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Medicina Interna

Print version ISSN 0872-671X

Medicina Interna vol.28 no.2 Lisboa June 2021  Epub Sep 01, 2021

https://doi.org/10.24950/pv/f.rosario/2/2021 

Pontos de Vista/Points of view

Cesário Verde, a Doença e a Medicina

Cesário, Disease and Medicine

Francisco Sobral do Rosário1  2 
http://orcid.org/0000-0002-6682-0867

1Projeto de Humanidades Médicas, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal

2Serviço de Endocrinologia, Hospital da Luz-Lisboa, Lisboa, Portugal


Resumo

Cesário Verde, poeta português do século XIX faleceu aos 31 anos por tuberculose. A sua curta vida foi dividida entre a atividade poetica, mal reconhecida em vida, e a atividade comercial.

Este trabalho procura refletir acerca do papel que a doença representou no seu percurso poético, a difícil relação com a Medicina e, finalmente, na importância que a relação médico-doente pode assumir.

Palavras-chave: Empatia; Medicina Narrativa; Tuberculose

Abstract

Cesário Verde, a Portuguese poet of the 19th century, died at the age of 31 from tuberculosis. His short life was divided between poetic activity, barely recognized in life, and commercial activity. This work seeks to reflect on the role that the disease played in its poetic journey, the difficult relationship with Medicine and, finally, the importance that the doctor-patient relationship can assume.

Keywords: Empathy; Narrative Medicine; Tuberculosis

Cesário Verde, um dos poetas maiores da língua portuguesa, repartiu a sua curta vida de 31 anos entre a literatura e a actividade comercial e agrícola da empresa de seu pai. O pouco reconhecimento que a sua poesia obtinha, publicada em jornais e folhetins, fê-lo refugiar-se progressivamente na vida empresarial, o que em simultanêo o tornava mais alvo da crítica do grupo de artistas a que desejava pertencer.1-3

Em 1879 escreveu ao amigo Silva Pinto, referindo que "Eu por aqui me afasto da literatura; amando-a ainda muitíssimo, não penso exclusivamente nela e sem pressão nenhuma que me obrigue a aplicar-me, vou perdendo de vista as antigas árvores de sombra, inúteis e majestosas, para me entreter pelo meio destes pomares burgueses e produtivos."1

Joel Serrão, o estudioso da obra de Cesário, comenta esta afirmacao da seguinte forma "Quando, pois, afirma "por aqui me afasto da literatura" não ironiza e apenas verifica um facto. Ama-a ainda muito, mas vai-se despedindo dela. É um homem prático. Só a morte dos irmãos, a doença que o acomete, o despertam de novo para a inquietacao e expressao poetica."1

Ao analisar a sua curta obra (46 poemas) e a epistolografia conhecida (32 cartas ou fragmentos) são numerosos os momentos em que se podem encontrar elementos em que a experiência de doença é claramente pessoal e decisiva na sua visão como artista. Permitem, além disso, entrever um relação em geral pouco amistosa/ desconfiada em relação às possibilidades da Medicina. Exemplo disso mesmo é o seguinte trecho do seu último grande poema Nós

Ah! Não eram insectos nem as aves

Que nos dariam dias tão difíceis,

Se vós, sábios, na gente, descobrísseis

Como se curam as doenças graves1

Em carta a Silva Pinto, em 1877, assume uma atitude que vemos com frequência nos dias de hoje - consultar fontes de informação médica sem recorrer a médicos. A falta de Google ou Wikipédia, o Dicionário de Medicina do Lithre:

"Esta semana tenho estado doente bastante; do estômago, da cabeça, de tudo, sempre agoniado e enervado. Aquele artigo de Teófilo sobre o Camilo que fala em disciplinamental faz-me pensar no que eu devo seguir; agora há uns poucos dias que não leio. Estou a espera que saia a última edição do dicionário de medicina do Lithre para me estudar. Que te parece? Achas extravagante. Que queres, se não me sinto bem em parte nenhuma e ando cheio de ansiedades de coisas que não posso nem sei realizar."

1

Cesário, neste último trecho, deixa transparecer uma posição mais autocrítica do que a que geralmente encontramos nos nossos contemporâneos do século XXI. Classifica-se como extravagante e remete a sua pesquisa para a necessidade que a ansiedade produz. No entanto, a desconfiança em relação ao diagnóstico médico já lá se encontra, como podemos ver noutro trecho, referente a carta em 1879.

Nesta, relata a visita a um amigo, internado no Hospital Militar da Estrela, onde este se encontrava “febril, e engaiolado num quarto que servia a doidos furiosos, com grade na porta, para ser espreitado, por lá passeia como uma fera, indomável, mas incorruptível”.1

Além desta descrição, pouco abonatória em relação às condições de hospitalização, Cesário fala de uma febre que lhe sucedeu nessa visita, que o médico que o assistiu não foi capaz de diagnosticar:

“Da última vez, quando subi, havia nevoeiro, e, não sei se foi diferença da temperatura, se foi doença que vagueava aborrecida pelos corredores e que quis vir comigo, o que sei é que tive uma febre violenta indefinida pelo velho clínico daqui. Eu nunca tivera febre e sentindo grandes arrepios pela espinha dorsal, detestáveis, estava vendo se ia ceder a moléstia: se ia perder a minha autonomia e delirar. Eu nunca delirei. Cambaleante, pela dieta, custando-me a equilibrar o edíficio da minha estatura cá vou indo menos mal. A facilidade com que isto se desmorona.”

1

A preocupacao em relacao a saude dos outros tambem se revela nestes excertos de cartas ao Conde de Monsaraz:

“ (...) em detrimento da própria saúde, nunca faria excessos de estudo. Primeiro que tudo está a vida; se te sentes doente ou fraco trata de ti e descansa.”

“ (...)me disse que tu recaíste na tua doença. É verdade? Se te incomodar por tua mão responder a esta carta pede ao Augusto Rosa que me conte os detalhes disto tudo. E uma coisa horrível. Eu cada vez receio mais qualquer alteração de saúde, porque sinto decompor-me com uma facilidade enorme e em vida. Agora trago sempre no pescoço umas escrófulas que se alastram, que se multiplicam depressa. Nao sei se é resultado sifilítico se que é. O diabo.”

1

Escrito ao mesmo Conde de Monsaraz, nova referência pouco abonatória a médicos. Estando este na eminência de sofrer uma intervenção cirúrgica pelo Professor Barbosa (Professor da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa), escreve uma missíva em que se pode ler:

“Calculo que, por uma fatalidade, que eu não pressinto, na ocasião de receberes isto podia o cortador Barbosa estar a dilacerar-te e tu a morder a fronha.”

1

Em relação a Teixeira de Queirós, romancista, mas tambem médico com clínica:

“Maço-te? Se preferes o nitrato de prata pede ao Queirós que se prontifica logo, se lhe pedires.”

1

Apesar da ironia em relaçãoo ao clínico Teixeira de Queirós como escritor, tambem o não clínico Cesário utiliza referências médicas nos seus poemas:

“Aonde agora quase sempre chego

Com as tonturas de uma apoplexia.”

(Num Bairro Moderno)

“E eu desconfio, até, de um aneurisma

Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes”

“E eu sonho a cólera, imagino a febre,

Nesta acumulação de corpos enfezados”

“Ó Moles Hospitais! Sai das embocaduras

Um sopro que arrepia os ombros quase nus”

(Sentimento de um Ocidental)

“A mim mesmo que tenho a pretensão

De ter saúde, a mim que adoro a pompa

Das forças. Pode ser que se me rompa

Uma artéria e me mine uma lesão!” (Nos)1

Lendo outra carta em que se refere a doença, deparamos com o que Joel Serrão considera ser um testemunho fundamental para entender o processo criativo do poeta.1

Neste, a perceção de algo indefinido, associado a um estado doentio, confrontava-se com o exterior e despertava a sua imaginação:

“Fiquei em casa, um pouco adoentado, com suposições de doença, de futuros quebrados, confusamente baço, sem lucidez no cérebro nem de ponto de vista. Enquanto o sol, numa grande esteira clara, me entrou pelo quarto, estive bem contente, exuberante, cheio; a luz doirada e tépida sorria no estuque das paredes, nas cercaduras de flores pintadas, no mogno polido das cadeiras, no verniz de ferro do meu leito modesto de solteiro, na colcha muito lavada, com um bom cheiro de barrela e de alfazema e na minha imaginacao de rapaz saudável. Mais tarde abri todas as três janelas para receber mais claridade; invadiu-me a sombra triste, a melancolia do crepúsculo, a friagem antipática da humidade. Quando pus a testa sobre os vidros para espairecer os olhos pelo jardim que vegeta debaixo, lembrei-me de imensas coisas que passaram, dos meus tempos de criança, do colégio de que voltava às quatro horas a um toque de sineta, de minha irmã que morreu e que iluminava todas as casas com a sua beleza alta e sossegada, dos meus temas de francês, dum caixeiro que foi para o Brasil e que me agarrava ao colo balançando-me com ameaças e sustos de me arremessar lá ao fundo do pátio que já não existe também. (…) Mandei acender o candeeiro e passou-me a doença imediatamente (…)”

1

Como atras referi, a doença perseguiu o poeta. Mas uma patologia, bastante comum na época, acabou por ser central - a tuberculose, que vitimou dois irmãos, a irmã Maria Júlia aos 19 anos em 1872 e o irmão Joaquim Tomás aos 24 anos em 1882, e mais tarde o próprio poeta, em 1886.1,2

Já em 1871, em carta a João Araújo, refere:

“Agora a sério. Tive bastante pena que o Graça esteja com uma doença tao funesta como a que ataca o pulmão - a tísica. É um rapaz com quem simpatizei, porque me pareceu sincero e despido de todas essas imposturas com que tantos por aqui se pavoneiam.”

1

A perceção de ameaça poderá ter condicionado Cesário a estar sempre atento a possibilidade de doença, a associá-la constantemente ao presente a ao futuro. Um exemplo óbvio encontra-se no poema Nevroses, publicado em 1876:

Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;

Nem posso tolerar os livros mais bizarros.

Incrível! Já fumei três maços de cigarros

Consecutivamente.

Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:

Tanta depravação nos usos, nos costumes!

Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes

E os ângulos agudos.

Sentei-me à secretaria. Ali defronte mora

Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;

Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes

E engoma para fora.

Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!

Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.

Lidando sempre! E deve a conta à botica!

Mal ganha para sopas.

O obstáculo estimula, torna-nos perversos;

Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,

Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,

Um folhetim de versos.

Que mau humor! Rasguei uma epopeia morta

No fundo da gaveta. O que produz o estudo?

Mais duma redacção, das que elogiam tudo,

Me tem fechado a porta.

A critica segundo o método de Taine

Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa

Muitíssimos papeis inéditos. A imprensa

Vale um desdém solene.

Com raras excepções, merece-me o epigrama.

Deu meia-noite; e em paz pela calçada abaixo,

Um sol-e-dó. Chovisca. O populacho

Diverte-se na lama.

Eu nunca dediquei poemas às fortunas,

Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.

Independente! Só por isso os jornalistas

Me negam as colunas.

Receiam que o assinante ingénuo os abandone,

Se forem publicar tais coisas, tais autores.

Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores

Deliram por Zaccone.

Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,

Obtém dinheiro, arranja a sua coterie;

E a mim, não há questão que mais me contrarie

Do que escrever em prosa.

A adulação repugna aos sentimentos finos;

Eu raramente falo aos nossos literatos,

E apuro-me em lançar originais e exactos,

Os meus alexandrinos.

E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!

Ignora que a asfixia a combustão das brasas,

Não foge do estendal que lhe humedece as casas,

E fina-se ao desprezo!

Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.

Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,

Oiço-a cantarolar uma canção plangente

Duma opereta nova!

Perfeitamente. Vou findar sem azedume.

Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,

Conseguirei reler essas antigas rimas,

Impressas em volume?

Nas letras eu conheço um campo de manobras;

Emprega-se a reclame, a intriga, o anúncio, a blague,

E esta poesia pede um editor que pague

Todas as minhas obras.

E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?

A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?

Vejo-lhe luz no quarto. Inda trabalha. É feia...

Que mundo! Coitadinha!1

Neste, poema, Cesário, exasperado com a crítica literária, contrapõe a esta a imagem de uma vizinha tuberculosa.

Segundo Helena Buescu, o dialogo e entre um “eu” que “sentado à secretária”, enfrenta a imagem da morte que “ali defronte mora” na figura da “infeliz sem peito, os dois pulmoes doentes”.3 Esta imagem, que lhe é familiar, permite-lhe relativizar a má receção da imprensa. Sabendo que a sua amada irmã morrerá desta mesma situação, não é difícil imaginar que Cesário vê como sua a imagem da tísica aceitando pacientemente o destino. Apenas o mitiga, bem sabe, e talvez em “outros climas” conseguirá ler “impressas em volume” as suas rimas. No limite, a sua propria persona, entregue a um trabalho rotineiro e sem grande esperanca. Estigmatizado pelas suas opcoes literarias, tal como e o estigma da tuberculose na imagem da janela em frente. Muito pior será a doença e a morte, que viveu com a sua irmã e o ameaça a si próprio. A morte e a doença que acompanharão a sua escrita solitária, afastada dos campos de manobras das letras e das luzes.

Esta ameaça tornar-se-á real em 1886. Numa tentativa desesperada, muda a residência para Caneças. De lá escreve a seguinte carta ao Conde de Monsaraz:

“Mas olha, sério, em volta de mim, pessoas, coisas, tudo anda amolentado, cansado. As melhoras, as proprias melhoras que os medicamentos chamam e espicaçam com o aguilhão da sua química, e que eu estimúlo com a aguilhada da minha vontade, essas mesmas vão ronceiras, moles, a passo de boi, muito devagar, muito devagar. Mal as vejo mexerem-se na longa estrada do tempo. De modo que apenas a grandes intervalos te posso noticiar, meu amigo, um avanço, um adiantamento. (...) Mas subitamente chegam-me duvidas, descrencas, terrores do futuro. Curo-me? Sim, talvez. Mas como fico eu? Um cangalho, um canastrao, um grande cesto roto, entra-me o vento, entra-me a chuva no corpo escangalhado.”

1

Esta carta mostra alguém ainda esperançado, embora com dúvidas de uma recuperação completa. Mas como, se Cesário já vira o que vira?

Uma tuberculose abria-lhe cavernas!

Dá-me rebate ainda o seu tossir profundo!

E eu sempre lembrarei, triste, as palavras ternas,

Com que se despediu de todos e do mundo!

Pobre rapaz robusto e cheio de futuro!

Não sei d`um infortúnio imenso como o seu!

Viu o seu fim chegar como um medonho muro.

E sem querer, aflito e atónito, morreu! 1

Em Nós, de 1884, a descrição da doença e morte do seu irmão Joaquim Tomás, mostra-nos ser bem real a noção do “medonho muro” que o esperava.

E o que dizer acerca do efeito provocado nos familiares, certamente tão desesperados como ele próprio com a sucessão de doença e morte na família. A propósito de Maria Júlia, descreve:

Era essa tísica em terceiro grau,

Que nos enchia a todos de cuidado,

Te curvava e te dava um ar alado

Como quem vai voar d`um mundo mau.

Era a desolação que inda nos mina

(Porque o fastio é bem pior que a fome)

Que a meu pai deu a curva que o consome,

E a minha mãe cabelos de platina!1

Após a morte do irmão afirma que sucessão de infortúnios motivados pela doença distanciam-no em relação com a sua amada poesia:

E agora, de tal modo a minha vida é dura,

Tenho momentos maus, tão tristes, tão perversos,

Que sinto só desdém pela literatura,

E até desprezo e esqueço os meus amados versos!1

Após a morte de Cesário, Mariano Pina lembrou a sua viagem de negócios a Paris em 1883:

“Ainda me lembro da sua vinda a Paris para tratar de negocios. Ele bem me queria convencer que o poeta tinha morrido e que hoje so pensava numa vida laboriosa e activa de negociante conhecendo a fundo a sua especialidade, sabendo como qualquer fabricante onde se fabricava o melhor ferro, onde se vendiam as melhores ferramentas, as limas e as plainas do mais puro aço (..) Mas o artista traía-o a cada passo.”

1

De facto, as suas afirmações não o impediram de publicar “Nós” em 1884. A traduzir, de forma cada vez mais afastada das normas literárias da sua época uma visão poética da realidade; na qual a dualidade da doenca/saudáveis se encontra sempre presente:

Não desejamos - nós os sem defeitos,

Que os tísicos pereçam! Má teoria,

Se pelos meus o apuro principia,

Se a Morte nos procura em nossos leitos!

A mim mesmo, que tenho a pretensão

De ter saúde, a mim que adoro a pompa

Das forças, pode ser que se me rompa

Uma artéria e me mine uma lesão!1

Em 1886, na fase final da sua doença, o Dr. Sousa Martins (o médico dos casos desesperados, com aura de Santo) observa-o em Consulta. Considera-o perdido, informando a família e os próximos. Consta que existiu sempre o cuidado de não informar o doente, de não o desenganar em relação à esperança de cura ou sobrevivência. Em carta a Silva Pinto, lê-se:

“--- O doutor Sousa Martins perguntou-me qual era a minha ocupação habitual. Respondi-lhe naturalmente: Empregado no comércio. Depois ele referiu-se à minha vida trabalhosa que me distraía, etc. Ora, meu querido amigo. O que eu te peço é que conversando com o Dr. Sousa Martins lhe dês a perceber que eu não sou o Sr. Verde, empregado de comércio. Eu não posso explicar-te; mas a tua muita amizade compreende os meus escrúpulos: sim?...”

1

A reserva que Cesário Verde nutria em relação a médicos e a Medicina não impediu que sentisse a necessidade que este médico o conhecesse melhor. O abandono da literatura que afirmava para a generalidade dos outros, e que talvez estivesse na base da sua resposta inicial a Sousa Martins, afinal não lhe seria confortavel perante este clinico.

A personalidade de Sousa Martins, conhecido conversador e extremamente dedicado aos seus doentes não terá sido alheia a este sentimento. Mas ter acontecido é realmente significativo do papel fundamental da relação Médico-Doente, em que a esperança, a possibilidade de um futuro, se alia a uma relação humana, a uma proximidade e empatia na qual a companhia da poética de Cesário não poderia estar ausente.

REFERÊNCIAS

1. Serrao J. Obra Completa de Cesario Verde. Lisboa: Livros Horizonte; 1992 [ Links ]

2. Figueiredo JP. A vida de Cesario Verde. Lisboa: Editorial Presenca; 1986. [ Links ]

3. Buescu HC. Introducao a obra de Cesario Verde. In: Carlos Reis, coordenadores. Canticos do Realismo - O Livro de Cesario Verde. Biblioteca Fundamental da Literatura Portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda; 2015 [ Links ]

2c Autor (es) (ou seu (s) empregador (es)) e Revista SPMI 2021. Reutilizacao permitida de acordo com CC BY-NC. Nenhuma reutilizacao comercial. c Author(s) (or their employer(s)) and SPMI Journal 2021. Re-use permitted under CC BY-NC. No commercial re-use

Recebido: 18 de Abril de 2021; Aceito: 26 de Abril de 2021

Correspondence / Correspondência: Francisco Sobral Rosario - franciscosobraldorosario@gmail.com Projeto de Humanidades Medicas, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal Alameda da Universidade, Faculdade de Letras, 1600-214 Lisboa

Responsabilidades Éticas Conflitos de Interesse: Os autores declaram a inexistencia de conflitos de interesse na realizacao do presente trabalho. Fontes de Financiamento: Nao existiram fontes externas de financiamento para a realizacao deste artigo. Proveniencia e Revisao por Pares: Nao comissionado; revisao externa por pares. Ethical Disclosures Conflicts of interest: The authors have no conflicts of interest to declare. Financing Support: This work has not received any contribution, grant or scholarship. Provenance and Peer Review: Not commissioned; externally peer reviewed

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