Introdução
A doença cística da adventícia é uma condição vascular rara e que afeta na maioria dos casos a artéria poplítea. Habitualmente cursa com claudicação intermitente durante o exercício. Os autores descrevem um caso clínico em que a exérese foi possível sem necessidade de reconstrução arterial.
Caso clínico
Uma doente de 55 anos, do sexo feminino, foi referenciada à consulta de angiologia e cirurgia vascular por claudicação intermitente gemelar direita após caminhar em terreno plano cerca de 500 metros. O estudo eco-Doppler arterial dos membros inferiores evidenciou ausência de lesões endoluminais na artéria poplítea direita, com presença de fluxo trifásico em repouso, encontrando-se adjacente à mesma uma estrutura nodular 18x12mm (Figura 1). Ao exame físico, a doente apresentava pulsos distais simétricos dos membros inferiores em repouso e após manobras provocatórias com flexão do joelho (sinal de Ishikawa) ou dorsiflexão plantar não evidenciava perda de pulsos.
O estudo complementar com angio-ressonância magnética (angio-RM) revelou a presença de um quisto sinovial polilobulado adjacente à vertente posterior do ligamento cruzado posterior do joelho direito, que se estendia através da cápsula posterior até à artéria poplítea, envolvendo a sua camada adventícia de forma circunferencial com diâmetros axiais máximos de 25x13mm, extensão longitudinal de 28mm e espessura de 3mm. O quisto não condicionava redução do calibre luminal nem alteração da integridade da íntima (Figura 2).
Procedeu-se a correção cirúrgica em decúbito ventral sob anestesia regional e abordagem posterior da artéria poplítea com uma incisão em S. Após dissecção confirmou-se a presença de uma estrutura cística de conteúdo gelationoso a envolver a artéria poplítea (Figura 3). Procedeu-se à sua remoção juntamente com a camada adventícia arterial, mantendo um plano de dissecção avascular na parede arterial e sem necessidade de reconstrução (Figura 4). A doente teve alta ao quarto dia pós-operatório sem intercorrências. O exame histológico evidenciou uma estrutura com característica de quisto sinovial confirmando o diagnóstico (Figura 5). A angio-RM realizada ao fim do primeiro mês pós-operatório revelou normal permeabilidade da artéria poplítea, sem evidência do quisto sinovial previamente visualizado (Figura 6). A doente mantém-se assintomática três meses após a intervenção e irá manter vigilância clínica com seguimento imagiológico por eco-Doppler anual na ausência de novos sintomas.
Discussão
A doença cística da artéria poplítea é uma doença rara, classificada no espectro de doenças não ateromatosas da poplítea.1 Tipicamente ocorre em homem jovens ou meia idade e cursa com uma clínica de claudicação intermitente para curtas distâncias com um tempo de recuperação prolongado (cerca de 20 minutos), contrariamente aos doentes com doença arterial periférica.2 É importante ressalvar que não existe um consenso em relação à sua etiologia, no entanto, esta patologia ocorre principalmente em vasos adjacentes a estruturas sinoviais. Imagiologicamente caracteriza-se por uma compressão extrínseca ao lúmen da artéria poplítea, sendo o eco-Doppler, angio-tomografia computorizada ou angio-RM importantes ferramentas para o diagnóstico correto.3 O seu tratamento habitual envolve a excisão do quisto com ou sem reconstrução arterial e a manutenção de seguimento é essencial tendo em conta o risco de recidiva.4