1. Introdução

Em Portugal há um desenvolvimento considerável de pesquisa e de um campo de estudos em torno da Geografia ensinada no 3.º ciclo do ensino básico e ensino secundário onde ela surge como disciplina autónoma do currículo sendo os ciclos de ensino para onde as principais “escolas” de Geografia formam professores habilitados profissionalmente para a docência (^{ALEXANDRE e FERREIRA, 2015}). Contudo, a Geografia é também uma área científica que integra a formação não apenas de professores de 1.º e 2.º ciclos do ensino básico ¹ como também a própria formação de educadores de infância. Contudo, ganha ainda especial importância no âmbito do mestrado em ensino do 1.º ciclo e de Português e História e Geografia de Portugal no 2.º ciclo do ensino básico, onde se assume como uma área científica e didática específica, segundo o DL 79/2014.

Se nos mestrados em ensino do 3.º ciclo do ensino básico e secundário a didática específica de um curso está bem delimitada (geralmente possuem uma ou duas didáticas específicas), no caso dos mestrados em ensino do 1.º e 2.º ciclo do ensino básico, um dado curso pode ter várias didáticas específicas (ex.: didática do Português; didática da Matemática; didática das Expressões; Didática das Ciências Naturais, etc.). Contudo, a didática da Geografia (que muitas vezes se insere na didática das Ciências Sociais) adquire maior relevo no mestrado em ensino do 1.º ciclo e de Português e História e Geografia de Portugal no 2.º ciclo do ensino básico na medida em que se configura como uma das didáticas específicas da área de especialização em 2.º ciclo do ensino básico, conjuntamente com a didática do Português e a Didática da História.

Desde modo, importa fazer uma análise aos planos de estudo deste mestrado em “ensino do 1.º ciclo e de Português e História e Geografia de Portugal no 2.º ciclo do ensino básico” das diferentes instituições de ensino superior (IES) que o lecionam no sentido de compreendermos a presença da Geografia e de Didática da Geografia neles e a abordagem específica que fazem. Para tal, seguimos as seguintes etapas: consulta de todos os websites das instituições de ensino superior portuguesas que lecionam este curso; identificação das unidades curriculares diretamente ligadas à “Geografia” e à “Didática da Geografia” e identificação dos respetivos ECTS. Importa aqui esclarecer que optamos por não incluir nesta análise unidades curriculares relacionadas com “Didática do Estudo do Meio” dado que é uma unidade curricular de carácter muito geral com conteúdos das ciências da natureza e das ciências sociais e que geralmente é comum também aos demais mestrados de ensino do 1.º e 2.º ciclos do ensino básico e educação pré-escolar. Optamos também por não incluir nesta análise das unidades curriculares de “prática pedagógica supervisionada” tanto no 1.º ciclo como no 2.º ciclo do ensino básico por terem um carácter abrangente do ponto de vista disciplinar e não ser uma área de formação específica da Geografia. Foram analisados os planos de estudos do mestrado em “ensino do 1.º ciclo e de Português e História e Geografia de Portugal no 2.º ciclo do ensino básico” de 16 instituições de ensino superior (4 universidades e 12 institutos politécnicos ou escola politécnicas, sendo duas de âmbito privado): U1, U2, U3, U4, P1, P2, P3, P4, P5, P6, P7, P8, P9, P10, P11, P12. De modo a não identificarmos as instituições de ensino superior, procedemos à sua anonimização e, finalmente, procedemos à comparação e análise crítica dos resultados obtidos. Desta forma, combina-se nesta pesquisa uma análise quantitativa e uma análise qualitativa. Foi também elaborado um estado da arte sobre a temática que auxilia no debate das conclusões do estudo.

2. A “Geografia” e de “Didática da Geografia” nos planos curriculares dos mestrados em “ensino do 1.º ciclo e de Português e História e Geografia de Portugal no 2.º ciclo do ensino básico”

Analisando os planos curriculares do mestrado em “ensino do 1.º ciclo e de Português e História e Geografia de Portugal no 2.º ciclo do ensino básico” nas diferentes instituições de ensino superior que o lecionam, as unidades curriculares de Geografia e de Didática da Geografia que estes cursos de mestrado apresentam são as que a tabela 1 mostra.

Começando pelas universidades, na U1, este mestrado possui somente uma unidade curricular da área da Geografia denominada de “Complementos de História e Geografia de Portugal” que tem um total de 6 ECTS. Contudo, como é uma unidade curricular também com conteúdos de História, decidimos atribuir-lhe 3 ECTS de conteúdos científicos de Geografia. Um valor muito baixo, na nossa opinião, quando estamos perante um mestrado que forma professores para lecionarem História e Geografia de Portugal².

No que diz respeito às unidades curriculares da área da Didática da Geografia, a U1 apresenta duas unidades: “Didática da História e Geografia de Portugal no 2.º ciclo do EB” (com 6 ECTS) e “Integração das atividades educativas no 1.º ciclo do EB e de Português, História e Geografia no 2.º ciclo do EB” (com 3 ECTS). Contudo, consideramos muito interessante esta última unidade curricular na medida em que associa a Didática da Geografia não só à da História como também à do Português. Esta integração verifica-se, sobretudo, a nível das estratégias de ensino e dos recursos didáticos.

Na U2, o plano de estudos do mestrado possui duas unidades curriculares da área científica da Geografia: “Dinâmicas Territoriais” e “Elementos de Geografia” com 5 ECTS cada, o que totaliza um valor de 10 créditos. Contudo, a U2 apresenta apenas uma unidade curricular na área da Didática da Geografia denominada de “Didática da História e da Geografia para a Educação Básica” com 5 ECTS, o que representa 2,5 créditos para a área da Geografia.

Na U3, o plano de estudos possui também duas unidades curriculares da área científica da Geografia: “História e Geografia de Portugal I” (8 ECTS) e “História e Geografia de Portugal II” (6 ECTS). Neste total de 14 créditos, cerca de 7 são da área da Geografia. A U3 apresenta apenas, também, uma única unidade curricular na área da Didática da Geografia denominada de “Didática da História e Geografia e Ciências da Natureza” (6 ECTS). Aqui a situação piora quando comparado com outras IES dado que apresenta apenas uma unidade curricular da área da Didática da Geografia e ainda por cima agrega-a à História e às Ciências da Natureza.

Na U4, este mestrado possui somente uma unidade curricular da área científica da Geografia denominada de “História e Geografia de Portugal” com 4 ECTS, o que significa cerca de 2 ECTS para a área da Geografia. A U4 apresenta apenas, também, uma única unidade curricular da área da Didática da Geografia denominada de “Didática da História e Geografia” com 7 ECTS, logo, cerca de 3,5 ECTS para a área da Didática da Geografia.

No P1 (tabela 5), o plano de estudo do mestrado possui de novo duas unidades curriculares da área científica da Geografia: “Estudos Histórico-Geográficos e Culturais” (4 ECTS) e “História e Geografia de Portugal: Dimensão Europeia Contemporânea” (6 ECTS) o que significa, em conjunto, cerca de 5 ECTS em Geografia.

No que diz respeito aos institutos politécnicos, o P1 apresenta apenas, também, uma única unidade curricular na área da Didática da Geografia denominada de “Didática da História e Geografia de Portugal” (7 ECTS), o que significa cerca de 3,5 ECTS para a área da Geografia.

No P2, o plano de estudo possui também duas unidades curriculares da área científica da Geografia: “Sociedade, Cultura e Território” (4,5 ECTS) e “Temas de História e Geografia de Portugal” (4 ECTS), o que totaliza cerca de 6,5 ECTS em Geografia. O P2 apresenta apenas também uma única unidade curricular na área da Didática da Geografia denominada de “Didática da História e Geografia no 1.º e 2.º ciclo do ensino básico” (6 ECTS), o que significa 3 ECTS para a área da Geografia.

No P3, o plano de estudo possui três unidades curriculares da área científica da Geografia: “História do Portugal Contemporânea e Geografia de Portugal” (3 ECTS), “Geografia de Portugal” (3 ECTS) e “Complementos de Temas de Ensino” (9 ECTS). Destes valores, podemos estimar um valor total de cerca de 7,5 créditos para a área da Geografia. O P3 apresenta apenas também uma única unidade curricular na área da Didática da Geografia denominada de “Didática da História e Geografia” (4,5 ECTS), o que significa 2,25 ECTS para a área da Geografia.

No P4, o plano de estudos do mestrado possui duas unidades curriculares da área científica da Geografia: “Espaço e Sociedade” (4 ECTS) e “História e Geografia de Portugal” (5 ECTS). Isto totaliza um valor de cerca de 6,5 créditos em Geografia. O P4 apresenta apenas também uma única unidade curricular na área da Didática da Geografia denominada de “Didática da História e Geografia de Portugal” (5 ECTS), o que significa cerca de 2,5 ECTS para a área da Geografia.

No P5, o plano de estudos do mestrado possui duas unidades curriculares da área científica da Geografia: “História e Geografia de Portugal - território e população” (4 ECTS) e “História e Geografia de Portugal - sociedade e cultura” (4 ECTS). Isto totaliza um valor de cerca de 4 créditos para a área da Geografia. O P5 apresenta duas unidades curriculares na área da Didática da Geografia: “Didática Específica de História e Geografia de Portugal no 2.º ciclo do EB” (5 ECTS) e “Temas Atuais em Educação em Português e História-Geografia de Portugal” (6 ECTS). Isto totaliza cerca de 4,5 créditos em Didática da Geografia.

No P6, o plano de estudos do mestrado possui apenas uma unidade curricular da área científica da Geografia denominada de “História e Geografia de Portugal” (6 ECTS), o que representa 3 créditos para a Geografia. O P6 apresenta somente uma unidade curricular na área da Didática da Geografia denominada de “Didática da História e Geografia de Portugal” (6 ECTS), o que representa cerca de 3 créditos para a Didática da Geografia.

No P7, o plano de estudos do mestrado possui três unidades curriculares da área científica da Geografia: “Complementos de História e Geografia de Portugal I” (4 ECTS), “Território, Sociedade, Cultura e Património” (2 ECTS) e “Complementos de História e Geografia de Portugal II” (4 ECTS). Contudo, isto apenas totaliza cerca de 5 créditos em Geografia. O P7 apresenta duas unidades curriculares na área da Didática da Geografia: “Didática da História e Geografia de Portugal I” (4 ECTS) e “Didática da História e Geografia de Portugal II” (4 ECTS). Totaliza um valor de cerca de 4 créditos na área da Didática da Geografia.

No P8, o plano de estudos do mestrado possui duas unidades curriculares da área científica da Geografia: “História e Geografia de Portugal I” (4 ECTS) e “História e Geografia de Portugal II” (5 ECTS). Totaliza um valor de cerca de 4,5 créditos em Geografia. O P8 apresenta duas unidades curriculares na área da Didática da Geografia: “Didática da História e Geografia I” (3 ECTS) e “Didática da História e Geografia II” (4 ECTS). Totaliza um valor de cerca de 3,5 créditos na área da Didática da Geografia.

No P9, o plano de estudos do mestrado possui apenas uma unidade curricular da área científica da Geografia denominada de “História e Geografia de Portugal no 2.º ciclo” (5 ECTS), o que representa 2,5 créditos em Geografia. O P9 apresenta também apenas uma unidade curricular na área da Didática da Geografia denominada de “Didática da História e Geografia de Portugal no 2.º ciclo” (5 ECTS), o que significa 2,5 créditos em Didática da Geografia.

No P10, o plano de estudos do mestrado possui três unidades curriculares da área científica da Geografia: “Portugal: Território e Identidades” (5 ECTS), “Espaço e Memória: Dinâmicas Locais e Regionais” (4 ECTS) e “História e Tendências da Sociedade Contemporânea” (4 ECTS). Totaliza cerca de 9 créditos em Geografia. O P10 apresenta duas unidades curriculares na área da Didática da Geografia: “Metodologia do Ensino da História e Geografia de Portugal no 2.º ciclo do ensino básico” (4 ECTS) e “Oficina de Recursos Pedagógicos de História e Geografia” (4 ECTS). Totaliza um valor de cerca de 4 créditos em Didática da Geografia.

No P11, o plano de estudos do mestrado possui apenas uma unidade curricular da área científica da Geografia denominada de “História e Geografia de Portugal no 2.º ciclo do ensino básico” (6 ECTS), o que representa cerca de 3 créditos em Geografia. O P11 apresenta também apenas uma unidade curricular na área da Didática da Geografia denominada de “Didática da História e Geografia de Portugal no 2.º ciclo do ensino básico” (8 ECTS), o que significa aproximadamente 4 créditos em Didática da Geografia.

No P12, o plano de estudos do mestrado possui duas unidades curriculares da área científica da Geografia: “Ciências Sociais e Naturais” (5 ECTS) e “Geografia de Portugal” (5 ECTS). Isto totaliza um valor de cerca de 6,25 créditos em Geografia. O P12 apresenta também apenas uma unidade curricular na área da Didática da Geografia denominada de “Didática da História e Geografia” (4 ECTS), o que significa cerca de 2 créditos em Didática da Geografia.

3. Interpretação crítica dos dados relativos às Unidades Curriculares de “Geografia” e de “Didática da Geografia” nos planos curriculares do mestrado em “ensino do 1.º ciclo e de Português e História e Geografia de Portugal no 2.º ciclo do ensino básico” nas diferentes instituições de ensino superior

Observando a tabela 1 e analisando as unidades curriculares da área científica da Geografia verificamos que na maioria das IES a Geografia surge integrada em unidades curriculares também com conteúdos de História. Apenas em algumas IES surgem unidades curriculares exclusivas de Geografia. Importa aqui destacar a importância destes cursos terem disciplinas autónomas de Geografia com regentes de Geografia e não fazerem parte sempre de uma unidade curricular conjuntamente com a História. Se em unidades curriculares de “didática” ainda podemos compreender a sua associação à História no sentido de construir uma “didática única” para as duas áreas, nas unidades curriculares ditas “científicas” esta associação não é tão óbvia. Além disso, importa destacar que nenhuma IES oferece uma unidade curricular de Cartografia no âmbito deste mestrado que forma professores de História e Geografia de Portugal, o que nos parece relevante. Não obstante esta situação, temos consciência que muitos colegas integram muitos conteúdos de Cartografia no âmbito das unidades curriculares que lecionam nestes cursos, bem como conteúdos de TIG (tecnologias de informação geográfica).

Deste modo, na contagem dos ECTS (Europen Credit Transfer System) de Geografia destas unidades curriculares, sempre que estas integram uma parte de História ou outra área científica atribuímos metade dos créditos (ou outro valor em proporção) à área da Geografia para fins analíticos deste estudo. Neste sentido, a IES que apresenta mais créditos na área da Geografia é a U2 (10 créditos) o que não é de estranhar dado ser a única que dispõe de um departamento de Geografia. De destacar também com um total de 9 ECTS, o P10 que é uma instituição privada. Todas as demais IES apresentam um total de ECTS em Geografia bastante variável, sendo que a média é de 5,3 ECTS mas onde podemos encontrar IES com apenas 2 ECTS em Geografia (U4) ou 3 ECTS (U1, P6 e P11).

Analisando agora a situação da Didática da Geografia nestes cursos verifica-se, tal como na parte científica da Geografia, uma agregação nas unidades curriculares à História o que se compreende pelo facto da disciplina a ser lecionada pelos mestrandos nas escolas ser a de “História e Geografia de Portugal”. Atribuindo-se um valor proporcional de créditos dentro de cada unidade curricular chegamos aos valores de ECTS em Didática da Geografia de cada IES. O valor médio é de 3 ECTS o que é um valor muito baixo quando estamos a falar de um curso de forma professores para ensinar “História e Geografia de Portugal”. O valor mais alto é 4,5 ECTS no P5 e o valor mais baixo é de 1,5 ECTS na U3.

Deste modo, analisando os aspetos que são convergentes e os aspetos que são divergentes nestas unidades curriculares de Geografia e de Didática da Geografia, o aspeto convergente é que tanto na abordagem da Geografia na vertente científica como na vertente didática, frequentemente, essa abordagem é feita em conjunto com a História. Quanto aos aspetos divergentes é que em poucas das IES analisadas a Geografia é lecionada como uma unidade curricular autónoma e é também pouco frequente a lecionação da sua didática ser jeita de forma articulada com a Didática do Português ou com a Didática das Ciências da Natureza.

4. Conclusões e Desafios Futuros

Analisando os planos curriculares do mestrado em “ensino do 1.º ciclo e de Português e História e Geografia de Portugal no 2.º ciclo do ensino básico”, na nossa opinião há uma necessidade de aumentar um pouco o número de créditos dedicados à Geografia e à Didática da Geografia (dentro dos limites estabelecidos por lei). Neste âmbito, será importante as IES que lecionam cursos de formação de professores de 1.º e 2.º ciclo do ensino básico e educação pré-escolar (que são sobretudo institutos politécnicos) reforcem a oferta de unidades curriculares de Geografia nestes cursos.

Não obstante autores como ^{Mateus e Mesquita (2016}) defenderem que a “história e geografia de Portugal do 2.º ciclo do ensino básico (2.º CEB) [ser] uma disciplina especializada, integradora de dois saberes interligados na compreensão do país e da sociedade e [que] tem como finalidade a compreensão e o conhecimento do país em relação ao Mundo atual” (^{MATEUS e MESQUITA, 2016}:315), acreditamos que os seus professores necessitam de um conhecimento sólido na área da Geografia para lecionarem esta disciplina ou outra qualquer que lhe suceda no 2.º ciclo do ensino básico⁷. Nos últimos anos, muitos dos estudos publicados sobre o ensino da Geografia neste nível de ensino (2.º ciclo do ensino básico ⁸) são os próprios relatórios de estágio supervisionado dos seus mestrandos.

Há, infelizmente, ainda pouca pesquisa sobre a formação destes professores e da didática específica da Geografia para este nível de ensino. No entanto, é importante assinalar neste âmbito estudos recentes de ^{Dias (2021}), ^{Mendes e Ferreira (2019}) ou ^{Hortas e Dias (2017}) exatamente sobre a formação de professores para este nível de ensino.

A “didática específica” da Geografia neste nível de formação de professores surge sempre agregada à da História, não obstante segundo Hoodless a “literatura de referência tem evidenciado que, durante o século XX, as abordagens didáticas do ensino da história e da geografia têm observado tendências de aproximação e de afastamento” (Hoodless cit. in. ^{Mateus e Mesquita, 2016}: 316). Na literatura internacional, geralmente é utilizado a expressão de “primary geography” para se referir a esta subárea de estudo dentro da Educação Geográfica. Deste modo, Catling e Willy referem que, “Geography appears in one form or another at some point in the primary school curriculum in almost all countries” (^{CATLING e WILLY, 2018}: 6), ficando claro que a Geografia na maioria dos países integra a educação dos níveis mais elementares.

Referindo-se à formação de professores em Portugal, ^{Leite, Fernandes e Sousa-Pereira (2017}) destacam que uma grande dificuldade dos professores formados aqui em Portugal prende-se com a necessidade de dominarem conhecimento de várias áreas diferentes, tal como o que é exigido a um professor de 2.º ciclo de História e Geografia de Portugal. Atentando à figura 1, que mostra as disciplinas onde os conteúdos de Geografia são lecionados em Portugal nos diferentes ciclos de ensino, conseguimos facilmente compreender que o professor de 1.º ciclo e Português e História e Geografia de Portugal de 2.º ciclo do ensino básico, irá lecionar conteúdos de Geografia no 1.º ciclo no âmbito do “Estudo do Meio” e no 2.º ciclo no âmbito da “História e Geografia de Portugal”. Tal como afirma Claudino, “a ausência de um projeto claro de educação geográfica prolonga-se pelo segundo ciclo de escolaridade. [E na] disciplina de História e Geografia de Portugal (...) os conteúdos geográficos surgem dispersos e sem um fio condutor claro (...)” (^{CLAUDINO, 2010}: 126). Contudo, Castro afirma que a Geografia apenas ganha autonomia no 3.º ciclo do ensino básico, mas que “esta ciência e os seus conceitos devem ser introduzidos no pré-escolar” (^{CASTRO, 2019b}: 23).

Apresar de serem poucos os trabalhos sobre o ensino da Geografia neste nível de ensino (2.º ciclo do ensino básico) que não sejam relatórios de estágio, destacamos em especial o trabalho de ^{Azevedo e Ventura (2018}) que é uma publicação de carácter didático com exemplos práticos de como as TIG (tecnologias de informação geográfica) podem ser desenvolvidas no âmbito do ensino geográfico no 2.º ciclo do ensino básico. Configura-se como um trabalho que nos relembra da pertinência de investigarmos e trabalharmos no ensino da Geografia neste nível de ensino pois, como refere Lemos, “a aquisição das competências relacionadas com o espaço faz-se ao longo desses 12 anos de escolaridade, em diferentes disciplinas e por intermédio de professores com formações diversas” (^{LEMOS, 2007}: 87). Contudo, esta mesma autora refere que atendendo à organização curricular, “a deficiente formação geográfica dos professores do 1.º e do 2.º ciclos de escolaridade” (LEMOS, 2007: 95) é um dos principais constrangimentos da educação geográfica em Portugal. De destacar ainda em Portugal uma recente obra de referência no ensino da Geografia nos níveis iniciais de escolaridade da autoria de Miguel Castro (^{CASTRO, 2019a}) que se configura como um importantíssimo contributo para o desenvolvimento desta área de estudo e pesquisa em Portugal.

No entanto, a débil formação geográfica dos professores dos níveis iniciais de ensino não é uma realidade (ou problemática) exclusivamente portuguesa (^{CATLING e MARTIN, 2011}). Lee afirma mesmo que “primary teachers often have difficulties developing an awareness of geography because they generally are not geography majors and teach multiple subjects” (^{Lee, 2018}: 75) e Catling defende que “there is a narrow range of research in primary geography education” (^{CATLING, 2013}: 178).

Deste modo, para que possa ocorrer o aumento da importância da Geografia nos cursos de formação de professores dos níveis iniciais de ensino será importante também aumentar a pesquisa em Educação Geográfica em Portugal sobre estes níveis de ensino iniciais.

Neste sentido, e tendo em atenção de nos últimos anos a maioria a investigação que é feita em Portugal sobre Educação Geográfica na educação pré-escolar e nos 1.º e 2.º ciclo do ensino básico é através dos relatórios de estágios dos mestrandos em ensino, coloca-se aqui o desafio de se fazer uma análise de conteúdo da Educação Geográfica nestes relatórios (tal como fez ^{Pacheco et. al., 2015} e ^{Martinha, 2021} para os relatórios em ensino no 3.º ciclo do ensino básico e no ensino secundário) no sentido de compreendermos os principais temas trabalhados e os gaps a preencher.

Acreditamos serem estas algumas das necessidades atuais para capacitar os nossos professores do 1.º e 2.º ciclo do ensino básico para praticarem um Educação Geográfica nestes níveis de ensino capaz desenvolver um conhecimento poderoso em Geografia (^{Cachinho, 2019}) nos alunos.