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Angiologia e Cirurgia Vascular

versão impressa ISSN 1646-706X

Angiol Cir Vasc vol.13 no.3 Lisboa dez. 2017

 

CASO CLÍNICO

Pseudoaneurisma da artéria Temporal superficial

Superficial temporal artery pseudoaneurysm

Carolina Lobo Mendes1, André Marinho, Juliana Varino, Luís Antunes, António Albuquerque Matos, Óscar Gonçalves

 

1Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

 

Autor para correspondência

 

RESUMO

Os pseudoaneurismas da artéria temporal superficial são raros, sendo responsáveis por cerca de 1% de todos os pseu­do aneurismas. Estão maioritariamente associados a traumatismos contusos ou penetrantes da região frontotempo­ral da cabeça.

Relata-se o caso de um jovem de 18 anos com aparecimento de massa pulsátil na região frontotemporal após trauma­tismo contuso cinco semanas antes. Submetido a tratamento cirúrgico com laqueação dos topos arteriais e exérese do falso aneurisma.

Palavras-chave: Pseudoaneurisma; Artéria temporal superficial; Traumatismo contuso;

 

ABSTRACT

Pseudoaneurysms of the superficial temporal artery are uncommon but mainly result secondary to blunt or penetrating trauma of the frontotemporal region of the head.

The authors report a clinical case of a young male with a false aneurysm of superficial temporal artery. Five weeks before he had a blunt trauma of the head. The authors did surgical resection via proximal and distal artery ligation.

Keywords: Pseudoaneurysm; Superficial temporal artery; Blunt trauma;

 

INTRODUÇÃO

A artéria temporal superficial é um dos ramos terminais da artéria carótida externa originando-se ao nível da base da glândula parótida, dando posteriormente diversos ramos que vascularizam a região frontal e temporal do crânio(8,9).

Esta artéria torna-se vulnerável a traumatismos devido à sua localização superficial nesta região frontotemporal (3,8,9).

Assim, apesar de raros, os aneurismas desta artéria são essencialmente secundários a traumatismos, mais frequentemente contusos e de etiologias variadas(2,3,6,8,9). São, então, mais comuns os falsos aneurismas, haven­do descrições raras de aneurismas verdadeiros da arté­ria temporal superficial com origem arterosclerótica, pós-traumática ou vasculítica(9).

Os falsos aneurismas da artéria temporal superficial correspondem apenas a cerca de 1% de todos os aneuris­mas traumáticos descritos(6,9). Pela sua raridade, devemos ter um elevado grau de suspeição diagnóstica na presen­ça de uma massa pulsátil no trajecto arterial com história traumática prévia(3).

 

CASO CLÍNICO

Jovem do sexo masculino, 18 anos, recorre ao serviço de urgência por apresentar massa palpável e indolor da região fronto-temporal direita com crescimento recente e agra­vamento nos últimos dias.

Sem antecedentes patológicos conhecidos, refere história de traumatismo contuso na referida localização em jogo de futebol cerca de 5 semanas antes.

Ao exame objectivo apresentava uma massa pulsátil palpável, com cerca de 1 cm de maior diâmetro, sem sinais inflamatórios locais ou lesões erosivas da pele associadas.

Realizado eco-doppler para confirmação diagnóstica, foi objectivado um falso aneurisma do ramo frontal da artéria temporal superficial direita, com cerca de 1,3x1,2 cm, sem sinais de trombose parietal.

Submetido a laqueação dos topos proximal e distal arte­riais com exérese do falso aneurisma. Sem intercorrências a registar peri-operatoriamente. Assintomático ao ano de follow-up.

 

DISCUSSÃO

A artéria temporal superficial é o sitio mais frequente de aneurisma craniofaciais pós-traumáticos devido à sua localização superficial.

Os aneurismas traumáticos da artéria temporal superficial foram descritos pela primeira vez por Thomas Bartolin em 1740 após um traumatismo craniano contuso (3,8,9).

Em 1934, Winslow e Edwards descreveram 108 casos de aneurisma de artéria temporal superficial, sendo 79 de origem traumática(3).

Os traumatismos contusos são a causa mais comum deste pseudoaneurismas, correspondendo a 75% dos casos descritos na literatura.

A maioria destes aneurismas apresenta-se como uma massa pulsátil frontotemporal, associada a cefaleia ou desconforto ao nível do ouvido. A maioria das queixas álgi­cas destes doentes, deve-se a fenómenos compressivos das estruturas adjacentes, nomeadamente estruturas nervosas.

As queixas geralmente ocorrem em média 2 a 6 semanas após o evento traumático que lhe deu origem (3,10,11). A fácil detecção de massas nesta zona, pela sua localização superficial, deve levar a um grau de suspeição diagnóstico elevado, devendo proceder-se à confirmação com exames complementares e tratamento breve.

Para além da história clínica e exame físico apropriados, o eco-doppler é um exame não invasivo muito apropriado para o diagnóstico e possível tratamento desta patolo­gia. O Eco-doppler apresenta, neste tipo de traumatismos, uma sensibilidade e especificidade de 94 e 97%, respecti­vamente, sendo o método de avaliação de eleição.

A AngioTC e AngioRM podem fornecer dados importantes no que diz respeito a lesões associadas intra ou extracra­nianas (3,9,10). Actualmente a Angiografia diagnóstica não tem um papel tão importante como outrora, sendo na maioria dos casos dispensável.

As opções terapêuticas actuais incluem compressão extrínseca eco-guiada do pseudoaneurisma, injecção de trombina eco-guiada, tratamento endovascular com exclusão aneurismática, nomeadamente através de coils, e abordagem cirúrgica (2,4,5,11).

A escolha do tratamento deve ser adaptada ao doente e ao médico, no entanto, na ausência de sintomas compres­sivos, pode aceitar-se a compressão externa eco-guiada como uma primeira abordagem(11).

A exclusão endovascular deve ser programada e realizada em centros com larga experiência dado ao risco, ainda que pequeno, de AVC associado. Autores defendem, no entan­to, que é uma forma de abordagem segura em doentes selecionados.(1,5,11)

 

 

 

 

 

 

A correcção cirúrgica destes aneurismas continua a ser o tratamento de eleição, sendo preconizada a laqueação dos dois topos arteriais, com ressecção e exérese do pseudoa­neurisma (1,2,7).

Devido à sua evolução imprevisível e ao risco iminente de ruptura, os doentes devem ser orientados para tratamen­to o mais precocemente após o diagnóstico (2,4,7)

 

BIBLIOGRAFIA

Van Uden DJ, Truijers M, Schipper EE, Zeebregts CJ, Reijnen MM. Superficial temporal artery aneurysm: diagnosis and treatment options. Head Neck 2013;35:608–14.         [ Links ]

Egbert J.D. Veen*, Floris B. Poelmann and Frank F.A. IJpma ; A trau­matic superficial temporal artery aneurysm after a bicycle acci­dent JSCR 2014; 10 (2 pages) doi:10.1093/jscr/rju112        [ Links ]

Ana Julia de Deus Silva,- Ricardo Virginio dos Santos, Salvador José de Toledo Arruda Amato, Alexandre Campos Moraes Amato; True posttraumatic aneurysm of the temporal artery , J Vasc Bras. 2016 Abr.-Jun.; 15(2):165-167        [ Links ]

 

*Autor para correspondência

Correio eletrónico: carolinalobomendes@gmail.com (C. Mendes).

 

Recebido a 2017-05-01;

Aceite a 25-10-2017;

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