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Revista Lusófona de Estudos Culturais (RLEC)/Lusophone Journal of Cultural Studies (LJCS)

versión impresa ISSN 2184-0458versión On-line ISSN 2183-0886

RLEC/LJCS vol.8 no.2 Braga dic. 2021  Epub 01-Mayo-2023

https://doi.org/10.21814/rlec.3218 

Varia

O Mundo Fora do Lugar: A Trajetória de Degradação do Edifício Holiday Sob a Perspectiva do Espaço Social Bourdieusiano

1 Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil


Resumo

À luz de uma sociologia bourdieusiana e suas noções conceituais de espaço social e estilos de vida, este artigo lança uma interpretação reflexiva sobre a trajetória de degradação simbólica de um emblemático prédio construído em 1957 no Recife (Brasil) - o Edifício Holiday. Situado em Boa Viagem, um dos bairros mais ricos da cidade, a edificação é um ícone representativo da chegada da modernidade à capital do estado de Pernambuco e marca um período de importantes modificações na paisagem e nos estilos de vida do Recife. Com 416 pequenas habitações aptas a receber mais de 3.000 moradores, o projeto experimental de apartamentos de veraneio para classes médias e altas na década de 1970 já apresentava sinais de desvalorização em um bairro de trajetória social ascendente. Nosso instrumental analítico, tal como defendido por Bourdieu, recorre à fotografia autoral e a imagens do edifício. Utiliza-se de materiais fotográficos para construir um “antes” e “depois” da desocupação do Holiday, tomando como principal fio condutor da análise ensaios realizados por dois jornalistas recifenses. Os resultados nos auxiliam a entender melhor a dimensão simbólica da habitação no espaço social urbano. Não obstante, o artigo oferece um ponto de inflexão nas discussões acerca da recepção e dos contornos próprios que a modernidade adquiriu em metrópoles do hemisfério sul, como é o caso da capital recifense.

Palavras-chave: Edifício Holiday; espaço social; estilos de vida; modos de morar; Pierre Bourdieu

Abstract

This article, considering Bourdieusian sociology and its conceptual notions of social space and lifestyles, launches a reflective analysis of the biographical trajectory of symbolic degradation of an emblematic edifice built in Recife (Brazil) - the Holiday Building. Located in Boa Viagem, one of the wealthiest neighbourhoods in the city, the building is an icon representative of the arrival of modernity in the capital and marks a period of important changes in the landscape and lifestyles of Recife. With 416 small apartments that could accommodate more than 3,000 residents, this building showcased the experimental design of summer apartments for the middle and upper classes, but by the 1970s, it already showed signs of devaluation within a neighbourhood with an upward social trajectory. As defended by Bourdieu, our analytical tools use authorial photography and images of the building. Photographic materials are used to build a “before” and “after” eviction from the Holiday, using essays by two journalists from Recife as the primary guiding thread of the analysis. The results contribute to a better understanding of the symbolic dimension of housing in the urban social space. The article also suggests a turning point in discussions around the reception and the contours modernity acquired in southern hemisphere metropolis, such as Recife.

Keywords: Holiday Building; social space; life styles; ways of living; Pierre Bourdieu

Introdução

Este artigo toma como objeto de estudo a trajetória social e histórica do Edifício Holiday, um dos primeiros arranha-céus do Recife (Brasil), emblemático em seu propósito de inaugurar uma cultura da modernidade arquitetônica e urbana, intenção que não foi atingida devido a sua rápida decadência enquanto gesto arquitetural, num bairro da cidade que, entretanto, passou por um rápido desenvolvimento e valorização. Ao lançar olhar sobre tal fenômeno, sob uma perspectiva social e urbana, adotamos instrumentalmente conceitos teóricos e procedimentos metodológicos do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1981/1983, 1993/1997, 1977/2001, 1980/2009, 1991/2013, 1979/2017).

O Edifício Holiday foi construído em 1957 e seu projeto foi assinado pelo engenheiro Joaquim de Almeida Marques Rodrigues (Docomomo_Brasil - Núcleo Pernambuco, 2016, p. 146). Apesar de algumas incertezas sobre a verdadeira autoria do projeto, per cebe-se que ele tem sua concepção fortemente influenciada pela arquitetura moderna internacional, à semelhança da Unidade de Habitação de Marselha, icônico edifício multifamiliar projetado por Le Corbusier, com apartamentos mínimos dispostos numa lâmina vertical, de maneira a desfrutar de uma paisagem de mar. No Recife, o Holiday ergue-se com 18 andares, abrigando 416 pequenas habitações, com capacidade para receber mais de 3.000 moradores. O edifício ajudou na consolidação de Boa Viagem como bairro de residência, comércio e serviços, quando até então tratava-se de um importante destino de veraneio da cidade (Figura 1 e Figura 2).

Fonte. De Recife de Antigamente, por Jorge Moura, 2020, Facebook (https://www.facebook.com/recantigo/ photos/pcb.2959346344205896/2959346230872574).

Figura 1 Edifício Holiday em 1962. 

Créditos. Google Maps. © 2019 Google

Figura 2 Edifício Holiday em 2019 

Idealizado enquanto empreendimento de apartamentos voltados para classes médias e altas da sociedade recifense, tal proposta habitacional rapidamente caiu em seu desgosto. Ainda na década de 1970, o Holiday já apresentava uma trajetória social decrescente em um bairro de trajetória social ascendente.

Na mídia, neste mesmo período, o edifício passou a ser frequentemente associado à homossexualidade, prostituição e consumo de drogas, e à medida que frações de classes mais abastadas deixavam de frequentá-lo, o lugar ia sendo ocupado por populações mais pobres. A degradação simbólica somada a sua deterioração estrutural fez um dia o Holiday receber a pecha de “favela vertical”, até, finalmente, ter seus últimos habitantes despejados em março de 2019. Tais nuances e complexidades que permeiam sua trajetória biográfica de declínio, marcada por progressiva desvalorização, degradação e deterioração, mesmo em terreno tão valorizado da cidade, são aqui discutidas a partir de importantes instrumentais analíticos bourdieusianos, como os conceitos de espaço social, habitus e estilos de vida (Bourdieu, 1993/1997, 1979/2017).

Tal como Bourdieu e Bourdieu (1965/2006) defenderam, recorre-se à fotografia autoral como um “sociograma leigo” e imagens do edifício, seu entorno, moradores e cotidiano, são aqui reunidas para uma análise pragmática dos elementos simbólicos existentes, circundantes e sobrepostos a este “mundo invertido” que o Holiday representa. O exercício de interpretação da trajetória deste edifício é mediado pela análise de 21 imagens extraídas de dois ensaios fotográficos feitos por dois fotojornalistas recifenses. O primeiro ensaio, feito em 2018 por Alexandre Gondim, registrou o cotidiano, o entorno e a intimidade do lar de alguns resilientes moradores do edifício. O segundo, feito em março de 2019 por Marlon Diego, registrou os 3 últimos dias de desocupação do icônico prédio.

A seleção das imagens optou por registros que possibilitaram uma análise interpretativa dos estilos de vida dos últimos moradores do Holiday. Não obstante, certos elementos extraídos da análise permitiram entender mais acerca da relação dos grupos retratados com o espaço habitado. Ainda, a noção de violência simbólica (Bourdieu, 1977/2001) foi alçada à discussão dos resultados de maneira a nos auxiliar na interpretação de certas dinâmicas de distinção e poder simbólico que envolvem a produção e o consumo da moradia na cidade. Por fim, o exercício ofereceu um ponto de inflexão sobre a receção, resistência e adaptação por parte das elites locais a certos símbolos consti tuintes da cultura moderna ocidental no Recife.

O “Mundo Invertido”: Definindo o Problema de Pesquisa

Um marco. Em 1957, no dia da inauguração, um enorme tapete vermelho enfeitou a entrada principal. A cidade parou. Carros luxuosos estacionaram nos arredores. Uma gente bem nascida (sic) ali entrou. A elite se deliciava com a vista do prédio, poucas quadras da praia. A frente não havia outros prédios. Naquele dia, inaugurava-se a era dos arranha-céus de Boa Viagem. Seria o endereço de fim de semana das famílias abastadas. Ou moradia dos filhos de gente rica que vinha do interior estudar na Capital. Ter um imóvel ali, na Recife dos 1960, era sinônimo de Luxo. (Quincas, como citado em Campelo, 2016, p. 52)

Desenho moderno, com dimensões impactantes sob o concreto cru, uma curva sinuosa de longos 18 andares, onde espalham-se 317 unidades de quitinetes, 65 apartamentos de um quarto e 34 com dois quartos, totalizando 416 unidades, o Holiday tomou uma quadra inteira do bairro de Boa Viagem e podia ser visto a muitos quilômetros de distância. Sob conceito bastante em voga no pensamento arquitetônico moderno de sua época, o projeto empregou o existence minimum - buscando uma solução habitacional para viabilizar a moradia humana em dimensões mínimas (Ascom UFPE, 2019). Um empreendimento urbanístico experimental e bastante inovador para a sua época, caracterizado ainda pelo uso misto do espaço: combinava serviços e comércios no térreo com apartamentos para moradia nos demais pavimentos.

Um dos primeiros arranha-céus do Recife, o Holiday não apenas impactou a paisagem da cidade por ter uma forma singular, mas também por ser um dos primeiros exemplares arquitetônicos responsáveis por introduzir um novo modo de morar na cidade- a habitação coletiva de larga escala. Uma condição habitacional atípica para a época e o contexto social local, uma vez que o projeto inicialmente previa como público-alvo as classes altas e médias recifenses, com acesso a crédito e interessadas em ter tanto uma segunda moradia, como também uma casa de veraneio ou ainda um investimento imobiliário rentável. Os seus anúncios publicitários, voltados para este público específico, realçavam as noções de “luxo”, “bom gosto” e “conforto” que o projeto - tão “moderno” quanto “majestoso” - ofereceria aos seus compradores:

uma jóia (sic) da moderna arquitetura brasileira. No ensejo da entrega do majestoso EDIFÍCIO HOLIDAY, trazemos as nossas calorosas congratulações, não só aos seus arrojados incorporadores INVESTIMENTOS REAL LTDA mas também aos seus felizes proprietários e a cidade do Recife. Aos investidores pela audaciosa iniciativa, apurado bom-gosto e elevado senso de escolha dos melhores produtos de construção ( … ) Aos proprietários, que apoiando o empreendimento, tiveram uma correta antevisão das maravilhosas condições de conforto que agora vão desfrutar. Ao Recife, pela autêntica jóia (sic) da moderna arquitetura brasileira - EDIFÍCIO HOLIDAY, um novo “cartão-postal” da cidade. (“Uma Jóia da Moderna Arquitetura Brasileira”, 1962, p. 9)

O empreendimento não apenas vendia habitações, mas também difundia um novo estilo de vida “moderno” para a cidade, da habitação de veraneio, próxima ao mar1(Ascom UFPE, 2019). Essa ideia é sugerida pelo próprio nome dado ao empreendimen to, um termo em língua inglesa, holiday, cuja tradução para o português remete a feriado, a verão. As próprias disposições estéticas das moradias, implicitamente, impuseram tanto um minimalismo no mobiliário dos imóveis e nas vestimentas agora praieiras de seus moradores, como também um convívio mais aproximado entre as diferentes e distintas famílias residentes, com o uso compartilhado e coletivo dos pavimentos, ele vadores e passeios.

Acontece que Recife, apesar de possuir uma paisagem fundacional litorânea - tendo se originado de uma pequena vila de pescadores envolta de uma igrejinha, incrustadas em arrecifes de corais (Freyre, 2015) -, teve seu desenvolvimento orientado pelo Vale do Capibaribe, rio que define o vetor de crescimento norte e oeste da cidade. É às margens do Rio Capibaribe que se estabelecem grandes e espaçosas casas de sítio e sobrados das elites da “sociedade açucareira”2 (Villaça, 2007). Com isso, as classes altas e médias do Recife, até a década de 1960, estavam pouco integradas à paisagem de sal, sol e mar; tampouco estavam sujeitas ao estilo de vida e ao modelo de moradia que o projeto Holiday vislumbrava.

Diante disso, o edifício rapidamente caiu no desgosto das parcelas mais abastadas da sociedade recifense. Ao passo que deixava de ser frequentado pela alta classe de famílias mais tradicionais e requintadas da cidade, vários relatos dão conta de que os apartamentos passaram a ser ocupados pelas amantes dos senhores de poder da cidade (Alves, 2019). Ainda na década de 1960, como é possível conferir no arquivo do Diario de Pernambuco(http://memoria.bn.br/DocReader/docmulti.aspx?bib=029033&Pesq=), em meio a anúncios publicitários e ofertas de compra e venda nos classificados, o Holiday já passava por sucessivos escândalos no caderno policial, envolvendo prostituição, corrupção de menores e homicídios:

embora se desconheça a causa mortis, fortes indícios continuam apontando o motorista José como provável matador da loura dos inferninhos da zona sul (sic). Uma testemunha residente no Holiday informou ao comissário que, na noite da última sexta-feira ouvira gritos de socorro partidos do apartamento de Maria Rita. Não deu muita importância ao fato, porquanto no Holiday gritos são coisas naturais. (“‘Loura do Holiday’ Teria Pedido Socorro Antes de Ser Estrangulada”, 1967, p. 7)

Recursivas matérias de jornais passariam, cada vez mais, a situar o Holiday como um “antro de desordeiros, de transviados, maconheiros e outras desgraças” (“Boa Viagem”, 1967, p. 3). O que fez marcar no lugar um forte estigma, perdurando até os dias atuais, associando-o à criminalidade, violência e perigo. Com o passar do tempo, a sua forte degradação simbólica afugentou de vez as classes altas e médias do seu convívio e cotidiano, e o edifício foi sendo cada vez mais ocupado por populações de baixa renda. Eram, em sua maioria, trabalhadores informais e assalariados mínimos do bairro de Boa Viagem: comerciantes informais, barraqueiros da praia, empregadas domésticas, porteiros, garçons, zeladores. Para essas pessoas, o Holiday oferecia uma oportunidade única de moradia.

Apesar da estrutura deteriorada e comprometida em vários pontos do edifício, colocando em risco de morte os seus frequentadores - motivo pelo qual o Tribunal de Justiça de Pernambuco solicitou a sua interdição em março de 2019, despejando os seus últimos moradores -, com frequência lê-se em matérias de jornais apaixonantes relatos sobre o Holiday (Rafael Paranhos, 2013). De fato, do ponto de vista pragmático e da necessidade imediata de moradia em área de valor imobiliário tão elevado, o edifício oferecia uma importante solução habitacional para a classe trabalhadora do bairro: localização central na região, aluguéis a preços abaixo do que se aplica na vizinhança e tudo a apenas uma quadra de distância da beira-mar. Mas ainda, para além do ponto de vista pragmático, pode-se entender que morar em uma vizinhança tão “nobre” e com vista para o mar representa uma importante expressão de conquista e distinção para a classe trabalhadora de uma cidade como o Recife, cuja faixa litorânea foi majoritariamente dominada pelas elites econômicas.

Hoje, com o ciclo histórico do edifício praticamente encerrado, seria fácil afirmar o quão fadado ao fracasso estava este projeto, que em sua inauguração era elogiado como “moderno”, “inovador” e “majestoso”. O projeto do Holiday parte de um ideal de modernidade associada mais à estética formal (do espaço físico), do que às questões programáticas (do espaço social); ele se desenvolve em torno de uma tipologia arquitetônica que propunha uma forma de vida comunitária que era de todo contraditória com os estilos de vida do público ao qual estava destinado inicialmente. O modelo de habitação multifamiliar em larga escala não correspondeu às exigências de “satisfação e conforto” da elite local. Deslocado no tempo e no espaço, ainda hoje o Holiday se mos tra um “mundo invertido”, em uma constante relação de “oposição” e “complementaridade” com o seu mundo exterior (Bourdieu, 1980/2009, p. 437), cercado por edificações de alto padrão. Constrói uma relação de oposição porque, no meio de Boa Viagem, o Holiday figura como uma “favela vertical”, inconvenientemente ocupando a paisagem e o mundo social do nobre bairro. Mas também constrói uma relação de complementaridade com o exterior, quando se vê os diversos e resilientes usos e apropriações populares do edifício e do seu entorno para fins de lazer, sociabilidade e trabalho.

Ainda se vê, em muitas cidades contemporâneas, algumas mais que outras, uma dinâmica no mercado imobiliário de venda de habitações utilizando-se de estratégias publicitárias que associam o imóvel a um determinado “estilo de vida”, ou seja, a um modo específico e distintivo de morar e de experienciar a cidade. O imóvel, em vez de ser um bem único para toda a vida, precisa ser, no mínimo, mudado depois de um certo tempo ou mesmo precisa ser substituído, porque já não representa o que há de mais novo e sofisticado no mercado (Ascom UFPE, 2019). O edifício Holiday aparenta ser um importante exemplar, dentro de um conjunto de empreendimentos que aportaram no Recife, que trouxe consigo até então novas dinâmicas e fenômenos de desenvolvimento e produção da cidade. Ainda, perpassou um tempo histórico de diversas e aceleradas mudanças - mas sobretudo resistências e adaptações locais - frente às tendências de modernização dos estilos de vida citadinos.

Não obstante, diante do desafio público de se entender o fenômeno “Edifício Holiday” e sua trajetória biográfica, recorre-se à sociologia, onde a perspectiva bourdieusiana oferece um particular e muito interessante ponto de vista sobre as relações sociais entre classes e os mecanismos de distinção simbólica que dão sentido e força às dinâmicas de desenvolvimento e produção das moradias e cidades.

Proposta Teórico-Analítica: O Espaço Social Bourdieusiano e a Moradia Como Estilo de Vida

Como já colocado, nossa análise embasa a sua proposta teórico-analítica no pensamento de Pierre Bourdieu (1930-2002). Com incontestável biografia, o conjunto da obra deste pensador percorre uma ampla área de conhecimentos, encontrando ressonâncias em diferentes campos do saber social e humanístico (Peters, 2018). De maneira específica, o projeto bourdieusiano foi particularmente muito bem-sucedido na construção de um arcabouço teórico-metodológico de investigação dos mecanismos culturais e simbólicos de dominação e poder das sociedades ocidentais de sua época.

Neste artigo, nossa análise constitui justamente uma tentativa de instrumentalizar alguns dos conceitos desse autor para a interpretação de tramas sociais presentes e engendradas na urbe, especialmente no que tange aos sistemas simbólicos de distinção e poder em torno da moradia na cidade. De antemão, faz-se necessário compreender a perspectiva teórica de Bourdieu sobre o espaço social (Bourdieu, 1979/2017, p. 116), apreendido a partir de sua multidimensionalidade que estrutura em três dimensões. A primeira, o espaço das condições sociais, dá conta das posições sociais que cada indivíduo ocupa na sociedade (classe, origem familiar, gênero, raça, etc.). Já o espaço dos estilos de vida busca desvelar o conjunto de práticas e propriedades individuais, que cada um acumulou no curso de sua trajetória, apesar de suas condições sociais pré-existentes (profissões, bens materiais, amizades, lazer, gosto estético). Entre essas duas dimensões apresentadas, o espaço teórico do habitus traz outra noção teórica do autor, desenvolvida para explicar as fórmulas geradoras das práticas e propriedades, ou seja, das transformações dos estilos de vida distintos e distintivos que cada agente adaptou a partir de sua condição social e posição na sociedade (Bourdieu, 1979/2017, p. 162). Segundo o autor, o espaço social, apreendido a partir de sua multidimensionalidade,

permite, de fato, perceber que a taxa de conversão das diferentes espécies de capital é um dos pretextos fundamentais das lutas entre as diferentes frações de classe, cujo poder e privilégios estão relacionados com uma ou outra dessas espécies e, em particular, da luta sobre o princípio dominante de dominação - capital econômico, capital cultural ou capital social. (Bourdieu, 1979/2017, p. 115)

Em suma, o espaço social é uma analogia bourdieusiana para a sociedade e uma leitura sociológica do seu sistema de posições sociais - o lugar que cada agente ocupa na sociedade em relação aos outros. Bourdieu (1991/2013) também percebe a dupla dimensão do ser humano enquanto corpo físico-biológico e agente social - ao mesmo tempo que o indivíduo se situa em um “lugar” social, também ocupa um “local” físico. Diferenciando lugar de local, o autor (Bourdieu, 1991/2013, p. 134) nos diz que o “lugar” é definido como podendo ser a localização de um indivíduo no espaço social e também uma posição que o agente ocupa no interior de uma ordem social. Já o “local” significa o volume físico, ou seja, as dimensões materiais que um corpo ocupa ou tem dominância no espaço físico, como a propriedade privada, veículos, apartamentos, escritórios, empresas, casas de veraneio.

Com efeito, o espaço social tende a se reproduzir de maneira mais ou menos rigorosa no espaço físico, sob a forma de um determinado arranjo distributivo dos agentes e suas propriedades. Assim, a coexistência dos agentes e das propriedades se traduz no espaço físico apropriado - ou, o que seria o mesmo, o espaço social reificado. “Consequentemente, o lugar e o local ocupados por um agente no espaço físico apropriado constituem excelentes indicadores de sua posição no espaço social” (Bourdieu, 1993/1997, p. 134). Torna-se assim possível compreender os vínculos que o espaço social nutre com o espaço físico: o primeiro se “retraduz” no segundo. Por sua vez, os efeitos do lugar (Bourdieu, 1993/1997, p. 160) na vida social dos agentes são as possibilidades de acesso aos vários tipos de capital econômico, social, cultural e simbólico:

o poder sobre o espaço que a posse de capital proporciona, sob suas diferentes espécies, se manifesta no espaço físico apropriado sob a forma de uma certa relação entre a estrutura espacial da distribuição dos agentes e a estrutura espacial da distribuição dos bens ou dos serviços, privados ou públicos. (Bourdieu, 1993/1997, p. 160)

A um só tempo, o acúmulo de capitais pelos agentes favorece a sua dominação do espaço físico apropriado - que, muitas vezes, manifesta-se em forma de distinção e distanciamento, seja físico ou simbólico, das coisas e pessoas indesejadas. As classes dominantes - possuidoras de grandes volumes de capitais - possuem o poder, mesmo a distância, de se apropriar dos lugares, ao mesmo tempo em que os despossuídos não possuem o mesmo poder de apropriação sobre os mesmos lugares. Enquanto o capital dota seus detentores de mobilidade sobre o espaço, os despossuídos estão sujeitos a uma certa imobilidade no espaço, ocupando lugares situados enquanto locais de desonra social. Os efeitos do lugar reforçam as posições de dominador e de dominados no espaço. Segundo Bourdieu (1991/2013), entende-se por espaço apropriado:

um dos lugares onde o poder se afirma e se exerce, e provavelmente sob a forma mais sutil, a da violência simbólica como violência despercebida: os espaços arquitetônicos - cujas injunções mudas se dirigem diretamente ao corpo, obtendo deste, tão certamente quanto a etiqueta das sociedades de côrte (sic), a reverência, o respeito que, como diz o latim, nasce do distanciamento (e longinquo reverentia); ou melhor, do estar longe, a distância respeitosa - são sem dúvida os componentes mais importantes da simbologia do poder, em razão mesmo de sua invisibilidade. (p. 135)

Por este caminho interpretativo, a moradia se revela um conjunto unitário de propriedades reveladoras do estilo de vida de seu morador, uma “retradução simbólica de diferenças objetivamente inscritas nas condições de existência” do espaço social (Bourdieu, 1981/1983, p. 82). Cada unidade habitacional, compreendendo-a desde sua localização no mapa, vizinhança, desenho, mobiliário e até mesmo o tipo de material empregado em sua construção, torna-se um importante operador de distinção do seu habitante no mundo social e urbano. A força simbólica da habitação é a de revelar a posição social do seu morador dentro de uma ordem social, objetivada no espaço físico da cidade. Esse simbolismo confere ao sujeito uma série de distinções específicas, que lhe são socialmente atribuídas - como ar de nobreza e consagração que se destina ao morador de Apipucos, bairro de classe alta da zona norte do Recife, ou o estigma de criminalidade e degradação que recai sob um morador do Coque, bairro de baixa renda localizado em região central da cidade.

Portanto, a habitação enquanto estilo de vida se inscreve simultaneamente na objetividade das estruturas espaciais e nas estruturas subjetivas dos agentes, que são, em alguma medida, produzidos pela incorporação dessas estruturas objetivadas. Ainda, a permanência prolongada de um agente em um dado local leva à formação e acumulação de distintos e específicos capitais, próprios daquele local. O habitat contribui para a constituição do habitus, assim como o habitus contribui para a constituição do habitat (Bourdieu, 1993/1997). O habitus, este operador simbólico que orienta a ação das pessoas e é produto das relações entre elas, propulsiona a percepção de cada indivíduo e é apropriado e aprimorado socialmente:

estrutura estruturante que organiza as práticas e a percepção das práticas, o habitus é também estrutura estruturada: o princípio de divisão em classes lógicas que organiza a percepção do mundo social é, por sua vez, o produto da incorporação da divisão em classes sociais. Cada condição é definida, inseparavelmente, por suas propriedades intrínsecas e pelas propriedades relacionais inerentes à sua posição no sistema das condições que é, também, um sistema de diferenças, de posições diferenciais, ou seja, por tudo o que a distingue de tudo o que ela não é e, em particular, de tudo o que lhe é oposto: a identidade social define-se e afirma-se na diferença. (Bourdieu, 1979/2017, p. 164)

O potencial gerador do habitus percebe-se enquanto um elemento invisível, tácito, essencializado e naturalizado nas ações humanas, constituído de dinamicidades inerentes que engendram as práticas sociais de modo imperceptível. Considera-se invisível, a não ser pela evidência das estratégias na produção e reprodução das estruturas objetivas e também materiais. Afinal, são as estratégias - e estilos de vida - que dão materialidade às práticas como produtos.

Particularmente muito importantes na ontologia do pensamento desse autor, as noções de habitus e estilos de vida ocupam importante lugar em seu esquema analítico sobre as estruturas de posições sociais dos agentes no espaço. Os modos de habitar a cidade, que perfilam os distintos e distintivos estilos de vida citadinos, podem ser apreendidos à luz de um pensamento bourdieusiano como importantes categorias de análise acerca dos mecanismos de distinção que regem as relações entre dominantes e dominados em uma dada sociedade urbana. Engendrados de tal maneira nas tramas sociais do espaço, os modos de habitar têm o potencial não apenas de distinguir e classificar seus habitantes, como também são importantes símbolos de desejo e gosto entre os citadinos:

o gosto, propensão e aptidão para a apropriação - material e/ou simbólica - de determinada classe de objetos ou de práticas classificadas e classificantes é a fórmula geradora que se encontra na origem do estilo de vida, conjunto unitário de preferências distintivas que exprimem, na lógica específica de cada um dos subespaços simbólicos - mobiliário, vestuário, linguagem ou hexis corporal - a mesma intenção expressiva. (Bourdieu, 1979/2017, p. 165)

Vemos que a posição que o indivíduo ocupa no mapa da cidade pode dizer muito sobre a posição social que o mesmo ocupa na sociedade, não obstante, o interior de sua moradia também pode evidenciar caminhos, escolhas e desvios que ele tomou no curso de sua trajetória - em sua luta simbólica por um reposicionamento no mundo social. As sutilezas do ambiente interno de uma moradia podem muito bem informar simbolicamente o “bom gosto” ou a “vulgaridade” de seu proprietário, assim como o volume de capital econômico que o mesmo se dispunha ou não possuía para investir em sua habitação. Isso porque as estruturas materiais e concretas que circundam e habitam o cotidiano e a intimidade do lar de cada agente, inseparavelmente éticas e estéticas, não apenas classificam suas práticas, gosto e estilo de vida, como também nos informam a quais campos e sistemas simbólicos ele está enlaçado:

o poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo e, deste modo, a seção sobre o mundo, portanto o mundo; poder quase mágico que permite obter o equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou econômica), graças ao efeito específico de mobilização, só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado como arbitrário. Isto significa que o poder simbólico reside nos “sistemas simbólicos” em forma de uma “illocutionary force” mas que se define numa relação determinada - e por meio desta - entre os que exercem o poder e os que lhe estão sujeitos, quer dizer, isto é, na própria estrutura do campo em que se produz e se reproduz a crença. (Bourdieu, 1977/2001, p. 15)

Em posse dessas considerações acerca do espaço social posto no pensamento de Bourdieu, vemos que os sistemas simbólicos - produtos e produtores de nossos estilos de vida - detém uma relação inseparável com os sistemas de poder, funcionando social e politicamente como “instrumentos de imposição ou de legitimação da dominação, que contribuem para assegurar a dominação de uma classe sobre a outra (violência simbólica)” (Bourdieu, 1977/2001, p. 11). Por fim, fazemos referência igualmente à construção do conceito “violência simbólica”, o meio de exercício do poder simbólico, que se funda na fabricação contínua de crenças no processo de socialização, aquilo que induz o agente a se posicionar no espaço social seguindo critérios e padrões da classe dominante. Assim, a violência simbólica é manifestada, muitas vezes, através do reconhecimento e legitimidade do “bom gosto” da classe dominante, seguidos do desejo copioso de seu estilo de vida.

Esquema Metodológico: A Fotografia Como Sociograma

“E então decidi analisar uma coleção de fotografias que pertenciam a Jeannot, um amigo de infância: examinei-as uma a uma e embrenhei-me nelas. Parece que encontrei muita coisa nesta caixa de sapatos” (Bourdieu & Bourdieu, 1965/2006, p. 31).

Em 1965, Pierre Bourdieu e Marie-Claire Bourdieu publicam um artigo intitulado “Le Paysan et la Photographie” traduzido para o Brasil: “O Camponês e a Fotografia” (Bourdieu & Bourdieu, 1965/2006). O artigo em questão analisou os usos sociais e os sentidos da fotografia em uma aldeia camponesa do interior da França, onde Pierre Bourdieu viveu a sua infância. Para além das conclusões sobre os ritos e celebrações de passagem da sociedade camponesa francesa de meados do século XX, o artigo em questão defendeu um uso metodológico estratégico da fotografia na pesquisa social. Acima de “suas qualidades técnicas ou estéticas”, as fotografias devem ser percebidas como verdadeiros “sociogramas leigos que possibilitam um registro visual das relações e papéis sociais existentes” (Bourdieu & Bourdieu, 1965/2006, p. 31).

“A fotografia deve apenas possibilitar uma representação suficientemente crível e precisa para permitir o reconhecimento. É metodicamente inspecionada e observada, à distância, de acordo com a lógica que governa o conhecimento dos outros no quotidiano” (Bourdieu & Bourdieu, 1965/2006, p. 34).

Na ocasião, Bourdieu e Bourdieu (1965/2006) defenderam fotografias de casamentos camponeses como verdadeiros “sociogramas leigos”, uma vez que o registro visual de um momento de solenidade como esse cumpria não apenas um importante papel social de legitimação do ritual, como também registrava - em seus detalhes e de maneira inconsciente - os símbolos e os comportamentos socialmente aceites e regulados dentro de uma ordem social específica. Já para o exercício analítico no presente artigo, buscamos, em um “assunto” fotografado diferente, os símbolos de distinção, consagração ou degradação social. Tomamos como objeto da análise dois ensaios foto- gráficos de dois fotojornalistas da cidade, que cobriram momentos distintos do Holiday. Um primeiro, realizado por Alexandre Gondim para o jornal El País em 20183, que registrou o entorno, o cotidiano do edifício e os seus moradores, inclusive, na intimidade de seus lares. O segundo ensaio, feito por Marlon Diego em março de 20194- intitulado “Inventário” -, registrou os últimos dias de desocupação do Holiday e a ação de despejo da prefeitura, revelando apartamentos vazios, corredores silenciosos, quadros e fotografias ainda suspensos nas paredes, junto a alguns pertences deixados para trás.

Reunimos ao todo 21 imagens - 10 de Alexandre e 11 de Marlon - intercaladas e reorganizadas de acordo com os assuntos de interesse da pesquisa: o edifício, sua fachada, entorno e cotidiano; os habitantes; e as habitações, objetos pessoais e disposições estéticas das moradias. A análise se deu por uma interpretação pragmática do que era possível extrair das fotografias, dos vestígios e códigos culturais que informam simbolicamente os elementos de distinção e de variação de classes sociais.

Vimos que o projeto bourdieusiano de estudo da dominação e poder no mundo ocidental trouxe o peso da análise para a dimensão cultural, de onde é possível ver o funcionamento de mecanismos de distinção presentes na ordem social, ao mesmo tempo revelando a arbitrariedade do que é socialmente legitimado como “bom gosto”. Sem embargo, o projeto dá evidência a dinâmicas de violência simbólica presentes na sociedade, pelo assujeitamento de agentes e classes despossuídas de capital cultural - designadas pela cultura dominante como subculturas. Tal instrumental analítico permite ainda observar, nos códigos e vestígios presentes nas imagens, símbolos que informam certos rumos e desvios na trajetória dos agentes, em seus tortuosos caminhos de luta e conquista do reconhecimento social de seu prestígio, sucesso ou, nos termos do autor, de “posição social”.

Resultados e Discussões

De perto, é possível entender a imponência de um dos mais icônicos edifícios do Recife (Figura 3 e Figura 4).

Fonte. De “Inventário” (Revista Trama), por Marlon Diego, 2019 (https://tramabodoque.com/2020/08/23/ inventario/). Copyright 2019 de Marlon Diego. Reimpresso com autorização de Marlon Diego.

Figura 3 Fachada do Edifício Holiday 

Fonte. De “Inventário” (Revista Trama), por Marlon Diego, 2019 (https://tramabodoque.com/2020/08/23/inventario/). Copyright 2019 de Marlon Diego. Reimpresso com autorização de Marlon Diego

Figura 4 Escadaria do Edifício Holiday 

Por sua forma, de características próprias, que ocupa em diagonal uma quadra inteira, seus múltiplos acessos laterais, sua expressiva sinuosidade, em 18 andares com quase incontáveis janelas, o edifício Holiday domina a paisagem de orla do seu entorno, no trecho do bairro de Boa Viagem, tornando-se um importante ponto de referência. Como se suas propriedades estéticas já não fossem suficientes para torná-lo destoante, em meio aos demais residenciais de alto padrão que se avizinham (Figura 5), os usos sociais do Holiday - associados a classes de baixo prestígio social e poder econômico- o colocam numa inconveniente posição no espaço social do bairro.

Fonte. De “Inventário” (Revista Trama), por Marlon Diego, 2019 (https://tramabodoque.com/2020/08/23/inventario/). Copyright 2019 de Marlon Diego. Reimpresso com autorização de Marlon Diego.

Figura 5 Vizinhança do Edifício Holiday 

Carroças estacionadas em área térrea do edifício, junto a um acumulado de entu- lhos que sugerem um abandono, são pertencentes a trabalhadores ambulantes da praia que residem no Holiday ou o fazem como ponto de apoio (Figura 6).

Fonte. De “Em Bairro Luxuoso do Recife, Edifício Mais Icônico É o Refúgio da Classe Trabalhadora” (El País Brasil), por Felipe Betim, 2018 (https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/31/politica/1514729934_109046.html). Copyright 2017 de Alexandre Gondim. Reimpresso com autorização de Alexandre Gondim.

Figura 6 A área térrea do prédio 

As lojas térreas do edifício, caracterizadas pela oferta e procura de produtos e serviços de baixos custos (Figura 7, Figura 8 e Figura 9), constituem-se como local de circulação e troca de capitais econômicos e sociais de um espaço apropriado por agentes de estilos de vida populares.

Fonte. De “Em Bairro Luxuoso do Recife, Edifício Mais Icônico É o Refúgio da Classe Trabalhadora” (El País Brasil), por Felipe Betim, 2018 (https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/31/ politica/1514729934_109046.html). Copyright 2017 de Alexandre Gondim. Reimpresso com autorização de Alexandre Gondim.

Figura 7 Homem caminha em frente aos comércios que ficam no prédio 

Fonte. De “Em Bairro Luxuoso do Recife, Edifício Mais Icônico É o Refúgio da Classe Trabalhadora” (El País Brasil), por Felipe Betim, 2018 (https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/31/politica/1514729934_109046.html). Copyright 2017 de Alexandre Gondim. Reimpresso com autorização de Alexandre Gondim.

Figura 8 S. F., 56 anos de idade, comerciante no Holiday e ex-residende do prédio 

Fonte. De “Em Bairro Luxuoso do Recife, Edifício Mais Icônico É o Refúgio da Classe Trabalhadora” (El País Brasil), por Felipe Betim, 2018 (https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/31/politica/1514729934_109046. html). Copyright 2017 de Alexandre Gondim. Reimpresso com autorização de Alexandre Gondim.

Figura 9 Morador atravessa o portão de entrada do Holiday 

No hall de entrada do edifício, entre infindáveis anúncios de “aluga-se” e “vende-se”, leem-se ofertas de variados bens e serviços, dentre eles: manicure-pedicure, venda de dudu-geladinho, almoço caseiro, manutenção e conserto de fogão, encanamentos, entre outros, indicando não apenas os tipos profissionais associados a uma classe trabalhadora informal, mas também uma dinâmica local intensa de oferta e demanda de bens e serviços (Figura 10).

Os moradores do Holiday aparentam compartilhar um olhar de cansaço e esperança. Peles pardas, idades adultas avançadas e, à frente, uma angustiante incerteza quanto ao futuro do investimento em dinheiro, tempo e estilo de vida, chamado Holiday. Retratados em um dia corriqueiro, os homens se mostram vestidos de maneira menos casual - sapatos, calça comprida, camisa polo listrada, sugerindo que exercem atividades de trabalhos fora do microcosmo do grande edifício (Figura 11).

Fonte. De “Em Bairro Luxuoso do Recife, Edifício Mais Icônico É o Refúgio da Classe Trabalhadora” (El País Brasil), por Felipe Betim, 2018 (https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/31/politica/1514729934_109046.html). Copyright 2017 de Alexandre Gondim. Reimpresso com autorização de Alexandre Gondim.

Figura 10 Parede com avisos no Holiday 

Fonte. De “Em Bairro Luxuoso do Recife, Edifício Mais Icônico É o Refúgio da Classe Trabalhadora” (El País Brasil), por Felipe Betim, 2018 (https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/31/ politica/1514729934_109046.html). Copyright 2017 de Alexandre Gondim. Reimpresso com autorização de Alexandre Gondim.

Figura 11 P.D., 63 anos, após 35 anos trabalhando como zelador de prédios, comprou um apartamento no feriado 

Um dos moradores, ao levar o fotojornalista para um passeio no edifício, mostra-lhe a precária casa de máquinas do único elevador em funcionamento (Figura 12 e Figura 13).

Fonte. De “Em Bairro Luxuoso do Recife, Edifício Mais Icônico É o Refúgio da Classe Trabalhadora” (El País Brasil), por Felipe Betim, 2018 (https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/31/politica/1514729934_109046.html). Copyright 2017 de Alexandre Gondim. Reimpresso com autorização de Alexandre Gondim.

Figura 12 O elevador do edifício Holiday 

Fonte. De “Em Bairro Luxuoso do Recife, Edifício Mais Icônico É o Refúgio da Classe Trabalhadora” (El País Brasil), por Felipe Betim, 2018 (https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/31/politica/1514729934_109046.html). Copyright 2017 de Alexandre Gondim. Reimpresso com autorização de Alexandre Gondim.

Figura 13 A casa das máquinas do elevador 

Melhorias estruturais no Holiday, ao longo de sua história recente, sempre esbarraram na falta de recursos de seus próprios moradores, além da difícil missão de gestão coletiva de um habitacional com tantos inquilinos5.

Já as mulheres retratadas, vestidas com roupas mais casuais - vestimentas simples e de praia -, deixam-se fotografar em seus apartamentos - talvez, o local que guarde seus maiores símbolos de distinção e prestígio. A primeira mulher, aparentando seus 60 anos de idade (Figura 14), é registrada descortinando uma divisória entre a cozinha de sua casa e um segundo cômodo, mostra orgulhosa a geladeira duplex e a cortina dupla com falsa renda.

Já a segunda mulher (Figura 15), de mesma faixa etária, com trajes de praia, chapéu e óculos, é registrada sentada em sua cama, sob uma héxis corporal que lembra pose de “madame” e em oposição à janela-varanda, onde é possível mirar a localização da praia e do mar.

Fonte. De “Em Bairro Luxuoso do Recife, Edifício Mais Icônico É o Refúgio da Classe Trabalhadora” (El País Brasil), por Felipe Betim, 2018 (https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/31/politica/1514729934_109046.html). Copyright 2017 de Alexandre Gondim. Reimpresso com autorização de Alexandre Gondim.

Figura 14 M. B. mora há 19 anos no Holiday 

Fonte. De “Em Bairro Luxuoso do Recife, Edifício Mais Icônico É o Refúgio da Classe Trabalhadora” (El País Brasil), por Felipe Betim, 2018 (https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/31/politica/1514729934_109046.html). Copyright 2017 de Alexandre Gondim. Reimpresso com autorização de Alexandre Gondim.

Figura 15 M. A., 55 anos, vende cachorro quente na praia de Boa Viagem 

Um detalhe na imagem, a pintura desbotada da parede que emoldura uma panorâmica visão do bairro de Boa Viagem, sem dúvidas sintetiza bem o complexo problema teórico que envolve o Holiday: as propriedades de seus imóveis - localização e vista privilegiada - não são suficientes para os seus moradores obterem o reconhecimento simbólico e um reposicionamento no espaço social. Ao passo que uma bela vista panorâmica para o mar possa ser oferecida pelo seu detentor como símbolo de prestígio e poder simbólico, outros elementos que podem estar compondo o mesmo frame - como a héxis corporal do agente ou mesmo a parede desbotada de seu imóvel - podem muito bem revelar exatamente o contrário do interesse de seu morador. A conquista de uma moradia, como o Holiday, pode ser interpretada, em partes, como a luta simbólica de um agente - na aquisição de propriedade e adaptação do seu estilo de vida -, dotado de estratégias para conquistar prestígio, reconhecimento ou posição no espaço social. Bourdieu (1979/2017) nos lembra:

as lutas pela apropriação dos bens econômicos ou culturais são, inseparavelmente, lutas simbólicas pela apropriação desses sinais distintivos como são os bens ou as práticas classificados e classificadores ( … ). Por conseguinte, o espaço dos estilos de vida, ou seja, o universo das propriedades pelas quais se diferenciam, com ou sem intenção de distinção, os ocupantes das diferentes posições no espaço social não passa em si mesmo de um balanço, em determinado momento, das lutas simbólicas cujo pretexto é a imposição do estilo de vida legítimo e que encontram uma realização exemplar nas lutas pelo monopólio dos emblemas da “classe”, ou seja, bens de luxo, bens de cultura legítima ou modo de apropriação legítimo desses bens. (p. 233)

Já as precárias condições estruturais do Holiday, às quais seus moradores se submetem - indo desde instalações elétricas sobrecarregadas, vazamentos e infiltrações, elevadores sem condições de uso -, podem ser percebidas enquanto parte das violências simbólicas. Inconveniências que são aceites e naturalizadas como parte de um processo, como as regras de um jogo ou os caminhos de um espaço social que precisam ser percorridos pelo agente para conquistar a sua posição na ordem social. Todavia, a avançada deterioração estrutural do prédio fez com que, em março de 2019, o Tribunal de Justiça de Pernambuco solicitasse a sua imediata interdição. Em poucos dias, os mais de 3.000 moradores desocuparam os apartamentos. Sem ter como levar parte de seus objetos pessoais, muitos residentes deixaram pertences para trás. Mas a ordem de despejo forçava a remoção até dos objetos pessoais dos moradores e, no mesmo mês, agentes da prefeitura foram fazer a “limpeza” (Figura 16 e Figura 17).

Fonte. De “Inventário” (Revista Trama), por Marlon Diego, 2019 (https://tramabodoque.com/2020/08/23/ inventario/). Copyright 2019 de Marlon Diego. Reimpresso com autorização de Marlon Diego.

Figura 16 Chaveiro abrindo a porta de um dos apartamentos 

Fonte. De “Inventário” (Revista Trama), por Marlon Diego, 2019 (https://tramabodoque.com/2020/08/23/ inventario/). Copyright 2019 de Marlon Diego. Reimpresso com autorização de Marlon Diego

Figura 17 Desocupação do Holiday 

Interpretados como códigos culturais, os objetos deixados para trás e capturados pelas fotografias nos auxiliam a entender o habitus de seus proprietários. Como uma “necessidade incorporada, convertida em disposição geradora de práticas sensatas e de percepções capazes de fornecer sentido às práticas engendradas dessa forma” (Bourdieu, 1979/2017, p. 163), o habitus é a estrutura estruturante do cotidiano dos habitantes do Holiday, ao passo que também é estruturada, ratificada e adaptada através de suas práticas cotidianas. Destaque para a forte presença da religiosidade de matriz cristã que permeia o cotidiano dos agentes, manifestada no centro e nos detalhes das imagens (Figura 18, Figura 19, Figura 20 e Figura 21). Como o nome “Jesus” adesivado à porta de entrada; o escapulário envolto a um porta-retrato antigo com foto de um homem e uma mulher abraçados; a Nossa Senhora de Fátima emoldurada e fixada à parede, ao lado de um calendário, cortesia de um mercadinho; o quadro de Nossa Senhora da Conceição, deixado para trás junto a uma extensão elétrica antiga.

Fonte. De “Inventário” (Revista Trama), por Marlon Diego, 2019 (https://tramabodoque.com/2020/08/23/ inventario/). Copyright 2019 de Marlon Diego. Reimpresso com autorização de Marlon Diego.

Figura 18 Porta de um dos apartamentos 

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Figura 19 Pertences deixados em um dos  

Fonte. De “Inventário” (Revista Trama), por Marlon Diego, 2019 (https://tramabodoque.com/2020/08/23/ inventario/). Copyright 2019 de Marlon Diego. Reimpresso com autorização de Marlon Diego

Figura 20 Quadros na parede de um dos apartamentos 

Fonte. De “Inventário” (Revista Trama), por Marlon Diego, 2019 (https://tramabodoque.com/2020/08/23/ inventario/). Copyright 2019 de Marlon Diego. Reimpresso com autorização de Marlon Diego

Figura 21 Objetos deixados em um dos apartamentos 

Advindos das práticas sociais de criação, identificação, reconhecimento ou consumo, os objetos, quando decodificados sociologicamente, apontam para possibilidades interpretativas sobre os distintos estilos de vida e trajetórias individuais que ocuparam o Holiday. Uma prateleira repleta de objetos pessoais sugere ter pertencido a uma pessoa idosa com práticas de cuidado da saúde (medidor eletrônico de pressão cardíaca), hábito de tomar chá e apreço por viagens distantes, o porta-retrato de coqueiros revela uma viagem para local de clima mais ameno - possivelmente feita com o cônjuge, devido às alianças e escapulário, deixados junto ao retrato (Figura 22). Tais vestígios culturais perfilam uma pessoa com estilo de vida um pouco mais distinto em relação aos demais moradores do Holiday.

A disposição dos objetos nas paredes (Figura 23) sugerem um habitus e estilo de vida deslocados do espaço social da classe dominante, e seus legitimados jogos de conduta e disposição estética. O calendário de papelão, cortesia de um mercadinho popular, pregado à parede ao lado da imagem - que não é pintura e sim uma reprodução - de uma santa e a parede desbotada, pintada em forte tom vermelho-vinho, com uma gaiola vazia pendurada, apontam para uma percepção de conforto e senso estético sobre o que é belo ou útil que se afasta do legitimado “bom gosto” da cultura dominante.

Fonte. De “Inventário” (Revista Trama), por Marlon Diego, 2019 (https://tramabodoque.com/2020/08/23/ inventario/). Copyright 2019 de Marlon Diego. Reimpresso com autorização de Marlon Diego.

Figura 22 Gaiola em parede pintada de vermelho em um dos apartamentos  

Fonte. De “Inventário” (Revista Trama), por Marlon Diego, 2019 (https://tramabodoque.com/2020/08/23/ inventario/). Copyright 2019 de Marlon Diego. Reimpresso com autorização de Marlon Diego

Figura 23 Colagem na parede de um dos apartamentos  

Ainda, uma colagem na parede, feita com recortes de jornais e revistas, reunindo frases, textos e imagens de filmes e celebridades internacionais, sugerem que o seu criador, de perfil jovem, estava bastante identificado com a cultura pop, a música e o cinema norte-americanos, símbolos de um estilo de vida moderno e globalizado.

Vemos com as imagens que ser um morador do Holiday já não detém a mesma eficácia de distinção, comparável ao momento de sua inauguração. As disposições estéticas modernas do empreendimento, em seu aspecto formal, pretensiosamente associadas ao bom gosto, alto padrão e qualidade de vida, rapidamente perderam a sua legitimidade e reconhecimento entre as classes dominantes do Recife. O estilo de vida que o projeto buscou difundir, associado a um modelo de habitação mínima e um modo de morar mais coletivo, não conferia aos primeiros moradores o almejado senso de dis tinção e seletividade. Sem o reconhecimento de requinte e de validação perante a elite local, cujo gosto ainda estava bastante ligado a um habitus “aristocrático” e “açucareiro”, o Holiday viu sua trajetória se dar por uma intensa degradação simbólica.

Marcado por uma transferência do seu uso social, ao passo que deixava de servir a uma classe econômica privilegiada, o edifício foi sendo ocupado por populares e trabalhadores do bairro de Boa Viagem - alterando a posição social dos agentes dentro do mesmo espaço físico. Apesar do avançado estado de deterioração de sua estrutura física, que inclusive colocava seus frequentadores sob grande risco, o Holiday nunca deixou de ter grande estima de seus moradores. Do ponto de vista da solução de moradia de baixo custo e democratização do acesso à cidade, o edifício tornou-se espontaneamente uma interessante solução habitacional para a classe trabalhadora do bairro. Todavia, a efetivação do Holiday enquanto lugar de moradia popular próxima à praia de Boa Viagem enfrenta diversas barreiras, sobretudo no domínio do simbólico, que tange os mecanismos sutis de distinção e poder sobre o espaço através da cultura.

Considerações Finais

A visita a esses dois ensaios fotográficos constituiu um exercício de pensar por imagens certas dinâmicas que se constituem no âmago do acesso e conquista da moradia nas cidades. Os pontos de observação imagéticos oferecidos em cada frame não apenas revelam possibilidades interpretativas acerca dos contornos próprios da trajetória do Holiday como também trazem luz para pensar os desafios de um estilo de vida urbano moderno - do morar coletivo, de larga escala - que se iniciou no Recife em meados dos anos 1950 e tem, no edifício, um de seus melhores exemplares. Para tanto, apresentamos uma perspectiva analítica sob as lentes da sociologia bourdieusiana, onde a dimensão simbólica da moradia explica parte das tramas sociais que se engendram e que tomam como palco a cidade do Recife.

Recorremos a alguns instrumentais teóricos do sociólogo francês para explicar os efeitos do lugar sob a vida social dos agentes e vimos que os locais de moradia podem tanto consagrar como degradar simbolicamente o seu morador. Sem embargo, a dimensão do habitus, que funciona como operador simbólico - materializando as experiências de vida do passado e do presente em práticas, esquemas de percepção e ações estratégias-, auxilia-nos a entender a modelação das trajetórias de vida dos agentes, sempre em busca de uma posição relativa no espaço social apropriado. A materialidade do habitus se revela através dos estilos de vida de seus agentes; suas moradias, desde sua localização, mobiliário, eletrodomésticos e disposições estéticas dos objetos pessoais, constituem-se como importantes propriedades estéticas e símbolos de distinção e pertencimento a uma fração de classe e estilo de vida específico dentro de uma ordem social.

Tais instrumentais analíticos bourdieusianos se mostraram relevantes para o entendimento de certas dinâmicas culturais e simbólicas relacionadas à conquista ou ao consumo de estilos de vida urbanos e modos de morar na cidade. Por sua vez, a perspectiva trabalhada nos mostra que a aproximação física entre agentes de classes socioeconômicas distintas não é, por si só, algo suficiente para a integração social efetiva da cidade. Ainda assim, habilitar o Holiday para a habitação popular e de qualidade se mostra uma importante solução para o local. A densidade populacional dos 416 apartamentos e mais 3.000 moradores, se mostra capaz de ser um lugar de relativa autonomia social, simbólica e econômica de ordem popular, em uma faixa litorânea praticamente toda ocupada por elites econômicas.

Pondera-se também que, apesar do reconhecimento enquanto patrimônio histórico e arquitetônico e de uma certa valorização idílica pela classe artística da cidade - sendo, inclusive, palco de filmes pernambucanos e objeto de ensaios fotográficos -, o Holiday jamais conseguiu converter seu singular volume de capitais em melhorias estruturais. Projetos de recuperação do edifício esbarram em diversos problemas, desde os arranjos institucionais para o seu financiamento, quanto às articulações sócio-políticas necessárias. Ao final, endossamos que a problemática do Edifício Holiday não se esgota com este trabalho, ao contrário, esperamos ter ratificado a complexidade presente nas tramas do espaço social urbano e que se mostram um desafio aos estudos interdisciplinares.

Agradecimentos

Este artigo foi desenvolvido com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio do projeto de pesquisa (140637/2020-6) e pela Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE- IBPG-0526-6.04/18).

Referências

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1Nesse sentido, o “estilo moderno” do Holiday corresponde na sua forma, mas não nos propósitos que estão na origem da tipologia moderna de habitação mínima e em larga escala. A exemplo da Unidade de Habitação de Marselha, com 18 pavimentos e capacidade para cerca de 1.600 habitantes, tal abordagem surge após a Segunda Guerra Mundial diante da necessidade de suprir o deficit habitacional de uma população relocada após os atentados. Em seu programa, a edificação também sugeria espaços para a vida comunitária, compras e lazer, tal qual um bairro ou uma cidade vertical.

2É como Freyre (2015) caracterizou o rígido sistema familiar, patriarcal, escravocrata e latifundiário, que fez do Recife uma das principais cidades do país ao longo do século XVIII, mas que viu no início do século XIX o apogeu de seu sistema econômico baseado na exportação do açúcar. Período em que o Recife começa a perder seu brilho para outros centros urbanos brasileiros (Villaça, 2007).

4Disponível na revista Trama (2019, março). Trata-se de uma revista de estudantes de jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco. O material foi cordialmente cedido, via pedido pessoal.

5Essa, por sinal, é uma questão essencial para a eficácia dos projetos e da gestão da habitação social no Brasil e motivo deles raramente assumirem uma posição de verticalidade: a manutenção das áreas comuns não pode depender de recursos obtidos em forma de rateio ou condomínio. Dessa forma, tais áreas são incorporadas ao espaço privativo das unidades de habitação, reduzindo-se o espaço de circulação ao mínimo possível

Recebido: 31 de Janeiro de 2021; Aceito: 03 de Março de 2021

Victor Montenegro de Lucena possui graduação em ciências sociais, com licenciatura em sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE, 2013). É mestre em desenvolvimento urbano (UFPE, 2020). Atualmente realiza o curso de doutorado em sociologia pelo programa de pós-graduação em sociologia, é membro do grupo de pesquisa Redes, Sociabilidades e Poder, da mesma instituição. Email: victor.montenegro@ufpe.br Morada: Rua Waldemar Réis do Rêgo, 154. Iputinga. Recife - PE, Brasil. CEP: 50.731-200

Julieta Vasconcelos Leite é doutora em sociologia pela Universidade René Descartes/Sorbonne (2010), é arquiteta, urbanista e mestre em desenvolvimento urbano pela Universidade Federal de Pernambuco (2003). Atualmente, é professora do curso de arquitetura e urbanismo e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano da UFPE, membro do Núcleo de Estudos da Subjetividade na Arquitetura, grupo de pesquisa registrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Tem experiência na área de arquitetura e urbanismo, com ênfase em teoria e projeto de arquitetura, urbanismo e paisagismo, atuando principalmente nos seguintes temas: espaço público, paisagem, imaginário e usos sociais das tecnologias digitais no espaço urbano. Email: julieta.leite@ufpe.br Morada: Rua Deputado Cunha Rabelo, 110/403, Várzea, Recife - PE, Brasil CEP: 50.740-400

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