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Angiologia e Cirurgia Vascular

versão impressa ISSN 1646-706X

Angiol Cir Vasc vol.13 no.3 Lisboa dez. 2017

 

CASO CLÍNICO

Aneurisma da veia ázigos — achado raro em estudo de imagem. Tratar ou não tratar?

Azygos vein aneurysm — rare imaging finding. To treat or not to treat?

Andreia Coelho1, Miguel Lobo, Victor Martins, Ricardo Gouveia, Jacinta Campos, Rita Augusto, Alexandra Canedo

 

1Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho

 

Autor para correspondência

 

RESUMO

O aneurisma da veia ázigos é uma entidade clínica rara, descrita num número reduzido de case reports na literatura. Neste arti­go, descreve-se o caso de um aneurisma da veia ázigos, diagnosticado acidentalmente numa angio-tomografia computorizada (AngioTC) durante a investigação clínica de um quadro de hemoptises, numa doente do sexo feminino de 82 anos hipocoagula­da com varfarina. Foi diagnosticada uma traqueobronquite e repetiu-se AngioTC após resolução do quadro agudo, que revelou trombose completa do aneurisma. Decidiu-se tratamento conservador da doente, com follow-up imagiológico seriado.

Palavras-chave: Aneurisma Venoso; Veia Ázigos

 

ABSTRACT

True aneurismal dilatation of the azygos vein is a rare entity which has been reported in the literature on only a few occasions. We report a case of azygos vein aneurysm dilatation that was incidentally discovered on a computed tomography angiogram (CTA), during imagiologic study for hemoptyses, on an anticoagulated female 82 year-old patient. A repeat CTA after one month revealed complete thrombosis of the aneurysm. She was managed conservatively with outpatient follow-up.

Keywords:Venous Aneurysm; Azygous Vein;

 

INTRODUÇÃO

O aneurisma da veia ázigos é uma entidade clínica extrema­mente rara, descrita pela primeira vez em 1963 como uma lesão idiopática, sacular e provavelmente congénita.(1).

No entanto, a grande maioria dos casos são secundários, sendo a causa fisiopatológica mais frequente o aumento da pressão venosa central, geralmente no contexto de insufi­ciência cardíaca descompensada.(2) Outras causas incluem a hipertensão venosa portal, gravidez, a oclusão crónica da veia cava inferior, no contexto de agenesia parcial ou total da veia cava inferior, de trombose venosa profunda ou de neoplasia localizada na veia cava inferior. O aneurisma surge assim devido a um estado hiperdinâmico na circula­ção no sistema ázigos, que funciona como colateralidade.(3) Uma terceira causa inclui o trauma, geralmente associado a desenvolvimento de falso aneurisma, quer após trauma fechado de alto impacto ou iatrogenia após colocação de cateteres intra-arteriais.(4)

Reporta-se neste artigo o caso de um aneurisma da veia ázigos diagnosticado acidentalmente.

 

CASE REPORT

Trata-se de um doente do sexo feminino, de 84 anos de idade, parcialmente dependente nas atividades de vida diárias. Apresentava antecedentes pessoais de hiperten­são arterial, fibrilação auricular hipocoagulada com varfa­rina, insuficiência respiratória restritiva e insuficiência cardíaca com múltiplos episódios de vinda ao serviço de urgência por descompensação.

Observada no serviço de urgência por quadro de dispneia, tosse e hemoptises com presença sangue vivo em peque­na quantidade no sputum. Ao exame objetivo apresenta­va-se febril (38,7ºC), hemodinâmicamente estável, com saturação de oxigénio de 83% em ar ambiente.

Do estudo analítico realizado, salienta-se a ausência de anemia, com um valor de hemoglobina de 12,8 g/dL, e a elevação de parâmetros inflamatórios com leucocitose com neutrofilia (15,75x10^3/L com 83% de neutrófilos) e com valor de proteína C reativa de 15,11g/dL. O estudo de coagulação revelou níveis supraterapêuticos de razão normalizada internacional (INR): 8,75.

No decurso do estudo diagnóstico realizou telerradiogra­fia do tórax, electrocardiograma e ecocardiograma, que revelaram uma fibrilação auricular já conhecida e achados compatíveis com hipertensão pulmonar.

Realizou-se um segundo método de imagem – angiotomografia computorizada (angioTC) que revelou a presença de aneurisma da veia ázigos com 50x34 mm, em contacto próximo com a traqueia e com trombo mural a ocupar parte do lúmen (Imagem I).

 

 

Perante este quadro clínico, a doente foi internada admitin­do-se o diagnóstico de traqueobronquite, iniciando trata­mento dirigido com antibioterapia e tratamento de suporte.

Considerou-se que o quadro de hemoptises teria surgido no contexto de INR supraterapêutico (8,75) associado ao esforço da tosse, admitindo-se que o aneurisma seria um achado durante a investigação clínica.

No entanto, para excluir a possível relação realizou-se broncofibroscopia flexível, sem evidência de fistulização a nível da traqueia ou do inicio da àrvore brônquica.

Perante a melhoria clínica da doente com o tratamento médico, decidiu-se prosseguir a investigação clínica em regime ambulatório na consulta externa.

A doente repetiu AngioTC cerca de um mês depois, com trom­bose da totalidade do aneurisma da veia ázigos, pelo que se decidiu pela manutenção de atitude expectante com vigilân­cia imagiológica seriada (Imagem II). A doente apresenta neste momento dois anos de follow-up sem intercorrências.

 

 

DISCUSSÃO

O aneurisma da veia ázigos é um diagnóstico raro, e frequentemente assintomático. Pode, no entanto, causar sintomas associados à compressão da veia cava superior, compressão do brônquio principal direito podendo também estar associado ao risco de embolia pulmonar, sobretudo quando apresenta trombo mural.(5) Teoricamente, o aneu­risma veia ázigos apresenta risco de hemorragia e rotura, apesar de tal não estar descrito na literatura em casos de aneurismas não traumáticos.(2)

Relativamente a opções terapêuticas, pode-se decidir por tratamento expectante com controlo imagiológico seria­do(6), tratamento cirúrgico com resseção por toracotomia ou toracoscopia(7,8), ou tratamento endovascular. O trata­mento endovascular pode passar pela embolização do aneurisma com recurso a coils ou a plugs, ou pela exclusão do aneurisma com recurso a stentgrafts.(9,5)

As indicações para tratamento não estão ainda bem definidas, dada a raridade deste diagnóstico. Na literatura é consensual a indicação para tratamento de casos sintomáticos, sobre­tudo quando apresentam sintomas compressivos, sendo a opção geralmente o tratamento cirúrgico toracoscópico.(9)

O tratamento de doentes assintomáticos é controver­so, no entanto, em casos de aneurismas que apresentam trombo mural, considera-se que o risco de embolia pulmo­nar não é desprezível.

Neste caso, considerou-se tratar-se de um aneurisma secundário a um estado hiperdinâmico no sistema porta, associado à insuficiência cardíaca da doente.

Inicialmente considerou-se a hipótese de realização de trata­mento endovascular do aneurisma após resolução do quadro agudo, pelo risco de desenvolvimento de embolia pulmonar.

Após a realização do controlo imagiológico em ambulató­rio que revelou a trombose completa de todo o aneurisma, considerou-se que o risco de embolia pulmonar tinha dimi­nuído significativamente e que por outro lado o risco de complicações do tratamento endovascular tinha aumen­tado exponencialmente, pelo que se optou por uma estra­tégia conservadora. A doente apresenta neste momento dois anos de follow-up sem intercorrências.

 

OBRAS CITADAS

WA W. Aneurysm of the azygos vein, etiology undetermined. Am J Roentgenol Radium Ther Nucl Med. 1963; p. 90.         [ Links ]

Mohammad K BNSM. Idiopathic Azygos Vein Aneurysm Mimicking a Mediastinal Mass: Case Report and Review of Literature. J Med Cases. 2013; p. 4/5)_292-295.         [ Links ]

Seebauer L PHGJea. A mediastinal tumor simulated by a saccula­ted aneurysm of the azygos vein. Thorac Cardiovasc Surg. 1989; p. 37(2):112-114.         [ Links ]

Nakamura Y NKNHea. Surgical exclusion of a thrombosed azygos veis aneurysm causing pulmonary embolism. The journal of thoracic and cardiovascular surgery. 2007.         [ Links ]

Favelier S ELPPea. Successful Endovascular Treatment of a Large Azygos Vein Aneurysm With Stent-Graft Implantation. Ann Thorac Surg. 2015; p. 99:1455.         [ Links ]

Sonny Sau-hin C SLCKK. Azygous vein aneurysm: CT follow-up.. J Thorac Imaging. 2006; p. 21:66–68.         [ Links ]

Person TD KCCHea. Thorascopic approach to the resection of an azygous vein aneurysm. J Thorac Cardiovasc Surg. 2005; p. 30:230–231.         [ Links ]

Gomez MA DAPPea. Partial thrombosis of an idiopathic azygous vein aneurysm.. Br J Radiol. 2004; p. 77:342–343.         [ Links ].

H W. Transcatheter Occlusion of an Azygous Vein Aneurysm. Catheterization and Cardiovascular Interventions. 2011; p. 77:99–102.         [ Links ]

 

*Autor para correspondência

Correio eletrónico: andreiasofiacoelho@hotmail.com (A. Coelho).

 

Recebido a 2016-12-28;

Aceite a 25-10-2017;

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