a Al-Qaida aumentou os receios e as resistências ao enorme poderio norte-americano;

• ao mostrar as possibilidades indirectas para combater grandes potências.

 

Hoje poucos se lembram, mas George W. Bush, na sua primeira campanha presidencial, tinha-se comprometido com uma política externa «humilde», de contenção realista das outras grandes potências, e de intervenções armadas altamente selectivas. Bush criticou, por exemplo, a presença prolongada de forças militares dos Estados Unidos na ex- -Jugoslávia. Daí passou, depois do 11 de Setembro, a uma estratégia nacional, de Setembro de 2002, explicitamente advogando a acção unilateral e a adopção da guerra preventiva como a única resposta a ameaças assimétricas – terrorismo e proliferação nuclear14.

Foi o próprio George W. Bush que, por sua vez, iniciou a segunda viragem significativa – em resposta aos problemas colocados pelo crescente soft e hard balancing, pelo aumento do contrabalançar duro e suave nas acções de muitas potências em reacção a essa postura norte-americana. Fê-lo com a sua estratégia de 2006, que, se não é de contenção, é pelo menos muito mais contida e valorizadora das alianças, ainda que continuando a fazer do terrorismo uma prioridade15.

Obama, com a sua estratégia de 2010, procurou ir para além do terrorismo, mas sem abandonar esse combate considerado fundamental. Mas a sua estratégia dupla de retraimento e preferência por opções multilaterais mais legitimadas e com esforços mais compartilhados, e ao mesmo tempo de chamado counterpunching – basicamente um tradicional off-shore balancing da grande potência marítima a aliar-se a pequenas e médias potências periféricas na contenção de grandes potências continentais regionais por um auxílio diplomático e militar mais ou menos permanente16.

Embora estejamos cientes que a avaliação do aumento significativo de hard e soft balancing dos Estados Unidos não é unânime entre os especialistas de relações internacionais, parece-nos fazer muito sentido, desde que com alguns qualificativos, que os Estados Unidos podem mudar de política, e estão idealmente situados para assumirem postura menos ameaçadora de off-shore balancer17. Por falta de espaço, iremos apenas aludir a alguns exemplos que nos parecem especialmente significativos desta dinâmica de contrabalançar os Estados Unidos:

 

• a forma como a diplomacia de Washington e Londres não conseguiu obter praticamente nenhum voto no Conselho de Segurança das Nações Unidas na sua tentativa falhada de alcançar uma segunda resolução em 2002 autorizando expressamente a invasão do Iraque, perante uma acção deliberada – de soft balancing – da França e de outros membros permanentes;

• a proliferação nuclear no Irão, embora com raízes antigas, sobretudo depois de 2002-2003, do discurso de George W. Bush sobre o Eixo do Mal e da invasão do Iraque, assumiu marcadamente uma feição de hard balancing nuclear e assimétrico como forma de contrariar uma acção hostil norte-americana;

• a forma como a associação entre a China e a Rússia e vários países da Ásia Central na Organização de Cooperação de Xangai ganhou estruturas institucionais e realizou os seus primeiros exercícios militares conjuntos em 2002-2003.

 

Por outro lado, o 11 de Setembro, e o que se seguiu, valorizou o terrorismo e a guerrilha como a forma – a par e potencialmente em ligação com a da aquisição de armas nucleares – de combater de modo assimetricamente muito eficaz o imenso poderio militar dos Estados Unidos e do Ocidente e das outras grandes potências, dissuadindo-as mesmo de intervir militarmente em regiões onde esta ameaça assimétrica está presente. O Irão ou a Coreia do Norte são exemplos do que pode ser alcançado conjugando estes diferentes meios assimétricos – proliferação nuclear, apoio a grupos terroristas, e criação de milícias irregulares para dissuadir uma intervenção militar dos Estados Unidos.

Tudo isto resultou, na última década, numa forte erosão da unipolaridade norte-americana, que a crise financeira e económica, de momento restrita ao Ocidente, veio acentuar. O que está longe de significar que os Estados Unidos estejam em decadência terminal, ou que a Al-Qaida não possa colapsar em breve.

O facto de bin Laden ter sido morto ao fim de dez anos quebrou o mito da sua invencibilidade, mostrou que a Al-Qaida pode ser atingida. Mas com que efeito nas dinâmicas internacionais da próxima década?

Existem mais estudos do terrorismo. Mas, infelizmente, não permitem previsões claras sobre o futuro. De facto, os estudos especificamente sobre estratégias de decapitação – eliminação de lideranças terroristas – como a que tem visado a Al-Qaida e bin Laden, apontam para a eliminação do líder tanto poder ser decisiva como não, dependendo das circunstâncias. Se os grupos terroristas têm uma forte base identitária e uma forte legitimação e uma constante fonte de recrutamento com base na ideia de que agem em defesa da própria comunidade, os efeitos, mesmo de decapitações sucessivas e cumulativas – veja-se a ETA ou o Hamas –, são limitados ou contraproducentes. Podem reduzir muito a capacidade operacional, mas não destroem o grupo, e podem até radicalizar as suas tácticas.

Já os grupos mais internacionalistas e de base mais puramente ideológica e ofensiva geralmente desapareceram rapidamente por via da decapitação da liderança – como as Brigadas Vermelhas italianas ou o grupo alemão significativamente conhecido por Baader-Meinhof.

Mas o terrorismo dificilmente desaparecerá. O grande obstáculo a que isso aconteça é que não é preciso muito para fazer terrorismo – até a título individual. Sobretudo hoje, essa possibilidade está facilitada, pois basta escolher entre uma de entre muitas ideologias radicais e um dos muitos conselhos práticos, universalmente disponíveis na internet, sobre como fazer uma bomba.

Outra dimensão deste problema é saber se o islão é por natureza um elemento transnacional mas tão forte como marca identitária, que o islamismo radical não seria uma ideologia como as outras, o que explicaria a resiliência da Al-Qaida, até ver. Claro que a Al-Qaida e os seus simpatizantes são uma pequena minoria no vasto mundo árabe e islâmico em revolução ou em evolução acelerada. Será que irá caminhar no sentido da democracia pluralista e da prosperidade, ou irá cair em conflitos violentos e novas e mais duras ditaduras, quiçá islamitas? Será que o novo e imprevisível contexto árabe e islâmico irá dar abrigo e força ao terrorismo islamista da Al-Qaida ou de outros, ou torná-lo mais marginal e irrelevante?

Aqui a questão fundamental é provavelmente uma que ainda não foi aberta mas será nos próximos anos: o que irá acontecer à Arábia Saudita com o fim da geração de reis filhos do fundador do Estado? Será ela atingida por uma crise violenta de sucessão ou revolução? Se sim, qual o papel dos seguidores de bin Laden?

Seguros só podemos estar que bin Laden morreu, a Al-Qaida central pode estar moribunda, mas nada indica que o terrorismo morreu com ele. Na luta contra o terrorismo os Estados Unidos e os seus aliados não são invulneráveis, mas continuam a ter instrumentos poderosos de vigilância, informação, de ataque, e estão portanto longe de ser impotentes e têm obtido frequentes sucessos. A morte de bin Ladin é uma prova de vida para a Al-Qaida, um teste fundamental da sua capacidade de regeneração e de continuar a atacar o Ocidente. Os tempos que se avizinham arriscam-se a continuar a ser bastante interessantes por boas ou más razões.

 

NOTAS

1 Mesmo as novas franchisings da Al-Qaida tomam uma designação geográfica (Magrebe, Península Arábica, Mesopotâmia) e não nacional – para eles a única nação é a umma, a única pátria é o islão e os estados existentes são ilegítimos.

2 Claro que, como geralmente sucede nestas questões, a Al-Qaida não o inventou inteiramente, mas deu nova visibilidade e uma função autónoma. Com a Al-Qaida estes ataques terroristas simultâneos já não surgem como um momento inicial no desencadear ou acelerar de uma luta mais ampla – como sucedeu com os Viet-Minh e o levantamento terrorista na região de Hanói em 1946, ou a UPA, o terrorismo de Fevereiro e Março de 1961 no Norte de Angola. Estes ataques espectaculares passam a ser eles próprios o elemento central do arsenal da Al-Qaida.

3 LACEY, Robert – Inside the Kingdom: Kings, Clerics, Modernists, Terrorists and the Struggle for Saudi Arabia. Londres: Arrow Books, 2009, pp. 118-119.         [ Links ]

4 KEPPEL, Gilles (ed.) – Bin Ladin in Al-Qaida in its own Words. Cambridge MA: Harvard UP, 2008, pp. 62-63        [ Links ]

5 FREEDMAN, Lawrence – A Choice of Enemie: America Confronts the Middle East. Londres: Public Affairs, 2008, p. 103.         [ Links ]

6 A Al-Jazira é um exemplo disso – a sua crescente importância foi inicialmente alimentada e alimentou a marca Al-Qaida.

7 Cf. CRONIN, Audrey – How Terrorism Ends: Understanding the Decline and Demise of Terrorist Campaigns. Princeton: Princeton UP, 2009;         [ Links ] ABRAHMS, Max – «What terrorists really want: terrorist motives and counterterrorism strategy». In International Security. Vol. 32, N.º 4, 2008, pp. 78-105;         [ Links ] ABRAHMS, Max, et al. – «Correspondence: what makes terrorists tick». In International Security. Vol. 33, N.º 4, 2009, pp. 180-202.         [ Links ] Mas como a inclusão deste ponto nos objectivos estratégicos intermédios indica, do nosso ponto de vista não tem de haver uma radical oposição entre os dois. Mais, o tipo de coesão de pequenos grupos de combate que é tão valorizada pelos especialistas de terrorismo, também se encontra nos exércitos convencionais.

8 Cf. US-ARMY & MARINE CORPS – Counterinsurgency, FM3–24 manual. Washington & Quantico: US Army/Marine Corps, 2006.

9 A sua última consagração oficial à escola ocidental é no novo conceito estratégico da NATO, Active Engagement – Modern Defence, Lisboa: NATO, 2010, § 21.

10 BROWN, Michael (ed.) – Grave New World: Security Challenges in the Twenty-First Century. Washington DC: Georgetown UP, 2003, pp. 2-3: refere que apenas 18 por cento dos conflitos entre 1945 e 1995 foram guerras convencionais,         [ Links ] a informação mais recente reforça ainda mais essa tendência, cf. SIPRI Yearbooks, disponíveis em: www.sipri.org/contents/publications/yearbooks.html4; e MUELLER, John – Remnants of War. Ithaca: Cornell UP, 2007.         [ Links ] Seria apressado concluir definitivamente, no entanto, que as guerras convencionais se tornaram totalmente obsoletas, pois tem havido guerras limitadas mesmo entre potências nucleares – em 1969 entre a URSS e a China; em 1999 entre o Paquistão e a Índia – e não seria impossível conceber uma entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos, por exemplo, mas dificilmente.

11 SINGER, Peter – Wired for War: The Robotics Revolution and Conflict in the 21st Century. Londres: Penguin, 2009.

12 SINGER, Peter – Wire for War: The Robotics Revolution and Conflict in the 21st Century. Londres: Penguin, 2009,         [ Links ] pp. 261- -296.

13 WOHLFORTH, William C. – «A certain idea of science: how international relations theory avoids reviewing the Cold War». In WESTAD, Odd Arne (ed.) – Reviewing the Cold War: Approaches, Interpretations, Theory. Londres: Frank Cass, 2000, pp. 126-145.         [ Links ]

14 DAALDER, Ivo, e LINDSAY, James – America Unbound: The Bush Revolution in Foreign Policy. Washington DC: Brookings, 2003.         [ Links ]

15 US PRESIDENT – The National Security Strategy of the US. Washington DC: The White House, 2002, é com evidente simbolismo datada mais precisamente de Setembro de 2002; cf. também US PRESIDENT – The National Security Strategy of the US. Washington DC: The White House, 2006, e US PRESIDENT – The National Security Strategy of the US. Washington DC: The White House, 2010.

16 Este é também um tema controverso, mas seguimos sobretudo DREZNER, Daniel W. – «Does Obama have a grand strategy?». In Foreign Affairs, Julho- -Agosto de 2011. Disponível em: http://www.foreignaffairs.com/articles/67919/daniel-w-drezner/does-obama-have-a-grand-strategy.         [ Links ]

17 E.g. PAPE, Robert A. – «Soft balancing against the United States». In International Security. Vol. 30, N.º 1, 2005, pp. 7-45;         [ Links ] PAUL, T. V. – «Soft balancing in the age of U. S. primacy». In International Security. Vol. 30, N.º 1, 2005, pp. 46-71;         [ Links ] BROOKS, Stephen G., e WOHLFORTH, William C. – «Hard times for soft balancing». In International Security. Vol. 30, N.º 1, 2005, pp. 72-108,         [ Links ] e o debate que se seguiu ART, Robert et al. – «Correspondence: striking the balance». In International Security. Vol. 30, N.º 3, 2005/06, pp. 177-196.         [ Links ]